terça-feira, 25 de novembro de 2014

“SUPOSITÓRIO AQUÁTICO” – PRESENTE DE GREGO

O desastre está aí e vai ser repassado para outro gestor, após milhões de aditivos e inacabado. O ultraje à população sul-mato-grossense já foi feito. Agora, resta-nos que o Instituto dos Arquitetos do Brasil e o a Ordem dos Advogados de Mato Grosso do Sul, ou, qualquer outro cidadão de fibra, acionem o Ministério Público, estadual e federal, o Tribunal de Conta, estadual e federal, a Polícia Federal, a Advocacia Geral da União – e o “escambal”! - em nome de todos nós. O único urbanista a se posicionar contra a construção da aberração do Parque das Nações Indígenas - que não será entregue pelo atual governo, transferindo essa herança maldita para o próximo , além de inviável manutenção - foi o arquiteto CELSO COSTA. Ele (e seu filho também arquiteto André Costa, subsidiaram este artigo escrito por mim em maio de 2011) e que me recuso a alterar o título. À época não foi publicado (a não ser na mídia eletrônica), por ser considerado ofensivo. Pergunto, e, agora, prognóstico? Segue, na íntegra - direto do túnel do tempo e dos meus arquivos- o artigo, sem tirar nem por, “Supositório Aquático goela abaixo”. “ Nem a festa, nem o testemunho de ministros e autoridades são suficientes para que nos conformemos com a autorização da execução da obra (900 dias) para a construção do “maior aquário de água doce do mundo”. Divulgou-se que sairá do tesouro estadual, declaradamente, R$90.000.000,00 para a edificação do projeto, com 6,6 milhões de litros de água doce, 263 espécies e 7 mil animais. Informações revelam, ainda, que a empresa vencedora apresentou proposta de R$ 84.749.754,23 sobre o orçamento inicial, dando um descontinho de seis milhões, duzentos e sessenta mil, trezentos e quarenta e seis reais e setenta e sete centavos. A encomenda deverá ser entregue no 36º aniversário de criação do Estado em 2013, coincidentemente, ao término do mandato da autoridade que a gestou e quer pari-la. O requintado e estranho “supositório aquático” ocupará 18.636 metros quadrados dos 119 hectares do Parque das Nações Indígenas, também aqui, o maior parque urbano do mundo! Ao contrário do que pensam seus idealizadores, será um ultraje ao turismo sul-mato-grossense. Não nos orgulha e não catapultará Campo Grande no cenário mundial, porque a nossa verdade socioambiental, vez ou outra, é revelada na mídia nacional e internacional, sintomatizando a falência administrativa do nosso Estado. São os safaris pantaneiros, as pescas predatórias, os corredores do tráfico de drogas e de animais silvestres, os contrabandos, as invasões de terras produtivas e as ocupações de terras indígenas.A construção do “maior aquário de água doce do mundo” não nos orgulha, porque, o mesmo governo, que vai destinar recursos próprios para a obra, destacou-se como um dos cinco (Estados) que brigou na justiça para não pagar o salário-base dos seus professores, agora, garantido pelo Supremo Tribunal Federal. Porque falta aos nossos conterrâneos um atendimento médico básico e digno na área da saúde - os corredores dos nossos hospitais assim o atestam. Não nos orgulhamos disso, porque nossas mais tradicionais escolas estaduais (Lúcia Martins Coelho e Joaquim Murtinho) revelaram um índice de avaliação no IDEB, de 2,5 e 3,7 respectivamente - o nível mínimo para se considerar uma educação de qualidade é de 6.0. Não, nos orgulhamos, porque nossos jovens morrem como moscas no trânsito e em briga de gangues, inserindo Mato Grosso do Sul na estatística de uma das capitais com aumento gradativo do nível de violência. O projeto do “maior-aquário-de-água-doce-do-mundo”, que infla o ego de seus idealizadores, megalômanos, é, antes de tudo, um absurdo. Os recursos a ele destinados construiriam um conjunto habitacional do tamanho de uma “moreninha”, ou um hospital com 250 leitos, por exemplo. O projeto é inviável, inadequado e, sobretudo, agride os mais elementares princípios arquitetônicos, ao importar e viabilizar um projeto de um profissional que, se por aqui passou, foi pelos ares, de avião, estranho a nossa cultura. O “supositório aquático” é um acinte à capacidade profissional da arquitetura sul-mato-grossense e vilipendia todos os profissionais e todos os órgãos vinculados à arquitetura do nosso Estado. Além de tudo, retrata o desmantelamento do ramo empresarial na área da construção civil do Estado e o desrespeito à categoria e ao ensino de arquitetura de Mato Grosso do Sul. É tão sofisticado que não poderá contar com mão-de-obra local para executá-lo; ela também será importada. O “maior” aquário de água doce do mundo, aqui em Campo Grande, é injustificável e desnecessário, sobretudo, porque - se concretizado – destruirá a capacidade turística de nossas cidades circunvizinhas, cuja localização, a pouco menos de 3 horas de estrada, disponibiliza o mais belo e requintado ecossistema do mundo. Lugares esses, onde - seja para atender objetivos turísticos, ou de pesquisa – se pode, não, apenas, contemplar, mas, mergulhar em um riquíssimo ambiente aquático e desfrutar de toda sua biodiversidade. Tudo isso, nas mais límpidas e cristalinas águas do planeta, em cidades, essas sim, com potencial turístico genuíno e em vias de naufragar de vez se o devaneio de agora se concretizar. Para nós, aí está mais uma vez, dinheiro público jogado fora.” MARIA ANGELA COELHO – doutora e mestre em comunicação e semiótica pela PUC de São Paulo; com informações colhidas dos arquitetos CELSO COSTA – arquiteto com 5 milhões de metros quadrados de obras construídas, galardoado pelo Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, um dos cem Conselheiro de Minerva da UFRJ, Conselheiro Federal (por Mato Grosso do Sul) do Conselho de Arquitetos e Urbanistas - CAU, e, ANDRÉ COSTA – arquiteto e empresário.

domingo, 2 de novembro de 2014

O mundo prescinde do sectarismo religioso

Era uma bonita cerimônia religiosa de Crisma. Um grupo de jovens, acompanhados dos seus padrinhos, perfilados diante do bispo, apresentavam-se à “comunidade cristã”, para reafirmar, agora, de modo mais consciente, seus votos do batismo. O templo, embora lotado, abrigava confortavelmente cerca de 700 pessoas compostas por fiéis, parentes e amigos. O ponto alto da cerimônia seria marcado pelo momento em que os crismandos fariam sua confissão de fé, por meio dos atos que, a partir de então, como cristãos, passariam a renunciar. Era preciso, absolutamente necessário, que renunciassem a certas coisas, para merecerem a “entrada no mundo religioso-católico e tornarem-se, de fato, cristãos”. Para tal, deveriam responder a cada indagação do bispo com um alto e uníssono “renuncio”. Antes, na preleção, a autoridade eclesiástica já havia esclarecido sobre o significado do termo “cristão”, ou seja, “ ungido”: Jesus, o ungido. “Agora, afirmava ela, “vocês são cristãos, ungidos pela crisma”. Sob esse raciocínio, os demais seguidores de Cristo, dos seus exemplos, do seu Evangelho não são cristãos. Essa discriminação e segregação sempre foi comum dentre as religiões. O “outro”, o de fora não é o que os de dentro são. Enfim, todos os que se confrontam com as “verdade religiosas” professadas por determinado grupo não são o que eles apregoam ser. Um das “renúncias”, porém, deixou-me intrigada, pelo equívoco da informação com que fora propalada por tão alta autoridade religiosa. Expressara-se o bispo, mais ou menos assim: “tem cristão que acende vela aqui no domingo e depois vai no “despacho”, na “mesa-branca”, na segunda”, suscitando risos, na plateia. “Se, riem”, continuou, “é porque, sabem do que estou falando e não deveriam nem rir e nem saber”(sic). “Vocês sabem que 30% dos católicos acredita na reencarnação?!” A crença-espírita na reencarnação é a negação da ressurreição (da carne) e da nossa salvação por Jesus”. “A reencarnação é a auto-salvação e prescinde da salvação de Jesus: o indivíduo nasce, nasce, nasce até não precisar mais, por ter aprendido sobre seus erros”. “Jesus, para os espíritas, é apenas um exemplo a ser seguido”. “Mas, a Bíblia nos diz que só nascemos uma vez!” “Jesus, filho de Deus, veio para nos sal-var!”. Xeque-mate! Depois desses (d)esclarecimentos, lá vem a renúncia que me causou espécie. Questionou o bispo aos crismandos: “Renunciam ao esoterismo, à magia, aos despachos e ao ESPIRITISMO?!” “Renunciamos!!!”. A Religião tem um papel fundamental na vida pessoal e na da coletividade, pois, abranda a rudeza da vida, dos seres, nos prometendo, de uma forma ou de outra, a continuidade dessa - às vezes, tão miserável e sem sentido - vida, para melhor. Seu papel e sua função é ligar o homem a Deus (re-ligare), ajudando-o a transcender a realidade, inclusive, a fatalidade da morte. Sem ter recebido qualquer procuração dos cristãos-espíritas, gostaria de informar ao bispo que o Espiritismo nada tem a ver com magia, despacho e, ou, esoterismo. O Espiritismo é uma religião cristã constituída, reconhecida e respeitada que preceitua e procura indicar as práticas prognosticadas pelo Evangelho de Jesus; crê que a Bíblia, embora não seja a palavra Deus, contém a história da religião monoteísta do Deus Único trazida a lume pelo heroico povo de Israel (Antigo Testamento) e que possibilitou, que preparou e que aplainou o caminho para a chegada da Boa Nova (Novo Testamento), trazida ao mundo por um judeu – “filho da casa de Davi”. Jesus não é, apenas, um “bom exemplo” a ser seguido; é o ser angelical mais próximo de Deus que a Terra já teve condições de receber; modelo, sim, da salvação a que todos estarão fadados, em sua única e imortal vida, porém, em um contínuum esforço de auto aprimoramento – ao longo de milênios e sucessivas reencarnações, transitando e transformando treva em luz. O Espiritismo não é uma seita que precise ser renunciada, é uma religião a ser respeitada. Enquanto Francisco, o fraterno, acolhe a todos, cristão, ou não (a comunidade homossexual; às mães solteiras, divorciadas e separadas, afirmando que são “apenas mães”)... Enquanto Francisco, o lúcido, reconhece a validade da teoria do Big-Bang e a teoria da Evolução das Espécies, afirmando que elas não negam a Deus... Enquanto Francisco, o justo, pune os pedófilos e os vendilhões do templo da própria igreja... Enquanto Francisco, o simples, propõe uma reforma institucional sem precedentes, que seja capaz de atualizar - no que puder e lhe permitirem fazer - os conceitos e preceitos medievais da igreja romana católica, aproximando-a do homem de agora, é lamentável testemunhar o segregacionismo, a ignorância e a desinformação pregada como verdade incontestável, submetida a uma cosmovisão ainda tão retrógrada, vinda de tão importante autoridade religiosa. Maria Angela Coelho – professora doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo – http:mamirault.blogspot.com.br

terça-feira, 28 de outubro de 2014

SE O PT NÃO MORREU ESTÁ NA UTI

Numericamente falando, a causa é essa: 3,28% dos votos válidos – repito, válidos, eliminadas as abstenções - tiraram de milhões de brasileiros a esperança de mudanças de rota para o caminho de um futuro mais digno para nosso País. Isso é nada! São apenas pouco mais de 4.600.000, de um universo de 142.800.000 eleitores (praticamente o número de eleitores do Pará), que permitiram esse acontecimento trágico e vergonhoso para a nação brasileira. Há muito mergulhada em profunda crise de valores, ingressará, agora, com propriedade e competência, em 2015, com os dois pés no “inferno de dante”. Mas ... essa cota que nos levará à ruína, também, pode significar tudo! Tudo! Mesmo para o mais xiita e, ou, o mais ingênuo adorador do PT, o quarto mandato de “puder” (sic) prenuncia, por si só, a internação do partido na UTI, quiçá os aparelhos que o mantinham tenuamente vivo tenham sido desligados, nesse 26 de outubro, e sua morte - já que ideologicamente vem aos poucos definhando – já tenha ocorrido, faltando apenas um Dante para anuncia-la. Agora vamos às contas desse veredito tenebroso final. De 142.800 milhões de eleitores aptos a escolherem mudar o país, 27,7% de Pilatos lavaram suas mãos omissas, ficaram em casa, foram passear, assistir o faustão, foram pro raio que os partam e preferiram chafurdar em seus domicílios eleitorais, com seu copinho de brama e 51, nas mãos . Dos votos que o TSE considera válidos, ou seja - tirando esses apátridas de 27% - sobraram 113.400 milhões de votantes, certo? Destes, pouco mais de 51,64% (54.500 milhões) deram a vitória à Dilma, contra os pouco mais de 48,36% (51 milhões) de votos em Aécio. Se somarmos, os 51 milhões de votos válidos dados a Aécio (48,36%), aos pouco mais de 4 milhões e 600 mil (27,7%) dos que não estão nem aí e sequer se deram ao trabalho (até de se vender) de votar, somos 75,43 % de brasileiros que não queríamos e NÃO QUEREMOS Dilma e sua camarilha no poder por mais 4 anos. Sem falar nas possíveis, previsíveis e até anunciadas manipulações das urnas, se esta fosse uma eleição para síndico de prédio esses números dariam o maior quebra-pau, entre os condôminos. Mas, por enquanto, no mundo dos brazis-divididos, ainda não, embora, haja vestígios de pólvoras, reação e revolta aqui e ali. Desse modo, fria e calculadamente - tomada por minha formação, vivência histórica, somadas a minha extrema lucidez cívico-política e dever - tenho a audácia de prognosticar que Dilma, embora, reine, agora, não governará. Michel Temer e seus comparsas - visíveis e invisíveis - filiados ao partido, ou locupletados pelo PMDB continuarão mandando nas cartas. O PT, meus amigos, aquele da militância que tomava as ruas e entusiasmava o povaréu, já era, foi pro saco e já não pode nos assombrar mais. O país, caros colegas, cientistas políticos e marqueteiros, não foi dividido, nestas eleições, porque 2/3 não é metade dos eleitores e muito menos dos 202,7 milhões de brasileiros. Essa contundente maioria não optou pela reeleição e manutenção do PT no poder. Quero ver "dilma-coração-valente" dar conta do recado e da encrenca em que foi metida; com dois terços da população eleitoral na oposição ao seu (des)governo. Quero ver calar o rumor e a baderna que já tomavam as ruas, nossa segurança e expectativa de paz. Só se Temer quiser, o impeachment não ocorrerá. Mas, se ele quiser a legitimação de fato do poder, Temer - além de continuar governando o país, mantendo na água morna, por um tempo, o rescaldo dos petistas, sob o tacão de suas botas, enchendo a administração com suas mais de 3 dúzias dos seus inócuos e corruptos ministérios (ah! Gleise Hofman e Delcídio serão ministros) – logo-logo dará vasão ao processo de impeachment da presidANTA das minorias. Aí, então, Temer ocupará o trono da nação brasileira. Mas...se; se nós, que ‘fazemos parte dessa massa’ dos 75% que não quer Dilma nem PT no poder, quisermos, agirmos, ela não governará esse pequeno feudo de 1/3. Se os 75% quiser - isso, se os 27% deixar de expor a bunda na janela e deixar de ser babaca - e saírem, aqui e ali e acolá, pipocando e ocupando wall street de Norte a Sul do país politizado, MUDAMOS DE FATO A HISTÓRIA DESSE PAÍS. O certo é que a ELEIÇÃO DA SÍNDICA PODE TUDO SUSCITAR. Tudo pode acontecer. Porém, o pior dos infernos mesmo é que, também, TUDO PODE FICAR COMO ESTÁ, ENGASGADO NA GOELA DA BOA GENTE BRASILEIRA, E, NADA, ABSOLUTAMENTE, NADA, ACONTECER. Aí, toda aquela babaquice da mobilização espontânea de milhões de brasileiros, de que participei, em junho de 2013, terá sido em vão, porque terá sido mesmo por vinte centavos (e, eu tenho carro, PÔ!). Decerto mesmo é que a bola bateu nas nossas costas, doeu, sangrou, sujou a camisa e rasgou a alma, mas, voltou pra gente. Aliás, essa bola sempre esteve com a gente. ACORDA, BRASIL! Maria Angela Coelho – professora doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http:mamirault.blogspot.com.br Publicado, em 30.10.2014, no jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Onda de mundanças com quem cara-pálida

“O burro usa a força, o inteligente usa a inteligência... o esperto contrata os dois e ganha dinheiro”. Assim expressou-se o arquiteto Celso Costa - um ilustre campo-grandense em sua linha do tempo do facebook. É exatamente isso o que estamos presenciando nesse segundo turno das eleições, em Mato Grosso do Sul. O que está delineado, hoje, para o eleitor que não quer – e, não deve – abster-se de escolher entre as duas candidaturas postas à mesa; ambas indigestas para quem tem dois ou mais neurônios, algum princípio democrático, ética, honra. Vejamos. O Brasil - provavelmente, só com Aécio seja possível – necessita sair do blá-blá-blá e de sua barbárie já tão cotidiana, e promover urgentemente a bendita Reforma Política. Olhe amigo leitor, a que nos levou a distorção permissiva e - pasme! – legal de duas imoralidades, ou amoralidades eleitorais, dentre outros retalhos permissivos pelo TSE: (1) o instituto maldito da reeleição (legado à nação brasileira, as custa de um Congresso comprado à época pelo governo de FHC) que mantém (e quer se manter intramuros da Papuda) o poder federal em mãos manchadas de petróleo e dinheiro de doleiros, dentre outros crimes, e, (2) a permissividade dos acordos e pactos (me recuso a chama-los de alianças) de partidos políticos de todas as cores e ideologias, custe o que custar e que junta alhos com bugalhos. O PMDB de André Puccinelli rachado com o PMDB de Nelson Trad Filho perdeu duas eleições nesses últimos dois anos; nesta, salvaram Simone Tebet, elegeram alguns deputados. Ponto final; foi o que o povo quis! Mas, não, eles, mesmo rachados - mas, não subjugados nem rendidos - querem mais, querem governar, querem se manter no poder e, curiosamente, parte (com autorização do capitão André) bandeia-se para dar apoio à candidatura Azambuja, enquanto alguns já rebelados no primeiro turno seguem orientações de André apoiando e trabalhando para Delcídio. Não importa mais saber quem dos quais está com quem, nessa reflexão: ele - o PMDB- estará no governo com toda sua presença, pujança, interferência e “modus operandi”; seja quem for que você escolha no próximo dia 26. No Planalto eles já governam desde a primeira era Lula que se anunciou como a opção de mudança enganando-nos a todos e compartilhando todos esses anos do mesmo prato de Renan, Sarney, Collor e Barbalho. Assim continuará, se Dilma ganhar esse segundo turno e, talvez, estertorando-se ainda, até se imponham a Aécio (com menor fúria, espera-se!). Estamos vivendo um processo eleitoral esquizofrênico, no qual a lucidez, a consciência de cidadania política, o conhecimento da história político-social tem pouco o que fazer. A verdadeira classe média, dita elite pensante vai se ferrar de novo! Nós os sabidos, os que querem um país e um mundo melhor, ficaremos a margem de novo, só com o ônus e sem o bônus. Os analfabeto políticos e funcionais, os que se vendem e os que compram: os burros e inteligentes estarão no poder e ganharão essa eleição. Esse emaranhado, esse encruzilhamento, esse cumpliciamento político vai redundar em um índice maior ainda de abstenções e de nulidade de votos neste segundo turno, com margem de erro, ou não. Não é porque o capeta quer apoiar que se deve aceitar, pois, obviamente, ele vai nos levar para o meio dele, e o meio dele, todos sabemos, é o inferno. Azambuja vai colher esse cumpliciamento na derrota nas urnas, ou, em sua gestão e, aí, sim, comerá o pão que o diabo amassou servido por esses agregados. Delcídio, embora represente o continuísmo petista, livrou-se dessa roubada; terá mais chances agora, enterrando de vez parte dessa dinastia PMDB. O candidato que prenunciava, no primeiro turno, uma “onda de mudança” contra o candidato do “continuísmo do PT”, agora inverte a lógica, apoiado (contaminado, subjugado, cooptado, aviltado) pelas forças retrógradas que governam esse estado e sua capital há pelo menos duas décadas. Se a coligação de Azambuja “fortalecida” (?) pelo PMDB de André (via Nelsinho) ganhar este segundo turno, foram-se as mudanças com vistas à modernidade de gestão, pois, tudo ficará como dantes. E, como pactos não podem ser quebrados, André reinará! André, o esperto, engolirá Azambuja, o ingênuo! Os tentáculos do partido que já se apresentam nas adesivagens de rua, nos eventos públicos - cujos sorrisos partidários prenunciam a tomada da “bastilha” - prenunciam o retrocesso governamental a que estaremos fadados, em Mato Grosso do Sul, caso esse PMDB ganhe no tapetão. Mas, pergunto de baixo da minha insignificância: não foram eles que, mal avaliados, já perderam pro Bernal, o prefeito cassado, a eleição em 2012, na capital? Não foram eles que agora também mal avaliados perderam esse primeiro turno das eleições? O que os move a apoiarem o ingênuo candidato Azambuja, em detrimento do mais bem avaliado Delcídio do primeiro turno? No caso local, a mudança estaria com o PT? Seria Delcídio o antídoto contra o retrocesso de André e Nelsinho e toda a sua corte de paus-mandados? Com quem está agora a bandeira da “Onda de mudanças”? Quem é o burro? Quem é o inteligente? O esperto bem já se sabe quem o é. Refeição indigesta nos será servida neste segundo turno, mas, não deixemos de dar a nossa opinião, comparecer as urnas e deixar registrada nossa participação, cidadãos livres que somos. E, seja lá o que Deus quiser! Maria Angela Coelho Mirault Professora Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http:// mamirault.blogspot.com.br

domingo, 7 de setembro de 2014

Senhores! Não admitimos mais!

Júpiter – “Senhor da Justiça; deus dos raios e trovão; 2º sol, benevolente, profícuo e grandioso”. É ele quem, segundo os astrólogos, governa este nosso especialíssimo ano de 2014. Tudo a ver. Periodicamente, a História Humana é rasgada por fatos, cuja contundência assinala mudanças paradigmáticas inescrutáveis, irreversíveis e que traçam o limite preciso entre um antes e um depois; um fim e um começo para novos possíveis (Prigogine). Momentos que lavram com exatidão os registros akáshicos e culturais de uma era que estertora para dar a luz a um novo começar, e, consequentemente, o alcance de um novo patamar – majorante – (Piaget). Vivemos nesse momento paradigmático e esse momento entrópico, na linha do tempo da História do povo brasileiro. A edição datada de 6/09/2014, da revista Veja, registra um desses instantes paradigmáticos da política brasileira, de virada de jogo, tal como já o fizera ao estampar em sua capa o registro do instante em que o funcionário do Correio, Maurício Marinho, recebia a propina de (meros?) 3 mil reais e que deu origem a avassaladora onda que nos trouxe a epifania do Mensalão e à lume a figura – de certo modo, depois - quixotesca de Roberto Jeferson. Agora, é Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás, quem nos brinda com muito mais do que meia dúzia de cabeças coroadas - do eixo Alvorada – entregues à bandeja da Polícia Federal e ao povo brasileiro. Com a delação premida do facínora da Petrobrás, o sistema explodiu! A casa caiu! E ele, que, apenas, iniciou sua confissão, tem revelado que a pátria brasileira, em mar revolto, há tempos vem sendo saqueada; suas riquezas dispersadas para paraísos fiscais, em nome de um plano criminoso e insano de poder. Desde a véspera deste 7 de setembro, as faces dos estupradores da nação estão nas páginas das revistas, nas redes sociais, muitas delas identificados pelos fotoshops em peças de campanha. Não é possível que o brasileiro médio tombe alvejado mortalmente e não entenda ainda de onde estão vindas as rajadas que o alvejaram. Rememorar os desfeitos do passado perpetrados por outras quadrilhas não justificam mais os fatos do presente. Não podemos mais olhar pelo retrovisor; precisamos faxinar o presente para salvar o futuro do país. Combalidos, moribundos, do leito sujo de uma UTI, já não nos é mais possível deglutir o prato que nos chega da cozinha nauseabunda do hospital, entregue, delivery, pela Veja. Os “bandoleiros do poder” (Marco Antonio Villa) se aperfeiçoaram de tal maneira e é tão monumental sua práxis que o brasileiro mediano sequer tem noção de que não sabe e nem sabe que não sabe (Chomsky) o que representa a sangria da Petrobrás e esse momento histórico para si e para os seus. “Destruidores do estado democrático de direito” (ministro Celso de Melo), fundidos a nossa jugular coagulada, no entanto, eles ainda querem mais tempo. Porém... alto lá! O caos não pode se sobrepor à ordem, que é lei universal. Apesar das evidências, há vida além do final do túnel; a maioria de nós é de gente de bem, cuja predominância dos valores éticos e da boa conduta nos indica ao rol da civilidade. Nós - a nação brasileira - não admitimos mais. Não dá pra desculpar “mamãe” dessa vez, como fizemos com “papai”. Se a senhora não viu, não dá pra ficar e, muito menos, nos pedir pra continuar a arrumar nossos armários e a fazer nossa comidinha; se viu e foi conivente, e, cumpliciou-se ao que há de pior na escória brasileira, seu lugar não é mais aqui em casa. “Asta la vista, baby!” Estamos implodindo! Somos 200 bilhões de náufragos saqueados. Acorda, Braziu! Que teus filhos não pensem, nessa hora das Oliveiras, que nada mais há a fazer e te entreguem por 30 dinheiros à sanha de Heródes, para mais adiante libertarem Barrabás. A HORA é de reverter o coma, levantar-se e, heroicamente, garimpar nos rescaldos, a preciosidade da escolha acertada da mudanã. Eles, o piratas, não são maioria, são bandidos! Tem gente como nós, honrada, patriótica, timidamente se apresentando nessas eleições; não nos basta ficar com o mais ou menos. E, Macunaíma, pense bem, “laranja” não é solução. As gerações futuras merecem uma história melhor; nossos filhos, um futuro decente. Acorda, Braziu! A corrida eleitoral mudou de novo e nova largada já foi dada, com tiros de festim, pimenta nos olhos e gás lacrimogênio. Embora a nação estertore, vitimada por filhos seus e o Luto; a Morte; a Desesperança e o Medo nos tomem de assalto... Resistamos! Senhores! Não admitimos mais! Maria Angela Mirault – professora doutora em Comunicação pela PUC de São Paulo http://mamirault.blogspot.com Publicado no site topvitrine,com.br, em 10.09.2014 jornal Correio do Estado, em 12.09.2014, Campo Grande, MS

sábado, 23 de agosto de 2014

Política não é coisa de mulherzinha

Pô...! Acorda, aí, companheira. Somos quase 52% dos eleitores contra 48% dos homens. Segundo essa estatística do TSE, dos quase 52 mil vereadores eleitos em 2008, somente pouco mais de 6% ( cerca de 6.500) eram mulheres. Na Câmara Federal, dos 513 homens, só 45 são mulheres; no Senado, dos 81 senadores, 10 são do sexo feminino. Na América Latina somos o 2º. País com o mais baixo índice de mulheres em cargos legislativos, na frente apenas do Panamá. No mundo, ocupamos o 111o. lugar (dados da Inter-Parlamentary Union, 2011). Essa nossa caseira situação da representação feminina chega a ser pior do que em alguns países árabes! As mulheres brasileiras, em pleno século XXI, além de serem vistas como bobinhas que brincam de casinha, contentinhas, brincam também de fazer política. A lei das cotas para participação feminina nas eleições é uma falácia; um acinte diante da qual, as mulheres ainda se prestam a serem coniventes ao machismo imperativo dos homens, donos dos partidos. Provavelmente, por absoluto desconhecimento da legislação, dos artifícios a que estão sujeitas, por omissão e descaso, se prestam a esse papel de absoluta subjugação e aviltamento. A lei das cotas, sob a aparência de ser tão favorável às conquistas do segmento feminino, é, antes de tudo, discriminatória e antidemocrática, pois, institui, ainda hoje, um índice desproporcional entre candidatos homens e mulheres: 70% X 30% (por que não 50%/50%?). O disparate acolhido pelas mulheres que se prestam, amordaçadas, a esse papel dentro dos partidos é uma aberração de gênero. A benesse das cotas foi instituída, primeiramente, pela Lei no. 9.100/95 que estabeleceu a cota de 20% para candidatas femininas, 80%, por tanto, destinada aos “homens do partido”. Em 1997, a Lei no. 9504 decidiu que o índice destinado às mulheres “deverá reservar” não mais 20, mas 30%. Docinho na boca das meninas, que, em o aceitando e se deliciando, referendou a mais absurda estratégia, visto que o caminho entre o “deverá” e o “preencherá” estava muito longe de ser percorrido. Somente em 2009, a Lei no. 12.034 foi alterada em seu teor e ao invés de constar no texto “o partido deverá registrar candidatas, em no mínimo, 30% do número de vagas requeridas”, teve sua alteração para “preencherá”. Óbvio que, isso, já pareceu um avanço para participação feminina nas eleições. Agora, os partidos são obrigados a destinarem 30% de suas vagas para as mulheres; fato. De 100 inscritos no TSE, 30 têm de ser mulheres. De 20, 6, por aí em diante. As mulheres sentindo-se prestigiadas sentiram-se também distinguidas ao serem convidadas por seus partidos a preencherem “a cota”, sem se darem conta de que, sem discussão e debate a respeito do assunto, referendaram a desigualdade que se perpetua nesse 70%X 30%. E, mais, emprestam sua condição feminina, para o cumprimento da lei, destinadas, apenas, a distribuírem santinhos em suas paróquias e vizinhanças, pelo simples fato de que (em sua grande maioria, claro tirando as “exceções”) as “mulheres de cota” não “merecem” nenhum centavo (nada obriga ao partido) do Financiamento de Campanha, para construírem, de fato, suas campanhas. São vítimas coniventes de um verdadeiro crime de estelionato (crime econômico - Código Penal Brasileiro : “obter para si ou para outro, vantagem ilícita, em prejuízo alheio induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento."). Muitas que se prestam a esse papel são mulheres equivocadas e que se satisfazem com seu pacote de santinho e saem a fazer campanha para a chapa majoritária, ou seja, cumprem o seu papel de formiguinhas-inocentes-úteis. Mas, muitas há (talvez, poucas!) que não são mulheres de cotas e destinadas a distribuir santinhos, não, agora, na segunda década do terceiro milênio! Algumas poucas há que trazem na sua história muita contribuição a dar ao país. A discriminação no financiamento de campanha é uma questão cultural, machista e inadmissível para as mulheres de fibra, de honra, de serviços prestados à cidadania, sem terem legislaturas. Essa questão coloca um obstáculo odioso e até intransponível para a presença da mulher na vida pública e explica as estatísticas do baixo desempenho eleitoral de mulheres, em nosso malfadado país. Maria Lúcia Amary, deputada de São Paulo (PSDB) declarou em recente debate (17/03/14): “queremos que as mulheres tenham direito a 30% dos recursos de Fundo Partidário". Por enquanto, de migalhas não dá como ser parceira de um sistema corrompido em sua fonte. Se a mulher, a maioria dos eleitores brasileiros, votassem em mulheres, a política brasileira mudaria substancialmente. Ah, estamos muito atrasadas nesse quesito, caímos nas mesmas velhas ciladas do fotoshop, e, com certeza, mais um palhaço e um ficha-suja será reeleito nas próximas eleições, lamentavelmente, pelo majoritário voto feminino. Política, meninas, não pode ser coisa de mulherzinhas. Avancemos!

terça-feira, 19 de agosto de 2014

NÃO AO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO EM CAMPO GRANDE

O fundamentalismo surgiu no protestantismo norte-americano em meados do século 19, cunhado por professores de teologia da Universidade de Princeton, expressos em doze livros - Fundametals. A Testeimony of teh Truth - e fazia a proposição de um cristianismo, excessivamente rigoroso, ortodoxo e dogmático, em contraste com o liberalismo norte-americano. Sob essa perspectiva, a Bíblia - por ser de inspiração divina - só deve ser encarada como o fundamento básico da fé cristã e tomada sob o estrito rigor da letra. Qualquer interpretação, ou contestação será obra de satanás. Essa concepção a respeito do texto sagrado coloca todo militante como um crente dessa “verdade inconteste”. Note-se, que se pode identificar o fundamentalista em toda e qualquer religião, e, mesmo, expansivamente, o convertido, em qualquer ideologia. Do mesmo modo, ressalve-se que, nem todo protestante é um fundamentalista. Afirma, Leonardo Bof, em sua obra “Fundamentalismo – a globalização e o futuro da humanidade” (Sextante), que o próprio Lutero já afirmava: “a Bíblia toda tem a Deus como autor, mas, suas sentenças devem ser julgadas a partir de Cristo.” Esclarece, ainda, Boff: “com o Concílio Vaticano II, a Bíblia é inspirada e inerrante (que não pode errar) só com referência às verdades importantes para nossa salvação”. Por isso, dizem, os católicos, “na Bíblia está contida a Palavra de Deus” e não “a Bíblia é a palavra de Deus”. Desse modo, qualquer pessoa que confere caráter absoluto ao seu ponto de vista é um fundamentalista, pois passa a acreditar-se senhor da verdade incontestável, daí sua intolerância aos pensamentos opostos. Na visão de Boff, “ ... a intolerância gera o desprezo aos outros, a agressividade, e agressividade, a guerra contra o erro a ser combatido e exterminado”. Dito isso, afirmamos que o Estado de Direito e Laico do Executivo Campo-Grandense foi pro ralo, exterminado, com a realização exclusivista, discricionarista, segregacionista e inconstitucional da malfadada Quinta Gospel, realizada no dia 14 do corrente, como um “presente para a cidade”. Muito longe de espalhar luzes, deu vazão à ação nefasta da treva. A lei no 5092, de 20 de julho de 2012, que “institui na praça do Rádio Clube a Quinta Gospel no Município de Campo Grande”, prevê sua realização “na quinta-feira que antecede a noite da seresta utilizando a mesma estrutura que é utilizada na noite da seresta”, e a “apresentação de artistas nacionais e regionais”, sob o patrocínio da Fundação de Cultura de Campo Grande, por si só, não exclui, a expressividade musical de outros segmentos religiosos, porém, seu teor deu margens à interpretação dúbia por parte da diretora-presidente (Sra. Juliana Zorzo) da FUNDAC e garantiu a exclusividade de apresentação de um único segmento religioso, em detrimento dos demais. Em maio deste ano, o ICE-MS (Instituto de Cultura Espírita de Mato Grosso do Sul), representado pelo seu presidente, João Batista Paiva, encaminhou ofício à Fundação solicitando participação de artistas espíritas no show. Em resposta (4 de agosto de 2014), a diretora manifestou-se com a argumentação de que “a indicação de artistas espíritas seria impossível” porque foge da proposta do evento destinado ao “público evangélico cristão”. O fato é que, apesar da ignorância do segmento religioso que “batalhou” a lei, não podemos admitir que houvesse qualquer mínima discrepância nas decisões de gestores com relação a dotações orçamentárias dos recursos públicos; o privilégio de uns e a exclusão de outros. Se o local é público, os recursos são provenientes dos cofres públicos, organizado e patrocinado por um órgão público – que se qualifica como uma Fundação de Cultura – e, sob o princípio que deve reger o Estado Laico expresso na Constituição Federal, que a Quinta Gospel garanta nas próximas edições a participação de todos os segmentos religiosos que nesse espaço queiram manifestar sua religiosidade por meio da linguagem musical. Caso o espírito fundamentalista - que vem pouco a pouco corroendo os espaços da gestão pública municipal - persista, que o Ministério Público faça valer a sua função de resguardar os direitos do cidadão (católico, espírita, ateu...), interfira pela revogação imediata dessa lei municipal; para que sirva de exemplo de forma que expedientes semelhantes não se perpetuem nessa gestão, impondo-se às leis que garantem, ao Estado laico brasileiro, o direito à livre expressão e manifestação religiosa em nosso país. Maria Angela Coelho Mirault – Professora Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http://mamirault.blogspot.com.br

domingo, 27 de julho de 2014

O gado (não) marcado... decidirá

Faz pouco mais de um ano que 1 milhão de brasileiros tomaram as ruas de 388 cidades brasileiras, sem nem mesmo saber porquê. Os protestos tinham motivações difusas, mas, latentes. Não é natural que toda aquela energia tenha simplesmente se dissipada no éter; ela repercute e ainda retumba por aí, e, com ela, o Brasil está mudando. Zé Ramalho, o compositor de uma canção (1980), que todo Brasil cantarola, em poucas palavras, resume bem o estado de consciência que ainda optamos por, confortavelmente, manter. Nesse estado, preferimos viver de promessas vãs, na expectativa de um futuro incerto, tal e qual nos diz a letra: “... O povo foge da ignorância, apesar de viver tão perto dela. E sonham com melhores tempos idos, contemplam esta vida numa cela. Esperam nova possibilidade de verem esse mundo se acabar ”). Em Admirável gado novo (1980), Zé Ramalho faz uma paródia da obra-maior Admirável mundo novo, do escritor inglês Aldous Huxley, publicado em 1932. Na ficção, tudo se passa, paradigmaticamente, no ano 643 - era pós-Ford - quando valores oriundos da família, religião e relacionamentos pessoais com conotação afetiva são considerados inadmissíveis pelos mecanismos de controle do Estado. Dúvidas e insatisfações eram resolvidas pelo soma – remedinho anestesiante do status quo e estimulante da “pronta felicidade”. Nessa era futurista, as massas vivem como gado, sem pensamento, sem senso-crítico, manipuláveis e manipuladas, anestesiadas, rendidas ao estabelecido como normal. Ramalho faz esse alerta há mais de 30 anos, Huxley, há mais de 80. Mas, precisamos acordar desse torpor. Não há nem haverá soma para todo mundo. A última pesquisa registrada no TRE (BR 235/2014), divulgada em 22 do corrente – bem antes do tisunami econômico que nos afeta (e, nos sobressalta) e que desencadeou o pronto anúncio (da máquina?) da fornada de liquidez patrocinada pelo Banco Central - apontava a possibilidade de um segundo turno para a eleição presidencial. A mesma pesquisa que dá 36% para a reeleição e 22% para o 2º. candidato opositor registra - mas, ninguém detalha - que a soma entre os que declararam o voto branco e nulo, somados aos que, ainda, “não sabem ou não responderam” quase se iguala a soma da intenção de votos nos dois primeiros colocados, ou seja: 17% (branco/nulo) +39% (indecisos) = 56%. Pode ser que o voto consciente valha muito pouco nestas eleições, mas, também, pode ser que seu valor não esteja comensurado nas pesquisas de agora, e venha fazer uma enorme diferença, em outubro. Conta simples de se fazer. Éramos 135.804.433 eleitores em 2010, hoje, somamos 141.824.607. Se levarmos em consideração as pesquisas recentes, serão os 39% de indecisos que pode virar o jogo nestas eleições. Somados aos que se declararam pelo voto em branco ou nulo e os que se absterão de votar, as próximas eleições serão o que esses brasileiros deixarem que seja, votando, ou, não. É simples, eles poderão decidir o futuro político, econômico, social, cultural, ideológico do país; consequentemente, influir no nosso futuro. Isso é grave e diz respeito à nossa vida. Nada pior do que a eleição do eleito pela minoria! Há pouco mais de um mês, o Datafolha havia divulgado que 74%, dos seus pesquisados “querem mudanças nos rumos do país”. Se observarmos bem, essa conta não fecha, se levarmos em consideração, também, o índice de rejeição dos dois candidatos que lideram as pesquisas: a candidata à reeleição mantém 36 % e o segundo colocado, 16 %. Nessa contradição retratada nas pesquisas, pode ser que as eleições estejam manipuladas, por medidas paliativas – até subliminares -, e, ganhas pelo voto do gado novo, de Ramalho; dos que, anestesiados, preferem viver o dolce far niente provisório, mantidos em água morna, sob a convicção de que pior (nem melhor) não fica. Porém, ah, porém ... Desde o “vai tomar no ...”, proferido em uníssono pela rotulada elite branca, no Itaquerão, na abertura da malfadada Copa, até agora, ecos do despertar de alguns poucos vão surgindo por aí. Talvez, elas estejam migrando para esse índice de 39% dos indecisos. São vozes indistintas que, pouco a pouco vão formando opinião. O troar dos trovões farão relampejar e chover - questão de tempo. Movimento natural, é irreversível, pena que possa não dar tempo, agora. Mas, também, pode; tudo é possível e nada está tão certo e garantido nesse primeiro pleito com a disponibilidade das novas mídias. Mesmo que alguns cientistas políticos prenunciem que em cenário estável (uso da máquina e do aparelhamento do Estado) a reeleição seja certa, pergunto eu – e tomo a liberdade de alertar a você - que cenário estável é esse que motivou o 5º. maior banco em operação no Brasil (1º. estrangeiro) a alertar aos seus clientes vips sobre o perigo que ronda seus investimentos? E, registre isso em carta aos correntistas, observando que: “a economia brasileira continua apresentando baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta-corrente. A quebra de confiança e o pessimismo crescente em relação ao Brasil em derrubar ainda mais a popularidade da presidente, que vem caindo nas últimas pesquisas, (...). “Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas”. No encerramento aconselha: “Diante desse cenário, converse com seu Gerente de Relacionamento Select para alocar os seus investimentos de maneira mais adequada ao seu perfil de investimento.”? Para mim, soaram as trombetas dos anjos do Apocalipse. Isso quer dizer, minha gente, que a sirene está tocando faz tempo, agora, é hora de correr e buscar o abrigo mais próximo, ou, então, ficar e pelejar. A hora não é a de esperar que o gigante adormecido desperte, porque o gigante adormecido somos nós. A hora é do despertar coletivo, hora de influenciar os indecisos e acreditar que é possível apostar no futuro e ser um agente de mudança na história do Brasil. Maria Angela Mirault – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http:mamirault.blogspot.com.br Publicado em wwww.topvitrine.com.br, www.marcoeusébio.com.br e jornal Correio do Estado, MS, 30.07.2014

domingo, 20 de julho de 2014

Xô, temor servil!

Ei, você! A-c-o-r-d-e! Soaram as trombetas, tocou o despertador, cara-pálida; o torpor da ressaca acabou; o que tinha de ser roubado já foi; Barbosão jogou a toalha, os mensaleiros subiram na mesa; o mundo está em chamas e sem fronteiras; a boiada já foi pro brejo. Pelamor-de-deus, acorde, tire o amor da chuteira, já. Acorde, pois, o Brasil está na UTI, sobrevivendo à custa de aparelhos, sem escolas, sem saúde e muito sem educação. É hora do lusco-fusco, de entressafra, de mula-sem-cabeça, do Armageddon, quando todo o cuidado é pouco. Lobos em peles de cordeiros já nos farejam e estão em nossa caça, com suas vozes melosas e arrastadas, bolsos recheados com merrecas de reais, dotados do mesmo velho vício de nos anunciar suas maravilhas, de nos comprar e de se vender, porque - é bom demais, para eles, manterem-se no poder - a gente é facinha e baratinha demais. Em todas as eleições, prostituímos as urnas e, depois, é muita decepção. Não vale a pena, já vimos esse filme, até na sessão da tarde. Logo-logo milhares de criaturas - a nossa semelhanças - zumbizando, sairão de seus covis e, com suas fotos sorridentes e muito fotoshop estarão inundando nossas ruas, nos outdoors, santinhos e promessas vãs, querendo confundir-nos, dizendo que fez o que não fez e que não fez o que fez. É hora de lançarmos mão da sabedoria milenar de separar o joio do trigo, pois muita gente decente e ficha limpa estará, civicamente, colocando suas vidas e suas caras a tapas e oferecendo uma nova via mais digna. A largada já foi dada. Estamos prestes a mais uma refrega com vistas às eleições majoritárias, em todo nosso país. As cartas já estão marcadas, os candidatos escolhidos ou impostos pelas centenas de milhares de siglas partidárias, referendadas pelo TRE. Não tem mais essa de esquerda, centro, ou direita; está tudo misturado - a maior torre de babel - numa verdadeira orgia cívica. Quem é quem; quem está com quem; quem é oposição, quem é situação? Cai fora disso; não existe mais ideologia de partido. Esse papo já era. Porém... Porém, esta será a primeira eleição alavancada pelas - cada vez mais - surpreendentes inovações tecnológicas na circulação e propagação da informação. Vivemos a era tão propalada por George Orwell, em sua obra 1984, escrita em 1938; a era do big brother – não o da Globo - real, do nosso dia-a-dia, do tempo e do lugar em que todos nos mantemos online. Copiou? Estas eleições serão totalmente diferentes das anteriores, é bom saber. Os verbos comprar e roubar não poderão ser conjugados com tanta eficiência e facilidade, como antes; vai que alguém registra? As classes A, B, C, D, E, F... Z foram dotados de celulares comprados-nas-casas-bahia e todo celular pode baixar um whatsApp qualquer e se comunicar, gratuitamente; o instagran leva qualquer registro imediato paras redes sociais em tempo real; o face é o maior mural de egos do mundo, blogs se atualizam a cada minuto. George Orwell profetizava a existência de uma tela em cada lugar, pelas quais, todos se vigiavam mutuamente em nome do partido, a mando do grande-irmão; em uma Eurásia dominada e mantida com a prática diária obrigatória do minuto do ódio incentivando a delação. Relações e emoções eram proibidas, punidas, e tudo, absolutamente, tudo era passível de ser visto, denunciado, enquanto uma novilíngua alterava significados considerados importantes pelo partido. Mas, bastou um ressurgente, em terra de cegos, para fazer valer toda a obra e desvario da narrativa de Orwell. Contudo, neste momento cívico, decisivo para nossa história, para história do homem na face da terra, para a história do mundo e, quiçá, sobrevivência da espécie humana é de vital importância não nos acovardarmos. Seja onde quer que estejamos, façamos valer a nossa presença nesse mundo, aqui e agora. Todos somos capazes de influenciar alguém, desde que estejamos motivados. Já pensou na importância da nossa ação dia 5 de outubro? Já se imaginou agente de transformação? É preciso, antes de tudo, que a gente se creia capaz de melhorar o mundo, a realidade tão cruel em que estamos, normoticamente, sobrevivendo. Nós podemos combater tudo que nos aflige: a violência - no trânsito, nas ruas, em nossas casas, nas escolas e portas dos hospitais – a impunidade, a corrupção. Somos responsáveis pelo que nos acontece e nossa presença – e importância - em um mundo em chamas é valiosíssima pra ser abdicada, neste momento tão especial. De um em um, todos nós podemos aderir e lutar pela verdade, pela clareza, pelo despertar da festa; difundir uma campanha que nos faça assumir nossas culpas e nossas responsabilidades cidadãs com relação ao futuro da nação. Posicionemo-nos, flagrante e ostensivamente, contra o voto nulo e o voto em branco, busquemos os indecisos. Já pensou 4 anos de um governante eleito com a maioria dos votos válidos? Exemplificando: de um universo de 100, 80 anule, válidos sobram 20. Ou seja, o candidato com 11, ganha o seu mandato à custa dos votos dos famigerados indecisos, dos alienados, dos omissos e dos vendidos! Será o nosso voto consciente, inalienável, sim - esse é moeda de troca de valor, mas, sem preço – que nos trará a riqueza de um país melhor para nossos filhos e netos. Façamos com a nossa maciça presença nas urnas, fazer valer a nossa voz em um único e uníssono clamor capaz de balançar a terra, fazer a lua tremer e o Sol se iluminar em 4ª. Grandeza, com nossa pujança e amor à Pátria brasileira. Com garra, assumamos o nosso lugar na vida, no mundo e no futuro do país. Não podemos nos dar ao luxo de estarmos indecisos, agora. Sobretudo, não reelejamos ninguém que nãos nos tenha bem representado em seus mandatos, estes, já tiveram a sua chance e fracassaram, mas, foram parar lá porque lá os colocamos, com nosso voto, com nossa omissão, com nossa indecisão. Façamos política, visto que políticos todos o somos. Façamos política em nossas discussões e pontos de vista em casa, no trabalho, na rua, nas associações, nas igrejas, no ponto de ônibus, na escola, na repartição. Mudemos esse país, chega de brincadeira, da palhaçada da pátria-de-chuteiras. Xô temor servil, ou ficar a pátria livre, ou, morrer pelo Brasil. Professora Maria Angela Mirault – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo publicado nos sites; www.marcoeusebio.com.br, domingo, 20/07/2014, www.topvitrine.com.br, segunda, 21.07.2014 e no jornal Correio do Estado, Campo Grande, 22.07.2014.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

MARIA ANGELA MIRAULT E MACHADO DE ASSIS AGRADECEM

“Pode não dar em nada”, dirão alguns. Mas, eu creio, antes de tudo, na Justiça Divina, e, também, na Justiça brasileira, mesmo que não venha a ter benefício algum pela luta empreendida. Mas, eu creio que lá adiante, alguém os terá. Porque, quando lutamos, reivindicamos alguma coisa que só nós vimos, só nós fomos buscar fundamento e só nós sabemos que alguma coisa está muito errada, e, por isso, o fazemos não só para si, mas, para toda a coletividade. Por isso, luto, combato, estrilo, boto a boca no mundo. A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (e, não é a única!) tem publicado editais e realizado seus concursos públicos, para cargos do seu quadro permanente, totalmente inconstitucionais. Conheço acadêmico que teve desconsideradas duas obras de sua lavra publicadas em editoras de reconhecimento nacional, pois os “doutores” da banca as consideraram ultrapassadas (mais de 5 anos de publicação) desmerecedoras de pontuação no quesito de produção intelectual. Seria tal como se Machado de Assis, Ruy Barbosa, Monteiro Lobato, se vivos, não estivessem aptos a concorrerem a uma vaga em um concurso público da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O item 7.7.8 do Edital PROGEP no. 04, de 11 de abril de 2014, para o provimento de vagas para o cargo de professor da classe Adjunto A (doutores), no quadro permanente da UFMS prevê que “as atividades de projeto de pesquisa e extensão, produção bibliográfica, produção técnica ou tecnológica, orientações concluídas, produção artística e cultural, participação em eventos e participação em bancas, SOMENTE SERÃO PONTUADAS SE FOREM REALIZADAS COM DATA A PARTIR DOS ÚLTIMOS CINCO ANOS CIVIS, ANTERIORES A DATA DA PUBLICAÇÃO DESTE EDITAL OU, AINDA, NA VIGÊNCIA DESTE ANO.” Em 15 de maio, último, entrei com uma Manifestação (no. 46373) junto ao Ministério Público Federal, na qual aponto o caráter discriminatório e inconstitucional do referido item, visto que esse ato declaratório da referida Universidade, por ferir o princípio de isonomia, “retira qualquer possibilidade de concorrência leal entre candidatos, independente do tempo de sua produção científica e idade cronológica”. Hoje (11.07.2014), recebi o teor do Despacho MPF/PRMS/PRDC no. 217/2014, datado de 26 de maio do corrente, da lavra do Procurador da República da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, no qual constato que, após análise da temática, o Ministério Público Federal considera que o expediente discriminatório da universidade “tende a trazer benefícios para certa camada de candidatos inscritos (...) podendo tal entendimento, dar margem a DESPRESTÍGIO, DEPRECIAÇÃO E DEVALORIZAÇÃO DE PRODUÇÕES INTELECTUAIS ACADÊMICAS FINDADAS EM PERÍODO ANTERIOR AO FIXADO, PODENDO CINDIR A ISONOMIA QUE DEVERIA REGER AS PREVISÕES EDITALÍCIAS E A ATUAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMO UM TODO”. Mais adiante, considera o Procurador que “(... ) o critério previsto no item 7.7.8 pode GERAR RESTRIÇÃO INDEVIDA DE CANDIDATOS NO CERTAME, NO MOMENTO, ESTE ÓRGÃO MINISTERIAL, NÃO VISLUMBRA EXPLICAÇÃO JURÍDICA PARA DISTINÇÃO ENTRE PRODUÇÕES CIENTÍFICAS REALIZADAS NESTA OU NAQUELA DATA”. E, para gáudio de Maria Angela Mirault e Machado de Assis, o Procurador da República determina, dentre outras coisas, INSTAURAR INQUÉRITO CIVIL para apuração do fato denunciado. Essa é uma luta que vale a pena empreender. Aguardemos, pois, a UFMS tinha cinco dias para se manifestar a respeito e já devem ter-se manifestado. Quando tudo parece normal, é preciso saber a quem recorrer. Eu creio. Professora Maria Angela Coelho Mirault – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo Mariaangela.mirault@gmail.com

sexta-feira, 23 de maio de 2014

... também não gosto do Dia das Mães

10 de maio de 2014 às 18:03 Lá venho de novo encarnar o Grinch. Agora, com relação à segunda data de maior consumo no comércio, o Dia das Mães. Pra quem não lembra, o Grinch é uma produção cinematográfica alemã/norte-americana, lançada em 2000, que traz a lume um personagem que odeia o Natal. Para impedir que os habitantes da pequena cidade de Quemlândia possam comemorar a data, Grinch planeja sequestrar o espírito natalino. Tudo acontece dentro de um floco de neve, onde vive uma criatura extremamente mal-humorada que, ao querer acabar com o Natal, coloca “a felicidade” das pessoas em risco. É óbvio tratar-se de um personagem odioso – ele é feio, verde, esquisito – afinal, onde já se viu mexer com a “alegria natalina” que a todos contamina? Óbvio também, nessa história, a previsível conversão do malvado, que se arrependerá, pois uma criança tentará convencê-lo da beleza do Natal, blá-blá-blá... Assim como o Grinch – sem ser verde, considerar-me feia, ou esquisita - odeio o espírito de época dessas datas forjadas e alusivas a qualquer coisa. E com esse sentimento malsão no coração, não poderia ser indiferente a esta data considerada a segunda de consumismo (só perde pro Natal!), em que o mercado comemora o Dia das Mães. Pois bem, porque, minha senhora, perguntará o leitor (se é que ainda mantenho algum), tanta amargura? E, lhe direi: porque (1) quem teve uma boa mãe (são raros) não precisará de um dia no calendário para homenageá-la e presenteá-la; o convívio, o respeito, o carinho já o fez durante todo o sempre, o ano todo, diuturnamente, ad eternum, privilegiados que foram e reconhecidos que o são; (2) quem teve uma mãe assim-assim não será nesse dia que a "amará incondicionalmente", já que os traumas adquiridos na infância e na adolescência, como manchas indeléveis sempre serão duras de serem removidas - se com Freud fica difícil, não será o mercado de compra e venda em um único dia do ano que as removerão. Para estes (maioria), tanto o presentinho quanto a visitinha não terão passado de um Dever; uma Obrigação; (3) quem trás em seu coração a presença indelével da mãe-madrasta, quando muito, terá se permitido uma visitinha, um telefonemazinho, quem sabe, uma passadinha e até o esforço supremo de um almoço em "família" com o intuito de cumprir sua "obrigação" - no final do dia, durante o Fantástico, terá se sentido livre (e, salvos do inferno), crendo que cumpriu com a rotina que o mundo comercial lhe designou e a força do consumo lhe impôs; (4) para as mães, cujos filhos já foram perdidos para a morte, para as ruas, para as drogas, que domingo infernal terá sido esse? (5)... para os filhos que não desfrutam mais da presença materna como terão passado o domingo? (6) ... para os que nunca conheceram a Sua Mãe que fizeram na data? (7)... para os que por ela foi abandonado, o que sentido terá tido esse dia? E ... ? Para quem é filho, independente da sua presença, do valor do presente, das festividades do calendário comercial, e, mesmo da sua ausência, uma coisa poderá ser feita e de agrado a todo tipo de mãe, a qualquer tempo e a qualquer hora, sem razões, motivos e datas especiais: uma prece de agradecimento, pelo menos, por terem cumprido a missão maior que Deus lhes confiou nessa vida, a de tê-los trazido ao mundo. Razão essa, pela qual já lhes terá bastado toda e qualquer homenagem, pois, para todas nós, ser mãe é, mais do que tudo, perder todos os dias, imperceptivelmente, o filho a quem demos a luz e acalentamos - ou não - para o mundo e para a própria vida. Para nós, independente das comemorações, cada minuto que passa, cada dia que anoitece significa muito mais do que a simples contagem do tempo, pois nos é, também, cada segundo um instante de despedida, de adeus e de morte. Por tudo isso, como Grinch, assim como não gosto do Natal do Mercado, também não gosto do Dia as Mães do Comércio. Maria Angela Coelho Mirault – professora doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP Campo Grande, MS, 10.05.2014

Campo Grande alienada e de carroça volta ao passado

Enquanto Fortaleza proibe (Lei nº 10.186) “a realização e divulgação de vaquejadas e rodeios e qualquer outro evento que exponha os animais a maus-tratos, crueldade ou sacrifícios”... Enquanto Recife abole (Lei no. 17.918/2013) a circulação de carroças de tração animal, prevendo uma multa de R$ 500 reais ao carroceiro que for visto neste tipo de transporte... Enquanto Porto Alegre aplica a redução gradativa do número de veículos de tração animal e de tração humana na Capital (Lei nº 10.531,de 2008) até 2015... Ao mesmo tempo em que Paquetá (RJ) e Nova York se mobilizam contra a utilização das charretes de uso turístico... No instante paradigmático mundial em que a Assembleia Nacional francesa aprova mudança no Código Civil (respaldada por 89% dos franceses) e passa a considerar os animais como “seres vivos dotados de sensibilidade” (antes, eram vistos como “bens móveis”), na contramão da História, a inteligentzia política campo-grandense prostra Campo Grande a um retrocesso urbano inadmissível em plena segunda década do século XXI. O que tinha seu impedimento desde 2009 (art. 68 da Lei Complementar no. 148/2009) e que proibia o livre acesso de carroças nas vias públicas, passa a ser permitido, agora, pela sanção da Lei Complementar no. 232, pelo Prefeito Gilmar Olarte (PP), em 9 de maio de 2014. Ou seja, a título de dispor “... sobre a atividade dos (3000!) carroceiros”, a lei dá livre acesso a circulação de pobres e escravizados animais de tração ao “pacífico e ordenado” trânsito da capital. Sem mesmo nos determos nas questões urbanas (onde estão os urbanistas?), nosso olhar se direciona ao verdadeiro trabalhador-escravo-animal, que não foi considerado pela inteligentzia política que nos representa no Legislativo e no Executivo, nem pelos representantes da sociedade civil presentes na audiência que respaldou (e pressionou!) a elaboração do projeto de Lei pelo vereador das causas ambientais, Eduardo Romero (PT do B). São tantos os absurdos prescritos na lei que se pode antever inúmeras infrações à leis federais que resguardam e protegem os animais como tutelados que são do Estado Brasileiro, desde o governo Vargas (!) (Decreto 24.645/34); mais recentemente, pela Lei Federal 9.605/98 - dos Crimes Ambientais, cujo art. 32 determina penalidades a quem ”praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais...”, muito menos para o seu § 1º que diz incorrer nas mesmas penas “(... ) QUANDO EXISTIREM RECURSOS ALTERNATIVOS”. Óbvio que há recursos alternativos disponíveis, sem o flagelo e a escravização dos animais, nas ruas de Campo Grande. Há importantes considerações no âmbito do judiciário de que a regularização do trabalho escravo animal (permitida em nosso Código Nacional de Trânsito) possa estar ferindo o item VII, §1º Art. 225, (da lei maior) Constituição Federal, que incumbe ao Poder Público “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que (...) submetam os animais a crueldade”. Como o Executivo municipal campo-grandense acompanhará a manutenção e operacionalizará a fiscalização da escravização desses animais? Quem estabelecerá os parâmetros de “saúde normal” (Art. 9º da Lei sancionada)? Qual a designação orçamentária para esse acréscimo de atribuições ao Poder Executivo, na fiscalização das condições de vacinação, alimentação, abrigo, cuidados médicos, repouso, higiene? Quem autuará nas infrações? Quem verificará, como prescreve a lei municipal, se o animal ingeriu alimento e água “pelo menos de 4 em 4 horas”? Onde esses animais terão “assistência veterinária? Com que recursos, o Poder Executivo “promoverá esforços para garantir gratuidade (...) dos procedimentos médicos-veterinários”? Isso está previsto no Orçamento desse ano? A quem denunciar o açoitamento e os maus-tratos aos animais? Não, não há como nos calarmos diante desse retrocesso insano. Penso que a sociedade se educa a si mesmo pelos seus cidadãos que despertam e lutam contra todo tipo de opressão. Pela revogação dessa lei é o nosso clamor à Câmara Municipal de Campo Grande, urgentemente, antes de sua regulamentação. Pesquisem! Estudem, antes de promulgarem suas leis, é tudo o que nós, seus representados, esperamos dos senhores. . Maria Angela Mirault mariaangela.mirault@gmail.com

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Não, Neymar, nós não somos todos macacos

A campanha publicitária custeada graças ao astronômico potencial econômico de Neymar com adesão imediata nas redes sociais e de nefasta repercussão pela mídia não passa de mais um lamentável episódio que tomou de assalto nossa já triste história cotidiana brasileira. Não, nem eu, nenhum compatriota, nem ninguém da raça humana pode, agora, aderira essa causa equivocada e declarar-se macaco, como forma de se contrapor ao racismo espanhol que a campanha intentou reverter. Daniel Alves, o cidadão brasileiro que comeu a banana antes de bater uma falta na lateral de campo, tomou um espaço absurdo na mídia globalizada; até nossa presidenta “twitou” a respeito, considerando que o jogador “deu uma resposta ousada e forte contra o racismo no esporte”, enquanto o próprio jogador declarara sua motivação: “rir de retardados”, demonstrando, sim, que sua atitude, embora, inusitada e irreverente, nada tinha de contestatória, levando na “esportiva” a atitude racista do torcedor espanhol. Mas, a campanha deflagrada por Neymar “dando um apoio ao colega” - que já tinha resolvido a questão - pegou mal, para quem tem, pelo menos, dois neurônios, para usar. Pois bem, o racismo é uma chaga da nossa espécie, nasce quase como um arquétipo humano - quiçá, em outras espécies - e se revela na mais tenra idade. Crianças são cruéis na constatação das diferenças; isso não precisa ser ensinado. O que precisa ser ensinado é que as diferenças, que nos distinguem e não nos diminuem, devem ser constatadas e ressaltadas; não nos desmerecem frente aos outros; que a riqueza dos indivíduos reside nessa desigualdade. Onde é que somos iguais? Em que circunstâncias, somos iguais? O preconceito contra as diferenças (pobreza/riqueza/ branco/preto/amarelo/cafuso/índio/senhor/escravo/patrão/empregado/culto/inculto...), muitas das vezes, emerge da própria pessoa que se diferencia pejorativamente dos demais necessariamente desiguais. O fato é que não podemos aceitar o apelo dessa campanha como resposta. A campanha “somos todos macacos” decodificada em sua “verdade” aceita o preconceito espanhol, sublinha o racismo em si, e, ao significa-lo e ampliá-lo, expande para toda a população brasileira, uma origem darwiniana, sem a devida discussão, antropológica e biológica, necessária. Não podemos aceita-la porque, por natureza intrínseca, somos únicos e diferentes. No Brasil, somos um povo, cujo diferencial do conceito preconceituoso europeu, é composto pela mistura-misturada-de-misturas de tipos de gente. Temos genes africanos, sim; temos genes europeus e nativos, sim, e é, justamente, isso que nos torna tão incrivelmente distintos. Nossas diferenças nos distinguem em nossas (positivas) peculiaridades. Somos identificados e considerados um povo amistoso, amoroso, alegre, descontraído, irreverente, e, até, feliz. Mas, também, “macunaimamente” falando, preguiçoso, indolente, insolente, aproveitador do laissez-faire, e, ultimamente (pela FIFA, principalmente), inidôneos, e, por nós, mesmos, corruptos. Valorizemos nossas diferenças, nossa ancestralidade, nossas lutas, derrotas e conquistas. Somos, sim, na grande maioria, um povo que se faz e refaz todos os dias, nas idas e vindas ao trabalho, nas filas dos postos de saúde, nas escolas sucateadas. Engolimos mentiras, alienados e anestesiados da crua realidade que ronda a todos nós, que vivemos muito longe dos palcos e dos luxos que a vida esportiva, na Europa, na Ásia, ou lá onde for, costuma brindar meninos distinguidos e assinalados por olheiros e pela sorte, e, que, ao se destacarem como diferentes, alcançam visibilidade econômica de milhares de euros e dólares, tornando-os expatriados voluntários para viverem outras realidades, outras vidas, em outros longínquos lugares. Por tudo isso, não nos venha, agora, Neymar, igualar a todos com o seu limitado potencial de escrutínio a respeito de tema tão abrangente e tão duramente encarado no dia-a-dia dos seus, sim, irmãos e compatriotas brasileiros. Maria Angela Coelho Mirault – professora, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http://mamirault.blogspot.com

quinta-feira, 13 de março de 2014

O presente somos nós e o futuro a nós pertence

Pera-lá! Vamos por ordem no galinheiro. Não distorçamos a coisa. Não é a globo quem deseduca, não é o bial quem achincalha a família brasileira, nem antônio-joão quem governa em nossas paragens e “caçou” Bernal. Danilo-gentiles, rafinhas-bastos, anitas, naldos, valeskas-poposudas e faustões não surgiram como cogumelos; somos nós quem deixou as coisas serem como é, estarem como estão. A tese da influência maniqueísta da mídia na capacidade de discernimento do indivíduo é uma tese (da inoculação epidérmica) que já está ultrapassada pelos estudiosos de várias escolas sobre o tema. A mídia não educa nem deseduca o cidadão; ela espelha e retrata determinada sociedade em um determinado espaço de tempo; em outras palavras, ela vomita o que consome da massa ignara; ela sacia desejos latentes no meio social - daí os instrumentos de pesquisa assumir o papel tão preponderante no controle de audiências. Boninho-bial-e-big-brother não existiriam se não atendessem ao consumo e a estética de parte – grande parte – da sociedade moldada nos valores desesperadamente individualista, fragmentadores e imediatistas contemporâneos. Quem educa e deseduca o cidadão é a família (em primeiro lugar), a escola e a própria sociedade. Porém, uma sociedade que atende suas necessidades de sobrevivência com a espetacularização da vida e se acomoda diante do mundo real não quer outra coisa que não seja o que lhe é servido pelas novelas de baixíssimo nível, telejornais editados de informações contaminadas por ideologias; dos programas de entretenimento que são criados e mantidos pela pornografia aviltante. A vida em sociedade se estabelece e se mantém por vínculos e relações em todas as instâncias; não é possível cortar nenhum desses vínculos e relações sistêmicas de mútua influenciação. Ou seja, todos nós influenciamos e somos influenciados uns pelos outros. Assim, a mídia influencia onde há brechas a serem preenchidas no campo da ética, e, também, da estética. Tanto é assim que, os sistemas políticos e midiáticos surpreenderam-se com o fenômeno das primeiras manifestações espontâneas e simultâneas de julho de 2013, em todo o território nacional, e, mesmo a mídia-aparelhada e que costumeiramente “edita” e “filtra” a realidade teve de se render ao fato social e retratá-lo em seus noticiários, mesmo que tardiamente, mesmo que rotuladamente. Collor não caiu pela compra da Elba, o lulismo não se estabeleceu e se manteve, elegendo sucessor, pelo estadismo e bom governo que empreendeu. Assim, também, o prefeito da capital não caiu, apenas, por transgredir leis e regimentos. O primeiro caiu pela arrogância e ignorância de que não havia mais lugar para um imperialismo tardio, vulnerabilizando-se às forças governantes; o segundo só se elegeu e governou depois que compactuo com adversários, barganhou fatias de governo, rendeu-se ao mercado empresarial; o último, com seus poucos 200 mil votos, caiu pela mesma arrogância e ignorância política do primeiro, sem utilizar nem um pouco da estratégia do segundo. Como é que um cidadão se elege nos dias atuais e intenta governar sozinho como se fosse um César da Roma antiga? Como é que alguém em pouco mais de um ano perde seus apoiadores e se distancia de todos os complexos sistemas de governo (incluindo a mídia) e consegue desagradar a todos? Governar é considerar as diferenças, estabelecer acordos, fortalecer laços e relações interpartidárias, e, até, engolir sapos. Não é por acaso que temos 39 ministérios e 39 minigovernantes de um poder fatiado, que se mantém (e se manterá a todo custo) por causa desse jogo de cintura trazidos pela práxis sindical-lulista. Se ainda estamos nessas condições de imaturidade político-social é porque nos faltam instrumentos mais afinados de filtragem da realidade, que nos capacitem para mais adequadas escolhas e avaliações. Gerações futuras precisarão estar mais bem atendidas no âmbito da saúde e educação, para que vislumbremos um país amadurecido, consciente de suas escolhas e decisões. Mantendo-se o status quo, continuaremos assolados pela “realidade editada” das mídias, retratando-nos em nossa pior face, em uma retroalimentação sistêmica de vômitos, lixos, distorções e espetacularização das pantominas cotidianas. Parafraseando recente artigo - Deserção Social - publicado neste veículo, em 06 de março do corrente ano, “princípios e valores são adquiridos e exercitados na infância. Quando tutores (família e Estado) abdicam desse repasse cultural entrega, cruelmente, por sua ineficiência e leniência, à sociedade, um indivíduo anômalo e despreparado para o convívio social. Esse déficit cultural e educacional jamais será recuperado, pois, lhe foi negado, no momento adequado, a transmissão da tradição cultural dos seus contemporâneos.” Nossos políticos cassados e caçadores não são de Marte, são nossas versões. A causa do futuro da nação pertence aos contemporâneos; lutemos verdadeiramente pela causa da formação de um povo forte e influente na vida político-social do nosso país e assumamos, assim, nossa responsabilidade político-social. Profa. Maria Angela Coelho Miraul – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de SP

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Deserção político-social

Princípios e valores são adquiridos e exercitados na infância. Quando tutores (família e Estado) abdicam desse repasse cultural entrega, cruelmente, por sua ineficiência e leniência, à sociedade, um indivíduo anômalo e despreparado para o convívio social. Esse déficit cultural e educacional jamais será recuperado, pois, lhe foi negado, no momento adequado, a transmissão da tradição cultural dos seus contemporâneos. Vivenciamos hoje um status intelectual e cultural do nosso tempo subjugado aos valores hedonistas e consumistas. Ter prazer, obter o máximo de usufruto dos bens e serviços disponíveis na sociedade são parâmetros comportamentais na atualidade, rotulada de mal-estar da pós-modernidade. A mundialização das culturas e todo seu aparato tecnológico trouxeram grande benefício à sociedade, trazendo, também, uma nova concepção de espaço-tempo: tanto posso estar aqui, no mundo analógico, quanto ali, no mundo virtual. Aqui, posso ser bem diferente do que sou ali. Cria-se, desse modo, uma dualidade esquizofrênica da personalidade que rompe com a realidade e o status quo vigente. Ser diferente, mas, igual dentre os seus iguais (vestimenta, cabelos, tatuagens); aparentar o que não é (sensualidade, riqueza); ostentar o que não pode ter (marcas famosas replicadas), mas, que lhe é acessível pela facilidade imposta pelas leis do mercado são comportamentos aderidos e compartilhados nessa sociedade diacrônica. Na falta da transmissão dos princípios e valores - negados na infância - o espírito de época do nosso momento no tempo nos subjuga a dois simulacros de concepção de mundo, que extrapola o mundo real: o mundo-espetáculo, editado e instantâneo oferecido pelas diversas mídias e o mundo virtual, onde tudo “sou e tudo posso”. O primeiro coloca-nos, em tempo real, frente a frente com um mundo violento, aético, com a predominância da impunidade e da corrupção; satisfaz-nos desejos e alimenta emoções individualistas, pela indústria do entretenimento. O segundo nos leva ao convívio surreal onde se pode assumir o perfil que se quiser para ser aceito, suprindo nossas carências e necessidades afetivas; um mundo onde, também, podemos expressar-nos mais, sermos até mais sinceros e verdadeiros do que no mundo real da convivência corpo à corpo. O espírito de época moldado nos valores e princípios hedônicos e consumistas nos coloniza pelas implacáveis leis que regem as coisas; mundo esse onde tudo é intercambiável; têm rótulo e preço, inclusive em nossa relação com o sagrado. No simulacro dessa realidade do descarte de valores éticos, subjugados pela estética, a aparência vale mais do que a essência; o ter tem mais significado do que o ser, a ruptura, a acumulação de bens e produtos traduzem com propriedade a efemeridade dos acontecimentos, da valoração do entretenimento, da fragmentação das relações. Contudo, para o mundo real, aquele indivíduo anômalo, despossuído de qualquer referencial valorativo, não é portador do instrumental e aparato cultural e intelectual que o capacite para a convivência participativa na sociedade. Carente do comprometimento político e social, não possuindo uma concepção de futuro, entrega-se ao que estudiosos denominam “deserção social”, ou seja - por si mesmos e pela ausência elementar da educação – condenam-se ao desterro político e social, automatizados pela indiferença com relação ao futuro, seu, ou dos outros. Enfim, a ineficiência dos tutores da educação na infância (família e Estado) entrega à sociedade um indivíduo castrado em sua potencialidade e, acima de tudo, um doente social, que responde aos desafios do imediatismo, muitas vezes, inconsequente e perigosamente, para si e para os demais. Almas fracassadas; vidas violadas; esperanças imoladas e o futuro do país comprometido e caótico. Muitos deles materializam sua condição nas roupas-mensagens, nos grafites violadores de propriedades, na aparência bizarra, nos excessos comportamentais, na violência, no uso de drogas. Alguns nos aguardam nos sinais; ou, em nossas casas. Muitos, nas casas de recuperação que não recuperam ninguém, desprovidos de qualquer senso crítico, violados que já foram pela omissão do Estado que lhes promete e lhes ficou devendo a escola, a instrução e a educação. Outros, muito pequenos ainda, expatriados do aconchego familiar, apenas invisíveis, sob o olhar indiferente do espírito de época, pela multidão das ruas. Torna-se urgente e necessário a convocação de uma nova constituinte, para a elaboração de um único artigo: “cumpra-se a Constituição, revoguem-se todas as disposições em contrário e salvemos o Brasil”. Maria Angela Coelho Mirault 25.02.2014 Professora Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http:mamirault.blogspot.com

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Tira a bunda da cadeira

Viver está de amargar. Às vezes nos parece que está tudo fora de controle e próximo da mais completa regressão e anomia. As instituições não são uma entidade coletiva a que se possam atribuir desditas e falhas oriundas dos componentes do sistema. Todo sistema, por mais fechado que intente ser, para se manter vivo e operante, precisa dialogar, comunicar-se, com o seu exterior; mecanismo esse proporcionado por fronteiras que permitem esse contato. Enquanto se mantiver fechado e resguardado por escolha dos seus componentes, mais cedo ou mais tarde, pelo próprio processo físico da termodinâmica, será levado mais cedo ou mais tarde ao irreversível processo de entropia e morte. É lei. É física. Quando, nós, cidadãos comuns, externamente, identificamos e generalizamos a contaminação de um sistema é porque a deterioração está se exteriorizando e muito próximo do ponto de ebulição. Temos presenciado descalabros sociais, “nunca dantes vistos nesse país”. O sistema político brasileiro, por exemplo, está contaminado de tal forma, que grande parte da sociedade com capacidade de discernimento passou a ter como verdade opinativa, o bordão de que “todo político é corrupto”; de que “a política não serve para pessoas de bem”. O sistema judiciário brasileiro e sua gama sem fim de possibilidades de recursos gera na sociedade a percepção de que o crime compensa, a impunidade é padrão; danem-se as leis e os bons costumes. A generalização dessa concepção gera a desesperança, e, em casos mais agudos, o desespero e o caos. É certo que o próprio sistema, em seu inexpugnável processo entrópico, por si só, gerará suas próprias mudanças, mas, antes, provocará muito desgaste e dor. É também da lei da física que todo caos entrópico de um sistema dará origem a uma nova ordem sistêmica (graças a Deus). Mas, para que mudanças ocorram, antes será preciso que se esgotem os arcaicos modelos do passado para que novos paradigmas e novas verdades sejam adotados. A Ética por ser um categórico universal intrínseco ao indivíduo em uma sociedade, não é cambiável. Nossos valores e costumes serão éticos, ou não. Ocorre que, por serem constituídas por individualidades éticas, ou não, as instituições, enquanto sistemas entrópicos serão – e se apresentarão à sociedade (sistema maior) da maneira como esse movimento interno de individualidades dela o fizer (identidade e imagem). Daí, o corporativismo ser um mal à sociedade de hoje, porque o corporativismo abona a falta de ética de um dos seus componentes, o absolve e o absorve, mantendo-o no sistema. É o que tem acontecido com o PT com relação aos criminosos condenados do mensalão, guindados ao patamar de heróis por seus iguais. Enquanto não formos capazes de nos igualar no patamar da eticidade, contratos são as regulações necessárias aos relacionamentos. Leis – e seu cumprimento - são necessárias para regular as individualidades anômalas conviventes de um sistema maior. Quando um indivíduo quebra unilateralmente as normas do sistema ao qual aderiu, o sistema se deteriora e caminha mais rapidamente para a anomia. Só nos resta, nessa conjuntura crítica de valores morais, nos negarmos em aceitar que a falta de caráter prevaleça, exigindo e fazendo valer a integridade da pessoa vilipendiada. Essa revolução pacífica e branca pode ser custosa, desgastante, aterradora, mas, bastante poderosa. Porque, sempre que um de nós, ao invés, de aceitar o status quo, nos levantarmos contra tais quebras de condutas, estará contribuindo para a melhoria do próprio sistema contra o qual nos levantamos, e, por conseguinte, saneando a própria sociedade. Não esmoreçamos. Há leis e procedimentos que nos respaldam. Tiremos a bunda da cadeira, já. OS: Este artigo foi inspirado pela má conduta de um indivíduo médico que, unilateralmente, considera ter o direito e o poder de quebrar regras do contrato feito pelo sistema ao qual é credenciado com um conveniado de um Plano de Saúde. Mas, ele não tem esse poder, e, decididamente, não pode e não o fará! Maria Angela Coelho Mirault, em 05 de fevereiro de 2014 Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http:mamirault.blogspot.com

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Quando o que se tem é nada a perder

Quem não assistiu (recomendo) "Capitão Phillips", o mais recente filme protagonizado pelo sempre excelente ator Tom Hanks (merece mais uma vez sua sexta indicação ao Oscar), levado às telas mundiais em outubro do ano passado - agora só disponível em DVD ou Blu ray- vai acompanhar o melhor o que tenho a dizer. O filme, baseado no livro de memórias escrito pelo próprio Phillips, transformado no longa dirigido por Paul Greengrass (de "O Ultimato Bourne", "Voo United 93"), reencena uma história real de Richard Phillips, capitão do cargueiro Maersk Alabama, que foi mantido refém por piratas somalis durante cinco dias em abril de 2009. O ataque transformou-se em incidente de relações internacionais, levando a Casa Branca a autorizar que a Marinha tomasse medidas extremas para resgatá-lo - inclusive, para eliminá-lo, em última instância, conclui-se ao assistir ao filme - inflamando a opinião pública norte-americana. Sob duas cosmovisões díspares, o filme tem início com imagens da miserabilidade estrema, dos somalis, e o cotidiano doméstico comum que bem retrata a vida de um profissional de classe média alta dos Estados Unidos, como se quisesse bem diferenciar as formas de vidas que se entrelaçariam no episódio que se sucederá desde o embarque do cargueiro e do capitão em Omã rumo a Mombaça (Quênia), a falta (e a soberba da) de segurança no navio, os ataques dos piratas, o sequestro em si, as sucessivas más-decisões do capitão, a situação da tentativa de resgate e sua finalização pela elite da Marinha norte-americana. O thriller prende nossa atenção desde o início. Passando grande parte em alto mar, surpreende-nos que aquela gente miserável, esquálida, mal-ajambrada (e muito feia) tenha tido êxito no ataque ao monumental transatlântico. Era apenas quatro pobres coitados com uma encomenda a realizar, a de sequestrar, para ganhar uns trocados dos seus verdadeiros patrões que negociariam o resgate. Por seu turno, a intelligentsia tecnológica indefesa, ineficiente e submissa aos quatro pobres mortais movidos, antes de tudo, pelo medo. O medo é o grande personagem sem corpo dos dois mundos em confronto. Diante das declarações da governadora Roseana Sarney, com relação à extrema violência e poder das facções carcerárias em seu estado – piratas que tomaram o “navio” e mandam matar dentro e fora do presídio; decapitando companheiros e incendiarndo crianças - de que “um dos problemas que está atraindo a insegurança no Maranhão é a de que o estado está mais rico”; diante das estatísticas trazidas pelo senador Cristóvan Buarque – em texto que nos deseja, no “ano da copa”, “um feliz 2015”, e nos lembra que “cinquenta mil brasileiros são assassinados por ano, outros cinquenta mil morrem no trânsito e outros 515 mil estão presos; a droga compromete a vida, a capacidade de trabalho e o futuro de centenas de milhares de nossos jovens; metade da população não tem acesso a água e esgoto; e a economia se desindustrializa”; diante da pesquisa que nos revela que 50% de brasileiros desempregados têm mais de 11 anos de estudos; de que o índice de analfabeto funcional com diploma de curso superior no Brasil chega a 38% (segundo o Instituto Paulo Montenegro (IPM), vinculado ao Ibope); diante do superfaturamento das obras para sediar a copa; diante de..., cabe-nos, metaforizando o filme, aqui uma reflexão. Estamos em alto mar. Alguns pensam estar no comando do navio cargueiro e pensa levar toneladas de sua riqueza ao seu destino, enfrentando, apenas, a turbulência do mar revolto e das possíveis tempestades no trajeto. O capitão pensa comandar sua reduzida tropa, despreparada para qualquer fato inusitado, mas, não está preparada para uma ataque de famintos em barcaças inapropriadas, improvisadas, sem nada que os proteja, sujeitos, também, às intempéries do mesmo mar revolto e às mesmas tempestades. O êxito da empreitada que levou o presidente dos Estados Unidos a intervir e a Marinha norte-americana a agir, deu-se por um único fator, os somalis, antes de serem vencidos, deram um trabalho danado pelo simples fato de que quando o que se tem é nada a perder, nada poderá demover a ação que se põe a realizar, e, em uma sucessão de fatos, o horror da potencialidade humana, para sobreviver, se revela. No nosso caso, resta-nos saber quando é que os quatro somalis (que nada têm a perder) tomarão o navio e uma recomendação particular: assista ao filme. Maria Angela Coelho Mirault – professora, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo – http://mamirault.blogspot.com

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Previsão para 2030 o caos no Brasil

Previsão catastrófica para 2030 Em 2030, o caos terá se instalado em todo o Brasil. O modelo insistentemente mantido reiteradamente pelo Sistema Educacional Brasileiro nos conduzirá ao caos. Não é possível que a bolha educacional brasileira continue a obnubilar nossa racionalidade. Chega a ser assustadora a constatação do Ipea de que 50% de brasileiros desempregados têm mais de 11 anos de estudos. Esse dado aliado ao colhido pelo PNaD - Pesquisa Nacional de Domicílios - do IBGE – de que entre 2011 e 2012 , 867 mil brasileiros receberam um diploma, na verdade, indicam que, no Brasil, os anos de estudos não garantirão o emprego e uma vida digna para a maioria desses diplomados. Embora o desemprego de jovens tenha escala mundial, no Brasil é um caso endêmico. Os recém-formados pelas “pocilgas-acadêmicas” e os EADs (o malfadado ensino à distância; a “universal” dos cursos superiores) replicados em todo o território nacional não terão qualquer chance de colocação por várias razões. A principal é a de que seus egressos não atenderão ao patamar mínimo de qualificação para a empregabilidade. Primeiro porque foram ludibriados desde o ensino fundamental – público, ou particular. Ano a ano, a facilitação do sistema e o descuido de todos os agentes envolvidos os conduziram ao mau ensino médio. Sem as mais básicas condições de prosseguir, prosseguiram, porque, em tempo hábil, nada nem ninguém os terá detido. Sob a facilitação do falido Sistema Educacional Brasileiro, a cumplicidade e a omissão de professores ineptos, insatisfeitos, coniventes, relaxados e mau remunerados, aliados ao sistema de cotas e ao malfadado procedimento do Enem, grande maioria chegou, cursou e concluiu um curso superior de baixíssima qualidade, disseminado, de qualquer jeito, em todo o país. Nesse sorvedouro onde todos têm sua parcela de culpa, o indivíduo que queria ser engenheiro, ou médico, pela pífia classificação no ENEM (e pelas cotas), vai cursar pedagogia, artes plásticas, comunicação (jornalismo, publicidade), por exemplo. Para se ter uma ideia consistente sobre isso, após o sucateamento das universidades públicas federais imposto pela política neoliberal implantado no país, ainda, antes do PT – mas, por ele mantido, aperfeiçoado e multiplicado exponencialmente - em 2000, o Brasil tinha pouco mais de mil instituições de ensino superior, agora, são 2.416. Destas, (socorro!), 2.112 são particulares; verdadeiras indústrias da má-educação com a única finalidade de enriquecimento de seus proprietários, o engodo da população jovem estudantil, e, consequentemente, o empobrecimento do próprio país. Faculdades e cursos foram autorizados e reconhecidos aleatoriamente, Brasil a fora, sem a mínima qualificação docente e estrutural. Daí, que, excetuando as poucas instituições brasileiras de qualidade inquestionável, constatou-se mediante pesquisa que nossos cursos superiores estão formando verdadeiros analfabetos funcionais, em todas as áreas, da medicina ao direito, da engenharia à dança, à culinária. Segundo a classe empresarial, essa “geração do diploma” não responde ao mínimo esperado pelo ciclópico mercado mundial, ignorantes que são das mis comezinhas regras básicas da linguagem. O índice de analfabeto funcional com diploma de curso superior no Brasil chega a 38% (segundo o Instituto Paulo Montenegro (IPM), vinculado ao Ibope). Esse alarmante, escorchante e vergonhoso dado significa que dentre dez universitários no país, quatro conseguem ler um texto simples, mas são incapazes de interpretar e associar informações; não conseguem elaborar contas mais complexas do que as quatro operações, nem analisar tabelas, gráficos e mapas. Um absurdo! Uma verdadeira catástrofe (invisível) para o futuro do país. Não é por acaso que a docência seja reconhecida hoje como a “profissões mais patéticas do Brasil”, como descreveu a escritora Vanessa Barbara, em artigo publicado no NYTimes no dia 16 de dezembro. As previsões para 2030 não poderiam ser piores, e, se você é uma das vítimas, conscientes, ou não, desse sistema e flanou, com facilidade entre o fundamental e um mau curso superior, agora, perdeu! Perdeu o seu futuro, porque, assim como você, egressos dessa abominável bolha educacional, milhares de estudantes, deparar-se-ão com uma realidade cruel e irreversível: (1) parte não conseguirá trabalhar na carreira pretendida, (2) outra terá de se submeter ao que aparecer e deixar seus sonhos (se é que têm) de lado, e, (3) muitos outros não conseguirão emprego algum no chamado mercado formal. Contudo, esse é o Brasil que construímos; que deixamos fazer e nos alienamos em intervir. Esse é o país que projetamos desde já para 2030. Diante dessa previsão, não dá para passar em branco e deixar pra lá. Maria Angela Coelho Mirault - professora, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo; do corpo de avaliadores de cursos e instituições de ensino do INEP/MEC: mariaangela. mirault@gmail.com .