sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O aperfeiçoamento da sociedade e o compromisso social da maturidade

O mundo vem envelhecendo de forma rápida e irreversível. Os avanços na área científica da longevidade tem permitido que a expectativa de vida ativa ultrapasse, e, bem, aos 80 anos. O homem de hoje na idade avançada não é mais um desvalido da família, na sociedade. Esse adulto, que alcançou o patamar dos 60 anos, hoje, dirige um país, ocupa uma cadeira no senado, no supremo, assume um papado, é líder de banda de rock, ancora programas de tevê, protagoniza novelas em rede nacional. Falo de Dilma, Lula, Sarney, Celso de Melo, Francisco, Mick Jagger, Ana Maria Braga, Antônio Fagundes e Suzana Vieira, ícones dessa parcela da sociedade. Em nosso país, a cada ano, 650 mil novos robertos-carlos, neis-mato-grosso, chicos-buarques, bibis-ferreira e caetanos são incorporados à sociedade por terem alcançado a rotulada terceira idade. Em 1960, o número de indivíduos idosos no Brasil era de 3 milhões; em 1975, passou para 7 milhões, chegando exponencialmente a 20 milhões, em 2008, o que significa um aumento de quase 700% em menos de 50 anos. Projeções do IBGE (2011) anunciam que, em 2050, seremos a 6ª população do mundo, em número de idosos. É fato que, desde que chegamos a esse mundo, duas alternativas se abrem em nossas perspectivas de vida, ou se morre cedo, ou se se mantém vivo e sujeito às intempéries e agressões do próprio corpo, no processo do envelhecimento. Não existe saída para esse fenômeno, nem, tampouco, meio termo, ou se morre, ou se vive e, vivendo, se envelhece Na medida em que os anos passam, e permanecemos vivos, nosso corpo se deteriora, favorecendo o assédio da doença e da decrepitude que, ninguém se engane, se instalam, inexoravelmente. Enganar o tempo é impossível, o que se pode é disfarçar, aqui e ali, seu efeito nefasto. Plásticas não resolvem nem melhoram a aparência, e, muito menos, a autoestima, relacionamentos entre pessoas com disparidade de faixa etária não conseguem parar a ampulheta para iludir o tempo, roupas inadequadas não nos fazem parecer mais jovens; às vezes acentuam de forma caricata nosso apego a uma época da vida que já se foi. E, porque é tão vergonhoso aparentar-se a idade que se tem? Temos vergonha de envelhecer porque a mídia nos anuncia um mundo feito, agradável e palatável para a juventude, a aparência e a aventura que já não temos mais. Autodesignar-se um “velho de cabeça jovem” expressa bem o tamanho do preconceito que aderimos com relação a nossa faixa etária. A expressão “melhor idade” é uma metáfora que, não só, deveríamos nos envergonhar, como, abolir, porque é falsa. Pertencer-se a grupos que lidam com a “melhor idade” só para ocupar o tempo, pode ser apenas uma estratégia de não admitir, não ver e não querer sentir o tempo passar. Ocupar o tempo dedicando-se somente a práticas recreativas é quase como abdicar da vida, que, nessa faixa etária, tanto quando nas outras, também, deve fluir com intensidade e, acima de tudo, influir no aperfeiçoamento da sociedade. Nós que beiramos, ou, adentramos o patamar dos 60 anos, não somos cidadãos destinados ao descarte social. Se, estamos envelhecendo e vivendo mais, utilizemos os benefícios da ciência para esse novo e rico momento de nossas vidas, mas, não desertemos; temos ainda, e muito, um compromisso com a vida e com a sociedade; temos, acima de tudo, um dever político-social capaz de influenciar e alterar rotas político-sociais e influir decisivamente em assuntos que dizem respeito a toda sociedade. Mas, para isso, já que nos sentimos “tão jovens”, precisamos tomar iniciativas concebíveis, estar em todos os lugares em que se tomem decisões em nosso próprio nome e em nome da coletividade. Mas, que essa presença não seja inconsequente. Para ser respeitada – e aderida – nossas opiniões têm de ter sustentação. Precisamos voltar nossa intenção e atenção aos grupos de estudo, mesmo que já tenhamos nos dedicado, com sucesso, à vida profissional. Mexer com a cabeça, não apenas com o corpo, com o doce deleite do far niente é mais do que necessário. Entender-se a si mesmo, para melhor compreender o outro (em qualquer idade); entender o mundo maluco em que vivemos, e, lançar o olhar mais adiante, é mais do que uma ocupação, é nossa obrigação. Não esmoreçamos, pois, desertores da vida que pulsa na sociedade, não nos conformemos em apenas ser um ente do passado; continuemos nossa útil jornada na vida que ainda detemos e que se renova a cada manhã. Muito ainda temos a construir, façamo-nos respeitar. Há algo de novo no mundo, e esse algo não é a juventude desarvorada que emerge nesse ciclópico espírito do tempo hodierno, é a presença de adultos de mais idade, mais vivência, experiência e que pode e deve influir para a construção de um mundo que valha a pena ser desfrutado e vivido. Maria Angela Coelho Mirault Professora Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo Diretora da Faculdade Aberta da Maturidade de Mato Grosso do Sul – FAMA/MS mariaangela.mirault@gmail.com http://fama-faculdadeabertadamaturidade.blogspot.com.br https://www.facebook.com/pages/Faculdade-Aberta-da-Maturidade-de-Mato-Grosso-do-Sul/509958965757068?bookmark_t=page

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O brado que não retumbou

O brado retumbante, lançado há menos de dois séculos, das margens do Ipiranga, ainda não ecoou em muitos dos nossos corações. Colonizados - entre repetidos anos-novos, salpicados de carnaval, futebol e cerveja - continuamos a fazer o que não gostamos; submetidos às imposições que mal conseguimos suportar. A Independência proclamada por D. Pedro não se efetivou no sete de setembro. Como processo que teve seu início muito antes da Proclamação, carece ainda de sua consolidação na vida nacional brasileira. Os primeiros fios de sua meada começaram a tecer-se pela tomada de atitude individual do primeiro rebelado, sem nome na História, que elencou Tiradentes como signo de resistência e de luta. Enforcado, esquartejado, salgado e tendo suas partes expostas pelas ruas do Rio de Janeiro, era ele um derrotado; hoje, o herói de uma nação ainda em construção. Pedro, ao retumbar “Independência ou morte”, sucintamente, quis dizer à nascente nação brasileira não haver vida sem liberdade; que a morte é melhor do que a dependência e a subjugação a outra potência. No entanto, seu grito ainda não foi compreendido em sua magnífica significação. Cento e vinte e um anos depois, somos um povo que ainda não se apropriou da real dimensão de sua liberdade; categórico universal inegociável e inquestionável para a plenitude de uma vida cidadã. Somos colonialistas e colonizados, em muitos aspectos de nossa vida pública, acomodados no ranço de um passado, sob as amarras de ”Portugal”. Processo que deve perdurar anos a fora - a custa de muitas lutas e conquistas - a Independência de nossa nação constrói-se e construir-se-á no dia-a-dia e pelas atitudes solidárias e, muitas vezes, solitárias, de cada um dos seus cidadãos; heroicos anônimos rebelados. Transformar a situação de dependência econômica, social, política e ideológica em situação de interdependência com outras nações requererá de nós, herdeiros do Ipiranga, amadurecimento, tenacidade, convicção e vontade. Quando nos calamos frente a um Congresso que nos faz engolir a absolvição de um condenado e encarcerado mantendo o seu mandato, na prisão, nocauteados, quase desistimos de lutar. Mas, cadê o povo nas ruas, quando as questões cruciais não lhes fere o bolso? Terá sido a mobilização retumbante que incendiou o país pelos meros 20 centavos? Pois, coisas muito piores estão a fluir, mas, não chegam a ser identificadas como bandeiras de luta de uma nação, que pode, mas que não se levanta. De que adiantou termos tomado ás ruas, em uma catarse colossal e assustadora, se, logo depois, as deixamos ser tomadas pela barbárie? De que adiantou irmos às ruas, para logo depois, recolhermo-nos a nossa insignificância pessoal, e, engolirmos todos os absurdos políticos que torrencialmente demandaram de cima sobre nós, a partir de então? D. Pedro bramiu sua vontade, do Ipiranga, e conclamou: Brasil, ou Portugal; independência, ou morte. A cada voto que alienamos aos interesses espúrios, a cada arranjo que fazemos, ou compactuamos, a cada moeda a que nos vendemos, ficamos à margem, além do Ipiranga e optamos por “Portugal”, aceitamos a dependência, subjugados à dominação do mais forte. Se a cada ato de resistência, voltarmos intimidados ao recesso da nossa individualidade, nada faremos pela Independência proclamada pelo Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil. Que nesse sete de setembro de 2013, o brado retumbante do Ipiranga possa consolidar-se, continuamente, onde quer que estejamos pelo que for que façamos, responsáveis que somos pelo futuro do Brasil. Maria Angela Coelho Mirault – Doutora e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo – http: mamirault.blogspot.com