terça-feira, 25 de novembro de 2014

“SUPOSITÓRIO AQUÁTICO” – PRESENTE DE GREGO

O desastre está aí e vai ser repassado para outro gestor, após milhões de aditivos e inacabado. O ultraje à população sul-mato-grossense já foi feito. Agora, resta-nos que o Instituto dos Arquitetos do Brasil e o a Ordem dos Advogados de Mato Grosso do Sul, ou, qualquer outro cidadão de fibra, acionem o Ministério Público, estadual e federal, o Tribunal de Conta, estadual e federal, a Polícia Federal, a Advocacia Geral da União – e o “escambal”! - em nome de todos nós. O único urbanista a se posicionar contra a construção da aberração do Parque das Nações Indígenas - que não será entregue pelo atual governo, transferindo essa herança maldita para o próximo , além de inviável manutenção - foi o arquiteto CELSO COSTA. Ele (e seu filho também arquiteto André Costa, subsidiaram este artigo escrito por mim em maio de 2011) e que me recuso a alterar o título. À época não foi publicado (a não ser na mídia eletrônica), por ser considerado ofensivo. Pergunto, e, agora, prognóstico? Segue, na íntegra - direto do túnel do tempo e dos meus arquivos- o artigo, sem tirar nem por, “Supositório Aquático goela abaixo”. “ Nem a festa, nem o testemunho de ministros e autoridades são suficientes para que nos conformemos com a autorização da execução da obra (900 dias) para a construção do “maior aquário de água doce do mundo”. Divulgou-se que sairá do tesouro estadual, declaradamente, R$90.000.000,00 para a edificação do projeto, com 6,6 milhões de litros de água doce, 263 espécies e 7 mil animais. Informações revelam, ainda, que a empresa vencedora apresentou proposta de R$ 84.749.754,23 sobre o orçamento inicial, dando um descontinho de seis milhões, duzentos e sessenta mil, trezentos e quarenta e seis reais e setenta e sete centavos. A encomenda deverá ser entregue no 36º aniversário de criação do Estado em 2013, coincidentemente, ao término do mandato da autoridade que a gestou e quer pari-la. O requintado e estranho “supositório aquático” ocupará 18.636 metros quadrados dos 119 hectares do Parque das Nações Indígenas, também aqui, o maior parque urbano do mundo! Ao contrário do que pensam seus idealizadores, será um ultraje ao turismo sul-mato-grossense. Não nos orgulha e não catapultará Campo Grande no cenário mundial, porque a nossa verdade socioambiental, vez ou outra, é revelada na mídia nacional e internacional, sintomatizando a falência administrativa do nosso Estado. São os safaris pantaneiros, as pescas predatórias, os corredores do tráfico de drogas e de animais silvestres, os contrabandos, as invasões de terras produtivas e as ocupações de terras indígenas.A construção do “maior aquário de água doce do mundo” não nos orgulha, porque, o mesmo governo, que vai destinar recursos próprios para a obra, destacou-se como um dos cinco (Estados) que brigou na justiça para não pagar o salário-base dos seus professores, agora, garantido pelo Supremo Tribunal Federal. Porque falta aos nossos conterrâneos um atendimento médico básico e digno na área da saúde - os corredores dos nossos hospitais assim o atestam. Não nos orgulhamos disso, porque nossas mais tradicionais escolas estaduais (Lúcia Martins Coelho e Joaquim Murtinho) revelaram um índice de avaliação no IDEB, de 2,5 e 3,7 respectivamente - o nível mínimo para se considerar uma educação de qualidade é de 6.0. Não, nos orgulhamos, porque nossos jovens morrem como moscas no trânsito e em briga de gangues, inserindo Mato Grosso do Sul na estatística de uma das capitais com aumento gradativo do nível de violência. O projeto do “maior-aquário-de-água-doce-do-mundo”, que infla o ego de seus idealizadores, megalômanos, é, antes de tudo, um absurdo. Os recursos a ele destinados construiriam um conjunto habitacional do tamanho de uma “moreninha”, ou um hospital com 250 leitos, por exemplo. O projeto é inviável, inadequado e, sobretudo, agride os mais elementares princípios arquitetônicos, ao importar e viabilizar um projeto de um profissional que, se por aqui passou, foi pelos ares, de avião, estranho a nossa cultura. O “supositório aquático” é um acinte à capacidade profissional da arquitetura sul-mato-grossense e vilipendia todos os profissionais e todos os órgãos vinculados à arquitetura do nosso Estado. Além de tudo, retrata o desmantelamento do ramo empresarial na área da construção civil do Estado e o desrespeito à categoria e ao ensino de arquitetura de Mato Grosso do Sul. É tão sofisticado que não poderá contar com mão-de-obra local para executá-lo; ela também será importada. O “maior” aquário de água doce do mundo, aqui em Campo Grande, é injustificável e desnecessário, sobretudo, porque - se concretizado – destruirá a capacidade turística de nossas cidades circunvizinhas, cuja localização, a pouco menos de 3 horas de estrada, disponibiliza o mais belo e requintado ecossistema do mundo. Lugares esses, onde - seja para atender objetivos turísticos, ou de pesquisa – se pode, não, apenas, contemplar, mas, mergulhar em um riquíssimo ambiente aquático e desfrutar de toda sua biodiversidade. Tudo isso, nas mais límpidas e cristalinas águas do planeta, em cidades, essas sim, com potencial turístico genuíno e em vias de naufragar de vez se o devaneio de agora se concretizar. Para nós, aí está mais uma vez, dinheiro público jogado fora.” MARIA ANGELA COELHO – doutora e mestre em comunicação e semiótica pela PUC de São Paulo; com informações colhidas dos arquitetos CELSO COSTA – arquiteto com 5 milhões de metros quadrados de obras construídas, galardoado pelo Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, um dos cem Conselheiro de Minerva da UFRJ, Conselheiro Federal (por Mato Grosso do Sul) do Conselho de Arquitetos e Urbanistas - CAU, e, ANDRÉ COSTA – arquiteto e empresário.

domingo, 2 de novembro de 2014

O mundo prescinde do sectarismo religioso

Era uma bonita cerimônia religiosa de Crisma. Um grupo de jovens, acompanhados dos seus padrinhos, perfilados diante do bispo, apresentavam-se à “comunidade cristã”, para reafirmar, agora, de modo mais consciente, seus votos do batismo. O templo, embora lotado, abrigava confortavelmente cerca de 700 pessoas compostas por fiéis, parentes e amigos. O ponto alto da cerimônia seria marcado pelo momento em que os crismandos fariam sua confissão de fé, por meio dos atos que, a partir de então, como cristãos, passariam a renunciar. Era preciso, absolutamente necessário, que renunciassem a certas coisas, para merecerem a “entrada no mundo religioso-católico e tornarem-se, de fato, cristãos”. Para tal, deveriam responder a cada indagação do bispo com um alto e uníssono “renuncio”. Antes, na preleção, a autoridade eclesiástica já havia esclarecido sobre o significado do termo “cristão”, ou seja, “ ungido”: Jesus, o ungido. “Agora, afirmava ela, “vocês são cristãos, ungidos pela crisma”. Sob esse raciocínio, os demais seguidores de Cristo, dos seus exemplos, do seu Evangelho não são cristãos. Essa discriminação e segregação sempre foi comum dentre as religiões. O “outro”, o de fora não é o que os de dentro são. Enfim, todos os que se confrontam com as “verdade religiosas” professadas por determinado grupo não são o que eles apregoam ser. Um das “renúncias”, porém, deixou-me intrigada, pelo equívoco da informação com que fora propalada por tão alta autoridade religiosa. Expressara-se o bispo, mais ou menos assim: “tem cristão que acende vela aqui no domingo e depois vai no “despacho”, na “mesa-branca”, na segunda”, suscitando risos, na plateia. “Se, riem”, continuou, “é porque, sabem do que estou falando e não deveriam nem rir e nem saber”(sic). “Vocês sabem que 30% dos católicos acredita na reencarnação?!” A crença-espírita na reencarnação é a negação da ressurreição (da carne) e da nossa salvação por Jesus”. “A reencarnação é a auto-salvação e prescinde da salvação de Jesus: o indivíduo nasce, nasce, nasce até não precisar mais, por ter aprendido sobre seus erros”. “Jesus, para os espíritas, é apenas um exemplo a ser seguido”. “Mas, a Bíblia nos diz que só nascemos uma vez!” “Jesus, filho de Deus, veio para nos sal-var!”. Xeque-mate! Depois desses (d)esclarecimentos, lá vem a renúncia que me causou espécie. Questionou o bispo aos crismandos: “Renunciam ao esoterismo, à magia, aos despachos e ao ESPIRITISMO?!” “Renunciamos!!!”. A Religião tem um papel fundamental na vida pessoal e na da coletividade, pois, abranda a rudeza da vida, dos seres, nos prometendo, de uma forma ou de outra, a continuidade dessa - às vezes, tão miserável e sem sentido - vida, para melhor. Seu papel e sua função é ligar o homem a Deus (re-ligare), ajudando-o a transcender a realidade, inclusive, a fatalidade da morte. Sem ter recebido qualquer procuração dos cristãos-espíritas, gostaria de informar ao bispo que o Espiritismo nada tem a ver com magia, despacho e, ou, esoterismo. O Espiritismo é uma religião cristã constituída, reconhecida e respeitada que preceitua e procura indicar as práticas prognosticadas pelo Evangelho de Jesus; crê que a Bíblia, embora não seja a palavra Deus, contém a história da religião monoteísta do Deus Único trazida a lume pelo heroico povo de Israel (Antigo Testamento) e que possibilitou, que preparou e que aplainou o caminho para a chegada da Boa Nova (Novo Testamento), trazida ao mundo por um judeu – “filho da casa de Davi”. Jesus não é, apenas, um “bom exemplo” a ser seguido; é o ser angelical mais próximo de Deus que a Terra já teve condições de receber; modelo, sim, da salvação a que todos estarão fadados, em sua única e imortal vida, porém, em um contínuum esforço de auto aprimoramento – ao longo de milênios e sucessivas reencarnações, transitando e transformando treva em luz. O Espiritismo não é uma seita que precise ser renunciada, é uma religião a ser respeitada. Enquanto Francisco, o fraterno, acolhe a todos, cristão, ou não (a comunidade homossexual; às mães solteiras, divorciadas e separadas, afirmando que são “apenas mães”)... Enquanto Francisco, o lúcido, reconhece a validade da teoria do Big-Bang e a teoria da Evolução das Espécies, afirmando que elas não negam a Deus... Enquanto Francisco, o justo, pune os pedófilos e os vendilhões do templo da própria igreja... Enquanto Francisco, o simples, propõe uma reforma institucional sem precedentes, que seja capaz de atualizar - no que puder e lhe permitirem fazer - os conceitos e preceitos medievais da igreja romana católica, aproximando-a do homem de agora, é lamentável testemunhar o segregacionismo, a ignorância e a desinformação pregada como verdade incontestável, submetida a uma cosmovisão ainda tão retrógrada, vinda de tão importante autoridade religiosa. Maria Angela Coelho – professora doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo – http:mamirault.blogspot.com.br