quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Somos todos previsivelmente iguais

Não, não existe a ética da política, tampouco a ética médica, a ética jurídica, dessa ou daquela seita ou religião. Existe a Ética, simplesmente. Não confundamos costumes, crenças, ou moral de determinado povo, em determinada época, com a Ética em sua propriedade de um categórico universal. Esta é ampla, inegociável, invulnerável às leis, aos procedimentos e às normas, estas sim, dependentes do filtro dos valores culturais que se cultuam nessa e ou naquela sociedade, neste ou naquele tempo. Nas eleições expressamos sempre nossos costumes, nossas crenças e valores, nossa decisão, sempre parciais e incompletos. Portanto, não reclamemos daqueles a quem elegemos; no conjunto, somos nós. Se preferimos eleger um representante de determinado grupo político em detrimento de outro, é porque foi assim a nossa convicção coletiva, e, portanto, legitimamente representativo da maioria. Dia virá em que não precisaremos mais das normas e padrões de coerção, já que nossa consciência - social, cívica, política - apontará resultados com menores possibilidades de erros. Estaremos cada vez mais próximos dos acertos, principalmente, porque, dentre nós, prevalecerá os bons e salutares costumes, os ideais valores e estaremos elegendo gente que, como nós, terão valores e costumes ideais e éticos. Para termos melhores políticos, teremos de ser melhores do que ainda somos, pois, é dentre nós que eles surgem. E para saber quem somos, ou, em que patamar está nossa caminhada rumo ao categórico universal da Ética, basta que façamos uma retrospectiva nos personagens a quem elegemos desde que, finda a ditadura, nos foi permitido eleger nossos governantes. Não é que fomos, ou éramos, ingênuos, ou passíveis de sermos enganados; eles, os que hoje, inclusive, enfrentam o Supremo foram por nós elevados à condição que lhes permitiram mandos e desmandos em nosso próprio mando. Não arrombaram, não assaltaram, não invadiram trincheiras, lá estavam como representantes de um povo, agindo segundo os padrões predominantes e vigentes em nossa (ainda) imatura sociedade brasileira. Se queremos saber como anda nosso padrão ético, basta que analisemos nossas propagandas, nossos programas de tevê, nossas novelas, nossas músicas, nossos ídolos, nossas manchetes de jornais. Ali nos encontramos; somos nós todos tão iguais e previsíveis. Mas, o patamar da Ética é o farol que ilumina o mal feito, o denuncia e expõe. É ele que de vez em quando surge e direciona as mudanças que nós mesmos empreendemos e expressamos em nossas leis e em nosso comportamento cotidiano, aquele que praticamos mesmo quando ninguém nos vê. Pode ser que o ano de 2013 seja apenas um ano de preparativos para a Copa do Mundo e, este, preparativo para as eleições majoritárias da nação brasileira, em 2014. Alguém tem dúvida de quem elegeremos? Antes, porém, podemos exercitar a democracia, votar e escolher entre Amijube, Fuleco, ou Zuzeco, e dar nome ao mascote da Copa, e, com certeza, em mais um ganhador do big-brother-2013. Sob a perspectiva de que povoamos um pequeníssimo lugar, de um universo dinâmico, localizado no vórtice de forças irrefreáveis submetidos às leis e forças universais, girando em torno de uma estrela de mediana grandeza, na cauda de uma insignificante galáxia, dentre as mais de 500 bilhões que nossos artefatos científicos conseguiram recentemente sinalizar, nada disso tem importância. Caminhemos, pois, temos muito tempo e muito chão. Enquanto isso, façamos nosso retrato, a partir daqueles a quem entregamos o direito de decidir por nós. Somos tal como eles; somos todos tão previsivelmente iguais. Maria Angela Coelho Mirault - Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo http://mamirault.blogspot.com

sábado, 20 de outubro de 2012

O trabalhador espírita diante da transição planetária

Vivemos, é certo, um momento apocalíptico. Basta que estejamos atentos aos noticiários para que reconheçamos esse instante de transição planetária. O caos aparentemente instalado, diagnosticado em todo lugar, tem-se, facilmente, detectado nas artes. Filmes, novelas, literatura, música, internet, jogos eletrônicos apresentam como nunca antes visto a temática da violência, da luxúria; da perda da infância, da ludicidade, do entretenimento saudável, do sonho, da beleza, enfim, que ainda há na vida. No entanto, paradoxalmente, abordagens com temática espiritualista conduzem milhares de nós aos cinemas, às audiências de tevê, ao consumo da literatura de autoajuda. E nesse interlúdio em que o caos parece imperar, enquanto nova ordem emerge aqui e ali, a sede por uma crença brota da grande maioria dos corações em conflito. Surgem, para todos os gostos e necessidades, religiões parcimoniosas que induzem criaturas à velha e ineficaz barganha com Deus. Nunca, como agora, os vendilhões dos templos se apresentam de todas as formas e por todos os canais a uma multidão que procura um lenitivo para seus temores. Luta-se e morre-se em nome de um Deus, de uma crença, de uma “verdade”, com mais vigor e “certeza’, do que há séculos da sangrenta História Religiosa da Humanidade. Nesse cenário, a Doutrina Espírita não pode ser apenas considerada mais uma opção de crença. Esclarecedora, Consoladora que é, foi disponibilizada pelo incansável e eficiente trabalho do Professor Hipolyte Leon Denizard Rivail, em meados do século XIX, de forma a servir de alívio e, aí, sim, de autoajuda ao homem do nosso tempo. Inúmeros e abnegados trabalhadores dos Planos Superiores empenharam-se, e ainda se empenham, para a magnitude da tarefa; de auxiliar a Humanidade nessa transição à caminho das coisas e do Reino de Deus. Nessa conjuntura, a responsabilidade dos trabalhadores de última hora é imensa. Nenhum de nós foi trazido a esse apostolado compulsoriamente, visto que, no trabalho da difusão e divulgação da Mensagem Cristã, só se aliam voluntários, seja qual for o lado em que nos mantenhamos filiados; como trabalhadores do bem, ou opressores da luz. Quantos são os obstáculos e os obstaculizadores da implantação do Reino de Deus, tal como já nos previra Jesus? De que lado, estamos, pois? Somos mensageiros do bem, ou nos mantemos filiados aos que impedem e conspurcam a propagação da Boa Nova? Essa reflexão precisa ser feita com urgência, individualmente, pelo trabalhador espírita: a quem tenho depositado minha consciência e emprestado minha sensibilidade; com quem me tenho afinado, sintonizado e representando, nesse contexto, afinal? Não podemos, mais, nos tempos em que vivemos, hoje, vivenciar, em nossos ambientes religiosos, momentos e práticas de trivialidade, nos assemelhando, copiando e arremedando outras práticas religiosas. É hora de nos questionarmos, sobre as atitudes que privilegiamos, em nossos Centros Espíritas, que deveriam ser, antes de tudo, lugares para a promoção do estudo e da prática da caridade Evangélicos, à luz dos Postulados Cristão trazidos á lume pela Codificação. Só o conhecimento da Verdade, proporcionado pelo estudo sistemático disponibilizado pela Doutrina Espírita - que veio para arejar esses postulados milenares - é capaz de trazer lenitivo à dor desse momento. Não podemos deixar que nossos lugares sejam apenas mais um, dentre inúmeros outros, lugares de entretenimento, de rituais, de manipulação, de submissão e de medos, fadados a se tornarem mais uma dente milhares de instituições religiosas equivocadas de atração, de vendas de ilusões, promoção e de barganha com as Leis de Deus. Paulo de Tarso, o convertido de Damasco, é o mais exemplar modelo de trabalhador a ser seguido por todos os cristãos. Tão logo se sentiu tocado pelo Mestre, nunca mais voltou a ser o que era. Transgressor das normas e padrões vigentes em sua cultura judaico-greco-romana, a qual defendia apaixonadamente, transitou, sem dúvidas e sem disfarce, para assimilar novos valores e difundir a Boa Nova. O Apóstolo dos Gentios, sem qualquer hesitação, desde sua convocação, trilhou passo-a-passo as pegadas traçadas por Jesus, cumprindo com determinação o seu destino, filiando-se as hostes do Bem. No episódio vivido na estrada de Damasco, não foi convencido, convenceu-se, não foi convertido, converteu-se. “Senhor, o que queres que eu faça?” – marco da transmutação de Saulo em Paulo – ocorreu no foro intimo; a luz que brilhou do seu interior destinava-se também a iluminar um mundo sedento, tal como hoje, dos postulados cristãos. Preparou-se, contudo, para a grandeza da tarefa que abraçou. De imediato, percebeu que não lhe bastava a conversão sem o estudo, a reflexão e a vivência dos postulados que conquistaram seu coração. Sem ter sido um dos apóstolos que conviveram com Jesus, tornou-se o maior dos divulgadores da Verdade que Cristo veio propagar, a Verdade que reina e impera em toda a Criação; a Verdade do Evangelho de Jesus que veio codificar a Mensagem Cósmica de Deus aos homens de todos os tempos desse planeta. Paulo de Tarso deve ser o modelo do que intentamos ser em nossa jornada de trabalhadores da Seara do Mestre, muito longe ainda, é verdade, da prontidão com a qual correspondeu à convocação de Jesus. Talvez ainda não tenhamos nos encontrado verdadeiramente com o Mestre em nossa estrada de Damasco, mas, talvez, já estejamos a caminho. Talvez já lhe possamos apresentar as qualificações da perseverança e fidelidade, tal como Paulo o fizera com sua fidelidade à Torá e a Moisés. Talvez já tenhamos auferido o lastro necessário para a tarefa grandiosa de ombrearmos na caminhada das Forças do Bem. Mas, nos preparemos, sem que tergiversemos; não nos acovardemos, nem minimizemos nossa missão. A Doutrina Espírita, tal como já revelara, Allan Kardec, não necessita de adeptos, senão os esclarecidos. Evangelizemo-nos, esclarecemo-nos, estudemos, vivenciemos o Cristianismo antes de nos colocarmos na condição de medianeiros e condutores de outras almas, para que tenhamos segurança em nosso caminhar, para que sejamos água pura aos sedentos desta jornada tão crucial para todos nós. Diante do fracasso de suas primeiras empreitadas, Paulo deixou a afoiteza de lado, retirou-se para o deserto, preparou-se, antes de assumir de fato a tarefa de propagação do Cristianismo. Fortalecido nas Escrituras, que se lhe arraigaram ao patamar de conhecimento anterior, saiu a pregar e a propagar a Mensagem de Deus aos homens amadurecidos ao seu entendimento. Naquele tempo, tal quanto hoje, o Consolador requeria de seus profitentes uma disponibilidade pretérita e complementar à aquisição das Leis Maiores da Vida. Mergulhemos, pois, nos passos de Paulo e, com ele, sigamos o doce Nazareno, sem dúvidas e sem reservas; pois nada mais atual do que a trilha e o exemplar caminhar de Paulo, na história do Cristianismo. As coisas de Deus, embora, urgentes, não devem ser apressadas, preparemo-nos, pois, e caminhemos à luz da Doutrina Espírita, para que possamos albergar a nossa volta outras e outras almas na mesma sintonia e exemplar caminhada rumo ao Reino de Deus. Maria Angela Coelho Mirault – colaboradora da Federação Espírita de Mato Grosso do Sul – Campo Grande, 12.10.2012