domingo, 5 de agosto de 2018

O efeito Bolso-Míriam




            A animosidade permeou as entrevistas no “padrão” da maior rede de televisão concessionada do Brasil. Todos os candidatos foram desfolhados em suas egocentricidades e suas idiossincrasias. Tudo em nome da falácia da pseudo-neutralidade-jornalística; que, é bom que se declare, em alto e bom som, não existe.  Boa parte da pauta foi usada, não para o esclarecimento de possíveis propostas para a governança do caos vivido por nós, mortais brasileiros.  Só para exemplificar, na área da segurança, estamos em guerra deflagrada, mas, não declarada, com o narcotráfico, sitiando e matando civis e policiais, sob o comando de chefes de facções e narcotraficantes, nas capitais brasileiras. sem adentrar as demais áreas estruturais, como saúde, economia e educação. São esses os desafios do país, que o ungido pelo voto receberá no dia primeiro de janeiro de 2019.
            Assistimos embates grotescos entre entrevistados e uma quantidade excessiva do primeiro e segundo time de jornalistas da emissora. De certo, que todos almejam alçar a gestão desse governo desgovernado. Todos declaram saber o lugar em que a fera ruge. “Tirar todos os 63 milhões do SPC” foi uma boa sacada, e, se tudo dependesse apenas disso, a eleição já estaria decidida. Mas, não é bem assim que a música toca.
            O que mais ficou evidente é que o formato da programação foi uma lástima. Um time de copa-do-mundo tensionando, todo o tempo, inamistosamente, os cinco; mais como bandidos, do que como convidados. Alguns se mantiveram na boa-educação, mas, mesmo assim, foram constrangidos a formular a frase “eu também sou corrupto, eu, se não participo, sei das maracutaias do meu partido, sou quase um inelegível”.
            Uma das entrevistas, porém, fixou a marca do evento jornalístico. Sob o comando da premiada escritora-âncora-jornalista, apresentou cenas patéticas de deboche e constragimento. O último acuado terminou sua pífia participação com deboche e gargalhadas, enquanto todos os perguntadores silenciados, mantinham a postura de seriedade, conforme o “manual” prescreve. Contudo, mais surpreendente do que já havia acontecido, foi o “editorial”- a voz da empresa - ditado, monossilabicamente, ao ouvido da apresentadora,  e,  por ela, roboticamente, repetido que marcou o inusitado da situação. O texto saiu-se como um cheque-mate; calou as gracinhas e gargalhadas do incontido candidato, mas, por sua vez, tal fato virou meme; repercutindo, negativamente, pela internet. Na estratégia de desmentir o candidato, a emissora tentou justificar o injustificável, e, apelou, sem permitir a réplica do candidato, aquietado e silenciado.
            Pelo visto, durante esse perigoso período, teremos de tudo, desde um partido insistindo em melar o pleito, com um candidato inelegível, quanto pela qualidade inerentes aos próprios candidatos e seus vices (não nos esqueçamos de que estaremos elegendo os vices, para serem vices!), coligações e promessas absurdas. Contudo, vale a pena ressaltar que devemos prestar atenção na performance jornalística, seja na tevê aberta, ou, tevê paga. E, mais, na repercussão  do tête-à-tête  das redes sociais. Um espetáculo, em um curto espaço de tempo até o Natal, com resultados imprevisíveis para os próximos anos. Que o povo saiba ler nas entrelinhas, e, realmente, escolher dentre o que está no varejo, porque, apesar da gente nem imaginar, essa eleição pode piorar a conjuntura atual, pra lá de péssima.  Gargalhadas, piadas, tiradas rasteiras, certamente, não podem governar um país. Autoritarismo e “sabedência”, também, não.
            Que os letrados intelectuais (?!) da imprensa, seus produtores e pauteiros saibam realmente com que tipo de gente estão lidando: seja de nossa parte, do lado de cá, seja do lado de lá da fronteira, desse big-brother eleitoral, no qual um dos candidatos, pífios, ou, não, queiramos, ou, não, receberá a faixa presidencial.

Maria Angela Mirault – doutora e mestre em comunicação e semiótica pela PUC de São Paulo.
https:mamiraut.blogspot.com

5/08/18

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