domingo, 27 de dezembro de 2009

FELIZ 2014! CATORZE?! ENTÃO TÁ: 2016!*




É. Feliz 2014, ou 2015, ou 2016! Isso porque, é quase certo, não vamos iniciar 2010, já que contamos o tempo baseado em cálculos errados realizados a mais ou menos 1486 anos da Era Cristã. Foi Dionísio, um monge católico, em 523 d.C, que fez toda essa confusão por meio de seus estudos e cálculos, decidindo contar a Nova Era a partir do dia 1º de janeiro, depois do nascimento de Jesus, em 25 de dezembro. Essa contagem só foi admitida muito gradativamente pelas nações católicas no século X. Para dimensionar essa convenção na flecha do tempo, os países que aderiram ao novo cronograma foram: a Grã-Bretanha e suas colônias em 1752, o Japão em 1873 e a China somente em 1949. O pior é que essa cronologia do tempo – que deve ter dado um trabalho danado ao pobre do monge – está errada. Baseado em novos e mais específicos estudos, Johannes Kepler refez todos os cálculos de Dionísio e confirmou uma defasagem de cerca de 4 anos (pode haver um déficit de até 6 anos). Dentro da complexidade de sua pesquisa, Kepler apresenta como um dos fortes argumentos para sua tese os registros encontrado em Lucas (2: 1-2) que se refere ao recenseamento ocorrido sob o governo de Quirino, governador da Síria entre os anos 7 e 6 a. C. Além do mais, sabe-se que o Jesus - histórico nasceu sob o império de Herodes (que por causa do seu nascimento teria mandado sacrificar todas as crianças até 2 anos de idade) e que foi morto em 4 a. C. (!)
Esses cálculos e essas divergências já nos colocam no mínimo no ano 2014! Ufa! Escapamos da maldição proposta pela cultura maia que determinou o ano de 2012 como o fim-do-mundo (lembra?). Para mim, isso já é suficiente para que comemoremos a chegada de, pelo menos, 2014. Ocorre que, além da discrepância de cálculos, temos a frente mais um probleminha, o monge aboliu o ano zero como marco do nascimento de Cristo, isto porque, tanto não havia conhecimento (dele) do conceito zero, como não existia correspondente no algarismo romano. Assim, Dionísio institucionalizou que a Nova Era se deu no ano 1 , ou seja, do ano 1 a. C pulou-se uma casinha e foi-se direto para o ano 1 d.C. Esse lapso é fácil de ser verificado. Uma criança, ao nascer, começa a contar seu primeiro ano de vida do momento zero do seu nascimento e assim vai-se contando seu tempo em 1 mês, 2 meses, 10 meses de vida, um ano, já que ela não começa a ter contado seu tempo quando completa um ano, porque já se tem iniciado nesse instante a contagem do seu segundo ano.
Afirmam os estudiosos (e o Google) que por volta dos anos 600 d.C, cogitou-se considerar o ano do nascimento de Jesus como o ano zero, da nossa era. Nesse caso, se considerássemos o ano zero (que foi por ignorância eliminado pelo tal do Dionísio do calendário cristão) e desconsiderássemos os erros de cálculo, aceitando o institucionalizado ano 2010, poderíamos considerar, sim, o dia 1º. de janeiro de 2010, o início da nova década do século XXI. Década esta que estaria iniciando sua contagem em 1º. de janeiro de 2010 – tal como a criancinha: um dia, um mês, 6 meses, 10 meses do primeiro ano da década. Mas, por causa do Dionísio (e de seu pseudo-conhecimento) esse cálculo foi e está institucionalmente considerado errado.
O fato é que existem tantos calendários diferentes quantas as sociedades, já que a divisão do tempo expressa acontecimentos de profundo reconhecimento daquela realidade e memória cultural, assim como em nós. Contudo, o homem conta o tempo desde o Neolítico, dado a necessidade imposta pela agricultura submetida às quatro estações. Desde então nunca mais parou de contá-lo.
Nosso calendário atual é resultado da decisão do papa Gregório XIII, cuja bula que deu origem ao calendário gregoriano data de 24 de fevereiro de 1582 d.C. Lembremos, também, que os judeus consideram a contagem do tempo a partir da criação do mundo, precisamente – segundo eles – no ano de 3761 a.C (olha o Google aí, de novo), enquanto os maometanos dão início a contagem, no ano de 622 d.C, quando Maomé teria fugido de Meca para Medina. Para essas sociedades não estamos nem em 2010, nem em 2014, ou 2016, mas, sim, no ano de 5.769, para os primeiros e no ano 1429, para os segundos. Mas ... mesmo assim, eles também estão subjugados ao calendário universal e oficial da Era Cristã, desde quando, em 1884 d. C, em Washington, uma Conferência Internacional determinou a criação de um único Dia Universal no planeta, instituindo a zero hora GMT (Greenwich Meridian Time), de Greenwich, na Inglaterra. A partir desse acordo internacional, todo o planeta passou a romper um novo ano na passagem das 23:59 min do dia 31 de dezembro para 0:00 do dia 1º. de janeiro, na hora oficial de Greenwich, embora, tradicionalmente, as nações e seus povos comemorem, culturalmente, essa passagem de acordo com seus fusos horários.
Assim, caro amigo, às 23h59 min do próximo dia 31, você pode não estar nem dando início ao ano 2010, nem ao primeiro ano da segunda década desse milênio, mas, sim, indo direto para o futuro, entrando no ano de 2014, de 2015, ou de 2016. Você é quem escolhe. Refaça os cálculos de Dionísio e Kepler, confira com os seus e decida, sem esquecer, contudo, que segundo a dita conferência, 2010 é o ano que estamos adentrando e o último da primeira década do século XXI.
Ah! A hora universal da passagem de ano, de Grenwich, em nossa cidade, ocorrerá às 19h - se meus cálculos não estiverem iguais aos do Dionísio. De qualquer modo, mesmo sem me preocupar em refazer os cálculos, creio nos argumentos apresentados e que nos colocam de frente com o futuro. Quem sabe Dilma e Serra já terão passado? Por isso, desejo a todos um FELIZ 2014, ou 2015 ou 2016... sem ter que entrar em maiores detalhes. E pra não dizer que passou batido, em meio a tanta festa: Cruzes! Os tapumes políticos (ops: outdoors) voltaram nesse Natal a enfeiar e agredir a nossa cidade (planejada e linda como eles próprios indicam) e a nossa paciência. Você viu? A OAB viu? O TRE-MS viu? O Ministério Público viu? Eu vi.
E nada de Feliz 2010: um simples Feliz ANO NOVO é mais seguro!


Maria Angela Coelho Mirault

*Publicado em 31.12.2009- Jornal Correio do Estado, Campo Grande - MS