Naquele momento em que
a insanidade dos ataques terroristas - muito bem planejados, coordenados e
executados pela organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda - atingiu com
precisão os alicerces do poderio militar, político e econômico dos Estados
Unidos, em 11 de setembro de 2001, a DATA tomou de assalto um lugar cativo no calendário
da História Humana Contemporânea. Rememoremos.
Naquela manhã, o mundo
pode assistir de todos os lugares - tal como na narrativa orwelliana da
transmissão diuturna do “minuto de ódio” pela teletela -, em tempo real, o mais odioso espetáculo de vingança,
retaliação e contundência, do pensar e do agir do homem contra o próprio homem,
na atualidade. Por intermédio da ação executada por (apenas) dezenove
terroristas, quase três mil pessoas (227 civis e os 19 sequestradores a bordo
dos aviões) foram mortas, principalmente, civis de mais de 70 países.
Obviamente, o confronto
pertinaz e milenar entre o Bem e o Mal ocorre desde tempos imemoriais.
Entretanto, na História Moderna, cenas similares a estas nos chegavam em
películas cinematográficas, por rádio e pelos jornais, porém, absolutamente editadas.
Tomávamos tênue conhecimento dos fatos pela interpretação, impressão, e, tradução
dos correspondentes, que, por sua vez, recebiam a interpretação, a impressão e a
tradução dos seus editores. O que houve de novo no Onze de Setembro foi a instantaneidade
proporcionada pela tecnologia dos satélites, levando a visão do inferno ao
olhar estarrecido e impotente de toda a Humanidade. Hoje, também temos o nosso “onze de setembro” que acirra o que há de
pior da essência na espécie humana e nos incita à segregação, à segmentação, à
discriminação, à violência, ao isolamento, à intolerância, à indiferença e à
eliminação do Outro. Em decorrência, qualquer um de nós que professe ideologias
diferentes, sejamos, em todas as esferas da vida, talibãs e não-talibãs.
De certo que convivemos
imersos em grande perturbação social, na qual o antagonismo de cosmovisões
distintas tem se traduzido pela emersão da virulência de pensamentos e atos, em
toda esfera Humana. A discórdia, a agressividade, o ódio, a inquietação, o
pânico, a dor, a desesperança colocam-nos todos contra todos. A pergunta que se
faz, catorze anos depois, é se o mundo tornou-se mais violento, ou, mais visível.
Talvez o Mal tenha hoje mais visibilidade, e, se apresente agora com toda sua pujante
crueza desde as novelas-da-globo, passando pelos noticiários da tevê, invadindo
as redes sociais - lugar das mais absurdas exposições, ataques e difamações
irreversíveis que interliga, a todo o tempo, todo mundo a qualquer um. Parece-nos que nunca nos odiamos tanto.
Vivemos um mundo de cartarze coletiva de nossas doenças da alma; os cadáveres
estão expostos em todos os lugares, eles chegam aos nossos lares pelo brilho da
alta definição, pelos touch screen de nossos celulares, tabletes e laptops; hoje,
extrapolam as páginas dos jornais e os noticiários de tevê.
Roberto Crema, reitor
da Universidade Internacional da Paz - Rede UNIPAZ (uma instituição sem fins
lucrativos, que iniciou suas atividades no DF, em 1986, com tem sede em
diversas cidades do país), diagnostica esse momento e diz: “Nenhuma época, como
a nossa, apresentou uma face tão explícita e atordoante da demolição, lição do
demo, do egocentrismo, do desamor, da fragmentação e desvinculação, da
alienação ética e generalizada desumanização. Como parcelas que estamos sendo
de um organismo global, células de um mesmo corpo da coletividade humana,
estamos todos soterrados pelos desabamentos de torres e de valores, ao mesmo
tempo vítimas e algozes, atravessando as inevitáveis consequências do exercício
sistemático da estupidez humana, do esquecimento do Ser. Na afirmação de
Sartre, estamos sós e sem desculpas”.
De certo, que desde
esse momento de insanidade da ação humana, nosso mundo mudou radicalmente,
levando-nos a refletir sobre o papel e a responsabilidade de cada um de nós,
viventes desse século. Esse ciclo de ódio precisa ser interrompido por um novo
paradigma que emirja da Ètica e da Estética da Paz. Pode ser que um novo
paradigma capaz de promover uma Cultura de Paz e Não-Violência por intermédio
da educação e reeducação do homem seja a última e única possibilidade de
reversão à ode ao terror e a todas as suas circunstâncias e consequências.
É preciso, antes de
tudo, que aprendamos a pensar e a agir em prol de uma conquista efetiva de Paz,
em nosso mundo particular, promovendo pequenas ações que sejam realmente
potenciais para a quebra desse paradigma de violência em toda a instância e
lugares, a partir de ações individuais, locais e coletivas em benefício de nós,
de toda a sociedade; enfim, de toda a Humanidade.
Professora Maria Angela Mirault (Doutora em Comunicação e
Semiótica pela PUC de São Paulo)
http:/mamirault.blogspot.com
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