Levanta a mão quem
tenha um tempinho pra escambiar com alguém.
Ninguém o tem. Moeda igualitária que todos recebemos, vale mais do que o dólar,
do que o euro ... do que o Palácio de Versalhes! O tempo é a única moeda que,
incompatível com o mercado, nos pertence; nos é dada e nos é tomada, muito além
de qualquer possibilidade de interferência, gerência, pretensão e ganância de
nossa parte. Moeda essa que costumamos desperdiçar, dia-após-dia; noite-após-noite,
ao longo do nosso curto tempo de vida. Não, nós não temos tempo; é o tempo quem
nos tem. Belo-dia... bela-noite ... bela-hora,
sem aviso prévio, sem mais nem menos – totalmente fora dos nossos propósitos – nossa
sacola quedará vazia.
Hoje, consigo ver, em
cada coisa que faço, um pedaço do meu tempo que se esvai; parte significativa
das moedas que recebi; pedaços insuperáveis da minha vida. Tudo nos custará o desperdício
e o desgaste de nosso valioso tempo. Serão
os filhos - cujos cuidados terceirizamos – que crescem, se criam ao largo e ao longe
de nós; ausência, cuja consequência, moeda
nenhuma será capaz de resgatar, enquanto colocamos nossa única e real riqueza, ao
pregão do mercado.
Há um filme fantástico,
lançado em 2011, que nos faz refletir sobre os significados dos pequenos segundos
com os quais se esvaem nossas moedas. Seríamos mesmo pessoas donas e senhoras
do nosso tempo, e, por consequência, do nosso destino? Seríamos realmente livres
e capazes de gerir esse único e legítimo capital depositado, diariamente, em
nossa conta bancária da vida?
O filme Os Agentes do Destino (The
Adjustement Bureau) foi baseado num conto de ficção científica, do gnóstico escritor
Philip K. Dick (a.k.a PKD). O protagonista (Matt Damon) é um derrotado candidato
ao senado. Enquanto amarga sua derrota, tem um encontro fortuito com Elise (Emily
Blunt); vivem uma noite esplêndida, e, apaixonam-se. Toda a trama decorrerá com
o intuito de demonstrar a luta que terão de travar, para se tornarem senhores
do próprio tempo, e, por conseguinte, dos próprios destinos.
Os protagonistas não farão outra coisa do que tentarem
enganar os agentes do destino; uma
espécie de anjos, que farão de tudo para que esse romance não interfira no planejamento divino estipulado para que Davis
venha a cumprir o que lhe era propósito de vida. Fogem... fogem... fogem, tentando ludibriar a
ação desses emissários divinos. Capturado,
descobre que a vida - nas mais comezinhas ações - é um percurso já traçado
segundo os planos determinados. Assim, esses agentes seriam os responsáveis por
impedir que seus tutelados tomem caminhos distintos do que já fora planejado .
Sem dar spoiler, o
filme procura abordar a ideia de que, por não sabermos utilizar bem o nosso
tempo, gerenciar nosso destino, necessitamos, ainda, de tutores, planejadores e
supervisores que não nos deixem fugir do programa elaborado por, e, em
instâncias maiores.
Buscando trazer,
também, a mensagem de que sempre será possível obter-se uma abertura para o (tão falado) livre-arbítrio, o filme não nos
deixa pessimistas; muito pelo contrário, proporciona-nos bela reflexão. Valerá,
inclusive, muito a pena refletir: (1) Porque, nos habituamos a gastar nossas
moedas, dia após dia, esvaziando nossas próprias sacolas todas as noites, sem
que nos perguntemos o que fizemos com o tempo que desperdiçamos? (2) Ou, o que fizemos
com nossa única riqueza no dia que passou?
Fica a dica (do filme e
do tema abordado): o tempo se esvai silenciosa e inexoravelmente, a cada segundo
que passa. Afinal, quantas moedas ainda temos em nossas sacolas? Isso também
ninguém sabe. Reflitamos, por conseguinte, se estamos tentando, inutilmente,
vender nossas próprias moedas, trocando-as pelo vil metal!
Maria Angela Coelho
Professora Doutora em
Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo
Terapeuta em Práticas
Integrativas e Complementares à Saúde.
http://mamiraut.blogspot.com
11.03.2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário