Recém-chegada à quase
recém-criada capital do Estado de MS, nos anos 80, durante “os anos eram
assim”, e, antes das “diretas já!”, teve de dar conta das demandas que lhe
surgiram. Migrante que era, veio com
tudo. Uma escola já consolidada no mercado para empresariar, uma família para se
adaptar e uma função pública inesperada eram seus desafios. A gestão iniciante
era do recém-vitorioso PMDB. A função do cargo oferecido, de sua área de
formação e atuação. Afinal, o bom, desafiador e prestigiado emprego no serviço
público levaram-na ao staf de
assessoria no segundo escalão. Na mudança de governo (e, de partido), a equipe
anterior esvaziara de fato todas as gavetas; tudo então teria de ser pesquisado
e refeito. Dividida entre autoridades e compromissos empresariais, procurou dar
conta de uma e de outra função. Buscando refazer toda a trilha para o setor, teve
a iniciativa de empreender viagens de visitas de pesquisa, junto aos
Cerimoniais e cerimonialistas dos Estados do Rio, São Paulo e Minas Gerais.
Debruçou-se no estudo das leis protocolares e demais normatizações. Organizou o
que pode. Entre erros e acertos, reconstruiu a base de atuação protocolar. Sentia-se
e sabia-se preparada. Cinco meses, como soe
ser, inesperadamente, recebeu sua demissão: “alguém-amiga-de-amiga-muito-íntima-de-autoridade-de-primeiro-escalãozíssimo-queria-um-
lugar no governo”; exatamente o Seu! Lá se foi sua dedicação aos projetos; o seu
trabalho “primoroso” (rs...) e, sobretudo, sua digital na elaboração de
texto-base, que intentava embasar o modelo de lei de Cerimonial Público para
subsidiar a Assembleia Legislativa do Estado de MS; Rio, São Paulo, Minas
Gerais, dentre outros, já tinham elaborado suas leis. Acreditou que pudesse; parecia-lhe
possível. O certo é que até hoje, o
Estado de MS não tem a sua legislação a respeito. Praga de mãe, ou bênção dos
deuses? Com o episódio de “fracasso” aprendera
que: 1) em terra de cego quem tem olho (mas, não tem padrinho bom) é pangaré;
2) quem não usa colírio, usa óculos escuro, e, cai do cavalo; 3) quem não tem
padrinho – ou, padrinho fraco – morre pagão e nu com a mão no bolso.
Na decisão do “fica-não-fica”,
cuidar do seu empreendimento era a melhor opção. Primeira proposta de escola
particular construtivista no Estado (afinal, antes da migração, preparara-se
bem para isso, suado a camisa em um curso e estágio com o mais notável
estudioso de Piaget, no Brasil; o saudoso professor cearense Lauro de Oliveira
Lima. Aquela demissão poderia significar uma bênção do céu, pois, com sua dedicação
integral, ao lado da sócia, a escola teria tudo para bombar. Bombou! Mil projetos,
que deram muito certo; corpo docente preparado, proposta pedagógica séria,
segura e inovadora - as crianças adoravam.
Porém, a crise dos anos 80 e o preço da gasolina derrubaram tudo. Dias
antes de iniciar o período letivo, sua sócia decidiu encerrar as atividades da
seleta escola. Tudo foi desmanchado, doado... todo um projeto de alto nível em
educação abandonado! Em menos de um ano,
na próspera cidade “para quem tivesse gosto pelo trabalho”, como diria um
nativo da terra, tudo fora por água a baixo. Na dúvida entre desistir e
persistir, o trabalho voluntário já lhe havia assaltado o interesse: compartilhara
de três iniciativas: 1) a belíssima criação e implantação da nascente Escola de
Pais que, hoje, saudosa, muito contribuíra na orientação de pais em periferias;
2) a mundialmente renomada e recém-criada OMEP/MS – hoje, uma desolação de
corrupção, e, 3) a criação do PMDB-mulher.
Entre o tempo de voltar
ou ficar, pegou sem pestanejar um “adorável” emprego público federal (só que
não). Era uma repartição que distribuía recursos da União às iniciativas
governamentais do Centro-Oeste. Quando Collor - o salvador da pátria brasileira
- chegou (não tendo os 5 anos para estabilizar-se), danou-se, outra vez! Rua!
Praga de mãe, ou bênção do céu? Bênção do céu, já que estava quase zumbizando,
naquele ambiente desolador. E a saga “Praga de mãe ou bênção do céu” teve
outros episódios. Aguarde.
Maria Angela Coelho
Mirault – professora, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo
Publicado em 12/07/2017
http://www.correiodoestado.com.br/opiniao/maria-mirault-causos-na-cidade-morena-praga-de-madrinha-ou/307597/
Publicado em 12/07/2017
http://www.correiodoestado.com.br/opiniao/maria-mirault-causos-na-cidade-morena-praga-de-madrinha-ou/307597/
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