Embora haja, sim, anacrônicos-professores-doutrinadores,
em todas as instâncias, com predominância para aqueles “pentecostais”sem noção,
para os quais, Marx e Engels são a solução do mundo, não se pode, sequer,
considerar a proposta indecente de uma “Escola sem Partido”.
Mas, eles estão
fortalecidos, agendaram evento, na Câmara Municipal de Campo Grande, trouxeram
a liderança dos bolsonaro-da-vida para a empreitada, com o aval da Diocese de
Campo Grande (será?), que, permitiu se distribuíssem panfletos a saída de suas
igrejas.
Estamos mesmo todos
abobalhados com os acontecimentos atuais. São estarrecedores os fatos que nos
chegam por intermédio da mídia. Orwellianizados, somos todos vistos e
escaneados todo o tempo. Não há mais privacidade; tudo está irremediavelmente
desvelado. Estamos nus e não há a quem recorrer. Parece que vivemos um momento
em que todas as instituições estão carcomidas pela ferrugem e contaminadas
pelos fungos da corrupção, da falta de moral e do predomínio dos maus costumes.
Supor que a fixação de
cartazes nas escolas de Campo Grande inibirá os doutrinadores de suas pregações
é um pensamento canhestro, inconcebível e ignóbil. Eles foram treinados;
saberão como se rebelarem, continuando suas pregações. Em contrapartida, uma
nobre profissão e a maioria de seus profissionais estarão avassalados, em
guetos de espúrias delações.
Será que toda essa
desordem que toma conta do país, em todos os poderes, todas as esferas, em cada
repartição de governo está nos desorientando; conduzindo-nos, agora, a
imposição e a aceitação dos recursos da mordaça? A guilhotina do direito sobre
nossa liberdade de expressão, limpidamente expressa na Constituição?
Será que a crise de
autoridade, de ordem, de credibilidade e de respeito, que nos nocauteia todos os
dias, está nos ensandecendo, empurrando-nos cada vez mais para o muro da
insensatez?
Será que o controle, a
denúncia de uns contra os outros nos trará uma escola limpa, anódina, mais “desemburrecente”
do que a que produz milhares de analfabetos funcionais?
Somos, ainda, e, graças
a Deus, um país livre. É livre a manifestação do pensamento. É um direito
inalienável, emitir, livremente, opiniões, ideais, sem medo de retaliação ou
censura, seja de quem for. Essa liberdade é conceito fundamental do estado de
direito nas democracias. Qualquer inibição desse preceito é censura e é imoral.
Direito humano
protegido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos - e, pelas
constituições de vários países democráticos - desde 1948, prediz que “Todo ser
humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a
liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e
transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de
fronteiras" (artigo XIX).
Estabelecer rédeas seja
a quem quer que seja é crime constitucional. Como é possível que uma Casa de
Leis; Igrejas e alguns idiotizados defendam essa ideia, e, proponha um
Seminário, em nossa cidade, para que uma discussão direcionada legitime mais
uma, dentre tantas, aberração inconstitucional? Essa tentativa já se frustrou
há pouco tempo. Seus autores arredaram, e, agora, voltam fortalecidos pelo
esculacho geral que toma conta do país, sob a liderança do filhote
bolsonariano, trabalham por uma guinada de 180 graus em nossos costumes.
Não é porque o PT
avacalhou com a democracia, usurpou a Nação, conciliou-se com a política no seu
sentido mais abjeto, abrigou o pior disponível e cúmplice aos seus projetos,
que nossa saída será o retrocesso. Não é. Não serão eles quem nos trarão a
ordem, a esperança e a bonança.
É na liberdade de
consciência que se encontra nossa maior riqueza de transformação de um mundo
que volta a Idade Média e quer vingança, antes da justiça; controle, antes da
ação.
Como professora há
décadas, livre pensadora, cidadã do mundo, cumpridora de minhas obrigações só
posso lançar o meu libelo. Não a guilhotina do pensamento! Não a mordaça em
minha boca! Vocês não podem induzir parte da sociedade com esse imbróglio. É
justamente o contrário, quando estamos e somos livres é que conseguimos buscar
soluções para nossas divergências. Sempre haverá.
Maria Angela Coelho Mirault – professora doutora em
Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo
10/08/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário