terça-feira, 22 de maio de 2012

A COMUNICAÇÃO É UMA IMPOSSIBILIDADE

Se você tem a ilusão de que podemos nos comunicar, ledo engano. No sentido que se lhe dá de busca da compreensão, do entendimento, do compartilhamento do mundo, a comunicação é uma impossibilidade. A noção funcionalista de que A dito por X chega a Y como A já não encontra sustentação entre os estudiosos do assunto. A dito por X chega a Y como Aa (outra coisa); no seu percurso a mensagem chegará distorcida e acrescida pelo referencial do outro. Apreendemos o mundo por meio de uma capacidade unívoca e absolutamente particular de captar, interpretar, conhecer, codificar e decodificar uma realidade impossível de ser apreendida em sua aparente (cartesiana) concretude e objetividade. Tudo o que captamos e entendemos sobre ela se dá pelo filtro de um referencial semiótico aprendido no ecossistema cultural em que nascemos, vivemos e que atua como filtro tradutor das coisas do mundo. Somos o que conseguimos ser, compreendemos o que podemos; nossa cosmovisão é particular, nosso conhecimento da realidade é parcial e nossas valorações éticas e estéticas são limitadas ao nosso modo peculiar de ser, de enxergar e de agir no mundo. A ideia de que possamos nos fazer entender, utilizando códigos (que dão nome as coisas) conhecidos, compactuados e compartilhados é ilusória e responsável pelos inúmeros desentendimentos em nosso caminho; os mesmos significantes nunca terão significados universais. Habermas, o filósofo contemporâneo alemão, ao conceber sua Teoria da Ação Comunicativa, na qual sistematiza as condições necessárias para que a comunicação se estabeleça, propõe que sua finalidade (racional) é o telos do entendimento. Para tal, necessário é que sujeitos, em situação de fala ideal, sejam competentes; estejam em condições de igualdade - sem nenhum tipo de coerção - compartilhem o mesmo mundo vida; tenham a mesma capacidade de articulação e argumentação sobre questões que tenham, antes de tudo, pretensão de validez (veracidade e verdade). Supondo ser isso possível, postos em situação de fala (comunicação) supõe-se também que não tenham como meta impor, ou convencer, mas, sim, que, após um profícuo exercício de argumentações sustentadas pela veracidade e pela ética, cheguem a um acordo e alcancem o propósito da comunicação que é a compreensão e o entendimento sobre determinado fato da realidade. Vale ressaltar que os pesquisadores da Escola de Palo Alto, por sua vez, assinalam que toda mensagem comunicada se realiza na recepção e sob essa constatação, o que o emissor diz – e que já é uma tradução do que quer dizer – não é o mesmo que o receptor compreende, visto que, ambos são detentores de códigos referenciais distintos para os mesmos significantes. Você oferece rosas, o outro recebe espinhos; você afirma estar o copo cheio e outro enxerga-o meio vazio. Às vezes, quando alguém reformula o “que você disse”, até a entonação (que você tem certeza que não deu) que lhe dá é interpretativa; filtrada, sobretudo pelos seus sentimentos e emoções no momento em que recebeu o dito. O outro, o receptor da sua mensagem comunicada, entendeu o que você pensou que disse da forma que ele pode, traduzindo-a pelo seu referencial semiótico (codificação e decodificação) acrescido das emoções e sentimentos que envolvem todo ato humano. Então, partamos do princípio dessa impossibilidade, pelo menos, para entender um pouco os desentendimentos e as incompreensões que nos assolam, tendo em vista que a comunicação como processo para o alcance do entendimento, da compreensão é, pois, uma ilusão. No fundo, falamos “grego”, na esperança de que o outro consiga interpretar o que dizemos e essa interpretação pode ter sido vertida para o “aramaico”. E, aí? Contudo, podemos, sim, tal como um artista, ou acrobata, expressar-nos na esperança de ser minimamente compreendidos, ou não, já que, sob essa perspectiva, o silêncio também é uma tentativa de comunicação.