A animosidade permeou as entrevistas no “padrão” da maior
rede de televisão concessionada do Brasil. Todos os candidatos foram
desfolhados em suas egocentricidades e suas idiossincrasias. Tudo em nome da
falácia da pseudo-neutralidade-jornalística; que, é bom que se declare, em alto
e bom som, não existe. Boa parte da
pauta foi usada, não para o esclarecimento de possíveis propostas para a
governança do caos vivido por nós, mortais brasileiros. Só para exemplificar, na área da segurança, estamos
em guerra deflagrada, mas, não declarada, com o narcotráfico, sitiando e
matando civis e policiais, sob o comando de chefes de facções e narcotraficantes,
nas capitais brasileiras. sem adentrar as demais áreas estruturais, como saúde,
economia e educação. São esses os desafios do país, que o ungido pelo voto
receberá no dia primeiro de janeiro de 2019.
Assistimos embates grotescos entre entrevistados e uma quantidade
excessiva do primeiro e segundo time de jornalistas da emissora. De certo, que
todos almejam alçar a gestão desse governo desgovernado. Todos declaram saber o
lugar em que a fera ruge. “Tirar todos os 63 milhões do SPC” foi uma boa
sacada, e, se tudo dependesse apenas disso, a eleição já estaria decidida. Mas,
não é bem assim que a música toca.
O que mais ficou evidente é que o formato da programação
foi uma lástima. Um time de copa-do-mundo tensionando, todo o tempo,
inamistosamente, os cinco; mais como bandidos, do que como convidados. Alguns
se mantiveram na boa-educação, mas, mesmo assim, foram constrangidos a formular
a frase “eu também sou corrupto, eu, se não participo, sei das maracutaias do
meu partido, sou quase um inelegível”.
Uma das entrevistas, porém, fixou a marca do evento
jornalístico. Sob o comando da premiada escritora-âncora-jornalista, apresentou
cenas patéticas de deboche e constragimento. O último acuado terminou sua pífia
participação com deboche e gargalhadas, enquanto todos os perguntadores silenciados,
mantinham a postura de seriedade, conforme o “manual” prescreve. Contudo, mais surpreendente
do que já havia acontecido, foi o “editorial”- a voz da empresa - ditado,
monossilabicamente, ao ouvido da apresentadora,
e, por ela, roboticamente,
repetido que marcou o inusitado da situação. O texto saiu-se como um
cheque-mate; calou as gracinhas e gargalhadas do incontido candidato, mas, por
sua vez, tal fato virou meme; repercutindo, negativamente, pela internet. Na
estratégia de desmentir o candidato, a emissora tentou justificar o injustificável,
e, apelou, sem permitir a réplica do candidato, aquietado e silenciado.
Pelo visto, durante esse perigoso
período, teremos de tudo, desde um partido insistindo em melar o pleito, com um
candidato inelegível, quanto pela qualidade inerentes aos próprios candidatos e
seus vices (não nos esqueçamos de que estaremos elegendo os vices, para serem
vices!), coligações e promessas absurdas. Contudo, vale a pena ressaltar que
devemos prestar atenção na performance jornalística, seja na tevê aberta, ou, tevê
paga. E, mais, na repercussão do tête-à-tête das redes sociais. Um espetáculo, em um curto
espaço de tempo até o Natal, com resultados imprevisíveis para os próximos
anos. Que o povo saiba ler nas entrelinhas, e, realmente, escolher dentre o que
está no varejo, porque, apesar da gente nem imaginar, essa eleição pode piorar
a conjuntura atual, pra lá de péssima.
Gargalhadas, piadas, tiradas rasteiras, certamente, não podem governar
um país. Autoritarismo e “sabedência”, também, não.
Que os letrados intelectuais (?!) da imprensa, seus
produtores e pauteiros saibam realmente com que tipo de gente estão lidando: seja
de nossa parte, do lado de cá, seja do lado de lá da fronteira, desse
big-brother eleitoral, no qual um dos candidatos, pífios, ou, não, queiramos,
ou, não, receberá a faixa presidencial.
Maria Angela Mirault –
doutora e mestre em comunicação e semiótica pela PUC de São Paulo.
https:mamiraut.blogspot.com
5/08/18
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