Há um despertar de
sombras que nos emergem das entranhas a cada notícia escabrosa. Cada vez mais estupefatos,
deparamo-nos com o ser mais primitivo que persiste em habitar em nós e a lastrear
nossa Humanidade. E esse ser bestial – que, aí, nos enxergamos ser - quer,
antes da justiça, vingança! Não matarás! Quem pode assegurar para si “o não
matarás”? Estamos nos matando e sendo mortos a toda a hora, dentro e fora de
casa: na seleção aviltante e real por uma vaga na UTI; no trânsito; nas almas
que se confrontam; na dor do outro que nos alcança cotidianamente; na dor solitária
que enxameia nosso coração; no facebook! Estamos nos odiando e vociferando
nossas opiniões, pelas pontas dos dedos esquizofrênicos; proclamando todas as
nossas verdades, enquanto hienas poderosas e no comando saqueiam nossa carne;
vendilhões do templo em todas as instâncias e poderes nos exploram. A omissão,
a conivência, a cumplicidade são generalizadas (meu pirão primeiro). Estamos
num redemoinho de desespero e dor. Está cada vez mais
difícil ser de fato um cristão, nesses dias. Àquele que deve dar a outra face –
mas, não dá; que tem de perdoar – mas, não perdoa; que tem de ter compaixão –
mas, não a tem. No entanto, os templos continuam cheios de devotos.
O mundo enlouqueceu e
não há crença, ideologia, lógica que resistam e deem conta da realidade que, a
todo instante, nos viola a alma (se é que a temos). Acontecimentos
inimagináveis, cada vez mais assustadores, nos prenunciam o que ainda está por
vir, já amanhã de manhã, ao ligar a tevê. Não há escapatória, ao lado das
catástrofes naturais que nos assolam, o ranger de dentes apocalíptico está na
ordem do dia: salvem-se quem puder! Somente os alienados, os cínicos e as “polyanas”
são, idotamente, felizes; os ignorantes, talvez; os ineptos; os ruins da
cabeça... Alguns de nós, não!
Somos, hoje, uma nação
estupefata de zumbis; estamos mortos, inertes, saindo de um carnaval sem nexo, que
ocupou as ruas de todo o país, movidos à instantaneidade dos sentidos hedônicos,
enquanto, no mundo real, tudo continuou, continua e continuará no mesmo
colapso, imersos na mesma lama de Mariana que toma todo o país e que nos rouba
o fôlego, ao chegar às narinas do corpo e do espírito.
Bandidos milionários e
blindados chegam do exterior e posam seu escárnio para o instantâneo midiático;
escárnio da gente, da polícia e da própria justiça. Sérgio Moro, o justiceiro,
e sua equipe corajosa desnovelam fios de meadas emaranhadas, e escrevem, todos
os dias, a Verdadeira História de um país totalmente de nós desconhecido,
delação após delação. Nunca precisamos tanto de bandidos para que, ao delatarem
seus comparsas, desvendem-se crimes, antes, só do conhecimento em suas esferas
de poder e de ganância. Canalhas poderosos, semideuses e muito ricos, entram e
saem da carceragem, com, ou sem, tornozeleira, presos em seus luxuosos e
confortáveis domicílios, ao lado de suas famílias angelicais.
Idiotas assumem
lideranças que não lhes foram dadas e conclamam a população “a apoiar Sérgio
Moro” – sem se deram conta de que Moro não precisa de nós. Somos nós - os que
veem e estão fartos de tudo - sobreviventes, quem precisamos de Moro, de sua
equipe notável, do corajoso colégio de promotores, dos valorosos integrantes da
PF; do “japa” conduzindo mais um a Curitiba.
Sobretudo, existe uma
demanda que vem de uma origem extraterrena; uma demanda que vem de uma Economia
não aprendida nem ensinada nas escolas, no catecismo, nas aulinhas partidárias,
nem nas universidades, quiçá em nosso planeta. A Economia que é parte
imponderável da lei imutável da vida, na qual todo negócio, toda transação, têm
um preço e esse preço é absolutamente justo porque vem de uma Lei Maior: de
Igualdade, de Equilíbrio e de Justiça. Obviamente, não me refiro às mequetrefes
leis-das-pregações-religiosas, sustentadas pelo medo, pelos escambos e
oferendas. Refiro-me a uma Lei, ainda, de poucos conhecida - mesmo de Moisés e das
religiões constituídas, após suas Tábuas da Lei. Refiro-me a uma Lei que vem da
Física e que rege toda a matéria; toda energia. Nesta Macro Economia, Ecológica
e Universal - a qual estamos todos submetidos - acreditemos, ou não – tudo tem
sua medida certa. Tudo tem consequência. Demanda e oferta estão a todo tempo
submetidas à balança do equilíbrio, e, em assim sendo, apesar do colapso, do
holocausto e das dores quase
insuportáveis do dia-a-dia, a Justiça prevalecerá.
Maria Angela Mirault-
professora doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo.
http://mamirault.blogspot.com.br
www.topvitrine.com.br/ www.mrcoeusebio.com.br
Jornal Correio do Estado, Campo Grande/ MS: 07.03.2016
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