sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Não gosto do natal

Sinto muito, se você é felizinho, nessa época, nem continue sua leitura, pois, também nem sei se o que tenho pra dizer é publicável, além da minha bolha na internet. É preciso ter coragem, deixar a hipocrisia de lado - porque as críticas sempre são e serão contumazes - e declarar em alto e bom som: não gosto do natal. Desse que se comemora obrigatoriamente no calendário oficial. Esse clima odioso de confraternização, e, encobrimento dos verdadeiros sentimentos que "rolam" o ano inteiro, nas famílias, entre colegas de trabalho (odeio amigo oculto), entre gente que não dá notícias durante o ano e enche sua caixa eletrônica, e sua caixa de correio, com sua mensagem anual de "boas festas", muitas delas, mecanicamente, enviadas, por seus departamentos de marketing. É muita gastança, muita comilança, muito exagero, em tudo; sempre tem alguém que amamos muito, muito, muito longe. Pessoas que não vem (e não podem) pra ceia, de roupa bonita, sorriso nos lábios e presentinho nas mãos. Muitos de nós, estaremos na mais completa solidão, no mais triste e cruel abandono, mesmo (se) rodeados por pessoas sorridentes, com um brinde entre as mãos. Muitos morrerão nas estradas, do mesmo jeito e pelas mesmas causas, e, não chegarão aos seus destinos; uma má ultrapassagem, um bêbado ao volante, uma cochilada, apenas os levarão para sempre. Muitos de nós teremos as mesas vazias, desesperançados da visita de papai-noel. Outros comparecerão às festas de congraçamento, que, longe de confraternizarem, acirram mais ainda os sentimentos verdadeiros do ano inteiro, mas que é de bom tom suportar porque, simplesmente, é natal. Não. Luzinhas piscando não é símbolo do Natal. A luz que emanou em Belém emitia outros sinais; sinais que até hoje não os assimilamos - somos menos de um quarto da população mundial que ouviu (mesmo que tenuemente) a mensagem de Jesus. Ainda queremos nos fartar nos shoppings e nas matanças, beber e comemorar na grande ceia da grande noite do jingle bell. Mesmo sem encarnar o Grinch, não gosto do ar natalino dos papai-noeis fake: magros, ou gordos, com enchimentos, cansados, desanimados, desesperançados, enganando criancinhas, com seu ar enfadado, nos shoppings, nas ruas, nas festanças exageradas de condomínios e de muitas casas; em todo o lugar. Não gosto dessa preocupação frenética de quem vai passar essa noite com quem e aonde, na esperança sincera de que tudo acabe logo e a vida volte ao normal, com mais dívidas a pagar, em três, ou dez parcelas no cartão, e, sempre, o arrependimento interior do “porque-gastei-o-meu-dinheiro-com-aquele-presente-para-aquele-FDP-que-não-me-deu-nem-um-lenço!”. Bem, se você chegou até aqui, foi porque quis. Mas, de fato, desejo que esses dias passem rápido e que nem tanta gente beba, não morra e nem mate. No entanto, que toda mesa tenha um pouco do que, provavelmente, sobrará do nosso jantar, que toda criança tenha alguma coisa para ganhar, principalmente, alguém a quem abraçar. Que a solidão não doa tanto e que o solitário encontre alguém com quem, realmente, possa se confraternizar. Que as igrejas (de todas as crenças) se mantenham abertas, para quem quiser entrar e comemorar com o aniversariante a data festiva do seu nascimento. Que Jesus nasça realmente em nossas vidas, nossas mentes, em nossas relações, e, principalmente, em nossos corações. Mas, não pense que não reunirei a família para um jantar, que nossa árvore de natal não estará montada e o "clima" de Natal não inundará a reunião com minha família, afinal, não é muito saudável ser tão diferente do resto da manada. Celebraremos, então, com parcimônia e gratidão a oficialidade das bênçãos que nos chegaram durante o ano. Mas, regra número um: na minha casa, cada um passa o natal onde e com quem quiser. Liberdade, também, nas comemorações. Por tudo isso, e, muito mais, um Feliz Natal, depois do natal, pra você, também. Maria Angela Coelho Mirault – professora, doutora em Comunicação e Semiótica Mariaangela.mirault@gmail.com

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A morte: uma experiência pessoal e intransferível

O filme conta a história de uma psicóloga, que, após ser vítima de um acidente aéreo, se dedica a tratar do trauma de cinco passageiros sobreviventes. Dentre eles, encontra-se Erick, que, ao longo da busca pela verdade, insiste no relato da recordação que tem sobre a ocorrência de uma explosão, antecedendo ao desastre. Na medida em que as sessões terapêuticas se dão, os pacientes vão deixando de comparecer à terapia, fato esse que intriga profundamente a psicóloga, a ponto de ela imaginar um complô da companhia aérea no intuito de burlar a verdadeira causa do acidente. Tudo vai ser desvendado nos minutos finais da trama, quando, primeiro Erick, depois a terapeuta se darão conta de que, na verdade, não houvera nenhum sobrevivente. A história tece a ideia de que todo o projeto de terapia se deu em função de que as pessoas mortas tinham de se dar conta do acontecido por si próprio, porém, deixa, também, antever que isso somente se dá mediante o auxílio de alguém, muito próximo, que, já tendo passado pelo fenômeno da morte, ajuda nessa descoberta. Para seu entendimento diante da morte, Erick contou com o auxílio do seu cachorro – morto quando Erick tinha seis anos - e por seu avô, e, que lhes apareceram na nesga de tempo entre a ocorrência propriamente dita e o momento de descoberta de sua própria morte. Do mesmo modo, os pacientes sumiam quando essa consciência emergia. A cinematografia mundial tem-nos apresentado inúmeros roteiros em que o fenômeno da morte é a protagonista principal. Fenômeno esse, irrecorrível; indubitavelmente, ao final do “nosso roteiro” e da nossa vida, todos estarão mortos. Dar-se conta disso, talvez seja um exercício bastante terapêutico para esse momento de travessia, seja ela para o purgatório, céu, ou inferno; para o sono dos justos, para que aguardemos a hora do juízo final; para a vida plena espiritual; para o nirvana; para o nada. Não importa, porque essa experiência é e sempre será pessoal e intransferível. A nossa hora pode tardar (que assim seja!), mas chegará. Interessante refletir sobre a possibilidade de que talvez tenhamos de nos dar conta de que “ela” chegou, e, dessa vez, na nossa existência, e, de que, somos nós os que partimos, somos nós os que interrompemos tudo que julgávamos importante, tudo do que gostávamos, dos que amávamos, e de que, somos nós quem encarará a “vida” nova, sem passaporte, dinheiro no bolso; muitas vezes, sequer, sem um aviso, ou, um até logo aos familiares. As comemorações destinadas ao Dia de Finados nos servem como lembranças culturais para que exercitemos a ideia da morte, também em nossa vida. Parece incrível termos de nos dar conta de que não somos imortais. Na verdade, nós, os mortais, reverenciamos, nessa data, não só os que já se foram, mas, a nós mesmos que, também partiremos, portadores que somos, desde nosso nascimento, desse passaporte para a travessia. O filme faz-nos refletir que a morte é uma experiência tão pessoal, tão intransferível, que sua compreensão independe de qualquer fator externo; somos nós quem terá de dar-se conta do ocorrido, juntar lé-com-cré e entender o inusitado acontecimento que nos lançou (ou, lançará) a uma nova realidade paradigmática, visto ser, a morte, independente de nossas crenças, um acontecimento paradigmático, em nossa linha do tempo. Note-se, ainda, que, categorizado como de suspense, em nenhum momento, o filme nos impõe concepções filosófico-religiosas, fato que o torna perfeitamente acessível e oportuno para o espírito de época. Embora, todos os passageiros tenham suas vidas ceifadas em um mesmo acontecimento trágico, cada um teve o seu tempo para elaborar o seu momento de partida, e, realmente, morrer. A obra nos lança, ainda, a confortadora esperança de que as relações de afeto estabelecidas do lado de cá, sempre nos serão úteis, também, do lado de lá, estabelecendo os vínculos de afeto que prevalecem e nos unem na igualdade; igualdade que nos parece tão contundente na experiência da própria morte. O filme, Passageiros, na categoria de suspense, é uma produção americana, de 2008, e traz no elenco a brilhante e não menos festejada atriz Anne Hathaway, coadjuvada pelo “colírio” Patrick Wilson, sob a direção de Rodrigo Garcia. Vale a pena assisti-lo, mesmo que você agora já saiba o final. Maria Angela Coelho Mirault é Doutora e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo: mariaangela.mirault@gmail.com

domingo, 20 de outubro de 2013

VIVÊNCIA EM PSICODRAMA DA FAMA/MS

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O aperfeiçoamento da sociedade e o compromisso social da maturidade

O mundo vem envelhecendo de forma rápida e irreversível. Os avanços na área científica da longevidade tem permitido que a expectativa de vida ativa ultrapasse, e, bem, aos 80 anos. O homem de hoje na idade avançada não é mais um desvalido da família, na sociedade. Esse adulto, que alcançou o patamar dos 60 anos, hoje, dirige um país, ocupa uma cadeira no senado, no supremo, assume um papado, é líder de banda de rock, ancora programas de tevê, protagoniza novelas em rede nacional. Falo de Dilma, Lula, Sarney, Celso de Melo, Francisco, Mick Jagger, Ana Maria Braga, Antônio Fagundes e Suzana Vieira, ícones dessa parcela da sociedade. Em nosso país, a cada ano, 650 mil novos robertos-carlos, neis-mato-grosso, chicos-buarques, bibis-ferreira e caetanos são incorporados à sociedade por terem alcançado a rotulada terceira idade. Em 1960, o número de indivíduos idosos no Brasil era de 3 milhões; em 1975, passou para 7 milhões, chegando exponencialmente a 20 milhões, em 2008, o que significa um aumento de quase 700% em menos de 50 anos. Projeções do IBGE (2011) anunciam que, em 2050, seremos a 6ª população do mundo, em número de idosos. É fato que, desde que chegamos a esse mundo, duas alternativas se abrem em nossas perspectivas de vida, ou se morre cedo, ou se se mantém vivo e sujeito às intempéries e agressões do próprio corpo, no processo do envelhecimento. Não existe saída para esse fenômeno, nem, tampouco, meio termo, ou se morre, ou se vive e, vivendo, se envelhece Na medida em que os anos passam, e permanecemos vivos, nosso corpo se deteriora, favorecendo o assédio da doença e da decrepitude que, ninguém se engane, se instalam, inexoravelmente. Enganar o tempo é impossível, o que se pode é disfarçar, aqui e ali, seu efeito nefasto. Plásticas não resolvem nem melhoram a aparência, e, muito menos, a autoestima, relacionamentos entre pessoas com disparidade de faixa etária não conseguem parar a ampulheta para iludir o tempo, roupas inadequadas não nos fazem parecer mais jovens; às vezes acentuam de forma caricata nosso apego a uma época da vida que já se foi. E, porque é tão vergonhoso aparentar-se a idade que se tem? Temos vergonha de envelhecer porque a mídia nos anuncia um mundo feito, agradável e palatável para a juventude, a aparência e a aventura que já não temos mais. Autodesignar-se um “velho de cabeça jovem” expressa bem o tamanho do preconceito que aderimos com relação a nossa faixa etária. A expressão “melhor idade” é uma metáfora que, não só, deveríamos nos envergonhar, como, abolir, porque é falsa. Pertencer-se a grupos que lidam com a “melhor idade” só para ocupar o tempo, pode ser apenas uma estratégia de não admitir, não ver e não querer sentir o tempo passar. Ocupar o tempo dedicando-se somente a práticas recreativas é quase como abdicar da vida, que, nessa faixa etária, tanto quando nas outras, também, deve fluir com intensidade e, acima de tudo, influir no aperfeiçoamento da sociedade. Nós que beiramos, ou, adentramos o patamar dos 60 anos, não somos cidadãos destinados ao descarte social. Se, estamos envelhecendo e vivendo mais, utilizemos os benefícios da ciência para esse novo e rico momento de nossas vidas, mas, não desertemos; temos ainda, e muito, um compromisso com a vida e com a sociedade; temos, acima de tudo, um dever político-social capaz de influenciar e alterar rotas político-sociais e influir decisivamente em assuntos que dizem respeito a toda sociedade. Mas, para isso, já que nos sentimos “tão jovens”, precisamos tomar iniciativas concebíveis, estar em todos os lugares em que se tomem decisões em nosso próprio nome e em nome da coletividade. Mas, que essa presença não seja inconsequente. Para ser respeitada – e aderida – nossas opiniões têm de ter sustentação. Precisamos voltar nossa intenção e atenção aos grupos de estudo, mesmo que já tenhamos nos dedicado, com sucesso, à vida profissional. Mexer com a cabeça, não apenas com o corpo, com o doce deleite do far niente é mais do que necessário. Entender-se a si mesmo, para melhor compreender o outro (em qualquer idade); entender o mundo maluco em que vivemos, e, lançar o olhar mais adiante, é mais do que uma ocupação, é nossa obrigação. Não esmoreçamos, pois, desertores da vida que pulsa na sociedade, não nos conformemos em apenas ser um ente do passado; continuemos nossa útil jornada na vida que ainda detemos e que se renova a cada manhã. Muito ainda temos a construir, façamo-nos respeitar. Há algo de novo no mundo, e esse algo não é a juventude desarvorada que emerge nesse ciclópico espírito do tempo hodierno, é a presença de adultos de mais idade, mais vivência, experiência e que pode e deve influir para a construção de um mundo que valha a pena ser desfrutado e vivido. Maria Angela Coelho Mirault Professora Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo Diretora da Faculdade Aberta da Maturidade de Mato Grosso do Sul – FAMA/MS mariaangela.mirault@gmail.com http://fama-faculdadeabertadamaturidade.blogspot.com.br https://www.facebook.com/pages/Faculdade-Aberta-da-Maturidade-de-Mato-Grosso-do-Sul/509958965757068?bookmark_t=page

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O brado que não retumbou

O brado retumbante, lançado há menos de dois séculos, das margens do Ipiranga, ainda não ecoou em muitos dos nossos corações. Colonizados - entre repetidos anos-novos, salpicados de carnaval, futebol e cerveja - continuamos a fazer o que não gostamos; submetidos às imposições que mal conseguimos suportar. A Independência proclamada por D. Pedro não se efetivou no sete de setembro. Como processo que teve seu início muito antes da Proclamação, carece ainda de sua consolidação na vida nacional brasileira. Os primeiros fios de sua meada começaram a tecer-se pela tomada de atitude individual do primeiro rebelado, sem nome na História, que elencou Tiradentes como signo de resistência e de luta. Enforcado, esquartejado, salgado e tendo suas partes expostas pelas ruas do Rio de Janeiro, era ele um derrotado; hoje, o herói de uma nação ainda em construção. Pedro, ao retumbar “Independência ou morte”, sucintamente, quis dizer à nascente nação brasileira não haver vida sem liberdade; que a morte é melhor do que a dependência e a subjugação a outra potência. No entanto, seu grito ainda não foi compreendido em sua magnífica significação. Cento e vinte e um anos depois, somos um povo que ainda não se apropriou da real dimensão de sua liberdade; categórico universal inegociável e inquestionável para a plenitude de uma vida cidadã. Somos colonialistas e colonizados, em muitos aspectos de nossa vida pública, acomodados no ranço de um passado, sob as amarras de ”Portugal”. Processo que deve perdurar anos a fora - a custa de muitas lutas e conquistas - a Independência de nossa nação constrói-se e construir-se-á no dia-a-dia e pelas atitudes solidárias e, muitas vezes, solitárias, de cada um dos seus cidadãos; heroicos anônimos rebelados. Transformar a situação de dependência econômica, social, política e ideológica em situação de interdependência com outras nações requererá de nós, herdeiros do Ipiranga, amadurecimento, tenacidade, convicção e vontade. Quando nos calamos frente a um Congresso que nos faz engolir a absolvição de um condenado e encarcerado mantendo o seu mandato, na prisão, nocauteados, quase desistimos de lutar. Mas, cadê o povo nas ruas, quando as questões cruciais não lhes fere o bolso? Terá sido a mobilização retumbante que incendiou o país pelos meros 20 centavos? Pois, coisas muito piores estão a fluir, mas, não chegam a ser identificadas como bandeiras de luta de uma nação, que pode, mas que não se levanta. De que adiantou termos tomado ás ruas, em uma catarse colossal e assustadora, se, logo depois, as deixamos ser tomadas pela barbárie? De que adiantou irmos às ruas, para logo depois, recolhermo-nos a nossa insignificância pessoal, e, engolirmos todos os absurdos políticos que torrencialmente demandaram de cima sobre nós, a partir de então? D. Pedro bramiu sua vontade, do Ipiranga, e conclamou: Brasil, ou Portugal; independência, ou morte. A cada voto que alienamos aos interesses espúrios, a cada arranjo que fazemos, ou compactuamos, a cada moeda a que nos vendemos, ficamos à margem, além do Ipiranga e optamos por “Portugal”, aceitamos a dependência, subjugados à dominação do mais forte. Se a cada ato de resistência, voltarmos intimidados ao recesso da nossa individualidade, nada faremos pela Independência proclamada pelo Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil. Que nesse sete de setembro de 2013, o brado retumbante do Ipiranga possa consolidar-se, continuamente, onde quer que estejamos pelo que for que façamos, responsáveis que somos pelo futuro do Brasil. Maria Angela Coelho Mirault – Doutora e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo – http: mamirault.blogspot.com

terça-feira, 27 de agosto de 2013

”Nós não somos deuses..."

Esse deveria ser o primeiro mandamento e a primeira disciplina do curso de medicina no País. O segundo mandamento e a disciplina do curso de medicina no Brasil deveria ser: “em primeiro lugar, as pessoas, e só depois delas, o meu interesse”. Terceiro mandamento e terceira disciplina do curso de medicina no País: “a medicina não é caminho para o enriquecimento, muito menos, para a política”. Quarto mandamento e quarta disciplina: “eu não sou mais do que ninguém, só porque cursei o curso superior de medicina, sou, simples e honradamente, um médico, mais um dos inúmeros profissionais da área da saúde e não valho mais, nem tenho mais direitos do que os outros profissionais". A profissão médica é uma profissão de caráter eminentemente social; torna-se médico, cursa-se um curso de medicina para atender à doença, ao doente, ao paciente (não ao cliente). “Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano a alguém...”(Hipócrates). Infelizmente, até para os bons médicos, que zelam pelo juramento que fizeram, o atendimento médico em nosso país é mais do que uma lástima, é uma vergonha inconcebível. Até para quem tem recursos para custear um Plano de Saúde e prescinde do atendimento do Sistema Único de Saúde pode constatar o desrespeito com que nós vimos sendo atendidos pela classe dos equivocados, que se consideram acima das leis, do respeito, da ética. Consultas marcadas, somente, com dois ou três meses de antecedência; horários agendados descumpridos. Há uma categorização entre pacientes particulares e os de qualquer plano: os particulares tomarão menos chá de cadeira, porém, qualquer quinhentão o colocará na primeira classe. Mas, ai dos que não tendo opção, para sobreviver e receber uma receita de dipirona precisarem dos Postos de Saúde e dos corredores das emergências dos Hospitais púbicos... Se de fato, o relato de um deputado federal deva merecer alguma credibilidade - mesmo sendo da bancada do PT, partido que nos lançou no lamaçal da mais absoluta incredulidade - o nosso país possui 1,8 médicos por mil habitantes; 703 municípios brasileiros estão sem médico; Mato Grosso do Sul conta com 1,54 médicos por mil habitantes; o governo federal está investindo R$ 15 bilhões até 2014 em infraestrutura dos hospitais e unidades de saúde (R$ 2,8 bilhões para a construção de 16 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS), R$ 3,2 bilhões para obras em 818 hospitais e aquisição de equipamentos para 2,5 mil hospitais e R$ 1,4 bilhão para obras em 877 Unidades de Pronto Atendimento). Constando-se a veracidade dos números, repudio, com o parlamentar, a todos aqueles que, esculhambando toda uma classe, e, de jaleco-branco, vaiam os estrangeiros que chegam. Mas, não nos enganemos, com as medidas do governo. Nós, os brasileiros, precisamos de respostas imediatas para o descaso secular com que a Saúde vem sendo tratada, tanto quanto, repudiamos a arrogância dos órgãos corporativistas-classistas: “não é justo”, dirá o deputado, “virar as costas para essa importante parceria entre governo brasileiro e médicos estrangeiros que estão chegando em nosso país, pois o que está em jogo não é política, mas, sim, a melhoria da saúde do povo de brasileiro”. Sendo assim, ô do “jaleco-branco”, encardindo-se, nas ruas, demonstrando a carência e a limitação da sua formação - à custa dos impostos que todos pagamos - repitam comigo o juramento de Hipócrates (1947): “Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. (...) Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário”. Para o inferno, então, os que, não sendo deuses, se aproximam mais ainda das profundezas. O que queremos e exigimos, sem mais delongas nem lero-lero, é mais respeito. Maria Angela Coelho Mirault - Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A inexorável marcha do Bem

O Bem está onde não está o mal. Encontra-se em todos os lugares, em todas as horas. O Bem é a Ordem, a Harmonia, a Vida que pulsa e vibra ininterruptamente. O Bem não está na mídia porque é a normalidade. O mal está nas manchetes e se difunde pelo assombro que provoca; ele não é ordem, não prevalece, e, sempre, perecerá. Todas as coisas se submetem a uma mesma lei, a lei do equilíbrio, da termodinâmica, da ação e reação. O mal é da ordem da desordem, mas, mesmo ele, compulsoriamente, submete-se a um sentido; à Ordem, em um Espaço-Tempo, transcendente à limitação do nosso parco conhecimento humano. A vida no planeta transcorre celeremente num rodopio incessante que a Terra faz em torno de si mesma há milhares de anos, há milhares de quilômetros por hora. Assim, a lentidão do dia, entre a alvorada e a hora crepuscular, é ilusória; na verdade, nesse espaço de tempo, nada mais fazemos do que rodopiar loucamente pelo cosmo, e, coletivamente, somos todos um. O dia, em si, nada mais é do que produto de um facho que nos chega pela parcimônia de uma estrela de terceira grandeza, que, por nosso rodopio, ao seu redor, nos inunda de sua luz. Nossa verdadeira realidade cosmológica é a imensidão inexpugnável do cosmo, pontilhado pela ilusão emitida por luzes estelares que nos alcançam depois de mortas. Nossa realidade peculiar e cotidiana é a permanente escuridão visitada, de quando em vez, pelo facho de luz que se faz manhãs e tardes, em parciais e ilusórios períodos momentâneos de nossa escuridão. Mesmo assim – e por isso - a vida é ordem; a desordem é entropia e morte. Todas as manhãs, enquanto o Sol nos fita e ilumina nosso pedaço de chão, bilhões de seres, como nós, reiniciam sua caminhada em harmonia com a simetria da vida; trabalham, amam, semeiam, vivem e morrem. Muitas vidas silenciosas assinalam essa caminhada entre o berço e o túmulo, sem interferir na ordem estabelecida e sistemática da vida. Cumprem sua travessia, calmos como a brisa, no ritmo que a vida tem de ter. Estes são maioria. O mundo majoritário é o da paz, da observância dos costumes e compartilhado em conformidade com as peculiaridades culturais. Onde, aparentemente, parece imperar o caos, nada mais se faz presente do que um instante passageiro que superado será, oportunamente, para o estabelecimento de um novo patamar na Linha do Tempo e da Ordem. Todo mal é passageiro. As convulsões, as deflagrações são instantes paradigmáticos para novos possíveis, quer o seja na singularidade de nossas vidas, quer, no da coletividade. O passado não volta, mas, suas pegadas invadem o presente e deixam marcas indeléveis no futuro, porque tudo se submete as mesmas leis, da inexorável marcha do progresso, assim como, a do fluxo e refluxo (das marés) das ações. Depois do ontem, que se foi, nada mais poderá ser como antes. No caminho da vida só há uma via; a via do futuro; do patamar alterado. Então, mesmo que tudo pareça soçobrar, em fervilhante turbilhão em favor do mal, embora nos pareça impossível, a vitória do Bem, logo ali estará se refazendo a Ordem, a Harmonia, que, permanentes e imperecíveis, vêm, nos alcançam e nos resgatam, provenientes do próprio Bem. E essa lei, que se apresenta em tudo e que emana de Deus, só pode ser sentida, percebida e entendida, por aqueles que já têm olhos de ver, e ouvidos de ouvir. Logo chegará setembro e com ele, de novo, o desabrochar das flores, ad eternum. Basta nos conectarmos com o espetáculo da natureza, e, calmamente, olhar e sentir a resistência vicejante do cerrado. Caminhemos. Maria Angela Coelho Mirault – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http:mamirault.blogspot.com

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Copa das Confederações das Américas X Copa das Deflagrações Brasileiras

Bem, meus compatriotas, estão acontecendo coisas esquizofrenicamente díspares e concomitantes em nosso país. A sonolência se foi e, despertos, estamos palmilhando novo tempo e escrevendo nova história. O incêndio tomou amplitude, em 15 de junho de 2013, na abertura da Copa das Confederações, no superfaturado estádio de futebol Manoel Garrincha (1,7 bilhões), em Brasília. Mas, não só. Os primeiros rastilhos vieram da truculência policial nas ruas de São Paulo (13/06/2013), afoguearam-se pelo sopro político (de partidos antagônicos) da declaração (15/06/2013) - de Alkimin e Hadad - de que os preços dos transportes coletivos não retrocederiam. É certo que, no Manuel Garrincha, a vaizinha veio de parte do povo que pode pagar os quatrocentos, seiscentos paus por seus ingressos; portanto, de gente da classe média alta. Provavelmente, ali, se juntou a nata de um funcionalismo público, que, vitimada pela falta de qualquer parâmetro de isonomia, compõe parte de uma classe econômica, insatisfeita e que sustenta o Leão da Nação. Convocado pelo poder da net – o povo que, cotidianamente, acorda cedo, segue para o seu suado trabalho, sem qualquer conforto, e faz o país andar, acordou naquele dia e decidiu parar as catracas do metrô, descer dos ônibus, esvaziar os trens, atender ao chamado da propaganda e ir “Pra Rua, porque a rua é a maior arquibancada do Brasil”! De posse do espaço público, pararam o trânsito, enfrentaram a polícia, e recrudesceram na luta da redução das tarifas do transporte público. Como um vírus contagioso, impossível de ser detido, essa gente esquisita e de um valor retumbante logo somavam milhares de contaminados, pipocando aqui e ali, em todo o território nacional. A partir desse momento lindo, o Hino Nacional tornou-se o hit do momento, vociferado por todo tipo de gente, até então, caricaturada como indolente. Pacificamente e sem medo, caminhamos lado a lado; tínhamos um íntimo e um coletivo clamor guardado no peito necessitados de escoarem-se em gritos, palavrões e palavras de ordem. Alguns de nós, dos que sempre viveram pelos becos e pelas beiradas da sociedade, sem escrúpulos, sem educação, sem leis e medo, destacou-se da massa pacífica e vandalizou o que achava de direito. Para o bem do que estamos construindo, estes precisam ser rechaçados. Identificados, devem ser recolhidos aos ditames das nossas leis. Afinal, se pagamos pelos “mané-garrinchas”, pagamos, também, pela Segurança Pública, e, a Polícia não pode confundir-nos; não deve e não tem o direito de confrontar-nos. E, nós, os que clamamos, marchamos, cantamos, praguejamos e choramos temos o direito de sermos respeitados e protegidos, no espaço urbano que conquistamos. O tipo de vírus que nos contaminou ainda não pode ser identificado. Políticos, cientistas, estudiosos, jornalistas, palpiteiros, ninguém, consegue explicações para o fenômeno da “copa da deflagração de brasilidade” em todos os lugares. A manifestação da autoridade máxima do país não acalmou os ânimos já exaltados em temperatura explosiva. A Copa das Confederações e a Seleção Canarinho marcham para a final, no Maracanã. Mas, suas conquistas vão passando ao largo, paralelas, quase como uma bolha no meio das deflagrações populares. Do lado de cá, já podemos comemorar a aprovação, pelo Senado, do projeto que torna corrupção crime hediondo, de maior gravidade; o projeto sobre distribuição do Fundo de Participação dos Estados; a aprovação da PEC que acaba com o voto secreto para cassação de mandato; a aprovação do projeto que acaba com o pagamento de 14º e 15º salário a parlamentares; a ordenação da prisão imediata do primeiro deputado federal a ser preso durante o mandato; aqui, em nossa capital, a condenação e perda imediata do mandato, a inelegibilidade por oito anos, e a multa de 50 mil UFIR (R$ 53 mil de multa), por compra de votos por meio de distribuição de combustível nas eleições de 2012, do Presidente da Câmara de Vereadores de Campo Grande. Esquizofrênicos, bipolares, paranoicos, ou não, estamos próximos de comemorar a Copa das Confederações, com um olho no peixe e o outro na frigideira. O País do Galvão mudou e não somos, apenas, do samba e do futebol; somos, também, um povo desperto e que quer muito mais. O “vem pra rua” venceu a inércia da zubilândia. O Gigante quer Saúde e Educação no padrão da FIFA. Estamos à flor da pele. Brasil! Maria Angela Coelho Mirault – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http:mamirault.blogspot.com Campo Grande, MS, 26.06.2013

segunda-feira, 24 de junho de 2013

O palavrão na boca do povo

A palavra é a unidade da língua que veste uma ideia. Ela é recriação da realidade; não existe por si mesma. Tentamos, por seu intermédio, traduzir nossos pensares, complementados por códigos subjacentes que lhe acrescente significados. O gestual e a máscara facial, por exemplo, são suas complementações. O silêncio é uma forma de expressão que pode significar uma mensageira inteira que nenhum outro código seria capaz. O Movimento que está nas ruas, de todo o Brasil, vem se manifestando de todo o jeito possível: bandeiras, cartazes, pichações; caras borradas; expressões indignadas, olhos ejetados, cenhos cerrados. Tudo, absolutamente, tudo, tenta – apenas tenta – comunicar o tamanho da indignação de um povo, que se extravasa e se expressa em gritos, cantos, choros, lágrimas, palavrões, capturada por todos os tipos de mídia, repercutida na imprensa de todo o planeta. “Não dá mais pra segurar; explode coração”! Os palavrões são signos com significados precisos e ajustados ao sentimento que procuram moldar e vestir. Uma topada que dói, uma raiva, que implode e, pela indignação, explode, encontra no palavrão sua melhor expressão. As (mal) ditas palavras de baixo calão vem traduzindo a mais adequada veiculação dos sentimentos agora exaltados e compartilhados pelas vozes das ruas. O “fo..-se-a-copa!” é de uma precisão inatacável; não há nada que o substitua. “políticos-FDP” traz uma identificação tão precisa que carece de maiores explicações. A expressão “vai-tomar-no...” é um grito que encerra qualquer tipo de discussão, ainda mais, oriunda de milhares de bocas, antes engasgadas, que resolvem se abrir e vociferar. O palavrão permeia o linguajar do povo culto e inculto, nos estádios e nos recintos mais privados. O Dicionário Houaiss o conceitua como “palavra grosseira e/ou obscena, bocagem, impropriedade, linguarada, obscenidade, pachouchada, palavrada, porcaria, turpilóquio”. Há pouco, assistimos, pela edição de final da manhã, do noticiário da tevê- um vídeo em que a administradora-hospitalar-betina-siufi - utiliza-se da expressão “... nem fod..do”, dirigida a sua subalterna, para manifestar sua negativa, categórica, em atender uma prescrição de um medicamento a ser ministrado em um paciente portador de câncer. Qual o significado mais atual para a expressão “betina-siufi”, a partir de então? O que agora é obsceno, grosseiro, turpilóquio, e o que não o é? Em mais de cinco anos de minuciosa pesquisa, incentivado pelo sociólogo e antropólogo Gilberto Freire, o pernambucano folclorista Mário Souto Maior reuniu mais de três mil e quinhentos verbetes do vocábulo popular brasileiro considerado chulo e escreveu o mais completo Dicionário do Palavrão e Termos Afins. Para reunir essa quantidade de palavrões, Souto Maior, além de oito mil formulários distribuídos, leu mais de duzentos romances e inúmeras outras obras literárias. Sua obra só veio a ser publicada - liberada da censura - na década de 1980, no governo de João Figueiredo, quando a política da anistia já acontecia no País. A obra de Souto Maior, ao nos oferecer os palavrões característicos de todas as regiões do País, não só nacionaliza a cultura popular, como sua liberação constitui-se um marco de liberdade de apropriação e uso da nossa Língua. O palavrão está nas ruas e vem da boca dos brasileiros de todas as origens familiares e acadêmicas, e, expressa, com precisão, raiva, alegria e dor. Agora, está doendo! Estamos com raiva! Sabendo usar, muito infarto do miocárdio e muito tarja preta podem se evitados. Portanto, quando o “fod...-se-a-copa”, “políticos-fdp”, “renan-fdp” e o “nem-fo...do” derem mais conta do tamanho da indignação e não servirem para expressar todo o sentimento que nos domina, nesse momento assombroso de nossa história, fica a dica; o Souto Maior pode ser consultado. Os puritanos que nos perdoem, mas, o momento exige de nós um bom e sonoro palavrão. Amém? Maria Angela Mirault é Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http:mamirault.blogspot.com

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Alô meu povo... vai começar o Carnaval

Finalmente, 2013 chegou, quase concomitantemente ao ano novo chinês - que sempre começa na noite da lua nova mais próxima do dia em que o Sol passa pelo décimo quinto grau de Aquário. Segundo esse calendário lunisolar, ingressamos no ano 4711 (de 10 de fevereiro de 2013 a 30 de janeiro de 2014), sob o jugo da serpente. Sob seu domínio, este ano está destinado a entrar no calendário da História da Humanidade, e, segundo previsões astrológicas, promoverá grandes e inesquecíveis acontecimentos. Transformações, escândalos, ajustes marcarão seus dias. Para corroborar essa expectativa, basta que recordemos os anos - regidos pela serpente - de 1989; em que ocorreu a queda do muro de Berlim e o de 2001, que marcou sua passagem pelo ataque ao World Trade Center. Como já vivenciamos, nesse início de fevereiro, podemos asseverar que 2013 já entrou para a História, diante do anúncio, inusitado e inimaginável, da renúncia do Sumo Pontífice, em pleno Carnaval, agendada para às 8 horas da noite (em Roma) do dia 28 de fevereiro. Seu ato de renúncia, anunciado em 10 de fevereiro, ocorrerá em um período de quarentena - quaresma (do latim quadragésima) - em que mais de 1 bilhão e 166 milhões de católicos no mundo inteiro (dados do Vaticano, 2011) se preparam para a festa ápice do cristianismo; a ressurreição de Jesus Cristo - e a consequente renovação de suas vidas - comemorada no Domingo de Páscoa. Note-se, a causa de sua renúncia não seria apenas ocasionada por problema de idade avançada, suspeita-se. O certo é que o ano da serpente promete reajustes do que ficou pendente no ano passado; regido pelo dragão. Só para lembrar, algumas delas são: a efetivação da sentença dos mensaleiros condenados pelo STJ; a definição política na Venezuela, sob um governo chavista, sem Chaves, que, embora desaparecido e confinado em Cuba, continua governando, seja por telepatia, ou por intermédio de comunicações mediúnicas. O repúdio (manifestado nas redes sociais) de milhões de brasileiros contra a eleição ao cargo de Presidência do Senado, não é e não será suficiente para impedir seu entronamento e exercício do cargo, visto que, dentro das fronteiras alagoanas, já fora reconduzido por 235.332 votos dos seus conterrâneos e, dentre seus pares (nossos representantes), recebeu 56 votos que o legitimam no poder. Por isso, já de posse do Senado, Renan-reina - substitui seu antecessor, que saiu incólume – e é o 4º. em linha de vacância a assumir o cargo de Presidência da República (vai que os 3 primeiros sofram algum acidente?). O ano da serpente sugere que tenhamos cautela e procuremos dispor de mais flexibilidade diante da crueza da realidade: hospitais continuarão sem leitos, enquanto a oficialidade permanecerá a postos para prestar esclarecimentos porque não os há; os despossuídos da saúde, na marginalidade do Sistema, decrépitos e obviamente doentes, continuarão sujeitos a todo tipo de ameaça: incêndio, infecção, homicídio pela má formação de parte do pessoal da área da saúde, em imundos corredores hospitalares. As aulas recomeçarão e os duzentos dias letivos anuais serão cumpridos, mas, ninguém aprenderá nada, em nossas escolas sucateadas. Cursos superiores “oferendados” por botecos educacionais contarão com seu contingente de docentes despreparados e domesticados, que, manterão a farsa do ensino brasileiro e o sistemático fracasso dos Enens... Então, meu povo, prepare-se, pegue sua fantasia porque o Carnaval vai começar exatamente no primeiro minuto de 13 de fevereiro, quem sabe extensivo até o ano de 2016, com a realização das Olimpíadas, tendo, antes, passado pela Copa da Confederação das Américas (2013), Copa do Mundo e eleições majoritárias (2014), inclusive à Presidência da República. Mas, carnavalescos, não se preocupem, mantenhamo-nos unidos e tenhamos fé, pois, ao menor sinal de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão sobre nossas poltronas... Apertemos os cintos e vamos lá: ô-ô-ô... Bom Carnaval! Maria Angela Coelho Mirault Professora Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http:mamirault.blogspot.com http://www.webartigos.com/artigos/alo-meu-povo-vai-comecar-o-carnaval/103790/ http://www.marcoeusebio.com.br/artigos

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Deus também estava lá ...

Pode-se reduzir a apenas dois tipos de fundamentação filosófica a respeito da vida. Ou se crê em Deus, ou não se crê. A opção por uma dessas concepções filtra toda a significação que damos a própria existência e se reflete em nossos atos. Excetuando os que optam pela segunda, de alguma forma, independente de nossas religiões, crê-se em um Ser Maior e organizador de todas as coisas e acontecimentos. Esse Ser Maior recebe, em conformidade com valores, crenças e costumes, essa e aquela nomenclatura, dentre tantas que intentam enclausurá-lo em alguma denominação. Para os que o creem em Deus, sob o imperativo da fé mosaica, ele será concebido como um ente justiceiro e vingador. Há ainda quem o tenha em sua representação antropológica, tal como nós, sob nossa medição. Mas, o Deus que estava presente na Tragédia de Santa Maria é o Deus de Amor, tal como no-lo apresentou Jesus. O Deus-Pai que acolhe e resolve. É esse que, tal como está acolhendo essas almas que retornam a Sua Casa, ao Seu Reino, acolhe e consola, também, suas famílias, seus amigos, seus conterrâneos enlutados. Os minutos de horror ocorridos, ninguém, que lá não esteve, poderá dimensionar; vestígios é tudo o que temos, pelo registro das tecnologias disponíveis. Obviamente que um conjunto de erros fez com que aqueles jovens se deparassem, prematuramente - sob nossa dimensionalidade de tempo - com o instante inevitável da morte. É certo que a “câmara do holocausto” era por si mesmo uma promessa de catástrofe, catástrofe que os nossos jovens jamais imaginariam ser possível de acontecer, tão cheios de vida e esperança, recém-saídos de suas infâncias. Diante do inusitado e da dor, da irresponsabilidade e da ganância de todas as instâncias, pública e privada, ficamos diante da ponderabilidade e vulnerabilidade das coisas materiais. Mas, somos muito mais fortes do que imaginamos; há uma força que nos move e nos obriga a continuar e testemunhar o amanhecer, o entardecer e o anoitecer do dia seguinte, com uma significativa diferença. Para os que creem haver um Deus que nos conhece pelo nome, que tem nossos fios de cabelos contados, absolutamente bom, onipresente e onisciente, senhor dos nossos destinos - que nos precede a existência, que nos traz à vida, que nos acolhe nos momentos finais – cujo olhar a tudo alcança; a perda deixa de ser irremissível. Haverá continuidade, novos encontros, momentos de júbilo, mais além; quando teremos também o entendimento do que agora, diante da perplexidade, não temos como compreender. A hora é de humildade diante dos fatos. A vida tem um propósito e suas leis expressam os desígnios de Deus. A prescrição axiológica de que a toda ação corresponde uma reação igual e contrária, não é apenas uma lei da física, é uma lei divina. Os proprietários da boate estavam equivocados nos excessos de cuidados em preservar seu patrimônio em detrimento de vidas preciosas. De certo, os responsáveis pela conjuntura de fatores que incorreram no extermínio de mais de duas centenas de jovens, ressarcirão com sua cota de responsabilidade. A justiça dos homens não o fará na medida de sua justeza, mas, a justiça de Deus, por intermédio das leis da vida, fará os reajustes necessários, em benefício dos próprios infratores, porque o Deus adimensional, misericordioso e severamente justo, não quer vingança, quer que seus filhos aprendam com os próprios erros. Por respeitar nosso livre-arbítrio, Deus não interfere em nossas opções, mas, também, por nos amar, não nos deixa sós. Ele em sua onipresença e onisciência estava lá, antecedendo a tragédia, com sua rede angelical de acolhimento. Ou cremos nisso, ou não cremos em nada. Após a tragédia de Santa Maria, nenhum de nós é mais o mesmo. Que Deus nos some, nos ajude a superar nossa ignorância sobre os seus desígnios e propósitos e nos conduza a processar o entendimento, para que possamos prosseguir com a nossa jornada. Paz aos corações enlutados. Maria Angela Coelho Mirault Professora Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo Publicação: http://www.webartigos.com/artigos/deus-tambem-estava-la/103248/ http://mamirault.blogspot.com www.fems.org.br Jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS, 31.01.2013