domingo, 2 de novembro de 2014

O mundo prescinde do sectarismo religioso

Era uma bonita cerimônia religiosa de Crisma. Um grupo de jovens, acompanhados dos seus padrinhos, perfilados diante do bispo, apresentavam-se à “comunidade cristã”, para reafirmar, agora, de modo mais consciente, seus votos do batismo. O templo, embora lotado, abrigava confortavelmente cerca de 700 pessoas compostas por fiéis, parentes e amigos. O ponto alto da cerimônia seria marcado pelo momento em que os crismandos fariam sua confissão de fé, por meio dos atos que, a partir de então, como cristãos, passariam a renunciar. Era preciso, absolutamente necessário, que renunciassem a certas coisas, para merecerem a “entrada no mundo religioso-católico e tornarem-se, de fato, cristãos”. Para tal, deveriam responder a cada indagação do bispo com um alto e uníssono “renuncio”. Antes, na preleção, a autoridade eclesiástica já havia esclarecido sobre o significado do termo “cristão”, ou seja, “ ungido”: Jesus, o ungido. “Agora, afirmava ela, “vocês são cristãos, ungidos pela crisma”. Sob esse raciocínio, os demais seguidores de Cristo, dos seus exemplos, do seu Evangelho não são cristãos. Essa discriminação e segregação sempre foi comum dentre as religiões. O “outro”, o de fora não é o que os de dentro são. Enfim, todos os que se confrontam com as “verdade religiosas” professadas por determinado grupo não são o que eles apregoam ser. Um das “renúncias”, porém, deixou-me intrigada, pelo equívoco da informação com que fora propalada por tão alta autoridade religiosa. Expressara-se o bispo, mais ou menos assim: “tem cristão que acende vela aqui no domingo e depois vai no “despacho”, na “mesa-branca”, na segunda”, suscitando risos, na plateia. “Se, riem”, continuou, “é porque, sabem do que estou falando e não deveriam nem rir e nem saber”(sic). “Vocês sabem que 30% dos católicos acredita na reencarnação?!” A crença-espírita na reencarnação é a negação da ressurreição (da carne) e da nossa salvação por Jesus”. “A reencarnação é a auto-salvação e prescinde da salvação de Jesus: o indivíduo nasce, nasce, nasce até não precisar mais, por ter aprendido sobre seus erros”. “Jesus, para os espíritas, é apenas um exemplo a ser seguido”. “Mas, a Bíblia nos diz que só nascemos uma vez!” “Jesus, filho de Deus, veio para nos sal-var!”. Xeque-mate! Depois desses (d)esclarecimentos, lá vem a renúncia que me causou espécie. Questionou o bispo aos crismandos: “Renunciam ao esoterismo, à magia, aos despachos e ao ESPIRITISMO?!” “Renunciamos!!!”. A Religião tem um papel fundamental na vida pessoal e na da coletividade, pois, abranda a rudeza da vida, dos seres, nos prometendo, de uma forma ou de outra, a continuidade dessa - às vezes, tão miserável e sem sentido - vida, para melhor. Seu papel e sua função é ligar o homem a Deus (re-ligare), ajudando-o a transcender a realidade, inclusive, a fatalidade da morte. Sem ter recebido qualquer procuração dos cristãos-espíritas, gostaria de informar ao bispo que o Espiritismo nada tem a ver com magia, despacho e, ou, esoterismo. O Espiritismo é uma religião cristã constituída, reconhecida e respeitada que preceitua e procura indicar as práticas prognosticadas pelo Evangelho de Jesus; crê que a Bíblia, embora não seja a palavra Deus, contém a história da religião monoteísta do Deus Único trazida a lume pelo heroico povo de Israel (Antigo Testamento) e que possibilitou, que preparou e que aplainou o caminho para a chegada da Boa Nova (Novo Testamento), trazida ao mundo por um judeu – “filho da casa de Davi”. Jesus não é, apenas, um “bom exemplo” a ser seguido; é o ser angelical mais próximo de Deus que a Terra já teve condições de receber; modelo, sim, da salvação a que todos estarão fadados, em sua única e imortal vida, porém, em um contínuum esforço de auto aprimoramento – ao longo de milênios e sucessivas reencarnações, transitando e transformando treva em luz. O Espiritismo não é uma seita que precise ser renunciada, é uma religião a ser respeitada. Enquanto Francisco, o fraterno, acolhe a todos, cristão, ou não (a comunidade homossexual; às mães solteiras, divorciadas e separadas, afirmando que são “apenas mães”)... Enquanto Francisco, o lúcido, reconhece a validade da teoria do Big-Bang e a teoria da Evolução das Espécies, afirmando que elas não negam a Deus... Enquanto Francisco, o justo, pune os pedófilos e os vendilhões do templo da própria igreja... Enquanto Francisco, o simples, propõe uma reforma institucional sem precedentes, que seja capaz de atualizar - no que puder e lhe permitirem fazer - os conceitos e preceitos medievais da igreja romana católica, aproximando-a do homem de agora, é lamentável testemunhar o segregacionismo, a ignorância e a desinformação pregada como verdade incontestável, submetida a uma cosmovisão ainda tão retrógrada, vinda de tão importante autoridade religiosa. Maria Angela Coelho – professora doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo – http:mamirault.blogspot.com.br

4 comentários:

Unknown disse...

Bom dia Maria Angela,
Peço licença para comentar este tema que voce abordou sobre o crisma.
É necessário que o espírita compreenda uma coisa:
Kardec nega os fundamentos principais da religião cristã.

CRER que Jesus é seu "Único e suficiente SALVADOR" é um fundamento inegociável para uma religião ser chamada cristã, simplesmente porque esta é uma revelação da Bíblia.
Também é inegociável á fé cristã crer que a Bíblia seja a "Palavra de Deus", escrita e compilada por mãos humanas, mas sob a influência e coordenação irresistível do "Espírito Santo de Deus".
Voce mesma expressõu no texto que não crê que Jesus seja seu salvador, e tambem afirmou não crer que Bíblia seja a palavra de Deus.
Não confessar que Jesus é seu salvador é negar um fundamento basilar da fé cristã.
Ponto! Isso é um fato.
Isso ainda não infere dizer que essa religião é certa e aquela é errada, mas APENAS ter a honestidade de reconhecer que são diferentes.
Não apenas diferentes, mas inconciliáveis.
O Jesus que Kardec nos apresenta não morreu na cruz para nos limpar de nossos pecados, não ressucitou depois de tres dias, não tem poder para perdoar pecados de "seu ninguém", e baseado nessas premissas o espírita não pode sequer crer sinceramente que Jesus possa curar alguém, pois isso significaria uma intromissão arbitrária no "processo de aprendizagem" que o espírita crê ser necessário para sua purificação.
Então não é Jesus quem nos limpa dos "pecados", mas a dor, a expiação, a prova. (Como disse Kardec).
Por isso é necessário que o espírita compreenda por qual caminhio está seguindo, é preciso que o espírita reconheça como está se afastando das revelações dadas pelo próprio Senhor Jesus acerca de si mesmo.
É urgente perceber que o Jesus que Kardec o levou a crer é muito diferente do Jesus das escrituras.

E isso tem alguma importância?
Não é apenas uma forma diferente de olhar para a mesma pessoa?
Não!
Porque Jesus não pede apenas que voce olhe para ele, mas que CREIA em suas palavras.
Jesus advertiu que viriam outros falando em Seu Nome, mas que não devíamos nos desviar de suas palavras.
Jesus não viria reformar a doutrina que ele mesmo apregoou.

Agora, uma vez que o assunto é religião, a pergunta que cada um deve procurar responder a si mesmo é a seguinte:
Quem estará certo, Kardec ou a Bíblia?
A Bíblia é um livro escrito por mãos humanas, mas afirma ser a "Palavra de Deus", a Doutrina Espíria também foi escrita por mãos humanas, mas afirma ser "a palavra dos espíritos".
O jesus da Bíblia é o verbo de Deus encarnado, a expressa imagem do Deus vivo, perfeito, que já existia antes da fundação do mundo (universo), Kardec o apresenta como mais um ser em processo de evolução, mais um grande mestre entre muitos no universo, e não necessariamente o maior deles.

Ser Cristão não é apenas crer que Jesus existiu ou existe, é necessário CRER nas Suas palavras.

Álvaro Henrique.

MAngela Mirault disse...

O que quis evidenciar, caro Henrique, é o EQUÍVOCO DO BISPO em tempos tão atuais. Por que não fazem os crismando renunciarem ao judaísmo, protestantismo, aos testemunhas de jeová, ao budismo...?
O que quis evidenciar é a "mistureba" de despacho, com magia e ESPIRITISMO. Que cada um siga a sua crença sem denegrir a dos outros. é um acinte essa discriminação. E. só!

Anônimo disse...

É, percebo que você conhece muito pouco a Bíblia e se não conhece não deveria nem citá-la nos seus artigos, se é que aceitas ajudas pesquise no site jw.org

OK!

Unknown disse...

Maria Angela,
Grato por responder.

Justifico minha insistência no intuito estabelecer ponte de entendimento entre as pessoas.
O motivo pelo qual o tal Bispo induziu os crismandos à renunciar ao Espiritísmo é clara:
A doutrina Kardecista, apesar de falar em Jesus e até citar passagens da Bíblia, no bojo nega categoricamente os principais pontos da fé cristã, como Salvação por Jesus, ressurreição, perdão dos pecados, etc.

Por isso a renúncia se faz necessária, isso não é culpa do Bispo, é uma questão antes de tudo de coerência com aquilo que se professa crer.
Se eu digo que creio que Jesus é o único intermediário entre o homem e Deus - conforme ele mesmo o disse em (João 14:6)- serei incoerente se, no momento de necessidade, clamar pelo nome de outra entidade qualquer.
Se o fizer serei contraditório com aquilo que acabei de afirmar:"que Jesus é o único intermediário entre Deus e homem".
Entende o ponto de vista do sacerdote?
Não acho que um Bispo exigir tal renúncia possa ser entendido como "denegrir" as demais, apenas exige a coerência daqueles que foram à ele solicitar os seus ofícios.

Nós Que amamos à Deus e desejamos a expansão do Seu Reino na terra, temos que cuidar para não resvalar para a perseguição dos cristãos sob a bandeira humanista do "politicamente correto", opondo obstáculos ao culto religioso com o amparo do MP, exigindo dos crentes que aceitem premissas opostas ao que julgam ter recebido de Deus!
Essa é justamente a perseguição que os crentes foram avisados que sofreriam de satanás!

Saulo, quando ia em direção à Damasco, pensava estar servindo à Deus, porque não compreendia nem cria no messias que havia se manifestado ao mundo.
Até que Jesus o arrojasse do alto da sua orgulhosa montaria, lhe deixasse cego e lhe perguntasse:
"Saulo, Saulo, porque me persegues?" (atos 9:4)

Que não seja assim conosco.

Álvaro Henrique.