terça-feira, 27 de agosto de 2013

”Nós não somos deuses..."

Esse deveria ser o primeiro mandamento e a primeira disciplina do curso de medicina no País. O segundo mandamento e a disciplina do curso de medicina no Brasil deveria ser: “em primeiro lugar, as pessoas, e só depois delas, o meu interesse”. Terceiro mandamento e terceira disciplina do curso de medicina no País: “a medicina não é caminho para o enriquecimento, muito menos, para a política”. Quarto mandamento e quarta disciplina: “eu não sou mais do que ninguém, só porque cursei o curso superior de medicina, sou, simples e honradamente, um médico, mais um dos inúmeros profissionais da área da saúde e não valho mais, nem tenho mais direitos do que os outros profissionais". A profissão médica é uma profissão de caráter eminentemente social; torna-se médico, cursa-se um curso de medicina para atender à doença, ao doente, ao paciente (não ao cliente). “Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano a alguém...”(Hipócrates). Infelizmente, até para os bons médicos, que zelam pelo juramento que fizeram, o atendimento médico em nosso país é mais do que uma lástima, é uma vergonha inconcebível. Até para quem tem recursos para custear um Plano de Saúde e prescinde do atendimento do Sistema Único de Saúde pode constatar o desrespeito com que nós vimos sendo atendidos pela classe dos equivocados, que se consideram acima das leis, do respeito, da ética. Consultas marcadas, somente, com dois ou três meses de antecedência; horários agendados descumpridos. Há uma categorização entre pacientes particulares e os de qualquer plano: os particulares tomarão menos chá de cadeira, porém, qualquer quinhentão o colocará na primeira classe. Mas, ai dos que não tendo opção, para sobreviver e receber uma receita de dipirona precisarem dos Postos de Saúde e dos corredores das emergências dos Hospitais púbicos... Se de fato, o relato de um deputado federal deva merecer alguma credibilidade - mesmo sendo da bancada do PT, partido que nos lançou no lamaçal da mais absoluta incredulidade - o nosso país possui 1,8 médicos por mil habitantes; 703 municípios brasileiros estão sem médico; Mato Grosso do Sul conta com 1,54 médicos por mil habitantes; o governo federal está investindo R$ 15 bilhões até 2014 em infraestrutura dos hospitais e unidades de saúde (R$ 2,8 bilhões para a construção de 16 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS), R$ 3,2 bilhões para obras em 818 hospitais e aquisição de equipamentos para 2,5 mil hospitais e R$ 1,4 bilhão para obras em 877 Unidades de Pronto Atendimento). Constando-se a veracidade dos números, repudio, com o parlamentar, a todos aqueles que, esculhambando toda uma classe, e, de jaleco-branco, vaiam os estrangeiros que chegam. Mas, não nos enganemos, com as medidas do governo. Nós, os brasileiros, precisamos de respostas imediatas para o descaso secular com que a Saúde vem sendo tratada, tanto quanto, repudiamos a arrogância dos órgãos corporativistas-classistas: “não é justo”, dirá o deputado, “virar as costas para essa importante parceria entre governo brasileiro e médicos estrangeiros que estão chegando em nosso país, pois o que está em jogo não é política, mas, sim, a melhoria da saúde do povo de brasileiro”. Sendo assim, ô do “jaleco-branco”, encardindo-se, nas ruas, demonstrando a carência e a limitação da sua formação - à custa dos impostos que todos pagamos - repitam comigo o juramento de Hipócrates (1947): “Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. (...) Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário”. Para o inferno, então, os que, não sendo deuses, se aproximam mais ainda das profundezas. O que queremos e exigimos, sem mais delongas nem lero-lero, é mais respeito. Maria Angela Coelho Mirault - Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A inexorável marcha do Bem

O Bem está onde não está o mal. Encontra-se em todos os lugares, em todas as horas. O Bem é a Ordem, a Harmonia, a Vida que pulsa e vibra ininterruptamente. O Bem não está na mídia porque é a normalidade. O mal está nas manchetes e se difunde pelo assombro que provoca; ele não é ordem, não prevalece, e, sempre, perecerá. Todas as coisas se submetem a uma mesma lei, a lei do equilíbrio, da termodinâmica, da ação e reação. O mal é da ordem da desordem, mas, mesmo ele, compulsoriamente, submete-se a um sentido; à Ordem, em um Espaço-Tempo, transcendente à limitação do nosso parco conhecimento humano. A vida no planeta transcorre celeremente num rodopio incessante que a Terra faz em torno de si mesma há milhares de anos, há milhares de quilômetros por hora. Assim, a lentidão do dia, entre a alvorada e a hora crepuscular, é ilusória; na verdade, nesse espaço de tempo, nada mais fazemos do que rodopiar loucamente pelo cosmo, e, coletivamente, somos todos um. O dia, em si, nada mais é do que produto de um facho que nos chega pela parcimônia de uma estrela de terceira grandeza, que, por nosso rodopio, ao seu redor, nos inunda de sua luz. Nossa verdadeira realidade cosmológica é a imensidão inexpugnável do cosmo, pontilhado pela ilusão emitida por luzes estelares que nos alcançam depois de mortas. Nossa realidade peculiar e cotidiana é a permanente escuridão visitada, de quando em vez, pelo facho de luz que se faz manhãs e tardes, em parciais e ilusórios períodos momentâneos de nossa escuridão. Mesmo assim – e por isso - a vida é ordem; a desordem é entropia e morte. Todas as manhãs, enquanto o Sol nos fita e ilumina nosso pedaço de chão, bilhões de seres, como nós, reiniciam sua caminhada em harmonia com a simetria da vida; trabalham, amam, semeiam, vivem e morrem. Muitas vidas silenciosas assinalam essa caminhada entre o berço e o túmulo, sem interferir na ordem estabelecida e sistemática da vida. Cumprem sua travessia, calmos como a brisa, no ritmo que a vida tem de ter. Estes são maioria. O mundo majoritário é o da paz, da observância dos costumes e compartilhado em conformidade com as peculiaridades culturais. Onde, aparentemente, parece imperar o caos, nada mais se faz presente do que um instante passageiro que superado será, oportunamente, para o estabelecimento de um novo patamar na Linha do Tempo e da Ordem. Todo mal é passageiro. As convulsões, as deflagrações são instantes paradigmáticos para novos possíveis, quer o seja na singularidade de nossas vidas, quer, no da coletividade. O passado não volta, mas, suas pegadas invadem o presente e deixam marcas indeléveis no futuro, porque tudo se submete as mesmas leis, da inexorável marcha do progresso, assim como, a do fluxo e refluxo (das marés) das ações. Depois do ontem, que se foi, nada mais poderá ser como antes. No caminho da vida só há uma via; a via do futuro; do patamar alterado. Então, mesmo que tudo pareça soçobrar, em fervilhante turbilhão em favor do mal, embora nos pareça impossível, a vitória do Bem, logo ali estará se refazendo a Ordem, a Harmonia, que, permanentes e imperecíveis, vêm, nos alcançam e nos resgatam, provenientes do próprio Bem. E essa lei, que se apresenta em tudo e que emana de Deus, só pode ser sentida, percebida e entendida, por aqueles que já têm olhos de ver, e ouvidos de ouvir. Logo chegará setembro e com ele, de novo, o desabrochar das flores, ad eternum. Basta nos conectarmos com o espetáculo da natureza, e, calmamente, olhar e sentir a resistência vicejante do cerrado. Caminhemos. Maria Angela Coelho Mirault – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http:mamirault.blogspot.com