Em tudo se pode ter como conselheira idônea, apenas uma Lei: A Lei da Ordem. Está tudo certo, já reverenciava o velho samba “Tudo está em seu lugar... graças a Deus, graças a Deus!” Verdade pura, não aprendida, óbvia: o mau governo – o bom governo; o bom político – o mau político; o corrupto e o corruptor, o explorado e o explorador estão cumprindo uma Única Lei, a Lei da Ordem, que se imporá, depois da Desordem, essa, sim, momentânea; porque não é lei. Feio, né? É. Mas, verdadeiro. A Teoria do Caos demonstra e explica direitinho “esse absurdo”: tudo que aparentemente está em desordem é apenas um estágio anterior à Ordem. Outorgas foram demandadas e atendidas; demandas estão sendo cumpridas; não caíram do céu – ou, caíram, sim, do céu. Tudo está certo. Plantio e colheita, também, refletem essa Lei: “ajoelhou? Vai ter que rezar”! “Pau que dá em Chico, dá em Francisco”! E, porque a Ordem é magnânima e um categórico universal; nada a poderá derruir. Estudar astrofísica, astronomia, cosmografia ajuda? Ajuda.
Derivadas dessa lógica, mais três Leis emergem
e regem a vida. A Lei da Hierarquia é a primeira: tudo o que veio antes, em
primeiro está. E, nisso reside o seu lugar. Quem chegou antes, pertence antes:
primeiro filho; primeiro marido; primeiro namorado; primeiro tudo. Aos
primeiros “toda honra e toda a glória”, as quais os segundos, terceiros e
milésimos necessitam reconhecer e acatar. É imperativo. Filas são metáforas
dessa Lei e de fácil entendimento. Da Lei da Hierarquia deriva (ou parelha) a Lei
do Pertencimento. Quem chegou antes tem o seu lugar indelegável. É seu o
direito de ali estar e pertencer; é ímpar esse seu lugar. O segundo filho não
pode ocupar o lugar do primeiro; o quarto marido têm de reconhecer o lugar dos
três que o precederam, para poder pertencer ao seu, circunstancial e
momentâneo, na fila do pão.
Bert Hellinger – o
decodificador e sintetizador dessas leis - fala muito seriamentes sobre isso:
todos com quem tivemos um relacionamento afetivo-íntimo, por exemplo, fazem
parte e estão realmente na fila dos ocupantes do seu lugar naquela fila;
tira-se da vida, do pensamento, mas, eles continuam lá. Ele diz isso, e, as
moças ficantes se apavoram. Mas, é da
Lei: todos fazem parte. E, aí, como fica? Fica como está, dentro da Lei maior, da
Ordem; cada qual no seu lugar. O passado não é tão longe assim. E, aí, o que é
que eu faço pra me livrar “daquela praga”? Olhando a “praga”, reconhecendo sua
presença, respeitando o seu lugar e despedindo-se, sinceramente: “Eu respeito a
história que tivemos; respeito o seu destino; fico - agora que o reconheço -
com o que me pertence e deixo com você o que lhe pertence. Agora, posso seguir
para a vida”. Ponto! Com sinceridade, claro, cortando laços, reconhecendo aquele
lugar de passível sucessão, mas, inocupável.
Se eu os vejo, os reconheço e os respeito, posso dar o lugar devido ao
“próximo”! seja esse o terceiro, o décimo,
ou centésimo lugar. O mesmo cuidado deve-se ter com a Família de Origem – é,
aquela que nos trouxe a esse mundo. Ninguém precisa “amar”; “viver”; “coabitar”
com a sogra (mãe do outro), ou com o sogro (pai do outro). Mas, todos têm como
dever, vê-los, acolhê-los, reconhecê-los, respeitá-los, e, se, possível um upgrade, honra-los... Daí, tocar a vida.
Eles, os medonhos, vieram antes. Seu marido/esposa já foi o bebê de alguém;
humanos ainda não nascem de chocadeira. Esses seres de origem só querem ser
vistos, reconhecidos e ponto final. Filhos, genros e noras podem “olhar” para
trás, com gratidão, e, seguir adiante, é Ordem da Vida, sem precisar exilar e
excluir ninguém. O reconhecimento, em verdade é um derivativo dessas leis
trazidas até aqui: Ver, Reconhecer, Respeitar, Honrar e Agradecer não são
apenas verbos, são sinalizações para se seguir sem remorso, culpa, ingratidão e
cumprir a Lei Primeira.
Se eu ocupo o “meu”
lugar na fila; eu pertenço a esse lugar que é apenas meu. Se cada um souber o
seu lugar na Lei da Ordem (hierarquia e pertencimento) encontrará o seu lugar
na Vida. Pronto? Não! Para que a Ordem impere, porém, necessário reconhecer a terceira
Lei – derivada da Lei Maior da Ordem - a Lei do Equilíbrio: o Bom Dar e o Bom Receber.
Se eu recebo, eu retribuo com igualdade; com isso, eu cumpro a lei. Ninguém
deve dar de mais nem receber de menos! Em tudo, principalmente, no quesito
relacionamento: afeto, amor. Quem dá de mais, ou de menos, fere a Lei do Equilíbrio
que traz implícita a inequívoca Lei da Igualdade. Ninguém é mais do que
ninguém. Se eu dou de mais, eu me coloco acima de quem recebe. Eu me arrogo à
prerrogativa de ser o que “pôde” dar. E, podendo dar, eu insiro uma mensagem
oculta de que o outro recebe porque é menor. Daí as trocas igualitárias do
escambo: eu dou, eu recebo; você me dá em troca, em qualidade, o mesmo que lhe
dei. Retribuição é sagrada; porque é Lei. Seja ela em dinheiro, tempo,
trabalho, amor, gratidão, sorriso, oração. Disse um velho e sábio sacerdote:
ninguém é tão pobre que não tenha o que dar, nem tão rico que não possa
receber. Síntese essa dessa Lei do Equilíbrio. Essa Lei só não vale para
filhos, que, só pelo fato de serem concebidos, conhecerem toda a abundância
necessária para aportarem a esse mundo, jamais poderão cumpri-la no escambo com
seus pais. Sem observarmos Ordem, Hierarquia, Pertencimento, Equilíbrio,
continuaremos sem saber ocupar nosso lugar na fila do pão, seja “na rua, na casa, na fazenda”.
Nossa ignorância; inobservância
nos mantém deslocados na vida. Não é a toa que estejamos tão alvoroçados no
formigueiro: “Alguma coisa está fora de ordem”.
Maria Angela Coelho
Mirault
Doutora em Semiótica
pela PUC de São Paulo
Rio, 01 de outubro de
2021
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