O capataz é aquele que gere a riqueza que não é sua, domina o que não é seu, faz o que o chefe mandar, age pelo que o mandante não age; são suas as mãos sujas que ferem, que roubam, que violentam, que caneteiam, engavetam, em segundo, terceiro, quarto e último escalão. Em troca de míseros trocados de um cargo, de umas poucas moedas qualquer, cujo rendimento vai alçá-lo às filas dos “outbacks”, dos “hondas” e das “rovers”; aos resort luxuosos, ao vinho mais caro, ao whisky mais antigo; às grifes internacionais: aos eventos que certo ministro da 1ª. Corte promove, nessas Capitanias Hereditárias – chamadas Brasil-, em Portugal.
O capataz é o escalonado que faz
e desfaz, em nome do dono; sim, ele tem dono; é fiel em sua empreitada; é
empreiteiro de mandados, aceita qualquer negócio, se vende e se prostitui por
qualquer trocado; quer apenas se dar bem. Por ser indigno, envilecido, não
precisará apresentar currículo para o exercício de sua função, aliás,
prescindirá de qualquer formação acadêmica, precisará apenas de sua argúcia,
esperteza e sagacidade para escamotear, sabotar com toda sua vil competência,
sem qualquer tipo de escrúpulo. Esse exemplar proliferado em todos os lugares:
repartições, empresas, igrejas têm tido lugar garantido na esteira de um
mercado cuja ganância, competitividade, distinção predominam. Esquece o
capataz, que tudo isso, também, o introduz nas entranhas do inferno, o conduz
irremissivelmente, às dores cruciais do remorso e do ranger de dentes, ainda,
mesmo, aqui, nesse espaço-tempo do agora, nessa vida, até antes dos sete palmos
e do caixão de luxo.
A indignidade, a falta de
decência, a prática dos mais baixos costumes envilecem o ser humano. Contra
essa chaga não há remédio, não há purgativo, não há oração! O acometido nem se
enxerga como tal; não se reconhece como pária da sociedade e, muito menos,
procura a cura de sua doença moral. No entanto, ser indigno tornou-se item
curricular, ainda, imprescindível, no mundo de hoje (já em ruínas). Ainda se
imagina ser preciso ter ao lado indivíduos que não se importam em chafurdar na
incúria do malfeito, infringir leis e fazer o diabo, em nome e no lugar de quem
detém o mando, a propriedade, a riqueza e o poder. Essa é a triste função da
capatazia; intermediação entre o opressor e o oprimido; também, conhecida como
assessoria, cargo de confiança, gerência, gestão, ficha suja.
Os capatazes vicejam, perduram e
perpassam por governos e partidos; são úteis. Agem como coveiros, cuidadores de
porcos - longe dos ambientes de trabalho honesto desses profissionais - porque
precisam mexer na lama, cavar o chão, enterrar quem possam, em nome do pseudo-poder
de um cargo, em nome de um chefe, objetivando simplesmente a sua sobrevivência,
e, até, prosperidade, dependentes de generosas sobras das mesas dos seus donos.
São capatazes, intermediários, nada mais, dependem de si mesmos, de suas
vontades de serem o que são.
Mas, a vida segue, o tempo corre
e esses serviçais, sem mesmo se aperceberem, já fenecem, em vida - de dentro de
suas câmaras mortuárias ambulantes, do conforto de seus home-theater, nas
cadeiras estofadas de seus gabinetes – sob a ilusão da crença de que dominam,
mandam e reinam.
Salvem todos aqueles que, tendo passado pela dura
prova do convite, negaram-se a esse ofício, preferindo trilhar o caminho da
digna, honrada e dura vida dos milhões de comuns mortais, que acordam, lutam e
adormecem sem terem prejudicado a uma única alma, sem terem-se apropriado de um
único bem que não lhes pertença. Salvem os honrados, os que já conseguem
enxergar que estamos vivendo um novo momento histórico-energético no planeta
Terra. Nesses tempos – ainda que mórbidos e escandalosos - eles, os capatazes, já
começam a ser reconhecidos e identificados. Distinguir-se-ão, não pelas roupas
de grife que enfeitam seus cadáveres ambulantes, mas pelo rastro que deixam em
seus fracassados caminhos. Haverá o dia em que o poder e a riqueza prescindirão
de suas “competências”. Esse momento está chegando, já se pode vislumbrar logo
ali, no horizonte que já vem.
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