Duvido que publiquem! Duvido que tão claramente assim, se
justifique, sem que os carolas pudicos se horrorizem; os pseudos-liberais a abonem.
Duvido que, assim, tão explicita, os senhores das leis não se deem conta da licenciosidade
envolvida; que os legisladores e executivo da cidade não se detenham e que,
TODOS, diante do estranhamento, não se questionem: é isso mesmo que estão
dizendo, na nossa cara? Foi,
exatamente, assim que, em nossa fria manhã deste sábado (2/6), nossa cidade-capital,
Campo Grande amanheceu e foi brindada. A
mensagem é safada, insidiosa, grotesca, criminosa e diz assim: “No Dia dos Namorados,
saia da dieta e coma uma “piroca”! E, “No Dia dos Namorados, saia da dieta e
coma uma buceta”! Os outdoors estão em toda cidade; impossível não vê-los e não
os decodificarem, exatamente como intentaram que o fossem (na linguagem e
interpretação de alguns respeitáveis publicitários; exitosa campanha!). Alguns
acharam engraçado e tocaram suas vidinhas amorais, outros, sequer, se deram,
ou, se darão, conta da obscenidade ali exposta; a título de licença
publicitária. Os inúmeros outdoors encontram-se em todos os lugares
comercializáveis, emporcalhando nossa cidade - incluindo um dos quais ao
ladinho da Igreja Matriz de São José!
Então, tá! Se a exacerbação do tema veio da mente de uma pessoa
reacionária cujo imaginário licencioso “leu” e “interpretou” o que quis, pode, TUDO!
Se nada tem demais, se a interpretação é livre e de responsabilidade do
receptor, porque lá, na mensagem publicitária, só está “um saco de pipocas e
algumas batatas, com letrinhas e espaços pra completar (P - - - CA; B - - -A”, vamos usar o espaço público para qualquer mensagem,
sejam elas licenciosas, imorais, racistas, mentirosas, insidiosas, que manifestem
nossos mais obscuros valores, crenças e doenças mentais. Então, tá, se está
tudo justificado, em nome do não-censuramento, que fique instituído o vale tudo
– pagou/veiculou! Que passe a valer para tudo, sejam mensagens indutoras ao nazismo
à explícita manifestação de racismo; às
divergências religiosas, à homofobia, e, seja mais lá o que nos der na telha! Se o que está valendo (e deva
ser preservado) é a liberdade de opinião e expressão; é o direito ao livre-pensar, à licença
poética e publicitária, à relação de demanda e consumo, como diria Tim Maia, a
partir de então, vale tudo!
As palavras nada mais
são do que signos arbitrários. Ponto! Mas, é no ecossistema semiótico social que
se consolidam e representam alguma coisa para aquele sistema. Palavras indicam
coisas; nomeiam coisas, organizam o caos. Na verdade, é fato de vertente
científica no que diz respeito ao tema, que toda e qualquer mensagem só se
realiza, encontra significado, na recepção do agente receptor, e, não na
emissão do emissor, nem do mensageiro. Em tese, “não sou responsável pelo que
você entende do que eu quis dizer”. De fato, é o receptor que detém o start do
reconhecimento sígnico, da decodificação dos códigos linguísticos que
constituem o texto emitido, em conformidade com seu potencial e referencial simbólico, seu ecossistema semiótico. Porém, isso não isentará, em nenhuma
hipótese, o criador, o mensageiro e o veiculador da mensagem dos resultados
obtidos, no final da cadeia semiótica comum a ambos. Estivesse ela codificada em
russo, não haveria no nosso imaginário linguístico referencial de
reconhecimento cultural possibilidade de decodificação; portanto, não haveria
sequer a mensagem, por não haver recursos para sua interpretação e
decodificação sígnica.
Com relação à peça publicitária,
em questão, tanto o criador (infelizmente, nem entendeu seu juramento e sua
responsabilidade profissional); a agência que a produziu; o empresário que a
encomendou, a aprovou; a referendou e a pagou; a empresa que a admitiu e comercializou
seu espaço concessionado pelo poder público, bem como, os órgãos públicos que permitiram, por ignorância,
ou omissão, sua publicização, são, sim, responsáveis pelo apelo violador, nela
contida, no âmbito da Estética e da Ética que deveria, deverá, vigir nossa
convivência social civilizada. É pra isso que estamos convivendo em sociedade.
Dizer o que se quer, custe o que custar pode nos custar muito caro. Sem
conservadorismo, sem puritanismo, sem viés reacionário, seja lá quem for, que se
retirem, já, esses componentes do mobiliário urbano de nossa capital. Que
assumam suas responsabilidades, cada qual em sua instância. Nós não merecemos
isso!
Professora Maria Angela
Ceolho Mirault – Doutora e Mestre em Comunicação e Smiótica pela PUC de São Paulo
C. Gde, 02 de junho de
2018.
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