quarta-feira, 6 de abril de 2016

A duras penas... Campo Grande

A duras penas... Campo Grande
Estamos sobrevivendo à crise. Cada dia de um jeito, cada dia, como dá. Duvide-o-dó que algum vivente - com conta gorda, conta magra, sem conta, no banco; com dívida, sem dívida - esteja passando por esses momentos em dolce far niente.  No máximo, fazendo um lanchinho magro no shopping, sem comprar nada. Duvide-o-dó que a classe operante não tenha nenhuma conta atrasada, ou, em vias de. Planos, só  os emergenciais, porque o pão pode estar mais caro amanhã de manhã – a padaria pode ter fechado e declarado falência; o emprego pode ter ido pro brejo; a  faculdade ter ficado mais cara –a escolinha ter de ser substituída, pelo o ensino gratuito e obrigatório – garantia constitucional – e o município sem ter condições de dar conta dessa demanda; a doméstica, o segurança, o motorista, o faxineiro... TODOS, buscando o “empreendedorismo-sebraeniano”, pra se virar. Segurança de ir e vir, curtir a vida, ser feliz como a gente merece, nem pensar...
O pior mesmo é o duplipensar que se afermenta, roubando mentes de pessoas, antes, até confiáveis e razoavelmente racionais. De certo, mesmo, é que o modelo carcomido de se praticar políticas, fazer politicas está ruindo fragorosamente, chegando de modo avassalador e irreparável como a lama-de-mariana – já providencialmente “esquecida” do povo e da mídia. Personagens histriônicos tomam de assalto nosso bigbrother doméstico e convivem no nosso mundo interpessoal. Estamos fartos de tantos sabidos, tantas certezas, tantas verdades, além e aquém de Sérgio Moro - o que esses jovens guardiões da Justiça estão realizando, sob o Sol dos nossos testemunhos, está aquém e além de qualquer imaginação. Estamos próximo, muito próximo de ter “O mito” atrás das grades, uma guerrilheira golpista, ocupante por poucos dias o palácio, tendo de afrouxar a cinta e o caráter. De cima do poste, de onde sempre esteve e de onde pensa que ainda governa,  a “cobra de Janaína”, ainda mercadeja: “quem vai querer?” Desvairada, ainda não percebeu que os músicos ainda tocam, mas, o naufrágio já aconteceu.  Coitada!
A duras penas estamos sobrevivendo. E, sobreviver, nesses dias tão aziagos, é de um privilégio sem monta. Assistir pela tevê o mico do advogado dativo da presidanta, não tem preço! Tal pataquara só pode ter sido ideia da sabedoria do ilustre-ministro-articulador, direto do hotel de Brasília, governando o Brasil.
Porém, mas, porém (não nos esqueçamos), é no nosso mundinho pequeno que as coisas nos aparecem e acontecem. Na nossa casa, na nossa rua; em nossa capitania hereditária que a vida toma sentido, significa e vive. 
E, por aqui, as coisas estão boas, não!
Bem agora, no meio dessa confusão danada do duplipensar (ler Orwell), abraçado com a dengue, zica vírus, H1N1, descumprimento da legislação no quesito creches, crateras herdadas da gestão tradiana - e sua associação com os donatários da lama-asfáltica-, sem um hospital público (vive abrigado na Santa Casa, que não é um hospital municipal) e a conclusão das obras do absurdo aquário de 200 milhões de dólares, nos vem com a promulgação mamão com açúcar da lei 8.242/16, a lei da mordaça, por 27 dos 29 edis!?
É pra acabar! É muita desinformação! E, a gente com um olho na globonew, outro nos noticiários locais, ficamos assim meio sem saber com o que nos indignar primeiro. Assim  não dá, senhores!
Embora a esperança resida na declaração de veto do prefeito, é de morrer de rir, ou de muito chorar. Senhores cidadãos campo-grandenses: foram 27, dos 29 vereadores da capital de Mato Grosso do Sul que atiraram no pé e aprovaram “a censura no ato de ensinar”; por si mesmo, uma absoluta impossibilidade. É impossível, senhores vereadores, (ah! Que vergonha!) aplicar essa “lei” no cotidiano escolar. Educar é um ato político em sua essência. O ensino começa, mas, não se finaliza no emissor; realiza-se no no aprendiz, que, o recebe e o traduz conforme seu lastro de conceitos, adquiridos, ou, simplesmente, percebidos no ambiente ecológico-semiótico-cultural em que se acha envolvido. Ensina-se sob conceitos - paideumas - de alguém que, querendo, ou não, vão ser introduzidos no fazer pedagógico, inexoravelmente.
Tudo bem que haja quem queira a volta dos militares; de bolsonaros salvando-nos do caos; a ressuscitação de brizolas, ulysses. Mas, há, também, senhores, gente que sabe utilizar com economia seus dois neurônios, que olha, enxerga e vê a bizarrice que sai daí e repercute aqui. É muito simbólico que apenas dois, dos seus edis, Campo Grande, tenham conseguido vislumbrar o absurdo da proposta oriunda de um médico e de um professor. Mesmo que venha a ser vetada, e, por um mea culpa coletivo, a manutenção do veto, por seus representantes, façam-me o favor, a cag... já foi feita!
Poxa, moçada! estamos tão ocupados em acompanhar a “grobonews” e o calendário voador de cunha pelo impeachment; as brilhane tacadas do estrategista de Curitiba, apitando com maestria todas as  jogadas entre Judiciário X Executivo; Judiciário X ele mesmo; Executivo X Legislativo; Nós X Eles... Envolvidos em nossas torcidas organizadas pelo caos, nos degladiando em opiniões, pelo whats, faces e twitando, e, vocês, me vem com essa?!
Gente de Sucupira (ops, Campo Grande), Reaja! Campo Grande, Acorde! Se a gente quiser, mesmo que a duras penas, TUDO pode mudar. Eleitores de Campo Grande, parem de brincar com coringas, chocolates, cabeludos, malfeitores, gente sem noção! Precisamos falar sobre isso... amanhã, ok? Aguardem! Ah, uma alvissareira notícia: o impeachment não é golpe, amém?!



Maria Angela Coelho, professora doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo; membro do movimento Por uma cidade Democrática