sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

CRUZES! ELES (OS OUTDOORS POLÍTICOS) VOLTARAM...*






Com que direito, senhores; com que dinheiro, senhores; com que benesse, senhores?
Como ousam voltar a conspuscar e saquear nossos olhares, nossa atenção nesse cenário babilonicamente poluído de nossa cidade? Trazendo com seus máus-exemplos - já denunciados - seguidores implacáveis, vilipendiando nossa paciência, nossa cidadania, nossos direitos?
Como “arrudas” daninhas vicejando nos tapumes e, sorrrateiramente, desejando-nos um Feliz Natal, em um quase final de tempo que prenuncia, quiçá, outro novo tempo, de uma nova década, de um novo ano. Eleitoral!
O fotoshop de suas faces coloridas nos agridem desses espaços pré-eleitorais. O que nos querem dizer, verdadeiramente, as mensagens desses andrés, márcios, marcos, valteres, mocas... o que nos pré-anunciam; a memorização de suas mensagens subliminares de suas candidaturas à reeleição, em 2010?
Como ousam invadir assim nosso espaço urbano, nesses tempos de congraçamento, de busca de paz, de convívio fraterno na festa de todos os povos e crenças, em que comemoramos a verdade cristã incompatível com artifícios e artimanhas políticas desse jaez? Não, senhores “feudais”, não queremos seus votos de congratulações porque nesses votos não há sinceridade; eles embutem e evidenciam suas vis segundas intenções.
Para quem sabe ler um pingo é letra. Suas mensagens deixam entrever o visgo do desrespeito às leis e aos direitos de um povo cansado de testemunhar a “criatividade” com que o fazem, nas barbas da justiça, das instituições e de todos nós. O pior é que os que votam nesse tipo de gente não sabem pensar, são sem dúvida os analfabetos funcionais “fabricados” pelo nosso mau-sistema-educacional, justamente, com esse propósito – captar a forma sem se dar conta do conteúdo!
Cruzes! Exorcismo! Os tapumes publicitários ainda não foram banidos de nossas vistas, nem de nossa pobre-linda e pré-histórica cidade. Enquanto os poderes econômicos e políticos se fartam desse recurso, onde estará (de receso?) o Ministério Público; o Tribunal Eleitoral e a OAB - cuja co-irmã, em Brasília, age e exige punição para “um” arruda. Por que, aqui, os nossos “arrudas” continuam imunes à fiscalização? Por quê? Se essas personalidades políticas (que brotejam e vicejam) utilizam seus recursos financeiros para a descabida exposição, é porque seus bolsos estão fartos desses recursos; se ganharam gra-ci-o-as-mente esses espaços é porque, sem dúvida, trocas serão feitas longe dos nossos olhos, de nossos conhecimentos. Muito longe dos mesmos escandalosos tapumes. Assim cultivam-se e adubam-se arrudas, também, em nosso solo vilanizado.
Recolham, senhores, suas feições bisonhas, risonhas e grotescas de nosso espaço público. Poupem-nos dessa travestida cortesia natalina. Não banalisem nossas relações cidadãs-eleitorais. Não anunciem o óbvio somente para serem vistos e lembrados antes do tempo. Deixem-nos em paz, pelo menos até julho de 2010, quando, então, claramente, suas faces nos explicitarão o que anunciam, agora – suas óbvias candidaturas. Não há leis a serem cumpridas, aqui, em Mato Grosso do Sul? Os tapumes eleitorais-natalinos intentam o engodo, mas, a quem pensam enganar? Por acaso, poderiam, tal e qual, descarada anunciação, ocuparem o mesmo espaço público e lançarem precipitadamente suas pre-candidaturas, aqueles que se encontram do lado de lá, do poder político, econômico e arbitrário de agora, os que se encontram na oposição eleitoral? Admitir-se-iam os rostos sorridentes de zecas, teruéis, pedros e amarildos nos tapumes que os senhores ocupam? Responda-nos, por favor, o Minstério Público, o Tribunal Regional Eleitoral, a Seccional da OAB/MS.
Cruzes! Sem dó nem pidedade, sem compostura e respeito vocês voltaram! Cabe-nos apenas a lembrança de seus nomes, seus rostos e atitudes, na hora certa de decidirmos, nas urnas. Cabe-nos apenas que pensemos, cuidadosamente, se é desse tipo de gente que precisamos; se é desse tipo de político que merecemos. E na hora que a nossa voz tem vez, lembremo-nos dos seus sorrisos, de suas caras, de seus artifícios eleitoreiros e, manifestemos nossa vontade, com lucidez. È disso que precisamos.
Não se esqueçam, contudo, nem sempre o que intentamos dizer repercute como desejaríamos. A comunicação é um processo que só se realiza no receptor. É ele quem “escreverá” a mensagem. Por isso, sempre, dizemos mais o que não queremos. Poderiam ter poupado seus bolsos (e os nossos!) Pois, para aqueles que ainda teimam em reconduzi-los ao cenário político sul-matogrossense, bastariam algumas reles camisetas.
Maria Angela Coelho – munícipe, eleitora, Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo
Publicado em 06.01.2010- Jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS

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