quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Novos paradigmas

             
            Os grandes pensadores desvelam partes paradigmáticas de uma única Verdade, ainda não acessível. De tempos em tempos, somos visitados por esses seres especiais, que, além do Espaço-Tempo, vêm nos anunciar suas proposições filosóficas.
            Toda minha trajetória na pós-graduação acadêmica, se deu à luz da Fenomenologia e de seus cientistas. Pude examinar fatos vivenciados, por intermédio de pesquisas qualitativas, e, constatar a grandeza dos pensadores fenomenológicos, haja vista, atentarem-se ao fato, à vivência (única) observada, no seu momento em que acontece, sob o entendimento quântico de que ao observarmos, transformamos o fato vivenciado. Detêm-se, eles, à realidade em sua fictícia e brevíssima instantaneidade; observam-na, em suas diversas manifestações; cuidadosamente, debruçam-se para, somente, após, deduzir causas e leis que as movem. Esses são os que examinam o planeta (e, a vida) com um propósito, um mandato; não, apenas, como uma esfera qualquer ao sabor dos movimentos telúricos. Esses cintistas-filósofos são simples, parcimoniosos, sábios ao distribuírem suas conclusões sobre o mundo e as leis que regem a vida em si, a qual todos nos submetemos (ainda como mistério). Se, nos detivermos aos registros da História, conseguiremos identificar muitos deles que, ao longo das Eras, transformaram paradigmas anteriores e institucionalizados, culturalmente. Sem contradita, suas ideias vão alcançando, pouco a pouco. Minorias silenciosas – talvez mais angustiada e cavucadora de conceitos e empreendedorismo para avançar – vão somando-se e expandindo-se para outras, que, pelas bordas do ecossistema cultural, vão aceitando e assumindo o “novo paradigma”. E, assim, vamos prosseguindo para estágios cada vez mais equilibrados e coerentes com a Verdade, como categórico universal. Piaget chamaria esse estado de mudança de “acomodação majorante”, porque se equaliza em patamar paradigmático mais elaborado do pensamento humano.
            O psicanalista e filósofo, Bert Hellinger, acabou de completar 92 anos, em plena atividade, difundindo suas ideias pelo mundo.  Esse filósofo alemão contemporâneo, não para de pensar, arguir e exprimir seu rico e valioso pensamento a respeito dessa realidade, na qual estamos, todos, sem exceção, inseridos. Ético com suas formulações, ele ainda revê seus conceitos, e, não dá por fim seus experimentos e vivências, de onde abstrai suas deduções. Abraçando, com humildade, constatações de outras áreas e outras ciências, caminha e aponta novo paradigma nesse patamar majorante a respeito da vida, suas leis, com alcance a todos nós.
            Hellinger, que já atuava com os sistemas familiares, em sua prática terapêutica, observando e deduzindo suas Leis Maiores, propõem a existência de três Leis - as quais, denomina por Ordem do Amor - a nos reger os destinos, todos vinculados, inexoravelmente, a serviço de uma Força Maior. Afirma, assim, que, todos necessitamos de pertencer a um único lugar que é nosso; todos devemos respeitar uma hierarquia - que não pode nem deve ser quebrada – e, que, todos necessitamos movermo-nos, sob a lei do equilíbrio, que nada mais é, do que o bom tomar e o bom receber.  Segundo suas postulações, essas três Ordens estariam por trás de todos os vínculos e envolvimentos familiares, organizacionais; quer no micro, ou macro sistema sócio-político, que só a Fenomenologia seria capaz de desvendar. Com seu paradigma inovador, nos apresenta uma proposta de reorganização diante do mundo. Pertencer ao meu lugar. Respeitar quem veio antes de mim. Dar e receber com equidade. Seria tão impossível assim, acompanhar, observar em nós, o que propõe? Estou no meu lugar? Reconheço a primazia dos que vieram antes? Sou capaz de dar e receber com equidade? Pontos a refletir nessa nova ciência, novo jeito de pensar o humano e seus inter-relacionamentos. Uma descoberta a fazer!

Maria Angela Coelho Mirault
Doutora e Mestre em Comunicação pela PUC de São Paulo
C. Grande, 29/11/2017

https:mamirault.blogspot.com
Publicado em 02/12/2002, no jornal Correio do Estado, Campo Grande, MS

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