domingo, 27 de julho de 2014

O gado (não) marcado... decidirá

Faz pouco mais de um ano que 1 milhão de brasileiros tomaram as ruas de 388 cidades brasileiras, sem nem mesmo saber porquê. Os protestos tinham motivações difusas, mas, latentes. Não é natural que toda aquela energia tenha simplesmente se dissipada no éter; ela repercute e ainda retumba por aí, e, com ela, o Brasil está mudando. Zé Ramalho, o compositor de uma canção (1980), que todo Brasil cantarola, em poucas palavras, resume bem o estado de consciência que ainda optamos por, confortavelmente, manter. Nesse estado, preferimos viver de promessas vãs, na expectativa de um futuro incerto, tal e qual nos diz a letra: “... O povo foge da ignorância, apesar de viver tão perto dela. E sonham com melhores tempos idos, contemplam esta vida numa cela. Esperam nova possibilidade de verem esse mundo se acabar ”). Em Admirável gado novo (1980), Zé Ramalho faz uma paródia da obra-maior Admirável mundo novo, do escritor inglês Aldous Huxley, publicado em 1932. Na ficção, tudo se passa, paradigmaticamente, no ano 643 - era pós-Ford - quando valores oriundos da família, religião e relacionamentos pessoais com conotação afetiva são considerados inadmissíveis pelos mecanismos de controle do Estado. Dúvidas e insatisfações eram resolvidas pelo soma – remedinho anestesiante do status quo e estimulante da “pronta felicidade”. Nessa era futurista, as massas vivem como gado, sem pensamento, sem senso-crítico, manipuláveis e manipuladas, anestesiadas, rendidas ao estabelecido como normal. Ramalho faz esse alerta há mais de 30 anos, Huxley, há mais de 80. Mas, precisamos acordar desse torpor. Não há nem haverá soma para todo mundo. A última pesquisa registrada no TRE (BR 235/2014), divulgada em 22 do corrente – bem antes do tisunami econômico que nos afeta (e, nos sobressalta) e que desencadeou o pronto anúncio (da máquina?) da fornada de liquidez patrocinada pelo Banco Central - apontava a possibilidade de um segundo turno para a eleição presidencial. A mesma pesquisa que dá 36% para a reeleição e 22% para o 2º. candidato opositor registra - mas, ninguém detalha - que a soma entre os que declararam o voto branco e nulo, somados aos que, ainda, “não sabem ou não responderam” quase se iguala a soma da intenção de votos nos dois primeiros colocados, ou seja: 17% (branco/nulo) +39% (indecisos) = 56%. Pode ser que o voto consciente valha muito pouco nestas eleições, mas, também, pode ser que seu valor não esteja comensurado nas pesquisas de agora, e venha fazer uma enorme diferença, em outubro. Conta simples de se fazer. Éramos 135.804.433 eleitores em 2010, hoje, somamos 141.824.607. Se levarmos em consideração as pesquisas recentes, serão os 39% de indecisos que pode virar o jogo nestas eleições. Somados aos que se declararam pelo voto em branco ou nulo e os que se absterão de votar, as próximas eleições serão o que esses brasileiros deixarem que seja, votando, ou, não. É simples, eles poderão decidir o futuro político, econômico, social, cultural, ideológico do país; consequentemente, influir no nosso futuro. Isso é grave e diz respeito à nossa vida. Nada pior do que a eleição do eleito pela minoria! Há pouco mais de um mês, o Datafolha havia divulgado que 74%, dos seus pesquisados “querem mudanças nos rumos do país”. Se observarmos bem, essa conta não fecha, se levarmos em consideração, também, o índice de rejeição dos dois candidatos que lideram as pesquisas: a candidata à reeleição mantém 36 % e o segundo colocado, 16 %. Nessa contradição retratada nas pesquisas, pode ser que as eleições estejam manipuladas, por medidas paliativas – até subliminares -, e, ganhas pelo voto do gado novo, de Ramalho; dos que, anestesiados, preferem viver o dolce far niente provisório, mantidos em água morna, sob a convicção de que pior (nem melhor) não fica. Porém, ah, porém ... Desde o “vai tomar no ...”, proferido em uníssono pela rotulada elite branca, no Itaquerão, na abertura da malfadada Copa, até agora, ecos do despertar de alguns poucos vão surgindo por aí. Talvez, elas estejam migrando para esse índice de 39% dos indecisos. São vozes indistintas que, pouco a pouco vão formando opinião. O troar dos trovões farão relampejar e chover - questão de tempo. Movimento natural, é irreversível, pena que possa não dar tempo, agora. Mas, também, pode; tudo é possível e nada está tão certo e garantido nesse primeiro pleito com a disponibilidade das novas mídias. Mesmo que alguns cientistas políticos prenunciem que em cenário estável (uso da máquina e do aparelhamento do Estado) a reeleição seja certa, pergunto eu – e tomo a liberdade de alertar a você - que cenário estável é esse que motivou o 5º. maior banco em operação no Brasil (1º. estrangeiro) a alertar aos seus clientes vips sobre o perigo que ronda seus investimentos? E, registre isso em carta aos correntistas, observando que: “a economia brasileira continua apresentando baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta-corrente. A quebra de confiança e o pessimismo crescente em relação ao Brasil em derrubar ainda mais a popularidade da presidente, que vem caindo nas últimas pesquisas, (...). “Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas”. No encerramento aconselha: “Diante desse cenário, converse com seu Gerente de Relacionamento Select para alocar os seus investimentos de maneira mais adequada ao seu perfil de investimento.”? Para mim, soaram as trombetas dos anjos do Apocalipse. Isso quer dizer, minha gente, que a sirene está tocando faz tempo, agora, é hora de correr e buscar o abrigo mais próximo, ou, então, ficar e pelejar. A hora não é a de esperar que o gigante adormecido desperte, porque o gigante adormecido somos nós. A hora é do despertar coletivo, hora de influenciar os indecisos e acreditar que é possível apostar no futuro e ser um agente de mudança na história do Brasil. Maria Angela Mirault – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http:mamirault.blogspot.com.br Publicado em wwww.topvitrine.com.br, www.marcoeusébio.com.br e jornal Correio do Estado, MS, 30.07.2014

domingo, 20 de julho de 2014

Xô, temor servil!

Ei, você! A-c-o-r-d-e! Soaram as trombetas, tocou o despertador, cara-pálida; o torpor da ressaca acabou; o que tinha de ser roubado já foi; Barbosão jogou a toalha, os mensaleiros subiram na mesa; o mundo está em chamas e sem fronteiras; a boiada já foi pro brejo. Pelamor-de-deus, acorde, tire o amor da chuteira, já. Acorde, pois, o Brasil está na UTI, sobrevivendo à custa de aparelhos, sem escolas, sem saúde e muito sem educação. É hora do lusco-fusco, de entressafra, de mula-sem-cabeça, do Armageddon, quando todo o cuidado é pouco. Lobos em peles de cordeiros já nos farejam e estão em nossa caça, com suas vozes melosas e arrastadas, bolsos recheados com merrecas de reais, dotados do mesmo velho vício de nos anunciar suas maravilhas, de nos comprar e de se vender, porque - é bom demais, para eles, manterem-se no poder - a gente é facinha e baratinha demais. Em todas as eleições, prostituímos as urnas e, depois, é muita decepção. Não vale a pena, já vimos esse filme, até na sessão da tarde. Logo-logo milhares de criaturas - a nossa semelhanças - zumbizando, sairão de seus covis e, com suas fotos sorridentes e muito fotoshop estarão inundando nossas ruas, nos outdoors, santinhos e promessas vãs, querendo confundir-nos, dizendo que fez o que não fez e que não fez o que fez. É hora de lançarmos mão da sabedoria milenar de separar o joio do trigo, pois muita gente decente e ficha limpa estará, civicamente, colocando suas vidas e suas caras a tapas e oferecendo uma nova via mais digna. A largada já foi dada. Estamos prestes a mais uma refrega com vistas às eleições majoritárias, em todo nosso país. As cartas já estão marcadas, os candidatos escolhidos ou impostos pelas centenas de milhares de siglas partidárias, referendadas pelo TRE. Não tem mais essa de esquerda, centro, ou direita; está tudo misturado - a maior torre de babel - numa verdadeira orgia cívica. Quem é quem; quem está com quem; quem é oposição, quem é situação? Cai fora disso; não existe mais ideologia de partido. Esse papo já era. Porém... Porém, esta será a primeira eleição alavancada pelas - cada vez mais - surpreendentes inovações tecnológicas na circulação e propagação da informação. Vivemos a era tão propalada por George Orwell, em sua obra 1984, escrita em 1938; a era do big brother – não o da Globo - real, do nosso dia-a-dia, do tempo e do lugar em que todos nos mantemos online. Copiou? Estas eleições serão totalmente diferentes das anteriores, é bom saber. Os verbos comprar e roubar não poderão ser conjugados com tanta eficiência e facilidade, como antes; vai que alguém registra? As classes A, B, C, D, E, F... Z foram dotados de celulares comprados-nas-casas-bahia e todo celular pode baixar um whatsApp qualquer e se comunicar, gratuitamente; o instagran leva qualquer registro imediato paras redes sociais em tempo real; o face é o maior mural de egos do mundo, blogs se atualizam a cada minuto. George Orwell profetizava a existência de uma tela em cada lugar, pelas quais, todos se vigiavam mutuamente em nome do partido, a mando do grande-irmão; em uma Eurásia dominada e mantida com a prática diária obrigatória do minuto do ódio incentivando a delação. Relações e emoções eram proibidas, punidas, e tudo, absolutamente, tudo era passível de ser visto, denunciado, enquanto uma novilíngua alterava significados considerados importantes pelo partido. Mas, bastou um ressurgente, em terra de cegos, para fazer valer toda a obra e desvario da narrativa de Orwell. Contudo, neste momento cívico, decisivo para nossa história, para história do homem na face da terra, para a história do mundo e, quiçá, sobrevivência da espécie humana é de vital importância não nos acovardarmos. Seja onde quer que estejamos, façamos valer a nossa presença nesse mundo, aqui e agora. Todos somos capazes de influenciar alguém, desde que estejamos motivados. Já pensou na importância da nossa ação dia 5 de outubro? Já se imaginou agente de transformação? É preciso, antes de tudo, que a gente se creia capaz de melhorar o mundo, a realidade tão cruel em que estamos, normoticamente, sobrevivendo. Nós podemos combater tudo que nos aflige: a violência - no trânsito, nas ruas, em nossas casas, nas escolas e portas dos hospitais – a impunidade, a corrupção. Somos responsáveis pelo que nos acontece e nossa presença – e importância - em um mundo em chamas é valiosíssima pra ser abdicada, neste momento tão especial. De um em um, todos nós podemos aderir e lutar pela verdade, pela clareza, pelo despertar da festa; difundir uma campanha que nos faça assumir nossas culpas e nossas responsabilidades cidadãs com relação ao futuro da nação. Posicionemo-nos, flagrante e ostensivamente, contra o voto nulo e o voto em branco, busquemos os indecisos. Já pensou 4 anos de um governante eleito com a maioria dos votos válidos? Exemplificando: de um universo de 100, 80 anule, válidos sobram 20. Ou seja, o candidato com 11, ganha o seu mandato à custa dos votos dos famigerados indecisos, dos alienados, dos omissos e dos vendidos! Será o nosso voto consciente, inalienável, sim - esse é moeda de troca de valor, mas, sem preço – que nos trará a riqueza de um país melhor para nossos filhos e netos. Façamos com a nossa maciça presença nas urnas, fazer valer a nossa voz em um único e uníssono clamor capaz de balançar a terra, fazer a lua tremer e o Sol se iluminar em 4ª. Grandeza, com nossa pujança e amor à Pátria brasileira. Com garra, assumamos o nosso lugar na vida, no mundo e no futuro do país. Não podemos nos dar ao luxo de estarmos indecisos, agora. Sobretudo, não reelejamos ninguém que nãos nos tenha bem representado em seus mandatos, estes, já tiveram a sua chance e fracassaram, mas, foram parar lá porque lá os colocamos, com nosso voto, com nossa omissão, com nossa indecisão. Façamos política, visto que políticos todos o somos. Façamos política em nossas discussões e pontos de vista em casa, no trabalho, na rua, nas associações, nas igrejas, no ponto de ônibus, na escola, na repartição. Mudemos esse país, chega de brincadeira, da palhaçada da pátria-de-chuteiras. Xô temor servil, ou ficar a pátria livre, ou, morrer pelo Brasil. Professora Maria Angela Mirault – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo publicado nos sites; www.marcoeusebio.com.br, domingo, 20/07/2014, www.topvitrine.com.br, segunda, 21.07.2014 e no jornal Correio do Estado, Campo Grande, 22.07.2014.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

MARIA ANGELA MIRAULT E MACHADO DE ASSIS AGRADECEM

“Pode não dar em nada”, dirão alguns. Mas, eu creio, antes de tudo, na Justiça Divina, e, também, na Justiça brasileira, mesmo que não venha a ter benefício algum pela luta empreendida. Mas, eu creio que lá adiante, alguém os terá. Porque, quando lutamos, reivindicamos alguma coisa que só nós vimos, só nós fomos buscar fundamento e só nós sabemos que alguma coisa está muito errada, e, por isso, o fazemos não só para si, mas, para toda a coletividade. Por isso, luto, combato, estrilo, boto a boca no mundo. A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (e, não é a única!) tem publicado editais e realizado seus concursos públicos, para cargos do seu quadro permanente, totalmente inconstitucionais. Conheço acadêmico que teve desconsideradas duas obras de sua lavra publicadas em editoras de reconhecimento nacional, pois os “doutores” da banca as consideraram ultrapassadas (mais de 5 anos de publicação) desmerecedoras de pontuação no quesito de produção intelectual. Seria tal como se Machado de Assis, Ruy Barbosa, Monteiro Lobato, se vivos, não estivessem aptos a concorrerem a uma vaga em um concurso público da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. O item 7.7.8 do Edital PROGEP no. 04, de 11 de abril de 2014, para o provimento de vagas para o cargo de professor da classe Adjunto A (doutores), no quadro permanente da UFMS prevê que “as atividades de projeto de pesquisa e extensão, produção bibliográfica, produção técnica ou tecnológica, orientações concluídas, produção artística e cultural, participação em eventos e participação em bancas, SOMENTE SERÃO PONTUADAS SE FOREM REALIZADAS COM DATA A PARTIR DOS ÚLTIMOS CINCO ANOS CIVIS, ANTERIORES A DATA DA PUBLICAÇÃO DESTE EDITAL OU, AINDA, NA VIGÊNCIA DESTE ANO.” Em 15 de maio, último, entrei com uma Manifestação (no. 46373) junto ao Ministério Público Federal, na qual aponto o caráter discriminatório e inconstitucional do referido item, visto que esse ato declaratório da referida Universidade, por ferir o princípio de isonomia, “retira qualquer possibilidade de concorrência leal entre candidatos, independente do tempo de sua produção científica e idade cronológica”. Hoje (11.07.2014), recebi o teor do Despacho MPF/PRMS/PRDC no. 217/2014, datado de 26 de maio do corrente, da lavra do Procurador da República da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, no qual constato que, após análise da temática, o Ministério Público Federal considera que o expediente discriminatório da universidade “tende a trazer benefícios para certa camada de candidatos inscritos (...) podendo tal entendimento, dar margem a DESPRESTÍGIO, DEPRECIAÇÃO E DEVALORIZAÇÃO DE PRODUÇÕES INTELECTUAIS ACADÊMICAS FINDADAS EM PERÍODO ANTERIOR AO FIXADO, PODENDO CINDIR A ISONOMIA QUE DEVERIA REGER AS PREVISÕES EDITALÍCIAS E A ATUAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMO UM TODO”. Mais adiante, considera o Procurador que “(... ) o critério previsto no item 7.7.8 pode GERAR RESTRIÇÃO INDEVIDA DE CANDIDATOS NO CERTAME, NO MOMENTO, ESTE ÓRGÃO MINISTERIAL, NÃO VISLUMBRA EXPLICAÇÃO JURÍDICA PARA DISTINÇÃO ENTRE PRODUÇÕES CIENTÍFICAS REALIZADAS NESTA OU NAQUELA DATA”. E, para gáudio de Maria Angela Mirault e Machado de Assis, o Procurador da República determina, dentre outras coisas, INSTAURAR INQUÉRITO CIVIL para apuração do fato denunciado. Essa é uma luta que vale a pena empreender. Aguardemos, pois, a UFMS tinha cinco dias para se manifestar a respeito e já devem ter-se manifestado. Quando tudo parece normal, é preciso saber a quem recorrer. Eu creio. Professora Maria Angela Coelho Mirault – Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo Mariaangela.mirault@gmail.com