domingo, 27 de dezembro de 2009

FELIZ 2014! CATORZE?! ENTÃO TÁ: 2016!*




É. Feliz 2014, ou 2015, ou 2016! Isso porque, é quase certo, não vamos iniciar 2010, já que contamos o tempo baseado em cálculos errados realizados a mais ou menos 1486 anos da Era Cristã. Foi Dionísio, um monge católico, em 523 d.C, que fez toda essa confusão por meio de seus estudos e cálculos, decidindo contar a Nova Era a partir do dia 1º de janeiro, depois do nascimento de Jesus, em 25 de dezembro. Essa contagem só foi admitida muito gradativamente pelas nações católicas no século X. Para dimensionar essa convenção na flecha do tempo, os países que aderiram ao novo cronograma foram: a Grã-Bretanha e suas colônias em 1752, o Japão em 1873 e a China somente em 1949. O pior é que essa cronologia do tempo – que deve ter dado um trabalho danado ao pobre do monge – está errada. Baseado em novos e mais específicos estudos, Johannes Kepler refez todos os cálculos de Dionísio e confirmou uma defasagem de cerca de 4 anos (pode haver um déficit de até 6 anos). Dentro da complexidade de sua pesquisa, Kepler apresenta como um dos fortes argumentos para sua tese os registros encontrado em Lucas (2: 1-2) que se refere ao recenseamento ocorrido sob o governo de Quirino, governador da Síria entre os anos 7 e 6 a. C. Além do mais, sabe-se que o Jesus - histórico nasceu sob o império de Herodes (que por causa do seu nascimento teria mandado sacrificar todas as crianças até 2 anos de idade) e que foi morto em 4 a. C. (!)
Esses cálculos e essas divergências já nos colocam no mínimo no ano 2014! Ufa! Escapamos da maldição proposta pela cultura maia que determinou o ano de 2012 como o fim-do-mundo (lembra?). Para mim, isso já é suficiente para que comemoremos a chegada de, pelo menos, 2014. Ocorre que, além da discrepância de cálculos, temos a frente mais um probleminha, o monge aboliu o ano zero como marco do nascimento de Cristo, isto porque, tanto não havia conhecimento (dele) do conceito zero, como não existia correspondente no algarismo romano. Assim, Dionísio institucionalizou que a Nova Era se deu no ano 1 , ou seja, do ano 1 a. C pulou-se uma casinha e foi-se direto para o ano 1 d.C. Esse lapso é fácil de ser verificado. Uma criança, ao nascer, começa a contar seu primeiro ano de vida do momento zero do seu nascimento e assim vai-se contando seu tempo em 1 mês, 2 meses, 10 meses de vida, um ano, já que ela não começa a ter contado seu tempo quando completa um ano, porque já se tem iniciado nesse instante a contagem do seu segundo ano.
Afirmam os estudiosos (e o Google) que por volta dos anos 600 d.C, cogitou-se considerar o ano do nascimento de Jesus como o ano zero, da nossa era. Nesse caso, se considerássemos o ano zero (que foi por ignorância eliminado pelo tal do Dionísio do calendário cristão) e desconsiderássemos os erros de cálculo, aceitando o institucionalizado ano 2010, poderíamos considerar, sim, o dia 1º. de janeiro de 2010, o início da nova década do século XXI. Década esta que estaria iniciando sua contagem em 1º. de janeiro de 2010 – tal como a criancinha: um dia, um mês, 6 meses, 10 meses do primeiro ano da década. Mas, por causa do Dionísio (e de seu pseudo-conhecimento) esse cálculo foi e está institucionalmente considerado errado.
O fato é que existem tantos calendários diferentes quantas as sociedades, já que a divisão do tempo expressa acontecimentos de profundo reconhecimento daquela realidade e memória cultural, assim como em nós. Contudo, o homem conta o tempo desde o Neolítico, dado a necessidade imposta pela agricultura submetida às quatro estações. Desde então nunca mais parou de contá-lo.
Nosso calendário atual é resultado da decisão do papa Gregório XIII, cuja bula que deu origem ao calendário gregoriano data de 24 de fevereiro de 1582 d.C. Lembremos, também, que os judeus consideram a contagem do tempo a partir da criação do mundo, precisamente – segundo eles – no ano de 3761 a.C (olha o Google aí, de novo), enquanto os maometanos dão início a contagem, no ano de 622 d.C, quando Maomé teria fugido de Meca para Medina. Para essas sociedades não estamos nem em 2010, nem em 2014, ou 2016, mas, sim, no ano de 5.769, para os primeiros e no ano 1429, para os segundos. Mas ... mesmo assim, eles também estão subjugados ao calendário universal e oficial da Era Cristã, desde quando, em 1884 d. C, em Washington, uma Conferência Internacional determinou a criação de um único Dia Universal no planeta, instituindo a zero hora GMT (Greenwich Meridian Time), de Greenwich, na Inglaterra. A partir desse acordo internacional, todo o planeta passou a romper um novo ano na passagem das 23:59 min do dia 31 de dezembro para 0:00 do dia 1º. de janeiro, na hora oficial de Greenwich, embora, tradicionalmente, as nações e seus povos comemorem, culturalmente, essa passagem de acordo com seus fusos horários.
Assim, caro amigo, às 23h59 min do próximo dia 31, você pode não estar nem dando início ao ano 2010, nem ao primeiro ano da segunda década desse milênio, mas, sim, indo direto para o futuro, entrando no ano de 2014, de 2015, ou de 2016. Você é quem escolhe. Refaça os cálculos de Dionísio e Kepler, confira com os seus e decida, sem esquecer, contudo, que segundo a dita conferência, 2010 é o ano que estamos adentrando e o último da primeira década do século XXI.
Ah! A hora universal da passagem de ano, de Grenwich, em nossa cidade, ocorrerá às 19h - se meus cálculos não estiverem iguais aos do Dionísio. De qualquer modo, mesmo sem me preocupar em refazer os cálculos, creio nos argumentos apresentados e que nos colocam de frente com o futuro. Quem sabe Dilma e Serra já terão passado? Por isso, desejo a todos um FELIZ 2014, ou 2015 ou 2016... sem ter que entrar em maiores detalhes. E pra não dizer que passou batido, em meio a tanta festa: Cruzes! Os tapumes políticos (ops: outdoors) voltaram nesse Natal a enfeiar e agredir a nossa cidade (planejada e linda como eles próprios indicam) e a nossa paciência. Você viu? A OAB viu? O TRE-MS viu? O Ministério Público viu? Eu vi.
E nada de Feliz 2010: um simples Feliz ANO NOVO é mais seguro!


Maria Angela Coelho Mirault

*Publicado em 31.12.2009- Jornal Correio do Estado, Campo Grande - MS

quarta-feira, 29 de julho de 2009

CAMPANHA CÍVICA: "EXCELÊNCIAS, ACABOU O PAPEL!"


Que tal aderir a campanha cívica que estou iniciando hoje, após a publicação do meu artigo no jornal Correio do Estado, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul?

EXCELÊNCIAS, ACABOU O PAPEL!

Divulgue essa campanha que terá também como suporte adesivos de carro.
Abraços.

domingo, 26 de julho de 2009

SENHORAS E SENHORES, ACABOU O PAPEL!

Você, assim como eu, postou-se diante da tevê e emocionou-se com a esperança das “diretas já”. Chorou com o seu fracasso. Você, assim como eu, chorou quando Tancredo foi “eleito”. Chorou quando Tancredo ficou impedido de tomar posse (no dia seguinte, pode?) e, pela televisão, você assistiu Antônio Brito, ainda jornalista, anunciar sua morte. Chorou quando Sarney tomou posse do cargo que nem era seu (ele, ainda, não era o vice, lembra?). Chorou com todo o seu governo. Verteu lágrimas salgadas quando o “caçador-de-marajá” venceu o “sapo-barbudo” e ganhou a eleição, em um último debate, por causa de um aparelho de som (imagina!). Copiosamente, quando o mesmo confiscou a nossa miserável poupança e Zélia (lembra?) lançou o cruzado. Chorou no governo Fernando Henrique com suas privatizações e desmantelização do Estado. Pegou uma estrelinha vermelha, que nem era sua, e saiu por aí (e ficou marcado pra sempre, por isso). Chorou emocionado quando o tal “sapo barbudo” ganhou seu primeiro mandato, afinal, era preciso arriscar tudo e ele era um de nós no poder. Chorou na sua posse “popular”. Você confiou! Você, assim como eu, esperou. O tempo passou e vieram o Zé Dirceu, o Delúbio, o Duda, o Marcos Valério, o Palocci, o Genuíno, a Dilma. Ah! A Dilma! Aí chegou o Roberto Jefferson! Você chorou com o mensalão. Você chorou! Aí veio o Eriberto! E vieram as pizzas. Você até pensou que nem tinha mais o que chorar. Mas, aí, veio o segundo mandato (quando acabaremos com as nefastas reeleições, em todas as instâncias?) e você começou a enxergar um pouco por detrás dos holofotes e entender melhor a história desse nosso pobre e espoliado Brasil, Pátria nossa. Aí, você começou a descobrir que eles estão onde estão, não pela luta contra um adversário de sete cabeças, e em nosso favor. Eles estão onde estão pelos acordos, pelos conchavos, pelos silêncios, pelegando como sempre fizeram, amaciando os caminhos, fazendo alianças. Vendendo a mãe!
Aí você viu, já com seus olhos secos de lágrimas, com seu peito doído pelo desalento, com sua cara de bobo, os cara-de-pau “sarney-collor-renan e lula” u-n-i-d-o-s! Aí, você pensou: “só pode ser contra nós” e se perguntou: quem mais está vendo isso, com tantas bolsas, tantos financiamentos, para que a classe D passe para a classe C. Aí, você como eu, que pensava estar na classe B e foi rebaixado para classe C, que não sonega - e continua pagando seus impostos direitinho -, que sua a camisa e faz malabarismo pra dar conta dos seus gastos, do seu plano de saúde, da escola dos seus filhos, que nem joga papel na rua, que faz trabalho comunitário, que crê em Deus(!), quer desistir e jogar a toalha, porque o “sapo-barbudo” rendeu-se e cumpliciou-se ao “príncipe-do-cruzado”, ao “casanova-do-senado” e ao “marajá-do-maranhão”(eleito pelo Amapá)! Aí, você, assim como eu, está em vias de perder as esperanças de ver esse País desenvolver-se, de fato! De certo, se o PIB e as pesquisas estão em alta (será?), o mesmo não se pode dizer, em termos políticos. Estamos é involuindo, em meio a um popularismo assustador, “bananizando” (de banana, mesmo) nosso futuro.
Eles estão de férias! Eu sei. Só retornam dia 3 de agosto. Sabemos nós. O Congresso está fechado. Também sabemos. Porque eles, suas excelências, “trabalharam muito” neste primeiro semestre e, agora, precisam estar nas suas bases. Lá, nas bases, eles torcem para que a paradeira esteja amainando a fogueira. Alguns já até podem estar comemorando, por isso.
Mas, eles estão enganados! Nós não. É bom avisar as excelências. Nós não estamos de férias. O dragão, também, não. São Jorge ainda não chegou e ele continua lá dentro, vertendo fogo e fumaça, defumando tudo. E nós, do povão, estamos aqui fora, atocaiados, como jagunços, cuidando, observando, como quem não quer nada, mas que tudo quer. Eles não imaginam o que pode acontecer nesse mês (de agosto) do “cachorro louco”, em que já nos acostumamos com os vendavais. Eles podem até pensar que voltarão, contando com o nosso esquecimento, com o nosso aquietamento. Mas, tudo mudou e nem sei se vai dar tempo de ligar o piloto automático. Nem sei mesmo se irão sobreviver para suas espúrias reeleições de 2010. Sem dúvida, eles cairão, é questão de tempo. Mas, na volta, uma coisa é preciso que suas excelências saibam. Nós não estamos mortos. Estamos cansados, é verdade, sem lágrimas, mas alertas. E, antes que me esqueça, é bom avisar...
Senhoras e senhores, acabou o papel - nos banheiros e nos gabinetes! Basta.


Este artigo foi publico em 29 de julho de 2009, no jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS

quinta-feira, 9 de julho de 2009

E AGORA, JOSÉ (OU DUNGA)?

Não é que não se possa servir a dois senhores. Não se deve. Não se deve servir a dois senhores porque não é possível. Não é ético, não é moral e não é legal, porque confunde, porque deprava. A servidão, assim, aliena e infunde desesperança. E a desesperança leva ao desânimo e o desânimo à imobilidade, à desistência. E viver, persistir e lutar é preciso.
Não há como negar: estamos mobilizados e pautados pelos últimos (?) acontecimentos no Senado. Por hoje, não são apenas os fatos levantados e denunciados que vieram a lume que nos mantém perplexos. O que nos assombra é o senso-comum dos políticos que quer nos fazer crer que o importante, agora, “é não desestabilizar o governo, não contrariar os partidos da base, as candidaturas, as alianças, as eleições de 2010”... Se tem ou não um dragão soltando fumaça e labareda passeando pelos corredores da Casa do Povo e da Democracia, não vem ao caso, optam os excelentíssimos. Mas, iludem-se aqueles que pensam que tudo vai passar e que seja tarefa fácil domar, apagar, ou esconder um dragão dessas proporções e acalmar o povaréu. Salvar a pátria com acordos, com silêncios, com decisões tomadas em jantares e encontros de lideranças. O dragão está lá, soltando baforadas incandescentes, com seus rugidos cada vez mais estertorantes. Não dá pra esconder o dragão, e também não dá para servir as duas causas e se tentar conciliar o inconciliável. Mateus, um dos historiadores do Evangelho (6:24) registrou há milênios que “ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro”. E resume, categoricamente, a mensagem cristã: “não podeis servir a Deus e a mamon”. As coisas de mamon não podem ser confundidas com as coisas de Deus; há uma parede intransponível entre uma e outra. Ou se é, ou se não é. Ou se serve a um ou se serve ao outro; nunca aos dois, concomitantemente. E Deus, bem sabemos, está com o povão, segundo a sabedoria popular: “a voz do povo é a voz de Deus”. E a voz de Deus (de todos nós) tem sido bastante ressonante e retumbante frente aos acontecimentos alardeados, divulgados e midiatizados sobre os vergonhosos e escandalosos acontecimentos rotineiros no Senado da República. A voz de Deus está sendo anunciada pela imprensa, pelos blogs, pelas ruas e é impossível fingir que não se ouve; que não se sabe; que não é com a gente.
Mas, será que suas excelências ainda não perceberam que os tempos mu-da-ram?! Será que ainda não se deram conta de que tudo que era possível de não se ver (a omissão nesse país é cultural), hoje não se pode mais, porque todo mundo vê, mesmo que não queira, pois, vivemos o ápice da era do Grande Irmão (George Orwel)? Nada mais pode (nem vai) permanecer oculto, não mais com o bendito ou maldito (?) advento das novas mídias. Mesmo que não se queira, sabe-se de tudo. Não há caixa-preta que não seja decodificada e a caixa de pandora já foi aberta para nunca mais ser fechada.
Todas as suas “excelências” estão em maus lençóis. O primeiro secretário da Mesa afirmou via tevê Senado que os oitenta e um senadores são, pelo menos, cúmplices por omissão e conivência das arbitrariedades (arbitrariedades?) cometidas nas ante-salas dos gabinetes e nas repartições administrativas. Não, senador, o senhor está redondamente enganado: não se trata apenas disso; ali tem muito mais do que simples arbitrariedades e omissões. Também não se trata somente de “demonizar” ninguém (frase brilhante!). Tem roubo do nosso rico dinheirinho, tem prevaricação, tem abuso de poder, tem muita cara-de-pau, no reino de mamon. E quem é mamon, nos dias e fatos atuais? É ainda o evangelista Mateus quem nos apresenta mamon como um outro senhor; o senhor da riqueza, do dinheiro, das luxúrias, do gozo e dos prazeres do mundo. Esse deus é aquele que inspira o homem a ambição e avareza e direciona seus desejos, corpos e mentes para as coisas materiais, triviais que qualquer airbus faz sucumbir no ar.
E agora, José? Ou se apóia (descaradamente), submetidos ás coisas de mamon, advogando-se a causa do “ruim com ele, pior sem ele”, em nome da governabilidade (mas quê?), ou se deixa os ventos da era de aquário prevalecerem e varrerem, de vez, os falsos valores, os falsos profetas, as falsas verdades e se começa tudo de novo.
Quando uma instituição como o Senado vira chacota rotineira dos programas humorísticos, a descredibilidade institucional está sacramentada e tornou-se irreversível: identidade e imagem não mais se pactuam. E se a gente perder a crença nas instituições, perder a confiança de vez nos políticos, só nos restará - com IPI reduzido ou não, com baixa dos juros, ou não, com PAC, PEC, ou não – desistir de vez e de fato. E, com cara de paisagem, começar, já agora, alienadamente, a arrumar nossas árvores de natal, a confeccionar nossas fantasias para o carnaval, como prévia do que virá por aí, e, desde já, preparar nossa torcida para copa e, de hoje em diante, a torcer somente pelo Dunga, porque não nos restará mais nada a fazer.
Mas, quer saber? Bem no fundo de um coração rubro-negro e patriota, persevera uma convicção: é impossível servir a dois senhores! Somos mais fortes do que isso. Merecemos mais do que aparentemente querem nos oferecer. E mais: as coisas de mamon não têm consistência e espraiam-se no ar, como bolhas de sabão. Na verdade, se prestarmos mesmo bastante atenção, nesse arrepiante 2009 que ainda nos resta, quem sabe, seremos bem capazes de alvejar o dragão e, aí, sim, fazermos ressurgir dessa crise um novo povo, um novo e decente Senado (e alguns senadores), muito mais fortes, muito mais dignos e mais brasileiros do que nunca.

Este artigo foi publicado em 15 de julho de 2009, no jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS

quarta-feira, 17 de junho de 2009

CAIU TARDIAMENTE UM ANACRONISMO IMPERIOSO E RESISTENTE

Finalmente, caiu. A exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalismo, anacronicamente, sobreviveu no Brasil à custa de um arcaico conceito de reserva de mercado que já não cabe mais em um mundo absurdamente dinâmico. Não bastasse o argumento constitucional, as novas tecnologias – cada vez mais novas, disponíveis e surpreendentes – já não nos permitiam mais essa excludência. Qualquer pessoa pode hoje constituir-se mídia e mensagem de informações, editando a notícia que melhor lhe aprouver difundir, seja por que recurso, ou suporte for. Basta uma viagem pela web, para que se dimensione essa via incontrolável, infinita de apelos e possibilidades para ser trilhada e compartilhada pelos incontáveis blogs e sites que nos acessam em casa, no trabalho, na lan house.
Há séculos (?) o bacharelado em Comunicação Social perdeu o sentido, se é que alguma vez o teve. Com uma matriz curricular multidiversificada, apropriada (?) as décadas de setenta e oitenta, há muito tempo não dá conta de sua premissa e de sua promessa de preparar, de graduar, com eficácia, os diferentes profissionais da área da comunicação (ou, do jornalismo, para os mais radicais).
É bom que se lembre que o curso de jornalismo nunca existiu. O que foi imposto pela resolução 02/84, do Conselho Federal de Educação foi o estraçalhamento da área em subespecialidades, que, ainda, continuam existindo nas habilitações do curso de bacharelado em comunicação social, dentre as quais, a habilitação em jornalismo. A charmosa área da publicidade, por exemplo, nunca preservou, ou pleiteou, reserva de mercado, e, no entanto é uma das habilitações mais procuradas e concorridas nos vestibulares de todo o Brasil. A habilitação em relações públicas, apesar da existência dos seus Conselhos Federal e Regionais, há muito tem tido que compartilhar seu campo de atuação com os mais diferentes tipos de profissionais, no exercício de atividades afins. A habilitação em radialismo trás na própria designação seu anacronismo e seu pedaço se vê invadido, sistematicamente, pelas mais medíocres produções e pelos mais criativos oportunistas da hora, em todos os recantos desse país.
Embora tenha me graduado em comunicação social, com habilitação em relações públicas, há décadas, nunca fui favorável a reserva de mercado na área. Muito do que aprendi na carreira, foi decorrência de uma práxi cotidiana, imposta pela própria dinamicidade da área. Na verdade, o bom profissional deverá manter-se, sempre, didaticamente atualizado, principalmente, em uma coisa que o acadêmico do ensino superior costuma ter ojeriza e que é o mergulho permanente e profícuo nos modelos teóricos, da área e de outras, que vêem contribuindo, em abundância, para o enriquecimento da compreensão do imponderável fenômeno da comunicação, que há muito deixou de ser apenas social.
Sempre advoguei a tese de que os cursos da área profissional de comunicação deveriam constituir-se área de strito e lato senso, da pós-graduação. Quem melhor poderia traduzir conceitos e discorrer, apropriadamente, sobre economia, geografia, demografia, saúde, ecologia, do que aqueles que tiveram sua graduação nessas áreas? Isto porque, expressar-se bem, seja pela escrita, seja pelo tambor, deveria ser considerado pré-requisito de todas as áreas do ensino superior e um dever de todo profissional. Mas, vai dizer isso pra eles e falar que engenheiro, médico, farmacêutico tem que saber expressar-se, e bem, na língua mãe...
Agora, uma coisa precisa ser dita, o fim da exigência do diploma não quer dizer que os cursos de comunicação estarão fechados amanhã, muito pelo contrário. Amanhã, os cursos de comunicação deveriam estar autoavaliando-se, buscando alternativas para superarem-se de suas mesmices, olhando pra fora, olhando para além dos seus umbigos. Amanhã, deveriam estar revendo seus anacrônicos conceitos, suas ultrapassadas teses, suas arcaicas ideologias. Amanhã, deveriam estar correndo em busca do tempo perdido. Amanhã, deveriam estar enterrando os “apocalípticos e integrados” que espraiaram, por décadas, suas concepções.
A partir de amanhã, novas bibliografias, novos compartilhamentos, novas verdades deverão ser conquistadas e trilhadas, porque, agora, será a competência e não o canudo quem fará a diferença.
Lembrando-me do Darwin mal interpretado: não são os fortes que sobrevivem. Quem sobrevive no mundo de hoje são os que melhor se adaptam (ou se adaptam porque são fortes?).
O mundo mudou, a demanda mudou, não dá mais pra se ir pra frente com os olhos no retrovisor da 02/84. A exigência do diploma de jornalismo é coisa do passado, nada mais. Nada de catastrofismo: esse foi o fato e a história que o Supremo escreveu. Evoluamos, então.

MARIA ÂNGELA COELHO MIRAULT PINTO- Doutora e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo. Foi a primeira coordenadora do primeiro curso de comunicação social, com habilitação em publicidade e propaganda e relações públicas, do Estado de MS.

O artigo foi publicado dia 22 de junho de 2009, no jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS

domingo, 31 de maio de 2009

NO ALTAR PROFANO DA TEVÊ POLÍTICOS DÃO A LARGADA PARA 2010

A liberdade de expressão é um imprescindível direito constitucional (Art. 5, IX), portanto, indiscutível. Comunicar-se, um direito inalienável de todo ser vivo. Reverberar idéias, uma decisão pessoal. “Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão. Esse direito inclui a liberdade de receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, sem interferências e independentemente de fronteiras" diz-nos o artigo dezenove da Declaração universal do direito do homem (1948).
A propaganda em si é, então, o recurso que se tem para tornar comum a muitas pessoas “princípios, idéias, conhecimentos ou teorias”, e traz implícito também o significado de “atravessar o espaço ou um corpo; transmitir-se”. Assim, fazemos propaganda sempre que nos deslocamos para o exterior, nos pronunciamos, transmitimos nossos conceitos e opiniões. Importa, no entanto, lembrar que toda comunicação se inicia na mídia primária, ou seja, no corpo. Desse modo, antes de transmitirmos nossas mensagens, transmitimo-nos a nós mesmos, por nosso olhar, gesto, voz, postura. Por isso, sempre falaremos mais do que intentamos expressar. Do conflito entre o que pensamos dizer e o que realmente dizemos (mesmo sem saber), redundam os mal-entendidos, ou a deturpação do que se pensou (mas não se disse) transmitir; os ruídos na comunicação que, muito mais vezes do que imaginamos, a tornam impossível. Costuma ser bastante reveladora a simples observação dessa mídia primária como filtro (quase infalível) da informação propagada, pois, mesmo as intenções que pensamos ocultar evidenciam-se e, evidenciando-se, expõe-nos sem retoques.
Não há como negar; somos mesmo o povo do gingado inigualável, do drible surpreendente e inimaginável, da ardilosidade e do ufanado “jeitinho brasileiro”. E assim, se há lei que possa ser (mal) interpretada (e burlada), por que não usar a criatividade e dar-se um “jeitinho”?
A Lei Eleitoral em vigor veda a propaganda política, em período pré-eleitoral (artigo 44 e 45) no ano da eleição, mas, nada diz se esse período anteceder ao ano eleitoral. O que faz o “jeitinho brasileiro”, então? Simplesmente, programas televisuais permanentes, diários, ou semanais, antecedentes ao ano e período eleitoral. Simples assim: repentinamente, surgem do nada (R$!) “novos profissionais” de tevê, novos apresentadores, sempre dispostos a “dialogar” com seus eleitores (ops! telespectadores!). Porque, partindo da premissa de que a exposição midiática de si mesmos e de suas opiniões sobre tudo (?!) mantém aquecida a imagem no consciente das pessoas, descobriram seus talentos e julgam-se capazes de exercerem uma nova profissão: a de apresentadores de programas televisivos. As emissoras estão aí mesmo disponíveis - nesses tempos de crise – e até, carentes de recursos humanos e financeiros. Com isso, eles aparecem, no profano altar da TV, com seus ritos e sua proféticas verdades, iniciando suas campanhas políticas um ano antes do prazo estipulado por lei. É aí que entra a criatividade e o jeitinho brasileiro de ser. Como a lei se refere à vedação da propaganda, apenas, em período pré-eleitoral no ano da eleição, tudo se pode fazer antes de 1º. de julho do ano eleitoral, ou seja, já agora, em 2009.
De certo que a utilização de mensagens (de políticos) descabidas, desproporcionais, abusivas e infratoras veiculadas nos outdoors (também vedado no período eleitoral) e a gremilização de programas televisivos, tendo, como âncoras, velhos (e novos) personagens políticos e que, obviamente, buscarão no pleito de 2010 suas eleições e reeleições, são estratégias de atuação em cima do tempo que a lei eleitoral não regula. É lícito? É. É ético? Não, não é. Além da imposição da propaganda eleitoral fora de hora, áreas profissionais são invadidas, receptores desses programas (nós) são submetidos ao evidente despreparo profissional dessas pessoas para o exercício de uma profissão regulamentada (Sindijor; Sintercom/MS, alô!) e nossa - já tão pobre - grade de programação regional é poluída com bobagens e redundâncias sem fim.
É certo que a mídia eletrônica é e sempre será a grande vitrine para todo tipo de exposição, mas, vale lembrar que a mídia primária vai sempre traduzir e dizer mais do que se pensa ou que se quer dizer e, sob essa perspectiva, exposição demais pode ser fatal.
Alguns dos nossos futuros candidatos, afoitos que são, não querem esperar 2010 que está muiiiiiiiito longe! Se é permissivo, por que não começar logo suas campanhas? Candidatos (sem $), eleitores, TRE, “eles” - com seus jeitinhos, alguns, com suas faltas de talento e todos com suas campanhas já deram a largada. Sobre essa questão, o chargista de um jornal local traduziu muito bem o senso comum, metaforizando essa invasão midiática: travestidos de super-heróis, alguns já foram identificados. Contudo, proteja-se, eleitor, porque, se é fato que não conseguimos nos esquivar dos outdoors, nossos aparelhos de rádio e nossas tevês podem, devem e merecem ser desligados. E, não nos esqueçamos, se observarmos bem, por intermédio de suas mídias primárias, suas intenções poderão ser identificadas e suas figuras inesquecíveis, para 2010. Simples questão de saúde mental e cidadania. Exercitemos.

Maria Ângela Coelho Mirault Pinto - Doutora e mestre em Comunicação e Semiótica


Esse artigo foi publicado em 05 de junho de 2006, no jornal Correio do Estado, Caderno A, pag.02, Campo Grande, MS.

domingo, 10 de maio de 2009

QUE QUE É ISSO, MINHA GENTE (II) – A SAGA


Domingo, 10 de maio, foi comemorado o Dia das Mães. Bem sabemos uma data comercial, mais do que nunca, oportuna para alavancar a economia, fazer circular o dinheiro. Tudo bem, jogo aceito. Temos que concordar com a mensagem publicitária que diz mais ou menos assim: “toda mãe mente quando diz que não quer ganhar presente”. Embora a gente diga que não precisa, que não quer, no fundo no fundo, toda mãe gostou de ser lembrada. A gente quer sim e gosta de ser homenageada pelos filhos, nem que seja só com um beijo estalado. Ufa! De alguma forma, todas passamos pela data, tal como já passamos pelo carnaval, pelas comemorações da Páscoa e todos os feriados do ano, sobreviventemente. Se apurarmos bem os ouvidos, já poderemos ouvir os sinos do Natal. É, o ano está passando por nós com uma velocidade incrível; já-já estaremos rompendo 2010. Tentando equilibrar as contas, domar os cartões de crédito, correr atrás dos pré-datados, pagando impostos, esticando salários e segurando nossos empregos, já nos tornamos tão equilibristas quanto nossos concorrentes dos sinais, exercitando, como ninguém, nossa brasilidade e, por que não, procurando dar conta dos nossos destinos.
Mas, será que, nesse exercício diário e individual de sobrevivência, a gente se dá conta do que acontece a nossa volta? Será que todo mundo reparou no que reparei? Creio que sim; não dava para não reparar os incontáveis outdoors pela cidade, em que políticos do nosso Estado expunham suas fisionomias bem cuidadas, “falando” com seus eleitores, dirigindo-se a nós, os transeuntes indefesos. Enquanto um, anunciava que ia continuar fazendo o que tem obrigação de fazer e continuar fazendo, isto é, trabalhando, o outro, nos desejava um feliz dia das mães.
Que que é isso, minha gente (II)? Quanta delicadeza! Quanta atenção! Exporem alvos sorrisos policromados, em fotos monumentais, em um espaço público de cerca de 30 metros quadrados, cada - provavelmente, “fotoshopiadas”- é justificativa para a mensagem que postulavam? Estudantes de comunicação, assessores (alôoo!) será que a mídia utilizada por nossos políticos estaria condizente com o público e a mensagem publicizada? De certo, que o sorriso do filho de uma mãe só, deve ser mesmo um belo presente para todas as outras! Poupem-nos desses recursos, senhores. Qual a mãe - que não a do próprio político - sentiu-se reverenciada com a inusitada, desproporcional, exagerada, dispendiosa, supérflua, ostentosa manifestação? Não, senhores, com certeza, a maioria de nós, as mães a quem se intentava homenagear, não se sentiu homenageada com a singela mensagem. Sabe por quê? Porque não tem nenhum sentido... Porque sabemos como é caro e supérfluo esse recurso - por baixo, cada outdoor, entre produção e veiculação (por quinze dias) fica em torno de R$500,00. Isso mesmo, mais do que um mês de salário de um trabalhador, mais do que um mês de uma faculdade paga. E foram muitos os “santões” políticos expostos na última quinzena em nosso espaço público. Polícia! Cadê o TER? Porque não sabemos quem está financiando essa gentileza... Porque, o que mãe gosta mesmo é da homenagem e da cara do seu filho (quem sabe, até ganhar um vale-outdoor financiado pelo governo), não da fisionomia irretocável, de um político falando-nos do óbvio. Não nos sentimos homenageadas porque, além de uma demonstração de esbanjamento, é politicamente incorreto e, por isso, antiético. Porque recursos e mensagens como essas poluem e enfeiam ainda mais nossa pobre cidade.
Porque não se utilizaram, os senhores, dos velhos “santinhos” (sobras de campanha, talvez), do velho correio e da velha cartinha? Quem sabe, a remessa de suas fotos e mensagens, para publicação em página inteira, dupla, nas inúmeras (e incontáveis) colunas sociais dos nossos semanários e programas assemelhados, na tevê a cabo já resolvesse a compulsiva necessidade de exposição dos senhores?
Por que acham que podem invadir o espaço do nosso olhar, do nosso livre-trafegar, e surgirem assim do nada, nas nossas vidas de equilibristas, simplesmente rindo para nós (ou de nós)? Já imaginaram se todos os cidadãos campo-grandenses tivessem tido a mesma idéia e homenageado as mães com os seus rostos coloridos expostos nos tapumes da cidade? Mais do que oportuno se faz questionar, nesse momento, ao poder público, sobre o Projeto Cidade-Limpa, que levou alguns de nossos políticos até São Paulo, no início do ano, e que, entusiasmados voltaram anunciando mudanças e cuidados com relação ao vergonhoso spam urbano que está nos sufocando? Será que não está mais do que na hora de se regulamentar essa arbitrariedade? Onde está o CREA, o Instituto de Arquitetos, a OAB, e outros tantos organismos da sociedade civil, que não se manifestam? Desde quando o espaço público é lugar para se publicar recadinhos para os eleitores? De que nos interessa, depararmo-nos com a óbvia mensagem afirmativa do político que nos promete continuar trabalhando em 2010, 2011? Ué, não é a sua obrigação? Haverá outro jeito de se ganhar a vida, se não o de fazer o que se deve fazer; o que se tem obrigação de fazer, sem precisar prometer? Enquanto, em Brasília, um declara que “está se lixando para a opinião pública”, por aqui, parece que alguns dos nossos políticos estão abusando dela.
Ai de ti, Campo Grande! Ai de ti, Mato Grosso do Sul! Lugares privilegiados que são, merecem muito mais de todos nós. Dos políticos, respeito; de nós, ação! Mas, dia virá em que nossas ruas e praças se encontrarão despidas de todo esse turbilhão cotidiano de ruídos. Chegará o dia, em que, (muitos) alguém de bom senso, (político?) decretará que tuas ruas e tuas praças deverão ser cuidadas e teu povo respeitado. Quando, então, invasões como essas serão coisas de um passado muito atrasado em que pessoas (ainda inconscientes de seus deveres com a coletividade) utilizavam-se de tapumes para exporem suas idéias, celebravam seus feitos pública, indecorosamente, sem qualquer cuidado ético e estético. Quem viver verá.


Este artigo foi publicado no dia 15 de maio de 2009,
no jornal Correio do Estado, Campo Grande/MS - C.A, pg. 2

DOMINGO DE OUTONO, EM CAMPO GRANDE







 
 
 
 
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É OUTONO OUTRA VEZ




 
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terça-feira, 28 de abril de 2009

ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO

O público e o privado não se reconhecem mais como distintos. De tanto serem confundidos, passaram a ter uma só identificação, tornaram-se siameses e andam juntos. Não se pode mais referir-se a um, sem a interferência do outro. Não há mais espaço para a discussão, a divergência no campo das idéias sem que essa divergência acabe com relacionamentos pessoais de décadas de fidelidade, companheirismo, compartilhamentos. Ter opiniões distintas não significa que deixamos de ter os referenciais qualificativos de antes, quando compartilhávamos relacionamentos afetivos, sinceros e respeitosos.
Um exemplo atual do público entendido como privado é a farra das passagens aéreas no Congresso Nacional, que alguns (nossos representantes) entenderam e ainda entendem serem portadores desse direito, revelando que o nepotismo, o clientelismo, o servilismo, a concupiscência, a omissão, e, mesmo, a corrupção passiva – já que a ativa é deliberada e fruto de outra fonte - permanecem cristalizados em nossa sociedade. É o privado, quando confundido com o público, que dá audiência e amplitude para as futricas e os boatos; reality shows; publicações sobre as celebridades e tantos e tantos outros projetos de programas televisuais, editoriais e, por que não, institucionais.
A amizade é confundida com cumplicidade, a discordância de idéias e atitudes com traição. Tudo sob o amparo absoluto da ignorância e da falta de substância de conceitos, falhas de caráter, fraquezas de espírito. Fala-se muito, mas conversa-se pouco, compreende-se menos ainda. Não se considera politicamente correto expor-se em discussões de cunho filosófico, ético, moral, partindo-se da premissa elementar - mas nem sempre acertada - de que existem coisas que não devem ser questionadas sem que uma crítica feita na esfera pública resvale para o campo da individualidade. E os relacionamentos imaturos e carentes amontoam-se no lugar-comum da indiferença do relacionamento entre bandos de anônimos, onde ninguém contradiz ninguém, mas, também, ninguém respeita mais ninguém; totalmente anestesiados; totalmente alienados e descompromissados, medrosos e covardes.
Confundir público com privado é o mais reles equívoco de quem exerce uma função pública representativa. A opção por essa condição sempre nos obrigará ao recolhimento dos nossos interesses, opiniões e atitudes pessoais, porque, quando se opta pela vida pública deve-se abster da emissão de opiniões privadas. A discussão pública de interesse privado, amplamente divulgada pelo canal televisivo do Supremo - com seus esgares e tiques nervosos midiatizados pela mídia fisionômica dos envolvidos - é um exemplo típico desse acoplamento e indistinção.
Entre pedidos de “respeite-me” e “vossa-excelência-não-pense-que-está-falando-com-um-dos-seus-capangas...”(capangas!, como assim?) o que se viu foi a mistura dessas identidades - togadas - misturando tudo e expondo suas míseras pendengas privadas em um ambiente público; suas idiossincrasias no âmbito do coletivo.
Há urgência em se ensinar e se aprender esses e outros conceitos, absolutamente, antagônicos. De certo, que não deveriam ser confundidos, e sequer, relacionarem-se; separados, deveriam ser mantidos e apartados por barreira intransponível. Quem sabe, esteja faltando espaço público, e, mesmo, privado (em nossas casas), para se estabelecer essas reflexões. Quem sabe, espaços como este, oferecido pelos jornais, possam ser vistos e tidos como espaços educativos-cidadãos? O artigo “Que que é isso minha gente” publicado no último dia 9, nessa página, obteve significativa repercussão, evidenciando isso: a possibilidade de diálogo e de ação. Precisamos muito divergir, refletir, mas, precisamos, mais do que tudo, posicionarmo-nos diante dos fatos que nos dizem respeito, sem medo, omissão ou acovardamento. Precisamos estudar mais, visitar com mais freqüência os dicionários, buscar os significados dos conceitos, das palavras e melhor nos prepararmos para o salutar exercício da comunicação, com vistas a uma comunicabilidade mais sadia, certos, porém, de que a comunicação será sempre - e apenas - mera possibilidade, tantas são as divergências constitutivas do nosso repertório pessoal, de nossas vivências e concepções. Por isso, quando nos perguntarem quanto são dois e dois, nem sempre a resposta correta será quatro, poderá ser vinte e dois, e ambas as respostas estarão absolutamente certas, dependendo, evidentemente, da ótica (dos valores e conceitos) e da opinião de quem fez o questionamento.



Maria Ângela Coelho Mirault Pinto
Doutora e mestre em Comunicação e Semiótica
http//: mamirault.blogspot.com
mariaangela.mirault@gmail.com

O artigo foi publicado no jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS, em 04/05/2009

terça-feira, 7 de abril de 2009

Que que é isso, minha gente?!




Que que é isso, minha gente

Maria Ângela Coelho Mirault Pinto*

Não pude acreditar no que eu vi. Amanhecemos com inúmeras faixas assinadas pela Prefeitura de Campo Grande expostas em muitas ruas da cidade, desde a entrada do aeroporto até a saída para São Paulo, com alguns dizeres: “Campo Grande tem orgulho...” “Campo Grande torce por você...”. Orgulho de que, cara pálida? De uma moça que está “honrando” a cidade e o nosso povo, pelo simples fato de ser uma das finalistas do big-brother , e, simples assim, por isso, prestes a ganhar um milhão de reais?! Seria esse fato tão relevante a ponto de merecer a manifestação pública em nome da Prefeitura e da Câmara Municipal? Façam-me o favor, isso é absolutamente inadmissível. Isso nos envergonha. Quais são os significados da palavra honra, orgulho, para os senhores? Quais são seus valores? O que ensinam para os seus filhos? Já não bastava a colonização global que submete todo um povo, que, alienado, diante da tevê, anestesiado, ainda, paga pelo seu voto, para que alguém - sem ter praticado qualquer ato de heroísmo cidadão, sem possuir um diferencial de talento pessoal ou honradez - ganhe um milhão de reais custeados pelos nossos míseros centavos, por intermediação de uma empresa de telefonia, sócia dessa empreitada? Os senhores sabem mesmo quanto um trabalhador ganha aqui por 170 horas de trabalho mensal? Os senhores já observaram à saída do turno noturno de nossas faculdades, na quantidade de jovens, que, depois de um expediente de trabalho exaustivo, ainda buscam forças, alimentam esperanças de melhorarem suas vidas para tornarem-se orgulhos dos seus pais, de suas famílias, mesmo ganhando tão pouco, mesmo utilizando nosso precário sistema de transporte? Já não bastou o mau exemplo do final do ano, com a exposição acintosa de rostos policromados de alguns vereadores e deputados nos outdoors da cidade, nos desejando feliz natal? Com o dinheiro de quem, agora, essas faixas chegam ás ruas? Mas, ainda: sob a decisão de quem, manifesta-se tanto ufanismo? A troco de quê? Onde estão os assessores, meu Deus?! Um ser de bom senso que impedisse esse desvario? Não tem qualquer justificativa, ou explicação, uma cidade chegar a esse ponto de alienação. Este ato demonstra que Campo Grande prestes a se tornar uma metrópole, com seus quase 800 mil habitantes, desvela-se no seu mais reles provincianismo imposto por seus políticos!
Em nosso nome não, por favor! Nós (alguns de nós) não nos orgulhamos da “moça-do-big-brother”, não por isso. Nós não, não podemos fazer isso. E os senhores que fazem parte da elite política não têm o direito de fazê-lo em nome de toda uma população. Não, enquanto em nossos semáforos tantos jovens fazem malabarismos para ganharem um trocado. Não, enquanto nossos postos de saúde estiverem lotados, dispensando jovens como a “moça-do-big-brothe” (algumas já são até mães!) porque não têm atendimento suficiente. Não podemos; enquanto existirem ainda muitas crianças fora das creches, e com esse direito constitucional não atendido, verem escoar suas infâncias e suas vidas. Não, senhores políticos, alguns de nós não podemos comemorar com vocês, essa absurda manifestação pública. Podemos, sim, questionar, exigir que sejam prestadas contas à população. Exigir, sim, que retirem o quanto antes essa inadmissível comemoração em nome de toda uma cidade e que agride nossa cara. Eu quero! Quero saber quem teve a idéia, quem autorizou e quem pagou? Quero prestação de contas, sim, senhores.
Quem sabe, reclamar à justiça, à diocese, ao poder executivo, ao papa. Por enquanto, eu e muita gente estamos é morrendo de vergonha, porque uma cidade como Campo Grande não pode mais ser tão pequena de valores. E, não se iluda, mocinha, com o agrado dos nossos políticos: você (ainda) não é (e não pode ser) nosso orgulho! Vá, primeiro, trabalhar, vá estudar, vá contribuir com sua gente, como tantas moças como você, apesar de todos os obstáculos, anonimamente, o fazem.
Ai de ti Campo Grande, continuas sem rumo e sem dono, conspurcada como nunca por quem recebeu a confiança do teu povo, para representar-lhes, e que, ainda, não se deu conta da imensa responsabilidade que os nossos votos lhes outorgou. Agora, minha última esperança é que, a provável passeata em carro aberto, em homenagem a “heroína”, não se dê pelo valoroso e honrado Corpo de Bombeiros e sob as sirenes de nossa Polícia Militar. Aí sim, seria o máximo do arbítrio, do abuso do poder público e da improbidade administrativa. E teríamos, todos, que voltar à escola, para, urgentemente, aprenderemos os novos significados das palavras, e, rever tudo de novo que temos a respeito de valores!

* Educadora, Doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo

sexta-feira, 27 de março de 2009

FURACÃO E BRISA


Eu sou isso, não sou aquilo. Eu tenho, isso não tenho aquilo. Todos somos assim, dependendo dos olhos de quem vê e da mente que interpreta. Mas, estou convencida de que ninguém tem tempo (ou inteligência) para dissimular, por muito tempo, o que não é e o que não tem. A gente é sempre um pouco do que os outros acham e parte do que pensamos que somos. Por isso, somos pessoas, praticametne, desconhecidas, de nós mesmos e dos outros. Agradamos e desagradamos esse, ou aquele; a nós próprios, até. Assim, sou isso mesmo que você pensa de mim, mas, também, não sou, sou mais, quem sabe, menos. Sou furacão e brisa, dependendo da hora em que nos encontramos, então, enganam-se quem só conhece a brisa, porque, uma hora o furacão vai chegar, do mesmo modo em que se enganam os que me vejam só furacão. Ninguém é só o que pensam e dizem que é, muito menos o que pensa ser. Somos multifacetários, graça a Deus. Então, quando eu for, suave e insegura como a brisa, aproveite, mas quando estiver esbravejando e forte como um furacão, sai de perto. O tempo me fará dominar os ventos, e, aí, mesmo suave como a brisa, serei forte e determinada como o furacão. Enquanto espero e você espera, vamos indo com cuidado que a mudança metereológica, ainda, é muito brusca.

terça-feira, 3 de março de 2009

COMO PERCEBEMOS E AGIMOS NO MUNDO



Dentre as inúmeras descobertas da Física moderna, a conclusão de que o universo é composto por mais de 90% de matéria “invisível” talvez seja a que melhor nos auxilie no sentido de entender a temática que se apresenta.
A realidade não é o que está fora de nós. A realidade, o “mundo”, os outros e o eu fazemos parte de um mesmo e complexo sistema, cada qual se constituindo também em um sistema em si, que interage - e que se deixa interagir - alterando-se mútua e constantemente. O mundo como totalidade e representatividade do que é real para nós é inapreensível aos limitados sentidos humanos, inaptos por natureza a percebê-lo em toda sua inusitada complexidade, não havendo, portanto, uma realidade totalizadora, uma verdade absoluta e unificadora, ou um saber confinado e definido universalmente.
Sob essa análise, o próprio conceito de totalidade é uma abstração limitadora e um equívoco epistemológico originado nas concepções provisórias e incompletas que o homem tem de si e do mundo.
Assim, toda abordagem da realidade é pessoal, incompartilhável e única. Não percebemos as mesmas coisas, não compreendemos do mesmo modo, e nos expressamos sempre de maneira original. Nossa realidade é circunscrita à cosmovisão que possuímos com relação ao todo, abrangendo sobremaneira também nossa concepção de gente. É essa visão particular da realidade e que chamamos por cosmovisão que nos auxilia a organizar o caos circundante, nos aquietando frente ao desconhecido e aplacando-nos o medo. Percebemos, apreendemos, expressamos e suportamos o mundo pela filtragem da cosmovisão que temos de tudo.
Na verdade, estamos o tempo todo recodificando e reconfigurando nossos conhecimentos sobre tudo e sobre todos, em todos os dias, em todas as horas e a cada experiência. Qualquer tentativa de compreensão e expressão do mundo constitui-se teias de significações particulares que temos – sempre provisoriamente – sobre todas as coisas que, de algum modo, destacou-se do caos e nos afeta.
Nesse contexto, o aprendizado é uma tarefa individual e resultante do esforço e da vontade pessoal de organização e sobrevivência. Ninguém tem o poder ou a capacidade de ensinar, mas sim o potencial de promover em si a aprendizagem de que necessita para se manter vivo, em contínuo processo de metamorfose e acomodação de sistemas prévios. À medida que vamos adquirindo novas informações, passamos por experiências novas, reconfiguramos permanentemente todo nosso repertório de conhecimentos anteriores, o qual, reelaborado, amplia nossas concepções sobre tudo, alterando-nos a cosmovisão, e, conseqüentemente, nossa relação com coisas e pessoas, sempre vulnerável a novas aquisições e complementações futuras. Desse modo, somos hoje diferentes do que fomos ontem, ou agora, tanto quanto o seremos amanhã, ou daqui a 1000 anos, por exemplo.



quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

POR UMA CAMPO GRANDE LIMPA


POR UMA CAMPO GRANDE MAIS LIMPA

Será que realmente interessa a alguém saber o que a modelo Ana Hickman recomenda, com relação à melhor opção de ensino superior, para os jovens, em nosso Estado? Se o assunto fosse moda, talvez. Bem sabemos que, as propagandas testemunhais ainda têm sua eficácia, principalmente em lugarejos em que a opinião de alguém famoso, proporciona certa credibilidade. Mas, será que, em Campo Grande, essa mensagem, confere realmente apoio a imagem institucional propagada? Essa é uma pesquisa que vale a pena conferir: a eficácia da mensagem veiculada por outdoors, em meio à poluição visual urbana.
Quem consegue ver e assimilar o que, em meio ao caos midiático em que estamos mergulhados? Excesso de estímulos causa ruídos na comunicação. Muito ruído leva ao desestímulo, à alienação, à indiferença.
Será que as mensagens natalinas, com exposições de figuras públicas, alcançaram seus destinatários, favoravelmente? Quem terá gostado de se deparar com o rosto policromado do seu vereador ou deputado exposto pelos “cartões de Natal” afixados nos outdoor da cidade? Eu não!
Será que os políticos que assim se expuseram acreditam mesmo que seu eleitorado ficou satisfeito? Saberia seus eleitores o custo médio de tal mídia? Quem a custeou, os cofres públicos, ou as contas bancárias particulares? Teriam sido cortesia, a troco de quê? O que se fez das velhas mídias interpessoais, diretas e eficientes? Uma veiculação mediada por outdoor não custa menos de mil reais (com policromia fica mais cara). Seria politicamente correta, num mundo em crise, em face ao desemprego, a escassez, onerar o poder público com tal custeio? Quem deu a ideia de tal divulgação? Onde estão os assessores, meu Deus, que assessoraram tais decisões?!
Em Campo Grande, o spam urbano, tornou-se um caso muito sério e renitente. Perdeu-se qualquer senso de oportunidade, responsabilidade e, mesmo, adequabilidade midiática ao público e à mensagem. Tudo está escancaradamente exposto há todo o tempo, por este meio. Shows, matrículas em escolas, datas dos vestibulares - de verão, de outono, de inverno – todo tipo de produtos, festas religiosas, leilões, mensagens bíblicas, rostos de políticos. Não há qualquer limite, seja ele mediado por pressupostos éticos ou estéticos.
Campo Grande transformou-se, sem dúvida, em uma das cidades, visualmente, mais poluídas do país. E, se os políticos, a quem caberia atentar para a questão, se rendem a tal recurso, apelar pra quem?! Há de haver um meio de o clamor público alcançar algum resultado. Que tal uma ação popular, intermediada pela OAB/MS? Quem sabe não imitamos São Paulo – que já promulgou a Lei Cidade Limpa e eliminou os outdoors e restringiu a propaganda das fachadas? Quem sabe nossos atuais legisladores e mandatários não veem e regularizam a questão, e entram para a história. Desde já, aqui, lanço como minha, a primeira assinatura de um abaixo-assinado, “POR UMA CAMPO GRANDE MAIS LIMPA”. Vem comigo.


Publicado no jornal Correio do Estado, 12.01.09


sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

2009, AINDA BEM!


Adeus 2008, ano de importantes falecimentos, para meu crescimento pessoal. Amigos, não tão amigos, se foram, e, com eles, a ilusão de amizades não-reais, também, ruiu. Amigos muito amados partiram, partindo meu coração, lavado de lágrimas de saudade e agradecimento pelo tempo em que se fizeram presentes em minha vida. Neste 2009, que os verdadeiros afetos, amores, se fortaleçam, sem equívocos, sem imagens do que não sou, nunca fui e nem serei. Que a transparência sobreviva e a opacidade não faça parte de mim, anunciando o que não sou. Só os verdadeiros, só as verdades, em 2009, terão abrigo em meu coração. Adeus, 2008! Bem vindo 2009: chestnut bud (o floral do aprendizado) pra todos nós.
FELIZ ANO NOVO PRA VOCÊ TAMBÉM.