Os grandes pensadores desvelam partes paradigmáticas de
uma única Verdade, ainda não acessível. De tempos em tempos, somos visitados
por esses seres especiais, que, além do Espaço-Tempo, vêm nos anunciar suas
proposições filosóficas.
Toda minha trajetória na pós-graduação acadêmica, se deu
à luz da Fenomenologia e de seus cientistas. Pude examinar fatos vivenciados,
por intermédio de pesquisas qualitativas, e, constatar a grandeza dos
pensadores fenomenológicos, haja vista, atentarem-se ao fato, à vivência (única)
observada, no seu momento em que acontece, sob o entendimento quântico de que
ao observarmos, transformamos o fato vivenciado. Detêm-se, eles, à realidade em
sua fictícia e brevíssima instantaneidade; observam-na, em suas diversas
manifestações; cuidadosamente, debruçam-se para, somente, após, deduzir causas
e leis que as movem. Esses são os que examinam o planeta (e, a vida) com um
propósito, um mandato; não, apenas, como uma esfera qualquer ao sabor dos
movimentos telúricos. Esses cintistas-filósofos são simples, parcimoniosos,
sábios ao distribuírem suas conclusões sobre o mundo e as leis que regem a vida
em si, a qual todos nos submetemos (ainda como mistério). Se, nos detivermos
aos registros da História, conseguiremos identificar muitos deles que, ao longo
das Eras, transformaram paradigmas anteriores e institucionalizados,
culturalmente. Sem contradita, suas ideias vão alcançando, pouco a pouco.
Minorias silenciosas – talvez mais angustiada e cavucadora de conceitos e
empreendedorismo para avançar – vão somando-se e expandindo-se para outras,
que, pelas bordas do ecossistema cultural, vão aceitando e assumindo o “novo
paradigma”. E, assim, vamos prosseguindo para estágios cada vez mais
equilibrados e coerentes com a Verdade, como categórico universal. Piaget
chamaria esse estado de mudança de “acomodação majorante”, porque se equaliza
em patamar paradigmático mais elaborado do pensamento humano.
O psicanalista e filósofo, Bert Hellinger, acabou de
completar 92 anos, em plena atividade, difundindo suas ideias pelo mundo. Esse filósofo alemão contemporâneo, não para
de pensar, arguir e exprimir seu rico e valioso pensamento a respeito dessa
realidade, na qual estamos, todos, sem exceção, inseridos. Ético com suas
formulações, ele ainda revê seus conceitos, e, não dá por fim seus experimentos
e vivências, de onde abstrai suas deduções. Abraçando, com humildade,
constatações de outras áreas e outras ciências, caminha e aponta novo paradigma
nesse patamar majorante a respeito da vida, suas leis, com alcance a todos nós.
Hellinger, que já atuava com os sistemas familiares, em
sua prática terapêutica, observando e deduzindo suas Leis Maiores, propõem a
existência de três Leis - as quais, denomina por Ordem do Amor - a nos reger os
destinos, todos vinculados, inexoravelmente, a serviço de uma Força Maior. Afirma,
assim, que, todos necessitamos de pertencer a um único lugar que é nosso; todos
devemos respeitar uma hierarquia - que não pode nem deve ser quebrada – e, que,
todos necessitamos movermo-nos, sob a lei do equilíbrio, que nada mais é, do
que o bom tomar e o bom receber. Segundo
suas postulações, essas três Ordens estariam por trás de todos os vínculos e
envolvimentos familiares, organizacionais; quer no micro, ou macro sistema
sócio-político, que só a Fenomenologia seria capaz de desvendar. Com seu paradigma
inovador, nos apresenta uma proposta de reorganização diante do mundo.
Pertencer ao meu lugar. Respeitar quem veio antes de mim. Dar e receber com
equidade. Seria tão impossível assim, acompanhar, observar em nós, o que
propõe? Estou no meu lugar? Reconheço a primazia dos que vieram antes? Sou
capaz de dar e receber com equidade? Pontos a refletir nessa nova ciência, novo
jeito de pensar o humano e seus inter-relacionamentos. Uma descoberta a fazer!
Maria Angela Coelho Mirault
Doutora e Mestre em Comunicação
pela PUC de São Paulo
C. Grande, 29/11/2017
C. Grande, 29/11/2017
https:mamirault.blogspot.com
Publicado em 02/12/2002, no jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS
Publicado em 02/12/2002, no jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS
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