quinta-feira, 3 de março de 2011

É CARNAVAL MAS SEGURA A BARRA AÍ

Segura a barra, aí, meu bem. Segura, porque 2011 não está de brincadeira. Nem bem se passaram seus primeiros 60 dias e já dá pra ver que este será um ano que deixará marcas profundas na História da Humanidade. É só conferir. O Oriente médio entrou em uma erupção irreversível; navios tanques estadunidenses já cruzaram o canal de Suez e podem ser vistos em tempo real pelos satélites do google earth. Depois dos tunisianos (a Tunísia é um país situado ao norte da África, banhada pelo Mar Mediterrâneo, entre a Argélia e a Líbia), o povo egípcio (o Egito é um dos mais populosos países do norte da África) conseguiu exterminar décadas de ditadura e inaugurar, por algum tempo, tempos de desgoverno e terror fundamentalista, antes da real conquista de uma nova ordem política e social. As calamidades de causas climáticas já ceifaram milhares de vidas em todo o mundo; vidas estas como as nossas e que, como nós, romperam o alvorecer de um novo ano cheio de esperanças e promessas, sob luzes e festas.
Segura, porque promessas de campanha eleitoral já não estão sendo cumpridas; os juros já estão pesando na balança contra a velha inflação; os cortes no Orçamento da União que, antes, jurou-se honrar, agora, já foram caneteados, enquanto que, paralelamente, novos cargos públicos e sem concurso já foram criados pelo Senado; o salário continua mínimo graças à maioria – base de governo - quase (e perigosa) unanimidade no Congresso; o deputado federal Tiririca (PR-SP) – eleito por mais de 1,3 milhões de votos e que teve de provar na justiça eleitoral que não era analfabeto e submetido a um teste de leitura e escrita - integra a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados; após candidatura única, indicado pelo PT, a vitória da disputa interna com Ricardo Berzoini (que, na tapetada, ganhará a benesse em 2012) e afirmando aos colegas que “sua vida é absolutamente limpa”, o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), pasme, foi eleito por 54 votos para presidir a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, em que pese o processo judicial que ainda responde por conta do mensalão, aceito pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e peculato; Itamar Franco (33o. presidente da Repúbica - 1992/1994) já trocou farpas com sua excelência José Sarney (31o. Presidente da Repúbica – 1985/1990), na tribuna do Senado, um Senado presidido por nada menos do que ele mesmo, Sarney, eleito pela Cúpula dos Partidos (com 70 votos, 8 contra, dois em branco e um nulo) pela quarta vez, mantendo-se há mais tempo no poder (desde seu primeiro mandato de governador do Maranhão, em 1956) do que Zine el-Abidine Ben Ali (Tunísia), Hosni Mubarak,(Egito) e Muamar Al-Gaddafi (Líbia), sob as nossas indiferentes, omissas e pacíficas barbas. Tudo isso entremeado de mortes, dores e o flagelo com que milhares de pessoas praticamente romperam o ano, na região serrana do Rio de Janeiro e tantas outras cidades brasileiras, sob escombros e lama (de verdade). Ah! Os barracões de algumas escolas de samba do Rio foram queimados... Acidente com rede de alta tensão e trio-elétrico matou em segundos 15 foliões, deixando uma dúzia de feridos, na Região Sul de Minas Gerais. Quer dizer, se o Carnaval é o período de liberação geral, o Carnaval já começou há tempos. A festa pagã, na qual tudo é permitido - e, segundo os sociólogos, catarse coletiva para que se possa dar conta das neuroses pessoais - vai se dar nesse climão em que a gente não sabe bem se veste a fantasia durante os 3 dias dedicados a Baco, ou se despe a fantasia de palhaço, de pateta e de idiota, com as quais desfilamos o ano inteiro e a trocamos por uma outra, até menos ridícula.
Por tudo isso, cuidado com o andor, segura a barra, meu bem, porque os prognósticos para o resto dos 10 meses que vem por aí, não são lá muito bons. Se promessas (ou ameaças?) forem cumpridas, como as do presidente da Líbia, Muamar Al-Gaddafi frente à determinação de Hillary Clinton e a ação já iniciada por ordem de Barack Obama, a Líbia está prestes a tornar-se “um Vietnã”. No centro da questão, recrudecendo o conflito e a vontade popular libanesa, uma questão incendiária: o petróleo, enquanto milhares de refugiados da Tunísia, do Egito e, agora, da Líbia, estão buscando refúgio em uma Europa fóbica de estrangeiros; ou seja, mais um ponto de recrudecimento insolúvel até para a ONU. Sem esquecermos as bolsas da economia mundial, que sofrem seus primeiros abalos, já se pode sentir cheiro de fumaça no ar, assim como seus globais e devastadores efeitos em nossa vidinha comum
No fundo no fundo, neste período, em que é oficialmente permitido ser bobo, e em que as chaves das cidades estão entregues ao rei momo (até igrejas promovem “bailes com Cristo”), não passamos de nos assemelhar aos bem vestidos e esperançosos 228 passageiros do vôo 447 do Airbus da Air France, antes de embarcar do Rio para Paris, em seu mergulho fatídico e fatal no Oceano Atlântico, em 1o. de junho de 2009. Sem nos darmos conta de que tudo pode acontecer e de que não somos senhores absolutos do nosso destino e muito menos dos acontecimentos, nos preparamos para brincar o Carnaval, alimentar o ego e extravasar alegria e insensatez. Contudo, segura a barra, aí; se atente: cuidado nas estradas; cuidado com a bebida, com o uso de droga e o descuido com o sexo; cuidado com os excessos de todo o tipo. Não mate nem morra. Lucidez é tudo do que precisamos nessa hora. E, para os que ainda conseguem se manter atentos, uma boa pausa para reflexão. Afinal, o mundo pode explodir e tudo pode acabar antes mesmo do terceiro dia. Quem sobreviver verá.


Maria Ângela Coelho Mirault
http://mamirault.blogspot.com

Publicado no jornal Correio do Estado, MS, em Campo Grande, 05.03.2011.
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