sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

AVATAR: UM MARCO HISTÓRICO DE UMA NOVA E SURPREENDENTE MÍDIA

Avatar não é um filme. É uma experiência absolutamente inovadora. Um marco na história do entrenimento. Não se pode assisti-lo e comentá-lo como a um filme, porque o que se apresenta à experienciação por intermédio do 3D é inusitado demais para permiti-lo. Estamos diante de uma nova híbrida mídia, que utiliza com a maior propriedade toda sua potencialidade. Estamos diante de uma apoteose limítrofe de todas as possibilidades de expressão. É pura arte plástica. É pura literatura. É possibilidade tecnológica-virtual levadas as últimas consequências.
Desde sua invenção, é bem verdade que a mídia cinema passou por significativas transformações. Essas transformações não resultaram apenas de processos de superação tecnológica, como a ocorrida entre o cinema mudo e o sonoro. Essa superação foi uma revolução na história do cinema, transformando-o para sempre. O mesmo está acontecendo agora com Avatar; uma superação divisora de águas em antes e depois. É bem verdade que muitas outras obras vieram pontilhar um caminho diferencial, ainda dentro dos recursos possíveis e disponibilizados pela mídia cinema. Desde o momento em que a tecnologia superou a simples simulação e a retratação de uma dada realidade e passou a nos apresentar enredos inverossimeis, fantásticos e irreais como possíveis, que vimos nos preparando para esse momento Avatar. Matrix e todos os que se lhe seguiram, foram preparatórios para esse extremo de hibridização de linguagens apresentado em Avatar.
Dizer que James Cameron, seu idealizador e diretor é excepcional seria um óbivio lugar-comum, para esse físico que entregando-se à magia do cinema, liderou toda uma surpreendendemente competente equipe para produzir essa obra de arte do espírito humano. O enredo e sua plasticidade fogem totalmente a qualquer concepção que se tenha de linearidade, de narrativa, de espaço e de tempo, apresentando possiblidades surrealistas perfeitamente dignas de um Salvador Dali, de um Kafka, de um DaVince, ou um Michelangelo.
A obra é de uma alquimia perfeita no campo da ética e da estética. Aliás, a estética da obra captura primeiramente o olhar, o cérebro, para pouco a pouco captar a mente e conquistar a alma. Pouco tempo se passa até que, cativados, nos damos conta de que estamos torcendo contra os nossos semelhantes, de tão verossimel a trama se apresenta ao nosso julgamento ético. Estamos conectados. Participando das cenas (estamos em 3D, lembra?) somos avatares, lutamos como avatares, sentimos como avatares e vivemos cada segundo, como os maestros da sinfonia o planejaram, e, mesmo sem termos idéia do que está por vir, sabemos no íntimo de avatares, que já nos tornamos, que o Bem vencerá ao Mal. Porque, na verdade, todos temos esperança de que isso sempre ocorra, mesmo quando testemunhamos que, na experiência da vida real, possa não ser assim. E que, neste caso, o Bem só pode mesmo vir dos outros, dos nossos dessemelhantes alienígenas.
É por isso que Avatar, lotando os cinemas, arrebatando bilheterias, extrapola ás salas de exibição e, fixados em nossas mentes e corações, volta conosco aos nossos lares, mas sem discussão ou interpretações partilhadas. De tão devastador, o silêncio explicita seu alcance, manifesta-se apenas a beleza, a inediticidade da obra. É por isso que partilhamos essa experiência recomendando aqueles do nosso convívio que não deixem de experienciar um momento ímpar na história do cinema; o momento de mudança; o momento em que o cinema deixou para traz e fechando a porta tudo o que ele próprio conhecia e praticava como cinema. É, realmente, estamos diente de uma surpreendemente nova narrativa, em um espetáculo de arte sem comparação, subjugados a uma teconologia sem precedência. O novo recurso dessa mídia híbrida entra forte nesta nova década. E o cinema? O cinema ficou na década passada e já é história. Com talentos como o de James Cameron e a magia virtual, tudo agora é possível e nada mais nos suspreenderá. Ah! A premiação do Oscar terá que ser redimensionada para atender essa nova demanda, porque não dá para competir.

Maria Angela Coelho Mirault – doutora e mestre em Comunicação e Semiotica pela Puc de S.Paulo.

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