quarta-feira, 15 de junho de 2011

A MESMA PRAÇA, O MESMO CHARCO

Sarneyzinho é um provecto que já deveria ter deixado a história e partido para as profundas. Mas, não, sarneyzinho é mantido no vinagre e dos confins do nordeste, ou de sua cadeira no planalto-central, faz e desfaz brasil-a-fora. Debaixo dos rarefeitos cabelos pintados, há pouco, achou bobagem mencionar a parte protagonizada pelo seu - atual e mais fiel - aliado e não incluir o registro do único impeachment da República Brasileira, na linha do tempo da História do Brasil, em exposição, no senado. Arguido, argumentou que aquilo foi um “equívoco” (sic) e que foram os historiadores, organizadores da exposição, quem assim o decidiu. Ou seja, na avaliação de sarneyzinho, um impeachment é coisa pouca e é pra gente esquecer. A imprensa vazou, os historiadores voltaram atrás, remendaram a exposição e o caçador-de-marajá - a contragosto - foi parar nos murais da casa da república.
Sarneyzinho, o provecto, agora, acha que sigilo eterno de documentos oficiais é bom pro Brasil e que tem dois ou três assuntos oficiais que devem ser ocultados para sempre; e-t-e-r-n-a-m-e-n-t-e. Com ele, aliadíssimos, estão collorzito e idelinda. Mas, sarneyzinho é um democrata e diz que os documentos do período da militarização do poder, no Brasil, pode sim, e, que, depois, “não se pode fazer um WikiLeaks da história do Brasil”. Aí, para esclarecer mais ainda, solta a pérola: “documento histórico é diferente de documento atual” e que, portanto, podem abrir até os documentos relacionados ao período presidido por ele. E sarneyzinho não sabe que ocultar informação e infringir o direito à livre expressão fere a Constituição? É por isso – por esse preceito constitucional - que o STF, por unanimidade, preservou o direito que alguns brasileiros têm em marchar pela maconha, é por isso que, também, derrubou a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da função; é por isso que Preta Gil e Bolsonaro podem manifestar suas opiniões. O pior, sarneyzinho, é que tem gente na sala, tem criança na escola, tem gente na sacristia, tem gente trabalhando; tem gente morrendo. Pior é que tem gente, ainda, acreditando no futuro desse país; gente que acorda cedo e sai pra trabalhar todas as manhãs...
Sarneyzinho, que já segurou muita barra, muita governabilidade nesse país e que já esteve meio cansado da lida, agora, está mais aliviado; pode contar com a governança das três mosqueteiras matriculadas em sua escola, estudando a mesma cartilha e aliadas a sua filosofia. Também, quando a coisa esquentou pro seu lado e quase foi impeachado, quem garantiu sua legislatura e o pregou na cadeira, esqueceu? A governabilidade - as instituições brasileiras – a ordem. Vamos aprender de uma vez por todas: governabilidade é o nome que se dá a aconchambração política.
Por aqui, em mares de xaraes, não se fez feio; também, por aqui, fizeram-se diabruras e deu-se a cartada mais abusada, mais absurda de, sequer, ser imaginada, ganhando-se no voto, na legalidade, a mais louca elucubração. Terreno plainado para as próximas eleições, indicou-se e se conseguiu eleger - em OUTRA esfera de poder - só na conversa; só no conchavo, no diz-que-diz - uma potencialidade adversária política, que ($$$), não resistiu - é muita competência ($$$), muito reconhecimento público ($$$). Segue, impávida, para o olimpo da vitaliciedade, e, passa a colaborar com a contabilidade da casa. Tudo é permitido, tudo é permissível em terras-de-vera-cruz e em mares-de-xaraes; a mesma praça, o mesmo charco em que sarneyzinhos e assemelhados pululam, colonizando seus iguais. Pobre incauto-displicente–ignorante-conivente povo brasileiro.

Maria Angela Coelho Mirault – doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo – pobre cidadã brasileira.
http://mamirault.blogspot.com

Publicado no jornal Correio do Estado, em Campo Grande, MS, 18.06.2011