quinta-feira, 13 de março de 2014

O presente somos nós e o futuro a nós pertence

Pera-lá! Vamos por ordem no galinheiro. Não distorçamos a coisa. Não é a globo quem deseduca, não é o bial quem achincalha a família brasileira, nem antônio-joão quem governa em nossas paragens e “caçou” Bernal. Danilo-gentiles, rafinhas-bastos, anitas, naldos, valeskas-poposudas e faustões não surgiram como cogumelos; somos nós quem deixou as coisas serem como é, estarem como estão. A tese da influência maniqueísta da mídia na capacidade de discernimento do indivíduo é uma tese (da inoculação epidérmica) que já está ultrapassada pelos estudiosos de várias escolas sobre o tema. A mídia não educa nem deseduca o cidadão; ela espelha e retrata determinada sociedade em um determinado espaço de tempo; em outras palavras, ela vomita o que consome da massa ignara; ela sacia desejos latentes no meio social - daí os instrumentos de pesquisa assumir o papel tão preponderante no controle de audiências. Boninho-bial-e-big-brother não existiriam se não atendessem ao consumo e a estética de parte – grande parte – da sociedade moldada nos valores desesperadamente individualista, fragmentadores e imediatistas contemporâneos. Quem educa e deseduca o cidadão é a família (em primeiro lugar), a escola e a própria sociedade. Porém, uma sociedade que atende suas necessidades de sobrevivência com a espetacularização da vida e se acomoda diante do mundo real não quer outra coisa que não seja o que lhe é servido pelas novelas de baixíssimo nível, telejornais editados de informações contaminadas por ideologias; dos programas de entretenimento que são criados e mantidos pela pornografia aviltante. A vida em sociedade se estabelece e se mantém por vínculos e relações em todas as instâncias; não é possível cortar nenhum desses vínculos e relações sistêmicas de mútua influenciação. Ou seja, todos nós influenciamos e somos influenciados uns pelos outros. Assim, a mídia influencia onde há brechas a serem preenchidas no campo da ética, e, também, da estética. Tanto é assim que, os sistemas políticos e midiáticos surpreenderam-se com o fenômeno das primeiras manifestações espontâneas e simultâneas de julho de 2013, em todo o território nacional, e, mesmo a mídia-aparelhada e que costumeiramente “edita” e “filtra” a realidade teve de se render ao fato social e retratá-lo em seus noticiários, mesmo que tardiamente, mesmo que rotuladamente. Collor não caiu pela compra da Elba, o lulismo não se estabeleceu e se manteve, elegendo sucessor, pelo estadismo e bom governo que empreendeu. Assim, também, o prefeito da capital não caiu, apenas, por transgredir leis e regimentos. O primeiro caiu pela arrogância e ignorância de que não havia mais lugar para um imperialismo tardio, vulnerabilizando-se às forças governantes; o segundo só se elegeu e governou depois que compactuo com adversários, barganhou fatias de governo, rendeu-se ao mercado empresarial; o último, com seus poucos 200 mil votos, caiu pela mesma arrogância e ignorância política do primeiro, sem utilizar nem um pouco da estratégia do segundo. Como é que um cidadão se elege nos dias atuais e intenta governar sozinho como se fosse um César da Roma antiga? Como é que alguém em pouco mais de um ano perde seus apoiadores e se distancia de todos os complexos sistemas de governo (incluindo a mídia) e consegue desagradar a todos? Governar é considerar as diferenças, estabelecer acordos, fortalecer laços e relações interpartidárias, e, até, engolir sapos. Não é por acaso que temos 39 ministérios e 39 minigovernantes de um poder fatiado, que se mantém (e se manterá a todo custo) por causa desse jogo de cintura trazidos pela práxis sindical-lulista. Se ainda estamos nessas condições de imaturidade político-social é porque nos faltam instrumentos mais afinados de filtragem da realidade, que nos capacitem para mais adequadas escolhas e avaliações. Gerações futuras precisarão estar mais bem atendidas no âmbito da saúde e educação, para que vislumbremos um país amadurecido, consciente de suas escolhas e decisões. Mantendo-se o status quo, continuaremos assolados pela “realidade editada” das mídias, retratando-nos em nossa pior face, em uma retroalimentação sistêmica de vômitos, lixos, distorções e espetacularização das pantominas cotidianas. Parafraseando recente artigo - Deserção Social - publicado neste veículo, em 06 de março do corrente ano, “princípios e valores são adquiridos e exercitados na infância. Quando tutores (família e Estado) abdicam desse repasse cultural entrega, cruelmente, por sua ineficiência e leniência, à sociedade, um indivíduo anômalo e despreparado para o convívio social. Esse déficit cultural e educacional jamais será recuperado, pois, lhe foi negado, no momento adequado, a transmissão da tradição cultural dos seus contemporâneos.” Nossos políticos cassados e caçadores não são de Marte, são nossas versões. A causa do futuro da nação pertence aos contemporâneos; lutemos verdadeiramente pela causa da formação de um povo forte e influente na vida político-social do nosso país e assumamos, assim, nossa responsabilidade político-social. Profa. Maria Angela Coelho Miraul – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de SP