quinta-feira, 26 de abril de 2012

O PAPEL DOS ANCESTRAIS NA EDUCAÇÃO

Em todas as tradições os ancestrais são o referencial cultural da descendência. Ninguém escapa ao ambiente semiótico do qual proveio e no qual se foi moldando. Assim, somos hoje resultado de muitas e tantas codificações e decodificações, cujo repertório cultural forma o referencial, com o qual enxergamos, entendemos a realidade e agimos no próprio mundo. Por assim dizer que, toda realidade, toda verdade será sempre parcial e referenciada nesse peculiar caldo cultural. Mas, isso não quer dizer que, por sermos frutos do passado, não sejamos passíveis de transformações ao longo da jornada até o seu derradeiro desfecho nessa realidade do mundo físico e ponderável que compartilhamos. Essa transformação de crisálida para a plenitude do ser que precisamos ser é a tarefa maior dessa caminhada que chamamos vida. Tanto, que, não podemos simplesmente justificar nossas frustrações, nossos erros de conduta, nossos equívocos de juízo ao passado e à intervenção da cultura predominante em nosso período de desenvolvimento. Assim sendo, todos podem mudar, corrigir e alcançar estágios que Piaget chamaria majorantes; maiores e melhores dos que os anteriores. Essa a grande significação da vida e o propósito de nossa presença no mundo. Sob esse ponto de vista, de que carregamos o passado no presente, de que agimos no mundo de acordo com o referencial que nos foi apresentado e assimilado no contexto cultural em que estivemos mergulhados desde a infância, de que essas marcas indeléveis fundamentam nosso caráter e nossa conduta, referenciando e referendando nosso modo de ver as coisas, a educação proveniente da família é de primordial importância. Desse modo, os avós, como seres detentores da ancestralidade, estão presentes no DNA cultural dos seus descendentes, independente de papéis a eles atribuídos. Hoje, é comum dizer-se e até aceitar-se a equivocada idéia de que avós não têm nada a fazer quanto à educação de netos; engano, eles podem contribuir para a transmissão de valores, tradições, informações que só eles detêm, servindo de elo de continuidade de histórias de vidas preciosas do passado com o futuro da descendência de um grupo específico familiar. Ao mesmo tempo em que representam a cultura passada, educam-se e transformam-se com a pujança da vida presente no contato enriquecedor com seus netos. Aprendem, refletem, corrigem-se. O papel dos ancestrais é, portanto, tal como um roteiro, um tracejar de caminhos para novos e mais enriquecidos horizontes. Os pais não podem e não devem prescindir desse alicerce. Os avós não podem omitir-se e tornarem-se meros expectadores da criação dos seus netos, ou, simplesmente, descartados dessa responsabilidade. Tanto é que, quando os pais negligenciam de suas funções, a própria justiça responsabilizará os avós. Quem não trará indelével a imagem e o amor de um avô e uma avó presentes em sua formação? Quem não os teve, perdeu, mas, quem os têm, que aproveite esse rico e insubstituível elo cultural de vida.