A duras penas... Campo
Grande
Estamos sobrevivendo à
crise. Cada dia de um jeito, cada dia, como dá. Duvide-o-dó que algum vivente -
com conta gorda, conta magra, sem conta, no banco; com dívida, sem dívida -
esteja passando por esses momentos em dolce
far niente. No máximo, fazendo um
lanchinho magro no shopping, sem comprar nada. Duvide-o-dó que a classe
operante não tenha nenhuma conta atrasada, ou, em vias de. Planos, só os emergenciais, porque o pão pode estar mais
caro amanhã de manhã – a padaria pode ter fechado e declarado falência; o
emprego pode ter ido pro brejo; a
faculdade ter ficado mais cara –a escolinha ter de ser substituída, pelo
o ensino gratuito e obrigatório – garantia constitucional – e o município sem
ter condições de dar conta dessa demanda; a doméstica, o segurança, o
motorista, o faxineiro... TODOS, buscando o “empreendedorismo-sebraeniano”, pra
se virar. Segurança de ir e vir, curtir a vida, ser feliz como a gente merece,
nem pensar...
O pior mesmo é o
duplipensar que se afermenta, roubando mentes de pessoas, antes, até confiáveis
e razoavelmente racionais. De certo, mesmo, é que o modelo carcomido de se
praticar políticas, fazer politicas está ruindo fragorosamente, chegando de
modo avassalador e irreparável como a lama-de-mariana – já providencialmente “esquecida”
do povo e da mídia. Personagens histriônicos tomam de assalto nosso bigbrother doméstico e convivem no nosso
mundo interpessoal. Estamos fartos de tantos sabidos, tantas certezas, tantas
verdades, além e aquém de Sérgio Moro - o que esses jovens guardiões da Justiça
estão realizando, sob o Sol dos nossos testemunhos, está aquém e além de
qualquer imaginação. Estamos próximo, muito próximo de ter “O mito” atrás das
grades, uma guerrilheira golpista, ocupante por poucos dias o palácio, tendo de
afrouxar a cinta e o caráter. De cima do poste, de onde sempre esteve e de onde
pensa que ainda governa, a “cobra de Janaína”,
ainda mercadeja: “quem vai querer?” Desvairada, ainda não percebeu que os
músicos ainda tocam, mas, o naufrágio já aconteceu. Coitada!
A duras penas estamos sobrevivendo.
E, sobreviver, nesses dias tão aziagos, é de um privilégio sem monta. Assistir pela
tevê o mico do advogado dativo da presidanta, não tem preço! Tal pataquara só
pode ter sido ideia da sabedoria do ilustre-ministro-articulador, direto do hotel
de Brasília, governando o Brasil.
Porém, mas, porém (não
nos esqueçamos), é no nosso mundinho pequeno que as coisas nos aparecem e
acontecem. Na nossa casa, na nossa rua; em nossa capitania hereditária que a
vida toma sentido, significa e vive.
E, por aqui, as coisas
estão boas, não!
Bem agora, no meio dessa
confusão danada do duplipensar (ler Orwell), abraçado com a dengue, zica vírus,
H1N1, descumprimento da legislação no quesito creches, crateras herdadas da
gestão tradiana - e sua associação com os donatários da lama-asfáltica-, sem um
hospital público (vive abrigado na Santa Casa, que não é um hospital municipal)
e a conclusão das obras do absurdo aquário de 200 milhões de dólares, nos vem
com a promulgação mamão com açúcar da lei 8.242/16, a lei da mordaça, por 27
dos 29 edis!?
É pra acabar! É muita
desinformação! E, a gente com um olho na globonew, outro nos noticiários
locais, ficamos assim meio sem saber com o que nos indignar primeiro. Assim não dá, senhores!
Embora a esperança
resida na declaração de veto do prefeito, é de morrer de rir, ou de muito
chorar. Senhores cidadãos campo-grandenses: foram 27, dos 29 vereadores da
capital de Mato Grosso do Sul que atiraram no pé e aprovaram “a censura no ato
de ensinar”; por si mesmo, uma absoluta impossibilidade. É impossível, senhores
vereadores, (ah! Que vergonha!) aplicar essa “lei” no cotidiano escolar. Educar
é um ato político em sua essência. O ensino começa, mas, não se finaliza no
emissor; realiza-se no no aprendiz, que, o recebe e o traduz conforme seu
lastro de conceitos, adquiridos, ou, simplesmente, percebidos no ambiente
ecológico-semiótico-cultural em que se acha envolvido. Ensina-se sob conceitos
- paideumas - de alguém que, querendo, ou não, vão ser introduzidos no fazer
pedagógico, inexoravelmente.
Tudo bem que haja quem
queira a volta dos militares; de bolsonaros salvando-nos do caos; a
ressuscitação de brizolas, ulysses. Mas, há, também, senhores, gente que sabe
utilizar com economia seus dois neurônios, que olha, enxerga e vê a bizarrice
que sai daí e repercute aqui. É muito simbólico que apenas dois, dos seus edis,
Campo Grande, tenham conseguido vislumbrar o absurdo da proposta oriunda de um
médico e de um professor. Mesmo que venha a ser vetada, e, por um mea culpa coletivo, a manutenção do veto, por seus representantes, façam-me o favor, a
cag... já foi feita!
Poxa, moçada! estamos
tão ocupados em acompanhar a “grobonews” e o calendário voador de cunha pelo impeachment; as brilhane tacadas do
estrategista de Curitiba, apitando com maestria todas as jogadas entre Judiciário X Executivo;
Judiciário X ele mesmo; Executivo X Legislativo; Nós X Eles... Envolvidos em
nossas torcidas organizadas pelo caos, nos degladiando em opiniões, pelo whats,
faces e twitando, e, vocês, me vem com essa?!
Gente de Sucupira (ops,
Campo Grande), Reaja! Campo Grande, Acorde! Se a gente quiser, mesmo que a
duras penas, TUDO pode mudar. Eleitores de Campo Grande, parem de brincar com
coringas, chocolates, cabeludos, malfeitores, gente sem noção! Precisamos falar
sobre isso... amanhã, ok? Aguardem! Ah, uma alvissareira notícia: o impeachment
não é golpe, amém?!
Maria Angela Coelho,
professora doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo;
membro do movimento Por uma cidade Democrática
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