sexta-feira, 15 de junho de 2018
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domingo, 3 de junho de 2018
Pubricitários... menas ok
Um erro crasso - que, comumente, os afetos colonizados e
entendidos chamam de target
(traduzindo: público alvo) de uma campanha publicitária - é desconsiderar a
delimitação do receptor, para o qual todo o esforço de marketing quer alcançar.
Mas, isso é fácil. Com quem você quer falar, interagir? Pra quem você quer
vender a sua ideia, ideologia? De modo geral, quem consome a sua demanda, quem
tem a ver com você. Mas, porém, contudo, em determinadas datas comemorativas, às
vezes, se quer “causar”, extrapolar, sair do balcão e botar a boca no mundo com
o intuito de se obter três minutinhos de fama. Joga-se, então, aquela mensagem
dirigida ao público A para propagandear o que se quer: seja produto, gosto, valores,
ao público B,C e D. É muito simples e
barato utilizar esse recurso; não o fosse, não teríamos tantos tapumes enfeando
nosso mobiliário urbano mercantilizado. Como assim? Simples: alugamos e invadimos
o espaço público concessionado - permitido,
concedido, pela Prefeitura, sob o amparo de uma leizinha municipal – e,
adquirimos o direito de “megafonearmos” o que quisermos, aos gregos e aos
troianos; com potencialidade de impactar fariseus e publicanos. Se uns não gostam, atingimos outros,
e, junto, atingimos, a massa ignara, alienada e “saliente”. Pow! Sucesso de
campanha! Gênio da “pubricidade tupiniquim”; prêmio á vista.
Se “o” lojinha é de comercialização de produtos para um
público seleto (no caso, muito seleto - ahn?!), que, além da azulzinha, precisam
apimentar suas práticas, por que, “esse” lojinha extrapola seu reduto comercial,
provoca e invoca toda uma sociedade, não, apenas, a consumir seus brinquedinhos,
como, também, induzi-la ao cometimento de suas práticas corriqueiras. Assim:
“No dia dos namorados, saia da dieta (traduzindo: largue o que costuma COMER
(patroa, namorada, etc!) e COMA um RABO, uma PIROCA, uma BOCETA (outsider)!
Normal! Êxito! Atingiram
o target da campanha! São gênios!
Não. Não e não.
Atingir o target é
saber o que se fala, para quem se fala e como se fala. Isso é êxito de
campanha. Melhor, êxito de qualquer processo de comunicação. Do tetê- à- tête;
fuça à fuça, ao empresarial, comercial, religioso, cultural.
A não diz (o que quer)
a B (sob os códigos de ambos) para os Cs e os Ds! Isso é propaganda fascista,
insidiosa, criminosa; indutora, quase subliminar. Se A quer falar com B, sob os
códigos que dominam, é preciso se adequar a mídia, sempre, sempre, sempre
direta: pé do ouvido, cara-a-cara, whatsApp, mensenger, email, cartinha, bilhetinho,
cartãozinho, etecetera. Assim considerando, entendidos, o “Saia da dieta e coma
um rabo” não é uma mensagem do target atendido com sucesso.
Há já bastante tempo,
as mídias tradicionais, tragicomicamente, denominadas de massa, perderam muito
de suas eficácias, para as novas mídias interativas personalizadas. As
denominadas mídias sociais, desde o advento do ainda não explorado totalmente
mundo da internete, sofrem ainda da esquizofrenia de adequação do seu perfil, pelo menos em cinco
aspectos: tempo, espaço, meio, receptor e mensagem. Os “pubricitários” formados
pela escola da propaganda gebelliana, que, anacronicamente, ainda se ensina na
academia, muito, pelo anacronismo na formação dos seus próprios docentes, formados
pelas sombras das escola dos anos 1970, só acertam mesmo, com exatidão a cor
preta de suas vestes, nos eventos de premiação. As formações acadêmicas em
Comunicação Social foram resultantes de um dos projetos propostos e nascituros da
ditadura governamental à época. Muitos de nós, que lá afluímos, sequer nos demos
conta (ainda hoje! Credo!) de que no objetivo implícito dos cursos
encontrava-se a formatação de um determinado capital intelectual a ser
disponibilizado a um projeto de incursão no direcionamento da comunicação, dita
social, que não “podia” ficar assim na mão de qualquer um. Nesse rol e nesse
esquema adequaram-se aos denominados curso de bacharelado em Comunicação
Social, as habilitações em jornalismo, relações públicas, publicidade, dentre
outras de menor expressão. Por determinação governamental-ditatorial intentava-se
mesmo era o controle do fenômeno incontrolável dos processos vitais da comunicação.
Foi a partir da Constituição
de 1988 que o projeto foi bagunçado, mesmo as custas de muito chororô dos
sindicalistas, derruindo, porém – graças a Deus – pelo menos, essa escusa arbitrariedade.
Ecológico, por se tratar de fenômeno da
vida – bio-psico-social; intra e extra-sensorial, a comunicação, é de livre percepção,
codificação, emissão, recepção, veiculação, decodificação (sem ordem nessa
parada). Fenômeno esse que foge mesmo a esfera humana; abarca o micro e o macro
cosmo; presente organicamente em todos os seres e esferas da vida. No entanto,
ainda hoje milhares de jovens vão ao Enem com a opção lacrada em suas mentes de
“cursarem” Comunicação Social, prioritariamente, na habilitação em Publicidade,
a menina dos olhos de ouro do mercado. E, formam-se dúzias, dezenas, centenas
de jovens publicitários, que, no fundo, não sabem nem pra que, ou pra quem
estarão trabalhando. Na esteira, ainda se formam alguns jornalistas e uns
poucos relações públicas, sob o foco embaçado de um anacrônico espelho retrovisor,
a serviço de uma demanda que não mais existe.
Em passant, é isso!
Bien,
mon ami, allons-y! Se queremos nos atribuir a competência
do domínio empresarial, eficiente e eficaz de um fenômeno da natureza contido
em nossas técnicas (obsoletas, reafirmo), vamos seguir as lições de 4 décadas
atrás, ok? Quem comunica, comunica algo, a alguém, por intermédio de um canal.
Esse algo é a mensagem a ser comunicada. Pois bem, o Gebell do processo terá,
antes de tudo de saber: quem, o quê, quando, pra quem, com que finalidade. Se
quero publicizar um conteúdo às massas, utilizo canais, vias, veículos, mídias
que atinjam a massa. Se quero propagandear um produto a um público definido,
busco adequar tanto minha formulação da mensagem quanto minha formulação
midiática. O target me exige essa
adequação. Os ignorantes dessa baboseira pagam, e, o mundo roda.
Maintenant
que c'est fini, tá valendo tudo. Daí, apesar de
extremíssimo mal gosto, mandar comer um rabo, no dia dos namorados, por meio de
uma mídia absolutamente inadequada, e, ainda, ter a pretensão de constituir-se
um target de sucesso, é um problema de um anacronismo doloroso. É de chorar! Meus
pêsames, então, aos criadores, aos marqueteiros, aos pagadores e aos
mantenedores dessa grosseria com a “massa”, “je vous demande pardon, monsieur,
mais allez vous faire foutre ! pelo menos, eu, não vou sair do regime, nem vou
ser “comida”!
Professora Maria Angela
Coelho Mirault – doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São
Paulo
C. Grande, 03 de junho
de 2018
sábado, 2 de junho de 2018
Quero ver a liberalidade aqui
Duvido que publiquem! Duvido que tão claramente assim, se
justifique, sem que os carolas pudicos se horrorizem; os pseudos-liberais a abonem.
Duvido que, assim, tão explicita, os senhores das leis não se deem conta da licenciosidade
envolvida; que os legisladores e executivo da cidade não se detenham e que,
TODOS, diante do estranhamento, não se questionem: é isso mesmo que estão
dizendo, na nossa cara? Foi,
exatamente, assim que, em nossa fria manhã deste sábado (2/6), nossa cidade-capital,
Campo Grande amanheceu e foi brindada. A
mensagem é safada, insidiosa, grotesca, criminosa e diz assim: “No Dia dos Namorados,
saia da dieta e coma uma “piroca”! E, “No Dia dos Namorados, saia da dieta e
coma uma buceta”! Os outdoors estão em toda cidade; impossível não vê-los e não
os decodificarem, exatamente como intentaram que o fossem (na linguagem e
interpretação de alguns respeitáveis publicitários; exitosa campanha!). Alguns
acharam engraçado e tocaram suas vidinhas amorais, outros, sequer, se deram,
ou, se darão, conta da obscenidade ali exposta; a título de licença
publicitária. Os inúmeros outdoors encontram-se em todos os lugares
comercializáveis, emporcalhando nossa cidade - incluindo um dos quais ao
ladinho da Igreja Matriz de São José!
Então, tá! Se a exacerbação do tema veio da mente de uma pessoa
reacionária cujo imaginário licencioso “leu” e “interpretou” o que quis, pode, TUDO!
Se nada tem demais, se a interpretação é livre e de responsabilidade do
receptor, porque lá, na mensagem publicitária, só está “um saco de pipocas e
algumas batatas, com letrinhas e espaços pra completar (P - - - CA; B - - -A”, vamos usar o espaço público para qualquer mensagem,
sejam elas licenciosas, imorais, racistas, mentirosas, insidiosas, que manifestem
nossos mais obscuros valores, crenças e doenças mentais. Então, tá, se está
tudo justificado, em nome do não-censuramento, que fique instituído o vale tudo
– pagou/veiculou! Que passe a valer para tudo, sejam mensagens indutoras ao nazismo
à explícita manifestação de racismo; às
divergências religiosas, à homofobia, e, seja mais lá o que nos der na telha! Se o que está valendo (e deva
ser preservado) é a liberdade de opinião e expressão; é o direito ao livre-pensar, à licença
poética e publicitária, à relação de demanda e consumo, como diria Tim Maia, a
partir de então, vale tudo!
As palavras nada mais
são do que signos arbitrários. Ponto! Mas, é no ecossistema semiótico social que
se consolidam e representam alguma coisa para aquele sistema. Palavras indicam
coisas; nomeiam coisas, organizam o caos. Na verdade, é fato de vertente
científica no que diz respeito ao tema, que toda e qualquer mensagem só se
realiza, encontra significado, na recepção do agente receptor, e, não na
emissão do emissor, nem do mensageiro. Em tese, “não sou responsável pelo que
você entende do que eu quis dizer”. De fato, é o receptor que detém o start do
reconhecimento sígnico, da decodificação dos códigos linguísticos que
constituem o texto emitido, em conformidade com seu potencial e referencial simbólico, seu ecossistema semiótico. Porém, isso não isentará, em nenhuma
hipótese, o criador, o mensageiro e o veiculador da mensagem dos resultados
obtidos, no final da cadeia semiótica comum a ambos. Estivesse ela codificada em
russo, não haveria no nosso imaginário linguístico referencial de
reconhecimento cultural possibilidade de decodificação; portanto, não haveria
sequer a mensagem, por não haver recursos para sua interpretação e
decodificação sígnica.
Com relação à peça publicitária,
em questão, tanto o criador (infelizmente, nem entendeu seu juramento e sua
responsabilidade profissional); a agência que a produziu; o empresário que a
encomendou, a aprovou; a referendou e a pagou; a empresa que a admitiu e comercializou
seu espaço concessionado pelo poder público, bem como, os órgãos públicos que permitiram, por ignorância,
ou omissão, sua publicização, são, sim, responsáveis pelo apelo violador, nela
contida, no âmbito da Estética e da Ética que deveria, deverá, vigir nossa
convivência social civilizada. É pra isso que estamos convivendo em sociedade.
Dizer o que se quer, custe o que custar pode nos custar muito caro. Sem
conservadorismo, sem puritanismo, sem viés reacionário, seja lá quem for, que se
retirem, já, esses componentes do mobiliário urbano de nossa capital. Que
assumam suas responsabilidades, cada qual em sua instância. Nós não merecemos
isso!
Professora Maria Angela
Ceolho Mirault – Doutora e Mestre em Comunicação e Smiótica pela PUC de São Paulo
C. Gde, 02 de junho de
2018.
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