terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Faltam 3 minutos

Em 22 de janeiro de 2015, o Bulletin of the Atomic Scientists anunciou que o relógio que marca o Fim dos Tempos foi adiantado em dois minutos; agora, estão faltando só 3 minutos pra meia-noite. Isso é sinistro, acredite. O boletim foi criado em 1945 por cientistas da Universidade de Chicago (EUA) que participaram no desenvolvimento da primeira arma atômica, dentro do Projeto Manhattan. Dois anos depois, eles decidiram criar o Doomsday Clock, cujos ponteiros assinalavam faltar 7 minutos para a meia noite. O objetivo era o de alertar a Humanidade o quão próximo estaria da aniquilação por catástrofe total termonuclear. Contudo, de lá pra cá, estimativas apontam a existência de mais de 16 mil armas atômicas no mundo, sendo que poucas delas seriam suficientes para explodir “trocentas” vezes esse planetinha sem expressão alguma na galáxia. O marcador do tempo – esperançoso, talvez - já havia marcado momentos menos críticos em que seus ponteiros foram atrasados: em 1972, devido aos tratados ante proliferação nuclear assinados entre as superpotências e em, 1991, em decorrência dos tratados de paz e o fim da União Soviética. Perigo mesmo, o reloginho apontou quando os cientistas calcularam que apenas dois minutos separava o mundo do aniquilamento total, devido aos testes (russos e norte-americanos) de bombas de hidrogênio. Quando o recrudescimento das hostilidades entre os EUA e a então União Soviética ameaçavam a humanidade com uma guerra nuclear, o relógio marcava 3 min para meia-noite. A proliferação irracional de armas nucleares aliada à falta de medidas significativas objetivando atenção às mudanças climáticas fez com que cientistas - incluindo 18 vencedores do Prêmio Nobel – adiantassem, em 2012, o relógio, para 23h55m, com o BAS alertando sobre os riscos do uso de armas nucleares nos conflitos do Oriente Médio e o aumento na incidência de tragédias naturais. Estávamos a cinco minutos do Apocalypse. Agora, em 2015, segundo o boletim da catástrofe, o relógio marca 23h57 min; apenas a três minutos da meia- noite, porque “os lideres internacionais não cumprem a sua missão mais importante que é a de preservar a saúde e a vitalidade da civilização humana”. Seus ponteiros nos alertam, porque, além da questão climática (não prevista quando de sua criação), ao invés da redução do número de ogivas nucleares, há a irracional modernização dos arsenais existentes – principalmente, por parte dos EUA e da Rússia, minando tratados internacionais já assinados. Além desse real e iminente risco de aniquilamento total e irreversível, a emissão de dióxido de carbono e outros gases está transformando o clima do planeta de forma catastrófica, o que deixa milhões de pessoas vulneráveis às tragédias climáticas vindas do aumento do nível das águas nas costas e a redefinição geográfica do mundo. O assunto é muito sério. A organização pede que lideranças globais assumam o compromisso de reduzir os gastos com armamentos nucleares e de limitar o aquecimento global a dois graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. A nossa espécie é a única que destrói sem nenhuma racionalidade seu habitat. As outras, o habitam, sustentam e preservam conforme as leis naturais e o ciclo vital o determinam. Fazer o quê se essas questões cruciais não estão sendo tratadas com prioridade pelos mandatários do mundo e as comunidades sequer pensam nisso? Então, acorde, aí, “pelamor-de-deus”, porque a Humanidade ficou mais próxima ainda da extinção! É bom colocar as contas em dia (de preferência, não!), porque, se esses experts merecerem nosso crédito, falta apenas 3 minutos para o Fim do Mundo e o Juízo Final. E, assim sendo, o Armageddon não é uma questão de crença. É uma questão de – pouquíssimo - tempo. Maria Angela Mirault – professora doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http://mamirault.blogspot.com Jornal Correio do Estado, 09/02/2015