quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

ROICE, O FILHO CANINO, SE FOI...


Roice Greice
24.11.1997 - 11.12.2008

Ele se foi, após 11 anos de dedicação e companheirismo. Não tão repentinamente, já que sua partida era inevitável, hoje ou amanhã. Mas, não eperava que fosse hoje, que fosse agora. Como um bom filho, esperou que a alegria entrasse em nossa casa, para que pudesse partir. Chegou a conhecer o Bruno, o bebê da casa, recém-nascido, em 1o. de dezembro. E quando viu que sua "mãe" teria companhia achou que poderia se ir. Anjinho peludo - como eu o chamava - nunca o esqueceremos. Nos caminhos do amanhã, de certo, nos reencontraremos. Saudade de sua mãe humana.

sábado, 6 de dezembro de 2008

BRUNO CHEEEEGOOOOOUUUUUUU!!!!!!!!!!!!!!!!!!


As vovós corujas na espera do Bruno: noite de
segunda, 1o. de dezembro de 2008.


BRUNO CHEGOU E É LINDO!


VOVÓ CORUJA!




MARIANA E BRUNO, A DUPLA PERFEITA.


TIO NANDO, MARIANA E BRUNO

BRUNO NO 4o. DIA DE VIDA EM FOTO DO AVÔ



OS PAIS MAIS FELIZES DO MUNDO!!!!




3/12/2008: ANJINHO NO DIA DE SUA CHEGADA
NA CASA DA VOVÓ.


BRUNO NO SEGUNDO DIA DE VIDA, AINDA
NA MATERNIDADE

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

AI DE TI CAMPO GRANDE

Foto de Thiago Moser


AI DE TI CAMPO GRANDE (*)

Deve mesmo ter sido um instante mágico aquele em que José Antônio Pereira chegou às terras de um campo grande, sob um azul inigualável (estaria chovendo?), uma brisa suave e reconfortante, balançando as folhas do arvoredo. O canto dos pássaros, certamente, lhe encantaram os ouvidos, o cheiro do mato inebriou o seu olfato, tal como a primeira vez em que te vi. Nem mais um passo precisava ser dado, havia chegado, antes de todos nós, a esse canto do mundo onde cantam os sabiás, o ar ainda é puro, o céu azul, e, lavadas pelas chuvas, as noites estreladas.Pouco a pouco, o lugar de passagem foi-se transformando em lugar de ficar. Vieram os forasteiros, migrantes e imigrante de outros lugares. Não importa de onde vieram, de onde eu vim, importa que ficaram e eu fiquei. E, ficando, mesclamos um novo povo, com um novo jeito de ser e de viver.Ainda se pode imaginar tanta beleza, tanta pureza, no instante do teu nascimento. O silêncio de tuas noites, o ronco dos trovões sem eco, em tardes de tempestades são as mesmas de então. Ainda se pode ficar quieto, observar e usufruir o que a natureza nos reserva e nos dá, neste lugar. Somos milhares de campo-grandenses, logo chegaremos ao milhão. O campo grande do passado é hoje uma Campo Grande de verdade, transformou-se e é o que é. Continua bela, suas árvores centenárias ainda nos espreitam em todo o lugar, velhas senhoras estendem-nos seus braços, abrigam nossos pássaros em plena avenida Mato Grosso, por exemplo, ou na rua das Garças, onde, recentemente, um joão-de-barro qualquer instalou sua família em um poste de energia. Revoadas ao entardecer anunciam-nos que a bela noite vai chegar, enquanto, escandalosamente belo, o Sol se põe num horizonte linear. Ah! Campo Grande, tão bela, tão pura, tão pródiga, tão hospitaleira. Mas...... Onde estão teus filhos, Campo Grande? Já não precisam estudar ou se ilustrar lá fora, porque, então, não cuidam de ti? Por que se omitem e deixam que te violem, te explorem, te enfeiem e te ocultem a beleza? Será que não vêem o que fazem de tuas ruas, de tuas fachadas, de teu horizonte? Emparedada que estás sob quilômetros e quilômetros de muralhas coloridas que nos agride o olhar gritando mensagens inadequadas e inoportunas de coisas que não queremos saber, quando o que queremos mesmo é ver-te nua em toda tua beleza. Por que não vêem a agressão que vejo ao passar em tuas ruas? Cadê teu horizonte ensolarado e crepuscular? Ah! Campo Grande, são tantos os obstáculos que te ocultam a singeleza! Se soubesses das cidades na Europa como são preservadas! Ah, se pudesses ser como São Paulo, logo ali - muito mais antiga do que tu – e que pode ressurgir do que se pensava inevitável, só porque alguém, observando o exagero a que chegou a poluição midiática urbana, sonhou que seria possível interceder e transformar o stauts quo, em socorro de uma cidade sufocada! Será que não percebem que todo excesso é ruído, que diante de tantas palavras e cores nada se destaca, nada se fala?Ai de ti, Campo Grande! Que será de ti neste Natal? Que pena Campo Grande! Enquanto ninguém mais vir o que vejo, só me restará lamentar, cumpliciando-me contigo, nem que seja eu a única que, como tu, sinta; a única que fale e peça por ti. Basta! Precisamos regulamentar a caótica propaganda urbana, em nossa cidade. A Câmara nova e a nova Prefeitura podem (e devem) começar a estudar o assunto para 2009. Por enquanto, obrigada, Campo Grande, por tudo que ofereces a mim e aos teus filhos, por tudo que ainda vislumbro entre nesgas de muralhas coloridas, invasivas de tua privacidade. Tenha esperança, Campo Grande. Quem sabe já não tarde e seja breve o momento em que um filho teu não fuja a luta, e, vendo o mesmo que vejo, não sinta o mesmo que sinto e que sentes e venha somar-se a nós nessa vanguarda? Quem sabe, Campo Grande, tudo possa recomeçar e milagres possam acontecer?
Maria Angela Coelho Mirault
(*) O artigo foi publicado no jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS, em 17 de novembro de 2008 - Caderno A, pág. 02

sábado, 11 de outubro de 2008

MÊS DAS CRIANÇAS



O QUE DAR PARA SUA CRIANÇA
EM TEMPO DE CRISE *


Maria Angela Coelho Mirault


Outubro, Mês da Criança! Lá fora, é Primavera. A natureza nos presenteia com flores, canto de pássaros, temperatura amena, noites estreladas, vida em abundância. Aqui dentro, via tevê, tudo nos fala de crise, de dúvidas e instabilidade. Lá fora, a Bolsa cai, o mundo desmorona, o virtual torna-se real. As explicações de antes, de ontem, de agora a pouco, já não dão conta do fenômeno e do que está por vir. No entanto, consumir é preciso; tantas são as ofertas, tantas as tentações. Cartões, prestações, impulsos tomam conta de nossa razão, de nossas possibilidades reais e afetam nosso equilíbrio emocional. O comércio precisa tentar de tudo, afinal, muitos compromissos, muitos empregos estão em jogo e estimular o consumo é o seu papel. Mas, agora, ele, também, precisa de cautela, porque não basta vender, é preciso, antes de tudo, precaver-se quanto a expectativa de receber por aquilo que vendeu.
Apertar os cintos, além de “relaxar e gozar” (Marta: 2007) é a ordem do dia. Mas que cinto, cara pálida - nos perguntaria Tonto, companheiro leal do Zorro? Por aqui, o Índice Dow Jones não está mudando (ainda), e diretamente, a minha e a sua vida. Enquanto isso, alguns amanhecem menos ricos, sem milhares e milhares de dólares nos bancos (virtuais e voláteis como sempre foram) e acordam tendo que se deparar com a realidade caótica que nos tem esperado e surpreendido, a cada manhã.
Na defesa da sobrevivência, vamos vivendo como lagostas colocadas vivas na panela, sem sequer se dar conta de que a água vai ferver e o fim que lhe aguarda é inevitável. Mas, adianta encarar esse momento com pessimismo? Óbvio que não. Então, o que podemos fazer nesse mês de apelo extremado de consumo? O que dar para criança, no seu dia, tão especial?
Primeiro, pense na criança que ainda habita o seu coração, dê-lhe alguma coisa, faça algo por ela: presenteie-se, afague-se, perdoe-se, console-se, anime-se, fortaleça-se. E não se endivide além de suas posses, não aja como criança irresponsável, agora. Assuma sua vida tal como ela é.
Agora, pense em suas crianças, seus filhos, seus sobrinhos, seus netos. O que lhes dar nesse dia tão especial? Primeiro, dê-se de presente a eles, esteja disponível para ouvi-los, estar juntos. Segundo, se puder - e estiver compatível com seu planejamento econômico - dê-lhes presentes, mas não precisa ser “aquele” presente que vai lhe comprometer o orçamento familiar e pelo qual você irá pagar além de suas expectativas. Mas, não fique só aí. Quem sabe, a gente não aproveita a oportunidade para explicar o porque-não; o porque-não-isso e porque-aquilo. Por que não conversarmos sobre limites, consumo responsável, despesa, crédito e débito, cartão de crédito, renda mensal, salário do papai e da mamãe, planejamento e possibilidades reais de nossa família? Quem sabe, uma simples e fraternal conversa, durante a qual compartilhemos as injunções do dia-dia e as imposições da vida, não seja o melhor presente, neste momento?
Como adultos, temos o dever de prepararmos nossas crianças para um futuro de incerteza, em casa, na escola, na vida. Nossa geração não teve esse preparo, aprendeu a correr, ganhar, levar vantagem, competir e esses (maus) valores não vão mais servir; aliás, já não servem mais.
Junto ao presente, que pode ser o mais simples, que se dê a certeza do companheirismo, o amor e a confiança de que estamos juntos, nós e elas, nos dias de Sol e nos dias de chuva, na bonança e na tormenta. Precisamos fazer a nossa parte e, no varejo, nossa parte é tomar consciência do tempo em que vivemos, adequando-nos, com lucidez, às imposições, sob as quais não temos o menor arbítrio.
No Dia da Criança, no Mês da Criança, não deixe de presentear as suas crianças, prepare-as para o mundo, para a vida, presenteie-as com sua atenção, seu carinho, suas orientações. Dê-lhes presentes possíveis, não os inacessíveis, porque, isso não é educativo, não estará lhe fazendo bem. O consumo consciente necessita ser aprendido em casa e estudado nas escolas, para que ajudemos a formar cidadãos capazes de lidar com o futuro. Estamos todos necessitando de uma dieta saudável para nossos desejos. Um passeio, uma tarde em casa, um bolinho gostoso, uma reunião de família, uma oração, palavras-palavras-palavras, afeto, cuidado, esclarecimento, paz! É que desejo para todos nós. Feliz comemorações do Mês da Criança!

* Este artigo está no site www.aliancapelainfancia.org.br e foi publicado no jornal Correio do Estado em 13.10.2008

Aliança pela Infância do Brasil – Núcleo Regional de Mato Grosso do Sul

aliancapelainfancia@ded.ufms.br / nucleocampogrande@aliancapelainfancia.org.br


terça-feira, 7 de outubro de 2008

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

MUDAR É POSSÍVEL


Viver é posicionar-se; é tomar decisões;
é crer em nossos ideais e seguir sempre adiante.
Por isso, não temos que persistir se o caminho virou trilha. Em todo lugar que formos, se tivermos um ideal e uma certeza, seremos sempre os mesmos caminhantes, em busca de novas conquistas, novas realizações, novos lugares. Que assim seja. Por isso, uma reflexão de Bertold Brech...


"Nós vos pedimos com insistência:
Não digam nunca
- Isso é natural;
Sob o familiar,
Descubram o insólito.
Sob o cotidiano, desvelem
O inexplicável.
Que tudo o que é considerado habitual
Provoque inquietação.
Na regra, descubram o abuso,
e sempre que o abuso for encontrado,
Encontrem o remédio."

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

FABIANA EM PARIS


Essa é Fabiana em recente foto, em Paris, em sua primeira viagem à Europa. Valeu!
Essa é Mariana com o Bruno e o Roice.
Aqui, ela está na 30a. semana de gravidez.
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Mãe do Bruno

Essa é a incrível Mariana, mãe do Bruno, que guarda o maior presente de Natal dos últimos anos pra todos nós. Ela é linda por dentro e por fora, só quem a conhece sabe que não é corujisse de mãe-avó. Na foto, tirada em 8 de agosto, ela esperimenta um blaser que, obviamente, não coube nela.


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sexta-feira, 26 de setembro de 2008

TECENDO A MANHÃ (João Cabral de Melo Neto)

"Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe o grito que ele dá e o lance a outro; de um galo que apanhe o grito que um galo antes dá
e o lance a outro; e de outros galos que com muitos galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos". É mesmo isso: vamos tecendo o amanhã."

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

PORQUE AINDA NOS MANTEMOS TÃO MEDÍOCRES




Nunca me pareceu tão atual como agora a tese que o ensaísta alemão Hans Magnus Enzensberger[1] faz a respeito da mediocridade. O talhe que lhe dá, caberia a qualquer lugar e, com rigor, vestiria nossa própria e medíocre realidade.
Com cuidado, alinho-me à sua lógica e acolho sua constatação universal. Vivemos mesmo um mundo e uma realidade medíocres. Contudo, creio que a mediocridade - que assinala o espírito de época e invade nosso cotidiano - talvez não nos seja, simplesmente, uma imposição, havendo, ainda, para alguns de nós, um fator decisivo: a opção.
Quer seja por indiferença ou acomodação, no atacado, a mediocridade é mesmo nosso credo e nosso desejo, mas, significa, também, nosso flagelo e nossa própria morte social. É ela quem travesti um certo tipo de gente, transformando-a em utilitário de determinado – ou quase todo - tipo de sistema.
Recorrendo a uma citação secular, Enzensberger, logo de início, indaga, qual seria a importância dos gênios e constata que muito mais importantes são os homens úteis, pois, destes são, apenas, exigida “uma feliz combinação de dons e habilidades, uma certa mediocridade que não se eleva até os gênios e pensadores”. Para atingi-la, basta, apenas, que não se deixe afundar até a condição de pobre-diabo, que se atente em alcançar uma grandeza média, de forma a atingir o ponto de utilidade que se deseja e que a coletividade precisa.
Enzensberger determina a origem da mediocridade no fato de que não esperamos muito de nós mesmos, acostumando-nos ao autodesprezo, por isso, nos é tão fácil optar pela utilidade medíocre, sem muito esforço. Mas, não seria esta também, opção semelhante a de pobres-diabos? Não seria esta a pior das escolhas?
De certo, que, a submissão à mediocridade é questão de escolha individual. Somos nós que preferimos assumir o personagem-sapo da psicanálise, mantendo o personagem-príncipe inacessível. Criados como galinhas, preferimos ocultar a águia que habita em nós, subsumidos aos costumes do galinheiro. Sem tomarmos consciência de que, somos, por natureza e identidade, príncipes e águias, deixamo-nos enfear e domesticar, limitando-nos por viver essa realidade que nos consome.
Estar (e não ser) medíocre é nosso escudo, nossa complacência, nossa cumplicidade com o mundo, com as coisas, com os outros. Ser medíocre é mais confortável e muito mais prudente. Submetidos a uma mediocracia consolidada, vivemos, trabalhamos, nos divertimos, criamos nossos filhos. Travestidos em sapos e galinhas, deslocamo-nos – ou não - cotidianamente de nossas casas e nos conectamos com o mundo. Imobilizados e na condição de utilitários, mascateamos nosso capital intelectual, nossa força de trabalho, às instituições, e, nos submetemos a chefias e modelos administrativos medíocres. É como medíocres que deixamos de nos importar “com os fundamentos elementares da vida, como a tranqüilidade, o clima, a vegetação, o ar e a paisagem”, alerta-nos o autor.
Para subsistir, prudente é que se assuma a utilidade que o mundo quer, a docilidade indiferente que ele determina. Somos números insignificantes de uma massa que, “manipuladas por forças sinistras”, se deixa transformar “num bando de idiotas consumista”, constata-nos o ensaísta alemão. É, também, pela apatia que a maioria silenciosa nem acredita ter-se transformado “em zumbis, marionetes ou fantasmas, e nem mesmo lhes ocorre a possibilidade de confundir sua realidade com uma “simulação”, diz-nos ele.
Ao abordar sobre o perigo da resistência, alerta-nos: “(...) o médio não é apenas um postulado de lazer, mas a medida de todas as coisas e a chave do sucesso. A existência econômica e psíquica da maioria é garantida pela mediocridade, e qualquer um que acredite poder ignorá-lo incorre num perigoso erro”. Não ser medíocre, ou não parecer medíocre, e, resistir ao espírito de época, que nos sufoca, é quase assumir uma personalidade psicótica, tornar-se um relegado, um exilado do seu próprio espaço, de sua própria pátria.
Contudo, fácil é reconhecer, distinguir e assinalar um ser que abjeta se categorizar e se regozijar na mediocridade. Ele é claramente identificável, pois não consegue esconder-se, metamorfosear-se, ou sucumbir. Cônscio de sua origem e natureza, identificado com seu lugar e papel no mundo, ele é um inconformado. Diante da simulação e do domínio do medíocre e sob o império da mediocridade, ele é um indignado. Estertora, mas sobrevive. Acende fachos, onde trevas se instalaram, deixando rastros e sinais irremovíveis. Mesmo vencido, não se lhe pode negar e reconhecer a identidade de sua força. Mesmo quando ferido e aparente sucumbir, não se submete, resiste e sobrevive. É um mutante.
A luta entre eles será grande e árdua. Haverá momentos em que quase parecerá perdida. Mas, serão eles, os que, se reconhecendo príncipes e águias, salgarão (e já salgam) a Terra com suas singularidades. Que se reconheçam e se somem. A cada resistência, a cada violação, evidenciarão, incontáveis vezes, que, por mais que as evidências e as aparências demonstrem, os fins não justificam os meios e não serão os medíocres que herdarão a Terra.



[1] ENZENSBERGER, Hans Magnus. Mediocridade e loucura. São Paulo: Editora Ática, 1995. Nascido em 1929, representa desde a década de 1960 um dos pólos intelectuais da Alemanha atual: um dos pensadores que (...) tem estado invariavelmente no centro das discussões políticas, culturais e literárias da vida alemã e européia.

domingo, 21 de setembro de 2008

COMO PEIXINHOS...

Se os Tubarões Fossem Homens
Bertold Brecht

Se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentis com os peixes pequenos. Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais. Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias cabíveis se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim de que não morressem antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres têm gosto melhor que os tristonhos.
Naturalmente, também, haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a goela dos tubarões. Eles aprenderiam, por exemplo, a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. A aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos. Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos. Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência. Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista. E denunciaria imediatamente os tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.
Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros. As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que, entre os peixinhos e outros tubarões existem gigantescas diferenças. Eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro. Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos da outra língua silenciosos seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.
Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, haveria belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas goelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nas quais se poderia brincar magnificamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as goelas dos tubarões. A música seria tão bela, tão bela, que os peixinhos sob seus acordes e a orquestra na frente, entrariam em massa para as goelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos. Também haveria uma religião ali.
Se os tubarões fossem homens, eles ensinariam essa religião. E só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida. Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros. Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões, pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar. E os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiros da construção de caixas e assim por diante. Curto e grosso, só, então, haveria civilização no mar, se os tubarões
fossem homens.

sábado, 20 de setembro de 2008

E NÓS?


Maiakovski, poeta russo "suicidado" após a revolução de Lenin, escreveu, ainda no início do século XX:

Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. E não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.

· Parodiando Maiakovski, Bertold Brecht (1898-1956) escreveu:

Primeiro levaram os negros. Mas não me importei com isso. Eu não era negro.
Em seguida levaram alguns operários. Mas não me importei com isso. Eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis. Mas não me importei com isso. Porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados. Mas como tenho meu emprego. Também não me importei.
Agora estão me levando. Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém. Ninguém se importa comigo.


· Parodiando os dois, Martin Niemöller, 1933 - símbolo da resistência aos nazistas, deixou registrado:

Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar...

E nós?

quinta-feira, 31 de julho de 2008

COSMOVISÃO




A APREENSÃO DA REALIDADE – COSMOVISÃO


Dentre as inúmeras descobertas da Física moderna, a conclusão de que o universo é composto por mais de 90% de matéria “invisível” talvez seja a que melhor nos auxilie no sentido de entender a temática que se apresenta.
A realidade não é o que está fora de nós. A realidade, o “mundo”, os outros e o eu fazemos parte de um mesmo e complexo sistema, cada qual constituindo-se também em um sistema em si, que interage - e que se deixa interagir - alterando-se mútua e constantemente. O mundo como totalidade e representatividade do que é real para nós é inapreensível aos limitados sentidos humanos, inaptos por natureza a percebê-lo em toda sua inusitada complexidade, não havendo, portanto, uma realidade totalizadora, uma verdade absoluta e unificadora, ou um saber confinado e definido universalmente.
Sob essa análise, o próprio conceito de totalidade é uma abstração limitadora e um equívoco epistemológico originado nas concepções provisórias e incompletas que o homem tem de si e do mundo.
Assim, toda abordagem da realidade é pessoal, incompartilhável e única. Não percebemos as mesmas coisas, não compreendemos do mesmo modo, e nos expressamos sempre de maneira original. Nossa realidade é circunscrita à cosmovisão que possuímos com relação ao todo, abrangendo sobremaneira também nossa concepção de gente. É essa visão particular da realidade e que chamamos por cosmovisão que nos auxilia-nos a organizar o caos circundante, nos aquietando frente ao desconhecido e aplacando-nos o medo. Percebemos, apreendemos, expressamos e suportamos o mundo pela filtragem da cosmovisão que temos de tudo.
Na verdade, estamos o tempo todo recodificando e reconfigurando nossos conhecimentos sobre tudo e sobre todos, em todos os dias, em todas as horas e a cada experiência. Qualquer tentativa de compreensão e expressão do mundo constitui-se teias de significações particulares que temos – sempre provisoriamente – sobre todas as coisas que, de algum modo, destacou-se do caos e nos afeta.
Nesse contexto, o aprendizado é uma tarefa individual e resultante do esforço e da vontade pessoal de organização e sobrevivência. Ninguém tem o poder ou a capacidade de ensinar, mas sim o potencial de promover em si a aprendizagem de que necessita para manter-se vivo, em contínuo processo de metamorfose e acomodação de sistemas prévios. À medida que vamos adquirindo novas informações, passamos por experiências novas, reconfiguramos permanentemente todo nosso repertório de conhecimentos anteriores, o qual, reelaborado, amplia nossas concepções sobre tudo, alterando-nos a cosmovisão, e, conseqüentemente, nossa relação com coisas e pessoas., sempre vulnerável a novas aquisições e complementações futuras. Desse modo, somos hoje diferentes do que fomos ontem, ou agora, tanto quanto o seremos amanhã, ou daqui a 1000 anos, por exemplo.

sábado, 12 de julho de 2008

NÃO TROQUE O VELHO...


Não troque o velho pelo novo se não vai saber usar
Ela não tinha a menor necessidade de trocar o aparelho celular. Resistiu à oferta da operadora por quase três semanas. Acreditando-se ecologicamente correta, não via sentido em atender ao apelo do consumo irrefletido, alienado e irresponsável. Pensava: o que se irá fazer com tantas e tantas baterias descartadas pelo mundo a fora?Naquela manhã, porém, foi ao shopping, fazer o que toda mulher faz ao ir a um shopping. Antes de ir embora, porém, lembrou-se de conferir à oferta da operadora. Resultado: saiu da loja com um novo e “gratuito” aparelho de celular. Para o antigo, encontrou nova função, configurando-o em uma linha pré-paga - quem sabe, em uma necessidade qualquer ele estivesse disponível. Pura e racional justificativa para não ter que lidar com sua consciência. Já que capitulara e, se era para trocar, escolheria o que possuísse mais recursos. Eliminados pelo critério das possibilidades de uns em relação à falta de recursos de outros, decidiu-se e escolheu o mais completo. O seu novo aparelho dispunha de câmera fotográfica, vídeo, rádio FM, mp3, e tudo o mais o que se imagina, inclusive, chamadas e recepções telefônicas. Óbvio que teria que estudar o manual, para um dia adquirir a competência de utilizá-lo adequadamente. Porém, o máximo que fez foi adicionar seus contatos, sem disposição de entender seu novo equipamento. Assim, apenas folheou o manual. E, esqueceu-se do básico: de ler a página de orientação de como ligar e desligar o aparelho. Até aí, tudo bem, se não tivesse uma viagem de avião a realizar. Antes de dormir, programou o despertador do celular, mas, praticamente, não dormiu, com medo de não tê-lo feito adequadamente, mas ele despertou. Na saída, esquecera o dito cujo. Voltou. Não há mais a menor possibilidade de se sair de casa sem o celular, pensando que não fazia muito tempo em que não só se podia, como se saia de casa, viajava-se, até, sem essa preocupação. Cumpriu os ritos do aeroporto e embarcou com a bendita maquininha em sua bolsa. Guardou sua bagagem de mão e acomodou-se em sua poltrona. Estava tudo bem, pensou. Porém, portas fechadas e as recomendações iniciais do comissário de bordo, trariam a tona um pequeno detalhe: a página do manual de como desligar o celular novo! Levantou-se apressadamente, abriu o bagageiro e buscou sua bolsa. Lá estava ele, lindo... Mas, ligado. Imaginou que conseguiria desligá-lo facilmente, pois, qualquer coisa que se liga, supõe-se, deveria poder ser desligada com facilidade; é assim na vida. Com as mãos dentro da bolsa, iniciou uma nervosa operação de apertar botões, funções etc, e, nada. Não encontrou nada parecido com o ícone “desligar”. Aparentando controle da situação e para que ninguém ao seu lado percebesse, continuou a tentativa, furtiva, como se estivesse prestes a cometer um pecado, um assassinato em massa, talvez. O piloto informava a equipe de bordo que o avião preparava-se para decolar, enquanto ela não conseguia entender aquela geringonça! Pensou em solicitar ajuda a um dos comissários, mas não teve coragem; já pensou que mico? Continuou tentando, até que encontrou o ícone “desativar” qualquer coisa. Ufa! apertou: é esse! Fechou a bolsa, colocou-a a frente de sua poltrona. O passageiro ao lado encarou-a brevemente. Teria notado ou era só uma paquera matinal? Mas, e se aquela não fosse a função adequada? E se o celular estivesse ligado? E, se, ligado, tocasse? Bem, seria um pouco improvável que alguém lhe ligasse às 5 da manhã. É, mas não seria impossível: 10 % de chance, talvez. Mas, e se a bendita maquininha ligada fizesse o avião cair? E se o avião caísse só por causa da sua aquisição impensada e consumista, e, todas aquelas centenas de pessoas terminassem sua viagem mais longe do que imaginavam e fossem todos para a estação do além (da vida)? Já não pensava na sua, e exclusiva, morte Com certeza, nem do lado de lá escaparia da fúria dos seus companheiros de viagem. E, se já não fosse um ato consumado, ao tomarem conhecimento de que fora o seu celular ligado o responsável pela tragédia que os vitimara, certamente, a matariam (de novo!). Tentando racionalizar, pensou: não seria ela a primeira a passar por essa situação durante um vôo. Quantas vezes não teria tido sua vida colocada em perigo e viajado com alguém, que tal como ela, não soubera desligar seu celular. Fechou os olhos e prestou atenção na decolagem; até aí, tudo bem, o avião decolou. Aguardou o serviço de bordo que, por sua vez, também, transcorreu normalmente; tudo bem. E a aterrissagem como seria? Chegara ao chão sem qualquer problema, tudo bem. Seu potente e altamente tecnológico-celular, com uma função qualquer “desativada”, não tocou durante todo o vôo, nem fez a aeronave cair. Ao chegar ao seu destino, foi, avidamente, buscar nas páginas do manual a instrução de como desligá-lo. Lá, no item que descreve “seu celular”, em “teclas e peças” encontrou “tecla de ativação (11)”, um minúsculo e convencional ícone de play, branco sobre branco, em sua parte superior. Fácil, como a vida, antes do celular.


Goiânia, 11/07/2008

segunda-feira, 30 de junho de 2008

CONSUMO CONSIENTE E RESPONSÁVEL

Educação para o consumo consciente e responsável


Parece óbvio, mas não é. Há muito que a criança vem sendo alvo da má publicidade de produtos, apesar de não ser consumidora. Influindo no processo de venda e compra junto aos adultos, acaba por impor sua vontade na decisão da família, tornando-se, com a prática, uma consumista contumaz e totalmente alienada do seu próprio referencial de mundo, de coisas e pessoas.
O consumista é o indivíduo que, guiado pela emoção, abdicado de sua capacidade de discernir e de sua liberdade de escolha consome, desenfreadamente, o produto ou o serviço que não precisa, mas que deseja, por imposição de outro. Esse outro pode ser um indivíduo, ou uma cativante mensagem publicitária. Mas, acima de tudo, um outro que é ele mesmo e que permanecerá em conflito consigo próprio em todas as situações em que se exponha ao hábito e à prática de um possuir desequilibrado, vítima de si, pela vontade de ter aquilo que não teria condições de adquirir. O consumismo é o senhor absoluto do desperdício. O desperdício é, de certo modo, uma prática irrefletida, inconsciente e inconseqüente, que denota imaturidade, incompetência e alienação, além de constituir uma afronta social.
Consome-se mais pela representação – pelo simbólico - do que pelo conteúdo em si. Um carro não é mais um veículo de locomoção, sua marca revela um poder e um status nem sempre coerente e condizente com os recursos do seu usuário. A grife exposta no produto fala mais do que a própria indumentária, o acessório.
Em contrapartida, tem surgido no mundo, um outro grupo de pessoas que, ao invés de abdicar do seu direito de escolha e de sua capacidade de discernimento, faz o caminho contrário. São os praticantes do consumerismo, um movimento que busca desenvolver uma consciência sobre os males do consumo alienado, em prol de uma prática de consumo consciente e responsável, com vistas ao bem comum. A esse movimento, filiam-se pessoas que podem, mas optam por não consumir aleatoriamente. Surgido nos Estados Unidos há mais de quarenta anos, iniciou-se com a edição da revista Consumer Reports, sem intenção comercial. Elaborada por um grupo de voluntários, com o auxílio de analistas, publica o resultado dos testes de numerosos produtos, compara marcas e orienta o comprador sobre aspectos técnicos e jurídicos.
Em nosso país, o Código de Defesa do Consumidor veda ao público infantil a comercialização de produtos, considerando que a criança não tem capacidade de avaliação, negociação nem decisão na compra. Ela não tem recursos próprios para isso, é dependente do mundo adulto. Desse modo, a publicidade que lhe tem como alvo é enganosa e passível de penalização pelos próprios órgãos de auto-regulamentação publicitária, o próprio CONAR.
Recentemente, o ministro da saúde, iniciou um debate, que vale a pena ser acompanhado, ao propor que a publicidade de produtos comestíveis tenha restrição de horário para veiculação. Sua justificativa: a criança é alvo fácil desse tipo de mensagem publicitária. Ou seja, age como intermediária da decisão do adulto. Põe em risco sua saúde e adoece consumidora de fast food.
A propaganda “só na casa do Pedrinho...” é um exemplo da utilização do personagem infantil, para a indução de venda de um produto de consumo do adulto. Quem não conhece o poder de convencimento de uma criança para satisfazer um desejo? É com esse poder de indução que as empresas contam ao pagarem a criatividade dos agentes publicitários que melhor saibam usar esse recurso de venda.
A infância vai sendo, então, confrontada por pseudo-necessidades, sub-repticiamente, lastreando a formação de um caráter consumista e insatisfeito, gerando pessoas frustradas pela incapacidade vigente de satisfazer esse ou aquele desejo de posse e possuir esse ou aquele produto de marca.
Não cabe à criança escolher e decidir por uma marca, ou um produto; ao adulto responsável pela condução da infância, cabe essa opção. Vedar as mensagens publicitárias intencionalmente dirigidas ao público infantil seria uma atitude saneadora que preservaria a infância como o momento de vida de vir a ser, de construção de um caráter cidadão e desalienado. O ensino pedagógico do consumo consciente é uma necessidade ecológica e deveria ser um dos parâmetros de todo o programa de educação na infância. A criança que aprende a consumir, guiada pelo bom senso do adulto, será o cidadão que saberá utilizar com economia os recursos comuns de toda a sociedade, imperativo, este, de um futuro que já chegou. Esse indivíduo, assim educado, respeitará os limites do possível, do necessário e da utilidade. Tornar-se-á capaz de lidar com a adversidade, suas possibilidades e seus desejos. Será senhor do seu consumo, dono de suas escolhas, livre em suas decisões.
Quem sabe, essa reflexão proposta pelo ministro não nos seja útil para um novo despertar de nossa condição humana e cidadã, inseridos em um mundo que exigirá de todos nós novos hábitos, novos caminhos, novas escolhas?


Publicado no jornal Correio do Estado, em Campo Grande, MS, em 10.07.2008

4a. REUNIÃO DO NÚCLEO DA ALIANÇA PELA INFÂNCIA

Aliança pela Infância - Núcleo Regional de Mato Grosso do Sul
Atas de Reunião – 30.06.2008

Aos trinta dias do mês de junho de 2008, às oito e trinta horas, teve início a quarta reunião da equipe gestora do Núcleo Regional Aliança pela Infância de Mato Grosso do Sul, no Departamento de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, sob a coordenação da professora Dra. Ângela Maria Costa. Como motivação inicial foi apresentado o vídeo Conflito interior relacionado aos conflitos de interesses institucionais, da Fundação Getúlio Vargas (Strong) – divulgado pela internet, de forma a promover a reflexão de que, em muitos casos, a Aliança estará frente à problemática da escolha entre o que deve ser feito e o que é possível fazer, cabendo aos seus integrantes a decisão a tomar. Logo após, foi apresentado documento descritivo sobre a natureza, objetivos e ações da Aliança e colocado em foco, a questão da inclusão de crianças de cinco anos no ensino fundamental, no âmbito do sistema de ensino Estadual e, especificamente, em Campo Grande, com apresentação de relatos (até o momento, sigilosos) de casos e acontecimentos, em escolas da rede municipal. A professora Ângela ressaltou que o papel da Aliança é, antes de tudo, institucionalizar-se como instância que se preocupa com o ser humano nessa etapa da vida; a infância, buscando, antes de tudo, soluções para problemas diagnosticados, fortalecendo instituições públicas e privadas que também estejam interessadas nos mesmos objetivos cidadãos. Após os esclarecimentos, debates e ampla reflexão sobre o material apresentado, deliberou-se que, nesta semana, seria concluído o documento já em elaboração, no qual deverá constar, além da parte descritiva do papel e da função da Aliança, em Mato Grosso do Sul, o parecer a respeito da situação desencadeada pela liminar , com as assinaturas do abaixo assinado em anexo. O documento em pauta estará disponibilizado para os integrantes da equipe gestora até o dia 4 próximo, para que no final da semana, dias 5 e 6, possa ser lido e receber sugestões para a redação final, que será alvo de análise e aprovação em reunião agendada para o dia 7 de julho próximo, na Secretaria Municipal de Educação, às 8h, na qual, também, estará em pauta, o encaminhamento para a divulgação do referido documento. Com o tempo expirado e nada mais a tratar, os integrantes abaixo assinados, encerraram esta quarta reunião, que eu, MARIA ANGELA COELHO MIRAULT secretariei.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

MUDANÇA DE HORÁRIO, SIM OU NÃO?

Ontem, aconteceu, no campus da Uniderp, às 19h30, um debate sobre a iniciativa já divulgada pela mídia de massa sobre a mudança de horário em nosso Estado. A iniciativa, que teve o setor comercial e político como autoria, propõe que Mato Grosso do Sul deixe de se manter sob as determinações naturais impostas pela latitude geográfica que lhe é inerente, para atender ao mercado publicitário, principalmente, às demandas de canais de televisão, que contabilizam significativa perdas pecuniárias em sua comercialização de espaços publicitários. Entre os debatedores, manifestou-se a opinião médica sobre o assunto, com a participação do cardiologista Dr. Luis Ovando com a abordagem sobre os malefícios, para a saúde da população sul-mato-grossense, caso prevaleça a alteração do nosso horário e a adoção do horário de Brasília.

Fonte: planee.midiaalternativa@gmail.com

TRAÇANDO EIXOS PARA ALIANÇA PELA INFÂNCIA

A hora é agora: a criança tem pressa

Ontem, dia 11, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, reuniram-se integrantes do Equipe Gestora do Núcleo Regional da Aliança pela Infância de Mato Grosso do Sul, visando traçar os eixos de atuação da Aliança, em nossa realidade. Na ocasião, apontaram-se necessidades prementes e locais que serão alvo de atuação dessa rede. São elas: (1) O direito de ser criança; (2) Escolarização precoce; (3) A nutriçao da Infância; (4) A importância do brincar; (5) As múltiplas linguagens da criança; (6) O impactos da mídia no desenvolvimento da criança; (7) A formação do profissional da infância.
Delinearam-se, ainda, algumas ações que terão a iniciativa e o apoio da Aliança. Dentre elas, a promoção de palestras – já disponíveis, para quem se interessar pelos temas. São elas: (1) O direito de se criança e (2) Para onde vai a educação da criança sul-mato-grossense, pela professora, doutora em Educação, Angela Maria Costa - Chefe do Departamento de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; (3) A formação do profissional da infância, pela professora, doutora em Educação, Regina Aparecida Marques de Souza - Coordenadora do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; (4) A importância do brincar, pela professora, doutora em Educação, Jucimara Rojas, do Curso de Pedagogia da UFMS; (5) A vitimização da infância pela mídia, pela doutora em Comunicação, Maria Angela Coelho Mirault.
Uma prioridade urgentíssima já está em crescente andamento. Trata-se do encaminhamento de ação junto ao Ministério Público em prol da revogação da liminar inconstitucional em vigor em nosso Estado, promovendo o ingresso de crianças aos cinco anos no ensino fundamental. O assunto é uma prioridade de debate e luta do Núcleo Regional da Aliança, que já se movimenta com mais de 800 assinaturas já colhidas em todo os municípios do Estado, e, brevemente, seguirá os caminhos legais da petição.
Projeta-se, ainda, o Movimento de Invasão das Crianças nos Espaços Públicos, em comemoração ao Dia da Criança, em outubro próximo.
A criação do Núcleo em Ribas do Rio Pardo entusiasmou a todos os presentes.
É como se pronunciou, a idealizadora da criação do Núcleo Regional da Aliança pela Infância, Dra. Angela Maria Costa, na Câmara de Vereadores de Campo Grande: "A Aliança foi trazida para Mato Grosso do Sul e vai atuar, em todas as instâncias em que o direito de ser criança seja usurpado, desse período tão importante da vida humana".
FONTE: planee.midiaalternativa@gmail.com

terça-feira, 10 de junho de 2008


Em companhia do Presidente da Câmara,
Vereador Edil Albuquerque e Angela Costa


Angela Costa e os Vereadores Maria Emília e Alex.

Angela Maria Costa em seu pronunciamento
na Câmara


Osmar, Chefe de Gabinete do Presidente da
Câmara Municipal de Campo Grande e
Professora Angela Maria Costa idealizadora da
criação do Núcleo Regional de Mato Grosso do Sul


NÚCLEO REGIONAL DA ALIANÇA PELA INFÂNCIA DE MATO GROSSO DO SUL

A ALIANÇA PELA INFÃNCIA é um movimento mundial que visa estabelecer e manter uma rede capaz de favorecer a reflexão e a união de pessoas que se preocupam com a infância. A Aliança é um projeto internacional, que surgiu no final da década de 90 na Inglaterra e Estados Unidos. Seu foco tem sido o de apontar caminhos para solucionar os problemas que afetam a acriança. O incentivo ao brincar, o consumo consciente, o uso cuidadoso das tecnologias e das novas mídias, a educação, a nutrição, a inclusão e a cultura de paz são alguns dos temas que fazem parte da atuação dessa rede de aliança. Hoje, a Aliança pela Infância possui representação em diversos países da Europa, África e Ásia. No Brasil inciou suas atividades em 2001 e possui núcleos em diversas regiões do país. As ações e projetos da Aliança pela Infância destinam-se a pais, educadores, psicólogos, médicos, nutricionistas, cuidadores e todos aqueles que se relacional direta ou indiretamente com as crianças e se interessam pela gestação de um mundo melhor. Esses parceiros procuram buscar formas de resguardar a infância e de lhe garantir um ambiente adequado a um desenvolvimento pleno e saudável.

O Núcleo Regional de Mato Grosso do Sul

No último dia 4, de junho, por inciativa da professora Doutora Angela Maria Costa, Chefe do Departamento de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, foi criado o Núcleo Regional da Aliança pela Infância de Mato Grosso do Sul. A foto registra a visita feita à Câmara a convite do seu presidente Vereador Edyl Albuquerque que aconteceu hoje, dia 10. Na foto: Doutora Maria Angela Coelho Mirault e Doutora Angela Maria Costa - integrantes do Comitê Gestor do Núcleo Regional de Mato Grosso do Sul - e o Vereador Edyl Albuquerque.








segunda-feira, 9 de junho de 2008

DIA DE AÇÃO

COMUNICAÇÃO: UMA QUESTÃO DE CONSUMO

Maria Ângela Coelho Mirault

Ontem foi um dia de ação. Dessas que a gente faz sem qualquer remuneração, quer dizer: de graça, cumprindo um dever. Todo aquele que pode contribuir com alguma coisa, em prol de uma sociedade mais esclarecida, deve fazê-lo. É bem verdade, que tem épocas da vida em que não se pode ser tão combativa, tão disponível, daí o recolhimento e até a omissão. Mas, sobreviver é preciso e isso Darwin já nos ensinou. Não são os fortes que sobrevivem, mas, sim, os adaptáveis. A questão da comunicação é uma questão ecológica, tenho dito. A questão da distribuição da informação deve realmente ter trânsito livre, e esse trânsito deve ter mão e contramão. Mas a questão da doação de impressos e suas distribuições nas ruas da cidade, não!
Não existe gratuidade no mundo capitalista. Se eu não pago é porque alguém pagou por mim. É essa a lógica do mercado: se o produto jornal chega as minhas mãos sem que eu o escolha ou pague por ele, é porque, alguém quer que eu consuma o que ele tem, e, esse alguém tem muito interesse nisso, porque paga por isso.
Ontem, participando de um debate promovido por acadêmicos do sexto semestre de jornalismo, da UNIDERP, em Campo Grande, pude me deter na problemática sui generis de nossa cidade: a distribuição gratuita dos chamados semanários em vias públicas, há quase trinta anos. Trata-se de uma prática inusitada e inigualável, e, pelo que eu saiba, não conhecida ou praticada em lugar algum.
O Código de Defesa do Consumidor veda a distribuição gratuita de qualquer bem ou serviço, tanto que as "amostras grátis" de remédios, por exemplo, só são doadas aos médicos, em seus consultórios. No que diz respeito à distribuição de jornais, o cidadão não pode e não deve ser vitimizado com essa gratuidade, pois não é o beneficiário direto, não tem como e nem a quem reclamar quanto a essa invasão de privacidade a que é exposto.
Há muito se fala na questão da profissão do jornalista, inclusive, com argumentos de que essa atividade deveria estar acessível a qualquer um. Invoca-se até o artigo 5o. da Constituição. Mas, a profissão de jornalista e a reserva de mercado para um profissional devidamente qualificado é uma questão de imputação de responsabilidade pelo que se escreve e se divulga. Assim, dispormos de um mercado organizado, legislado e respeitado não é apenas um benefício da classe trabalhista, mas, principalmente, a da salvaguarda da população, do cidadão em sua inviolabilidade.
Esse ambiente ordenado, normatizado e legislado protegeria o indivíduo em sua vulnerabilidade, de tal modo, que, quando viesse a se sentir vitimizado com a má-informação que consome, teria onde e para quem recorrer.
O vínculo sindical não é uma questão de somenos importância de reserva de mercado; é uma proteção para a sociedade. Médicos são médicos e atuam como médicos porque têm a quem prestar contas de suas atividades médicas. Todo conteúdo informacional deveria ter um responsável por sua publicação. Bastaria essa medida para que as caixinhas acabassem, o assédio deixasse de corromper e a inverdade deixasse de prevalecer.No dito debate - que irá ao ar pelo canal 14 - apontei três medidas: a curto, a médio e a longo prazos.
Para soluções de curto prazo, bastaria que o Ministério Público fizesse cumprir, aqui, como no resto do Brasil, as leis vigentes em todo o país, dentre elas, principalmente, o Código de Defesa do Consumidor.
Em médio prazo, seria necessária que se cumprissem, também, nossa legislação: empresas seriamente constituídas, com seu capital de giro confiável, sua estrutura organizacional responsável e legal. E assim, se a empresa é uma prestadora de serviços que veicula informação que o faça com um elenco de profissionais, devidamente qualificados e submetidos a uma instância de regulação - olha a importância de um Conselho de Jornalismo. Imagine a mudança, no mercado de trabalho e na própria sociedade, que essas duas medidas ocasionariam.
Por fim, a implantação, nas escolas, de uma Educação para a Mídia, já no ensino fundamental, em cujo processo, toda criança tivesse acesso ás diversas mídias para uma análise semiótica e crítica dos conteúdos veiculados, tal como fazíamos com as análises sintáticas, nas aulas de Língua Portuguesa.São medidas óbvias, educativas, evidentemente.
E por que nunca se aplicaram e por que são tão difíceis de aplicar? Inoperância, desinformação, descuido, de nós mesmos, os profissionais e empresários da área da comunicação, talvez.
Um mercado regulamentado, ético, capacitado, legal é um mercado bom para todos. Com medidas como essas, ganharíamos todos nós, cidadãos ávidos de informações, ávidos de notícias e de verdades. Talvez já seja a hora de refletirmos mais sobre essa questão. A comunicação é um bem coletivo e uma necessidade indivual-orgânica. Uma questão absolutamente ecológica.


* Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo; membro do Comitê pela Democratização da Comunicação em Mato Grosso do Sul; membro do Comitê Gestor do Núcleo Regional da Aliança pela Infância de Mato Grosso do Sul.
http://mamirault.blogspot.com
mariaangela.mirault@gmail.com

domingo, 8 de junho de 2008

1o. DIA DOMINGO 08/06/2008

DOMINGO DE PARTIDA

Hoje, partiu Misedite. Ao vê-la em sua última imagem, serena (como se costuma dizer), silenciosa (como se costuma ser), distante (como deveria estar) deparei-me, mais uma vez, com a inquestionável verdade da vida: nossa irrefutável partida. Todos iremos, tão logo se anuncie a hora. Promoção, novos caminhos, novas aprendizagens, novas lutas, novas conquistas.
Imortais que nos sabemos, um dia a reencontraremos.
O domingo trouxe uma constação e uma sempre oportuna reflexão. Deparar-me com a morte, em plena manhã de domingo em que o brilho do Sol inundava meu cotidiano, foi, sem dúvida, o inefável aprendizado de hoje. Uma prece, algumas palavras e lá estávamos despedindo-nos de Misedite, com um até breve (mas, que não precisa ser tão breve assim).

PUBLICAÇÃO JORNAL CORREIO DO ESTADO EM 19/05/2008

SPAM URBANO
Maria Ângela Coelho Mirault*
Quem se utiliza dos benefícios da internet e do correio eletrônico sabe da inconveniência em se receber mensagens indesejadas. Em segundos, a caixa de e-mails fica lotada de bobagens. É o spam, e, geralmente, são propagandas que querem nos convencer de alguma idéia, ou vender alguma coisa. Isso, somado as indesejadas chamadas telefônicas que invadem nossa privacidade, acaba por constituir-se em mais uma das ninharias estressantes em nosso cotidiano.
É bem verdade que a liberdade da livre expressão é um direito assegurado aos cidadãos, inclusive, por normas internacionais. A Declaração de Direitos do Homem, de 1789, por exemplo, dispõe que “a livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo cidadão pode, pois falar, escrever, exprimir-se livremente, sujeito a responder pelo abuso desta liberdade nos casos determinados pela lei”.
Quem pratica o spam, em nosso país, também o faz sob o amparo legal e constitucional do direito de livre pensar e da livre expressão de idéias garantidas pelo artigo 5º. da Constituição Federal. Por outro lado, quem o recebe, tem, também, assegurado o direito constitucional com relação à preservação de sua privacidade. Quer dizer: quem se expressa se expressa pelo direito de se expressar e quem se sente invadido, incomodado, argumenta que deve ter assegurado o seu direito de não ser assediado. A questão é tão grave que alguns provedores têm mecanismos para inibir essa invasão de privacidade, e, assim, proteger seus usuários dos malefícios do spam virtual.
Ocorre que, se observarmos bem, podemos verificar que o spam, como recurso de mídia, há muito migrou para além do espaço virtual, invadindo o dia-a-dia do espaço público. Este é um fenômeno que começa a ser identificado como "spam urbano", e, tal qual acontece no ambiente virtual, submete-nos a um meio ambiente altamente caótico e poluído, influindo no nosso comportamento, e, mesmo, na nossa saúde física e mental.
Em algumas sociedades, começa a surgir uma nova onda de reação e crescente preocupação com a prática agressiva de publicidade, em outdoors, shoppings, aeroportos, táxis, supermercados, consultórios e aonde quer que estes espaços sejam perniciosamente invadidos. E, algumas cidades, no mundo, já regulamentam essa questão.
Em nossa cidade, não é diferente. A mídia externa tem sido usada abusivamente. Inadvertidamente, instituiu-se a prática da publicidade de rua como mídia para qualquer mensagem. Mas, quem duvida que os folhetos entregues nos sinaleiros, embaralham-se e se confundem com as mais variadas informações, perdendo, consequentemente, a eficácia da informação que pretendem comunicar. Será que, realmente, os outddoors perfilados e expostos por toda a cidade atendem à demanda da propaganda da mensagem que veiculam? Que dizer das gigantescas propagandas nas laterais dos edifícios?
Mesmo em meio aos mais agudos protestos de setores mais diretamente afetados, em 2005, o governo municipal da cidade de São Paulo fez um enfrentamento corajoso dessa questão. E, sob a lúcida coordenação de uma arquiteta urbanista - cujo texto inicial foi ampliado na Câmara de Vereadores – o 1º. janeiro de 2006 marcou, no Brasil, o início do combate ao spam urbano.
A partir daquela data, a promulgação da Lei Municipal Paulistana 14.233/06 - Cidade Limpa - inibe os exageros e regulamenta o uso dos espaços públicos com relação à exposição de outdoors, pinturas em prédios com fins publicitários, painéis luminosos gigantes, telões eletrônicos, faixas, banners, propaganda em táxis e, ainda, a distribuição de panfletos na rua. Além disso, também, limita tamanhos das placas indicativas das empresas. A redação do texto inicial de autoria da diretora do meio ambiente e paisagem urbana da Empresa Municipal de Urbanização, já restritivo, foi enfatizada com mais rigor pelos vereadores. A multa mínima para quem descumprir a lei foi fixada em 10 mil reais.
O que é importante é que se saiba que a lei Cidade Limpa, da Prefeitura de São Paulo, objetivando remediar o caos urbano e a poluição visual da cidade não é pioneira no mundo, mas é a primeira adotada no Brasil. É corajosa, e, coloca em embate os opositores. Mexe em um mercado que emprega cerca de 20 mil pessoas e movimenta centenas de milhões de reais, só na cidade de São Paulo.
É óbvio, contudo, determinar quem sai ganhando com a lei. Como toda mídia exterior é compulsória, não há qualquer possibilidade de que o cidadão comum e usuário do espaço público tenha qualquer opção sobre as mensagens publicitárias que lhe são expostas na paisagem urbana. Afinal, não se podem fechar os olhos, na via pública e, mesmo que procure não captá-la, o indivíduo já foi capturado e induzido à interação com a mensagem já recebida. Ou seja, desde que se saia à rua, nosso direito á liberdade de escolha já foi pro brejo.
Em meio a tanta “desinformação poluente” em que nos vemos mergulhados, talvez, seja hora de questionar: deixar a poluição visual invadir nossa cidade - influir em nosso cotidiano, alterar nossa saúde - como já se pode constatar, é bom para quem, “cara pálida”? Que tal, se essa publicidade ostensiva, invasora do nosso meio urbano migrasse para os veículos impressos? Será que não alcançaria mais diretamente seus públicos, respeitando o direito do cidadão de desfrutar de uma cidade mais limpa e saneada dessa virose que se tornou o spam de rua?
Talvez pudéssemos iniciar um debate público sobre o assunto. É o que propomos agora. Com a palavra, os setores diretamente relacionados e os políticos de nossa cidade, antes que seja tarde demais, e, Campo Grande se veja totalmente poluída, oculta por um muro instransponível imposto pela utilização abusiva dos nossos espaços públicos, pelos quais pagamos – religiosamente e muito bem - com nossos IPTUs.

*Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo mariaangela.mirault@gmail.com

Este artigo foi publicado dia 19 de maio de 2008, no jornal Correio do Estado, Campo Grande/MS.

Publicação Jornal Correio do Estado, 06/06/2008

A QUESTÃO ECOLÓGICA DA COMUNICAÇÃO


Aparentemente, a complexidade que envolve a problemática da comunicação não é percebida pelo censo comum do cidadão urbano. Liga-se a tevê, o rádio, se aceita o folheto, o semanário, submete-se à ostensiva propaganda publicitária imposta pelas muralhas de outdoors e toca-se a vida.
Aparentemente, nos consideramos imunes aos conteúdos, às mensagens que subliminarmente invadem, contaminam nosso cotidiano e afetam nossa saúde.
A complexidade da problemática da comunicação, contudo, não é um problema dos entendidos, dos estudiosos e acadêmicos; é um problema coletivo com implicações ecológicas, que tem início na pessoa, no cidadão, em seus direitos, mas, também, na salvaguarda de sua individualidade.
Por enquanto, somos todos vítimas de um massacre da publicidade caótica de informações midiatizadas. Quem não se confrontou com suas limitações estéticas e econômicas frente a determinados conteúdos publicitários, certas “verdades” informacionais?
O que dizer da publicidade que se dirige à criança como alvo do seu assédio? Abusiva, naturalmente, porque a criança, embora seja altamente convincente ao pedir, e, muitas vezes, em exigir dos adultos, não é consumidora, não tem juízo de valor, de seleção e opção do que pode ou deve consumir.
De certo que vivemos em um mundo hostil que nos exige desfrutar de coisas que não queremos, não devemos, e, na maioria das vezes, não precisamos. Despreparados, quando muito, nos deparamos com a vitimização de nossa integridade mental, nossa capacidade de distinguir e optar pelo que nos convêm em detrimento da passividade do consumismo desenfreado com que nos deixamos capitular.
O conflito diário proporcionado pela falta de discernimento, entre o que podemos e devemos adquirir e o volume do que nos é apresentado do que não podemos e não devemos consumir, vai se processando sutilmente, avolumando-se em nossa psiquê, transformando-nos em hordas de frustrados consumistas, aos quais - como escape - só resta a aquisição do produto similar, do falsificado, ou ao cometimento do araquiri da aquisição, em suaves e intermináveis prestações, de um bem muito além das possibilidades reais de consumo.
Na verdade, a questão do conteúdo da informação veiculada, indiscriminatoriamente, pela mídia de massa, não é uma questão de somenos importância, na atualidade. Trata-se, sim, de uma questão ecológica.
Ernest Haeckel, já em 1870, definiu por ecologia o estudo das inter-relações entre organismos e o seu meio físico. A esta ciência cabe a investigação de toda a relação entre o animal e seu ambiente orgânico. Sabe-se que nenhum organismo, seja ele uma bactéria, um fungo, um verme, uma ave e o próprio homem, pode existir sem interagir com outros e no ambiente físico no qual se encontra inserido. Ao lugar em que se dá essa interação e troca de energias dá-se o nome de ecossistema, ou seja, determinado local onde ocorrem todas as inter-relações dos organismos entre si, com seu meio ambiente.
Somos seres ecológicos e vulneráveis ao ecossistema das cidades. Nosso habitat é o ambiente físico onde ocorrem essas trocas de informações e apropriações de conteúdos simbólicos. Não fomos nem somos preparados para essa percepção ecológica de vulnerabilidade semiótica a que estamos submetidos, às vezes, subsumidos.
Sintomáticos, reconhecemos os efeitos, mas não conhecemos as causas desse mal estar contemporâneo. A depressão, esse mal do século que coloca o indivíduo em conflito consigo mesmo é retroalimentada pela incapacidade palpável de se alcançar os limites dos apelos que a publicidade impõe. Se não se é (e não se pode ser) tão belo, ou magro, ou rico, ou jovem, como fazer para se ter sucesso e poder desfrutar da mágica de “Truman”, que o conteúdo da mensagem publicitária, convincentemente, nos faz acreditar?
Como continuar vivo, depois dos cinqüenta, quando o “mundo da publicidade” afirma só ser possível aos 15, 30, 40 anos?
O que mais nos preocupa é que a capacidade crítica de discernimento entre o que é real e o mundo irreal e fictício simbolizado pela mídia, não é despertada aleatoriamente. O ser humano, organismo vivo submetido a um ecossistema social de interação, vulnerável e afetável, semioticamente, precisa sobreviver e preservar a sua integridade e a de sua espécie, ou seja, persistir em continuar sendo gente, pessoa, apesar de todos os apelos que lhe determinam o contrário. E isso se aprende, se exercita, se reconhece necessário.
Uma educação ecológica para a mídia é uma necessidade que se impõe. Exercer a prática do debate crítico dos conteúdos, proporcionar meios para o desenvolvimento de análises de todas as mensagens mídiáticas: jornalísticas, televisuais, cinamatográficas, publicitárias, na escola e em casa, é uma tarefa emergente nos dias atuais. Por uma simples questão de sobrevivência, integridade ecológica e terapêutica para nossas curas, ensinando-nos a viver, mesmo submetidos ao ambiente caótico de informações, sem que capitulemos, resgatando-nos de nós mesmos, da vergonha que temos de não sermos tão bonitos, ou tão jovens, ou tão ricos como querem nos imputar.
Esse o grande desafio ecológico do ser urbano, nos dias atuais. Com a palavra os educadores, os políticos, os terapeutas.


Maria Ângela Coelho Mirault – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo
Membro do Comitê pela Democratização da Comunicação de Mato Grosso do Sul
Membro do Comitê Gestor do Núcleo Regional da Aliança pela Infância de Mato Grosso do Sul
mariaangela.mirault@gmail.com