domingo, 24 de janeiro de 2010

Nem só de pão e circo pode viver o homem (*)

Quando morreu, aos 46 anos (1951), havia se passado pouco mais de seis meses da publicação de seu livro (1949). Ele jamais poderia imaginar que 51 anos depois, sua ficção estaria metaforizada em um programa televisivo. O inglês (nascido na Índia), Eric Arthur Blair, sob o pseudônimo de George Orwell, certamente, não poderia prognosticar esse futuro.
Cinco décadas depois (1999), inspirado em Orwell e sua obra, um executivo de TV reuniria e confinaria seres humanos com vistas a mais execrável exposição pública. Pessoas como nós seriam concupicentemente sequestradas, deixariam todos os seus afazeres – amores, carreira, estudos, trabalho – e, por um determinado período de tempo e de vida, abdicariam de seu direito à privacidade, conviveriam na mais completa intimidade, submetidas a torturas bizarras, em troca do mais vil dos metais. Estava lançado no mundo um dos maiores sucessos na área do entretenimento que a arena televisiva proporcionaria. Sabe-se que, o sucesso alcançado no Brasil foge a qualquer parâmetro internacional. Aqui, entrou para o calendário nacional e, fatidicamente, em todo janeiro, lá estamos nós submetidos a mais uma versão do Big Brother-Brasil, já que sua apresentação extrapola a mídia e a emissora que lhe dá vida. É inevitável, mesmo que não queiramos, mesmo que o rejeitemos e resistamos, em algum lugar a repercussão do programa nos atingirá.
Em tempos de décima temporada do programa, vale a pena observar uma curiosidade. Em sua obra, 1984, Orwell concebe a idéia de um tipo de comportamento distópico (utopia negativa) humano: o duplipensar - capacidade, segundo a qual é possível ter e conviver com pensamentos absolutamente antagônicos. Seria isso uma característica humana: aceitar duas crenças contraditórias como verdades, sem conflito e qualquer julgamento lógico, ou ético. O que Orwell talvez não soubesse é que sua proposição seria comprova muitos anos depois por uma sociedade tão distante da realidade dos regimes totalitários insurgentes daquele momento que quis retratar. Obviamente, não estava incluso em sua formulação que a submissão a um sistema tão opressivo - tal como denuncia - fosse aderido (e admirado) por livre iniciativa, tendo como móvel o dinheiro; a notoriedade. Seu romance-ficção exponencia a fraqueza humana, alude a impossibilidade de se resistir à força. Winston Smith - seu antierói - vivencia essa arrasadora realidade: sua quixotesca capacidade de resistência ao status quo dominante terá um limite.
Surpreendente mesmo é a constatação de que o duplipensar tenha se tornado tão comum, em nossos dias. Pois, por mais que (cabeça boa!) tenhamos formado opinião da nefasta influência do Big Brother, parte de nós não deixa de assisti-lo. Famílias reúnem-se frente à tevê, movidos pelo interesse de acompanhar aqueles espécimes que bem poderiam ser qualquer um de nós, torcendo por uns e odiando outros. Parte de nós, que nos julgamos capazes do discernimento de pensamentos nobres, consciência crítica e conduta reta, submete-se, voluntaria e fielmente, à escravidão diária de acompanhar o maior espetáculo e exemplificação de inexistência de valores ético-morais que, no horário nobre, invade as salas de nossas casas e ensinam nossas crianças - sob a concupiscência dos adultos - a aprenderem que tudo vale a pena se os fins são recompensadores.
E esse modelo distópico passa, então, a fazer parte do cotidiano das pessoas que, sem mesmo se darem conta, pagam e contribuem com a incomensurável quantia que sustentará a produção desse espetáculo e a premiação do escolhido.
Estamos diante de um triste espetáculo da arena romana. Os leões somos nós; despudoradamente, as vítimas serão vencidas e eliminadas sob nosso estertor; sangrarão sob nossas garras no teclado dos celulares e computadores; suas entranhas estarão expostas para nosso vil prazer eletrônico. O concorrente mais invertebrado, mais adaptável ao sistema e às regras permanecerá, o mais dissimulado ocultar-se-á entre os demais e o melhor jogador levará um-milhão-e-meio-de-reais (!) para casa. A emissora embolsará dezenas de milhões, patrocinadores e marketeiros comemorarão e o sistema de telefonia móvel exultará, enquanto nós, os subsumidos, continuaremos a contar nossos caraminguás, de todo final de mês. Alguns dos concorrentes conhecerão o sucesso, outros – maioria- serão esquecidos. Despidos, tornar-se-ão capas de revistas, destaques de escola-de-samba, protagonistas de novelas. Tudo decorrente da abdicação da privacidade e da exposição consentida, disputada, negociada sob nossos vigilantes olhares. Para que trabalhar, para que estudar, para quê?! Como é que podemos conciliar nossos valores com esse dulipensar? Como continuar exigindo que nossos filhos vão a escola todas as manhãs, se no exercício diário da prática educativa-familiar, todas as noites, sob nosso consentimento, aprendem que vale tudo para vencer a inocente disputa por um milhão e meio de reais? ]
Talvez houvesse um utópico recurso para se coibir o espetáculo dantesco proporcionado pelos enjaulados-sequestrados e seus carcereiros; o simples gesto do desligar de botões, ou o zapear do controle remoto em busca de melhor programação; quem sabe, a leitura sadia de um livro (talvez a própria obra de Orwell); a resistência e a luta pela preservação da nossa sanidade mental.
Não, Eric Arthur Blair não poderia ter feito um prognóstico tão acertado. Do túmulo talvez se surpreenda e lamente ter inspirado a revelação dessa capacidade insidiosa do duplipensar humano, que revela e expõe muito mais quem, do recesso dos seus lares, assiste, e torce, e paga, e escolhe, e vota, do que o triste espetáculo oferecido pelos sequestrados – confinados – encarcerados – aliciados - vencidos e vendidos no circo romano nosso de cada dia. O fato (basta verificar a audiência) é que poucos de nós são capazes de resistir a hegemonia global-orwelliana, e, simplesmente, conseguem dizer não ao Big-Brother. Parece pouco, mas não é; podem parecer bobos, mas não são, pois nem só de pão e circo pode viver o homem. Há mais o que se fazer das nossas horas que se escoam a cada minuto de vida desperdiçado.

Maria Angela Coelho Mirault – http://mamirault.blogspot.com; mariaangela.mirault@gmail.com
Doutora em Comunicação e Semiótica

* Publicado no Jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS, em 04/02/2010

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

AVATAR: UM MARCO HISTÓRICO DE UMA NOVA E SURPREENDENTE MÍDIA

Avatar não é um filme. É uma experiência absolutamente inovadora. Um marco na história do entrenimento. Não se pode assisti-lo e comentá-lo como a um filme, porque o que se apresenta à experienciação por intermédio do 3D é inusitado demais para permiti-lo. Estamos diante de uma nova híbrida mídia, que utiliza com a maior propriedade toda sua potencialidade. Estamos diante de uma apoteose limítrofe de todas as possibilidades de expressão. É pura arte plástica. É pura literatura. É possibilidade tecnológica-virtual levadas as últimas consequências.
Desde sua invenção, é bem verdade que a mídia cinema passou por significativas transformações. Essas transformações não resultaram apenas de processos de superação tecnológica, como a ocorrida entre o cinema mudo e o sonoro. Essa superação foi uma revolução na história do cinema, transformando-o para sempre. O mesmo está acontecendo agora com Avatar; uma superação divisora de águas em antes e depois. É bem verdade que muitas outras obras vieram pontilhar um caminho diferencial, ainda dentro dos recursos possíveis e disponibilizados pela mídia cinema. Desde o momento em que a tecnologia superou a simples simulação e a retratação de uma dada realidade e passou a nos apresentar enredos inverossimeis, fantásticos e irreais como possíveis, que vimos nos preparando para esse momento Avatar. Matrix e todos os que se lhe seguiram, foram preparatórios para esse extremo de hibridização de linguagens apresentado em Avatar.
Dizer que James Cameron, seu idealizador e diretor é excepcional seria um óbivio lugar-comum, para esse físico que entregando-se à magia do cinema, liderou toda uma surpreendendemente competente equipe para produzir essa obra de arte do espírito humano. O enredo e sua plasticidade fogem totalmente a qualquer concepção que se tenha de linearidade, de narrativa, de espaço e de tempo, apresentando possiblidades surrealistas perfeitamente dignas de um Salvador Dali, de um Kafka, de um DaVince, ou um Michelangelo.
A obra é de uma alquimia perfeita no campo da ética e da estética. Aliás, a estética da obra captura primeiramente o olhar, o cérebro, para pouco a pouco captar a mente e conquistar a alma. Pouco tempo se passa até que, cativados, nos damos conta de que estamos torcendo contra os nossos semelhantes, de tão verossimel a trama se apresenta ao nosso julgamento ético. Estamos conectados. Participando das cenas (estamos em 3D, lembra?) somos avatares, lutamos como avatares, sentimos como avatares e vivemos cada segundo, como os maestros da sinfonia o planejaram, e, mesmo sem termos idéia do que está por vir, sabemos no íntimo de avatares, que já nos tornamos, que o Bem vencerá ao Mal. Porque, na verdade, todos temos esperança de que isso sempre ocorra, mesmo quando testemunhamos que, na experiência da vida real, possa não ser assim. E que, neste caso, o Bem só pode mesmo vir dos outros, dos nossos dessemelhantes alienígenas.
É por isso que Avatar, lotando os cinemas, arrebatando bilheterias, extrapola ás salas de exibição e, fixados em nossas mentes e corações, volta conosco aos nossos lares, mas sem discussão ou interpretações partilhadas. De tão devastador, o silêncio explicita seu alcance, manifesta-se apenas a beleza, a inediticidade da obra. É por isso que partilhamos essa experiência recomendando aqueles do nosso convívio que não deixem de experienciar um momento ímpar na história do cinema; o momento de mudança; o momento em que o cinema deixou para traz e fechando a porta tudo o que ele próprio conhecia e praticava como cinema. É, realmente, estamos diente de uma surpreendemente nova narrativa, em um espetáculo de arte sem comparação, subjugados a uma teconologia sem precedência. O novo recurso dessa mídia híbrida entra forte nesta nova década. E o cinema? O cinema ficou na década passada e já é história. Com talentos como o de James Cameron e a magia virtual, tudo agora é possível e nada mais nos suspreenderá. Ah! A premiação do Oscar terá que ser redimensionada para atender essa nova demanda, porque não dá para competir.

Maria Angela Coelho Mirault – doutora e mestre em Comunicação e Semiotica pela Puc de S.Paulo.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Paiê, o que esses bichinhos estão fazendo ali?!*




Se algum dia o Poder Público - que tem o dever de salvaguardar nossos direitos cidadãos - quiser justificativa para que se defenestre definitivamente os outdoors de nossas vistas e de nossa cidade, provavelmente, não encontrará melhor argumento do que aquele que nos foi oferecido neste final de ano. Não bastassem a poluição urbana, o alto índice de estresse que provocam no nosso cotidiano, o enfeiamento de nossa cidade, os outdoors, agora, também dão ensinamentos metafóricos de baixo nível.

Quem não foi surpreendido por duas peças publicitárias expostas nos tapumes de nossa cidade e que, juntamente com os sorrisos e aparelhos ortodônticos de máus-políticos, rondaram e invadiram nossas vistas, nas semanas que culminaram 2009? Duvido que algum cidadão campo-grandense não as tenha notado. Para reavivar sua memória, vou descrevê-las porque descritas, talvez, elas sejam lidas com a clareza e a crueza com que se apresentaram e invadiram o meu e o seu Natal, repercutindo ainda durante as comemorações do Ano Novo.

Na semana antecedente ao Natal, os tapumes apresentaram um peru (ave-metáfora) complementada pela mensagem escrita para quem não foi tão bonzinho assim. Tudo bem, para bom entendedor meia palavra basta. Mas, o complemento mesmo da mensagem estava na anunciação do anunciante: uma loja de produtos eróticos. A segunda peça, já para o Ano Novo, juntou a ave-metafórica, um pinto e um periquito (periquita?) devidamente (?) travestidos com adereços e fantasias (Não sei porque esqueceram a perereca) e a mensagem subjacente: em 2010, entre com tudo... (como assim ?!).

Enfim, na exposição policrômica, a criatividade publicitária emitia inúmeras mensagens oriundas desse recurso metafórico. Aposto que não teve quem não tivesse tentado traduzí-las e até feito brincadeiras com as tais. Mas, se você esqueceu o que é metáfora, quero lembrá-lo que metáfora é uma figura de linguagem em que um termo substitui outro em vista de uma relação de semelhança entre os elementos que esses termos designam.

Depois dessa aula-dos-outdoors, acho bom a gente se preparar para quando nossos filhos quiserem entender a mensagem apresentada de forma que sejamos capazes de traduzir o que aqueles bichinhos estavam fazendo lá, o que cada uma representava e o que o anunciante queria expressar. Não esqueçamos também de informá-los que essa aula nos foi proporcionada porque aqui (até quando?) o descaso com as leis e o desrespeito com o povo é total. Aproveitemos para esclarecer que, ao invés de se atentarem para essas aberrações licenciosas (libertinas?) poéticas, econômicas, publicitárias - que essa mídia em uma cidade sem leis favorece - nossos ingênuos e castos legisladores, neste final de ano, perderam seu tempo e o nosso dinheiro discutindo e (pasme!) aprovando uma lei absurdamente talibânica intentando proibir (pasme de novo!) a exibição de singelas e inocentes calcinhas nas vitrines de Campo Grande e que por si mesma – ainda bem – sujeita ao veto do prefeito. Procure também não se enrubescer quando tiver que explicar que um “peru que não foi bonzinho (mal agradecido!), para ser agradado, tem que ganhar calcinhas e laçarotes! Para um peru, uma periquita e um pinto produzidos com roupinhas eróticas, o desejo expresso de que em 2010 entre com tudo tem tudo a ver na figura de linguagem utilizada. E mais, que essa pérola do nosso cotidiano foi-nos oferecido pelos otudoors..

Obviamente que há de ter quem os tenha achado apenas engraçados, criativos, inofensivos. Parabéns, se é o seu caso, você é pra lá de moderno – e amoral. Mas, para alguém como eu, que a cada dia fica mais perplexa com a permissividade com que esse tipo de mídia nos afronta a inteligência, dessa vez, extrapolou-se fronteiras intransponíveis.

Senhores vereadores, cá pra nós, confessem, os senhores v-i-r-a-m! Se estavam de recesso e não os viram, as fotos estão no meu blog. O que nos será oferecido nos próximos feriados? Precisamos nos preparar! Já imaginou na Copa do Mundo? O que esperar de tanta criatividade, ganância, licenciosidade? Virão os pleonasmos e os metaforizados expostos junto às suas metáforas? Quem estará adornado com adereços e roupinhas?

O que os senhores estão esperando, caros legisladores, para e-s-t-u-d-a-r-e-m o projeto cidade limpa, que São Paulo conseguiu implementar há alguns anos, regulamentado o uso do espaço público e extinguido de vez esse recurso altamente poluidor e inadequado.

Não proponho a censura (que Deus nos livre!), mas, sim, a normalização do uso desse espaço regulamentado. Esse mesmo espaço que todos transitamos e pagamos (muito caro) por cada centímetro. Não creio em nenhuma justificativa para que uns poucos o utilizem como querem, com os valores que têm, na mente e no bolso. Não sou obrigada a ver e ler essas mensagens. Cadê o meu direito respeitado?! Ministério Público, alô-o, socorro!

Se os senhores vereadores precisavam de algum argumento para arregaçarem as mangas e trabalharem de fato em prol da nossa sanidade física, moral e intelectual, vocês agora o têm. Acho que, dessa vez, juntamente, com nossos maus-políticos, os anunciantes de produtos eróticos extrapolaram o bom senso, a decência e a liberdade de expressão. Como professora do ensino fundamental, que já fui, confesso, não saberia como explicar aos meus alunos, mas, se os senhores quiserem, posso explicar melhor todas as mensagens subjacentes ali implícitas, à luz, inclusive, da Semiótica, dando nome e significado a cada elemento gráfico significante apresentado, em uma sessão solene na Câmara. Topam?


Maria Angela Coelho Mirault – mariaangela.mirault@gmail.com

Cidadã, munícipe, eleitora e doutora em Comunicação e Semiótica.

http: //mamirault.blogspot.com
*Publicado no Jornal Correio do Estado, 18.01.2010, Campo Grande/ MS

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

CRUZES! ELES (OS OUTDOORS POLÍTICOS) VOLTARAM...*






Com que direito, senhores; com que dinheiro, senhores; com que benesse, senhores?
Como ousam voltar a conspuscar e saquear nossos olhares, nossa atenção nesse cenário babilonicamente poluído de nossa cidade? Trazendo com seus máus-exemplos - já denunciados - seguidores implacáveis, vilipendiando nossa paciência, nossa cidadania, nossos direitos?
Como “arrudas” daninhas vicejando nos tapumes e, sorrrateiramente, desejando-nos um Feliz Natal, em um quase final de tempo que prenuncia, quiçá, outro novo tempo, de uma nova década, de um novo ano. Eleitoral!
O fotoshop de suas faces coloridas nos agridem desses espaços pré-eleitorais. O que nos querem dizer, verdadeiramente, as mensagens desses andrés, márcios, marcos, valteres, mocas... o que nos pré-anunciam; a memorização de suas mensagens subliminares de suas candidaturas à reeleição, em 2010?
Como ousam invadir assim nosso espaço urbano, nesses tempos de congraçamento, de busca de paz, de convívio fraterno na festa de todos os povos e crenças, em que comemoramos a verdade cristã incompatível com artifícios e artimanhas políticas desse jaez? Não, senhores “feudais”, não queremos seus votos de congratulações porque nesses votos não há sinceridade; eles embutem e evidenciam suas vis segundas intenções.
Para quem sabe ler um pingo é letra. Suas mensagens deixam entrever o visgo do desrespeito às leis e aos direitos de um povo cansado de testemunhar a “criatividade” com que o fazem, nas barbas da justiça, das instituições e de todos nós. O pior é que os que votam nesse tipo de gente não sabem pensar, são sem dúvida os analfabetos funcionais “fabricados” pelo nosso mau-sistema-educacional, justamente, com esse propósito – captar a forma sem se dar conta do conteúdo!
Cruzes! Exorcismo! Os tapumes publicitários ainda não foram banidos de nossas vistas, nem de nossa pobre-linda e pré-histórica cidade. Enquanto os poderes econômicos e políticos se fartam desse recurso, onde estará (de receso?) o Ministério Público; o Tribunal Eleitoral e a OAB - cuja co-irmã, em Brasília, age e exige punição para “um” arruda. Por que, aqui, os nossos “arrudas” continuam imunes à fiscalização? Por quê? Se essas personalidades políticas (que brotejam e vicejam) utilizam seus recursos financeiros para a descabida exposição, é porque seus bolsos estão fartos desses recursos; se ganharam gra-ci-o-as-mente esses espaços é porque, sem dúvida, trocas serão feitas longe dos nossos olhos, de nossos conhecimentos. Muito longe dos mesmos escandalosos tapumes. Assim cultivam-se e adubam-se arrudas, também, em nosso solo vilanizado.
Recolham, senhores, suas feições bisonhas, risonhas e grotescas de nosso espaço público. Poupem-nos dessa travestida cortesia natalina. Não banalisem nossas relações cidadãs-eleitorais. Não anunciem o óbvio somente para serem vistos e lembrados antes do tempo. Deixem-nos em paz, pelo menos até julho de 2010, quando, então, claramente, suas faces nos explicitarão o que anunciam, agora – suas óbvias candidaturas. Não há leis a serem cumpridas, aqui, em Mato Grosso do Sul? Os tapumes eleitorais-natalinos intentam o engodo, mas, a quem pensam enganar? Por acaso, poderiam, tal e qual, descarada anunciação, ocuparem o mesmo espaço público e lançarem precipitadamente suas pre-candidaturas, aqueles que se encontram do lado de lá, do poder político, econômico e arbitrário de agora, os que se encontram na oposição eleitoral? Admitir-se-iam os rostos sorridentes de zecas, teruéis, pedros e amarildos nos tapumes que os senhores ocupam? Responda-nos, por favor, o Minstério Público, o Tribunal Regional Eleitoral, a Seccional da OAB/MS.
Cruzes! Sem dó nem pidedade, sem compostura e respeito vocês voltaram! Cabe-nos apenas a lembrança de seus nomes, seus rostos e atitudes, na hora certa de decidirmos, nas urnas. Cabe-nos apenas que pensemos, cuidadosamente, se é desse tipo de gente que precisamos; se é desse tipo de político que merecemos. E na hora que a nossa voz tem vez, lembremo-nos dos seus sorrisos, de suas caras, de seus artifícios eleitoreiros e, manifestemos nossa vontade, com lucidez. È disso que precisamos.
Não se esqueçam, contudo, nem sempre o que intentamos dizer repercute como desejaríamos. A comunicação é um processo que só se realiza no receptor. É ele quem “escreverá” a mensagem. Por isso, sempre, dizemos mais o que não queremos. Poderiam ter poupado seus bolsos (e os nossos!) Pois, para aqueles que ainda teimam em reconduzi-los ao cenário político sul-matogrossense, bastariam algumas reles camisetas.
Maria Angela Coelho – munícipe, eleitora, Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo
Publicado em 06.01.2010- Jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS