terça-feira, 18 de agosto de 2020

Que Signos são esses

Eu sei que existem mulheres vítimas de companheiros implacáveis, que sofrem toda uma vida, por medo, imposição, incapacidade física e psicológica de se defenderem; vergonha da sociedade, até. Eu sei dos sofrimentos inenarráveis da dor que sangra um coração muito antes do primeiro soco e dos arroxeados das pancadas, das fraturas expostas, das feridas rasgadas, do sufocamento e da morte. Mulheres são frágeis em suas dores ocultas e mascaradas, que ninguém vê. Fortes, contudo, na luta pela sobrevivência; nas dores do parto, semeando o amanhã. Quantas dilaceram sua alma, nos pedaços que vendem de si, nas violências e estupros aos quais se submetem e se entregam, no açougue dos prazeres? Mas, também vitimadas por “maridos”, “namorados”, “amantes”, em um mundo tão obscenamente indecente e sem qualquer atributo de amor?

Um paradoxo médico-legal colocou em xeque as frias leis do país no quesito pena-de-morte, escancarando nossa hipocrisia! Um assassinato foi cometido pela ciência, por médicos que pronunciaram o Juramento de Hipócrates, quando colaram grau, e consideraram-se aptos a cumprir a Lei no limite estreito entre Vida e Morte, Um ser humano, quase pronto para nascer, gestado durante 22 semanas, teve sua vida interrompida  pelo procedimento de “morte-fetal” (injeção de cloreto de sódio no coração sadio, daquela vítima indefesa e sem culpa). Uma vida, sim! Gerado, sim, durante a prática sucessiva e criminosa - no corpo e na alma de uma criança de dez anos - que ninguém protegeu; ninguém viu ao longo de quatro anos. Duas vidas infantis destruídas, de qualquer forma!

É signo de um mundo, indignamente, real! Signo de um Tempo assustador, que bate em nossa cara, enxovalhando toda raça humana.  

Que mundo é esse que não se remedia, que não aprende? Milhões de mortos pela Pandemia, de março pra cá, não o ensinou, não o educou, não o fez refletir. Nas casas, nos guetos, nas ruas, o mesmo ar, antes livre e abundante, que falta aos pulmões, mata ricos e miseráveis; todos, dolorosamente.  

Não. Não foi a Pandemia que enlouqueceu esse mundo; é a depuração do que está no lodo obscuro e oculto de nossas sombras, que emerge, e, está acontecendo agora! O mundo já enlouquecera; estávamos e estamos todos acometidos, em menor ou maior grau, desse odor mal cheiroso e nauseabundo, acumulado e registrado nas teias da vida. Dizem os grandes sábios de corrente espiritualista que nós, seres divinos, imortais, invencíveis e indestrutíveis que somos - porque somos a centelha do Criador - estamos no lugar certo, na hora – aziaga - certa, com a sociedade certa; escolha essa que fizemos ao adentrarmos aos mistérios da vida. Quem sabe o que andamos plantando, como semeadores da sociedade, ao longo dos milênios? Quem olhou pra trás e viu, mesmo, a luta, a crueza da vida, as dores de todos os que nos antecederam? Nativos e imigrantes, escravos, senhores, capatazes (ah! os capatazes!) todos, em sua imensa maioria, absolutamente, miseráveis. Somos descendentes e elos de uma sagrada corrente milenar. Pequenos elos, nessa cadeia infinita, proporcionada por nossa ancestralidade, estamos aqui e agora; somos o que somos e quem somos hoje. Somos o fracasso, ou o sucesso daqueles, que vieram antes! Somos e fazemos tudo sob o olhar vigilante, doloroso, envergonhado ou compassivo dessas testemunhas. E, nós, seres egóicos, imersos em nosso odioso egocentrismo, ignorantes, ainda, não os “vemos” em nós; não os reconhecemos em nós, não os honramos, nem os respeitamos em toda a árdua caminhada que trilharam. Não. Não há inocentes nessa História nem nesse Tempo. Do mesmo modo, não há vítimas nem culpados. Somos todos irremediavelmente iguais, trilhando o mesmo caminho, embarcados no mesmo barco, atravessando a mesma tempestade que só tende aumentar. 

O Planeta não tem plano B. Se enlouquecemos, se somos vítimas e perpetradores, não importa mais imaginar qual nosso lugar da fila; e, breve partiremos, na Hora do Ajuste com a Grande Lei. Que os adormecidos de quem sejam, porquê  são, para que servem, continuem aumentado seus débitos no campo do inefável, desvalorizando suas moedas que “as traças não roem”, ou, que, despertem de vez. Escolhas! Decisões! Caminhos!

Enquanto minha Alma sufocada de dor chora pelas duas vítimas aviltadas e violentadas, também chora por nós. Cessemos nossas dores; curemos nossas feridas.  Que crianças - que toda riqueza da Terra não vale a vida de uma que seja - tenham paz e futuro no mundo depois de nós. Que meninas e meninos (e bebês nascituros) sejam preservados e não necessitem se tornar uma mera opção legal, sujscetíveis a viver, ou a morrer, em nome da Lei. Que não precisemos sofrer tanto, meu Deus! É hora da Luz! Luz nas Almas, que é o que mais importa nessa hora. Chega de tanta dor. Prossigamos, além...brilhemos nossa Luz.

Maria Angela Coelho Mirault 

Professora Dra. em comunicação e semiótica pela PUC de São Paulo

Terapeuta de PICS




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